Vacinação eficaz, derrota dos populismos
e também dos autoritarismos. Estranha esta condenação de um Chega lançada num sapatinho meio descambado. Além
de provocatório, parece despropositado este desejo, numa quadra santa.
Três desejos de Natal /premium
São as perspectivas com que sonhamos,
mas que estão longe de ser certas. Ficam como carta ao Pai Natal com os desejos
de um Natal em segurança que desminta as previsões de um maior número de
contágios.
HELENA GARRIDO
OBSERVADOR, 21 DEZ 2020
Do grande contágio para a grande e
eficaz vacinação que nos abra a porta do regresso à normalidade com a derrota
dos populismos e autoritarismos. São perspectivas optimistas e, por isso mesmo,
mais desejos do que previsões
Vacinas eficazes mesmo para o “novo”
vírus, ministradas rapidamente e sem problemas. A logística exigida pela vacinação em
massa de toda a população mundial, que envolve,
além das vacinas em si, a
necessidade de ter uma infra-estrutura de armazenamento e distribuição e todo
um conjunto complementar de material, como as seringas, coloca um desafio
histórico a todos os países. A vacina da Pfyzer/BioNTech precisa
não apenas de estar guardada a menos 70 graus centígrados, como também exige
que sejam ministradas duas doses num intervalo de 21 dias para ser eficaz. E mesmo a eficácia das vacinas é ainda motivo de
dúvidas: protege-nos durante quanto tempo? E que efeitos secundários poderão ter, existindo
aparentemente apenas a convicção de que mal não fará?
A
Agência Europeia do Medicamento (EMA) reúne-se esta segunda-feira dia 21 de Dezembro, tendo
antecipado o encontro de 29, esperando-se que a vacina da Pfyzer/BioNTech seja
aprovada esta semana. É aliás incompreensível o tempo que a União levou a
aprovar a vacina, numa altura em que nos EUA já está também no mercado a da Moderna.
Na
sequência dessa antecipação, Portugal prepara-se para ministrar as primeiras vacinas aos
profissionais de saúde nos últimos dias do ano, entre 27 e 29 de Dezembro. Precisamos de deixar ao Pai Natal o desejo de que
tudo corra bem por aqui, que seja desmentida a nossa tradicional incapacidade
de organização.
Foi extraordinário aquilo que a ciência conseguiu em tão pouco tempo. A própria história do casal alemão de origem turca
da BioNTech é inspiradora – Ozlem Tureci and Ugur Sahin’s
são aliás as personalidades do ano do Financial Times. Como evento de baixa probabilidade – não a descoberta da vacina, baseada numa tecnologia em
investigação há muitos anos para a cura do cancro, mas sim a história de vida –
, esta é uma vacina que poderia ter sido um pedido ao Pai Natal.
No
meio desta tendência em que a pandemia parecia começar a estar a ser vencida, eis
que surge a má notícia da mutação do vírus, detectada com significado no Reino Unido. Temos em perspectiva novas restrições, com o Conselho Europeu a reunir-se de emergência esta
segunda-feira.
E é aqui que precisamos que a
trajectória seja no sentido positivo, que as vacinas sejam eficazes também para
esta estirpe. Se
estivermos perante uma estirpe resistente às vacinas descobertas, face à
primeira avaliação de que este vírus é ainda mais contagioso, vamos entrar em
2021 com uma espécie de nova pandemia. O Pai Natal, enquanto protagonista de
boas notícias, fica com este pedido fundamental, que a nova estirpe não resista às vacinas já
descobertas.
Recuperação da economia no segundo
semestre com um Verão já com turistas. Continua
tudo nas mãos da pandemia e, especialmente, de estarmos perante um falso alarme
quanto à nova estirpe do vírus. Mas, neste momento, ainda é possível esperar
que o Verão tenha mais turismo do que em 2020. E com
esse ganho de segurança, dado pelas vacinas, que seja possível o regresso das
actividades culturais, uma das áreas mais massacradas pela pandemia pela
ausência de mecanismos tão eficazes de apoio, como noutros sectores.
Se não conseguirmos regressar a
alguma actividade durante o Verão, a pandemia vai dizimar ainda mais micro e
pequenos negócios em Portugal, no sector do turismo e do lazer. Teremos uma recuperação adiada e o próximo ano pode
não ser, ainda, de crescimento. Mesmo os recursos europeus, do plano de
recuperação e resiliência, pouco ou nada podem fazer para mudar esse cenário,
uma vez que os investimentos se centram fundamentalmente no Estado e alguns
deles não têm um efeito significativo de arrastamento do resto da economia portuguesa.
Com o que sabemos neste momento, tudo
pode correr bem ou muito mal.
Tudo depende do que os cientistas vierem a descobrir sobre a nova estirpe do
vírus Sars-Cov-2, baptizada como B.1.1.7. Nos próximos dias saberemos se as
vacinas já descobertas são eficazes também para esta estirpe. Se forem, podemos
acreditar que não será muito difícil começar a ver a recuperação no Verão,
ainda que até ao fim do ano de 21 vejamos o desemprego a subir em Portugal.
Menos radicalização, mais
inteligência a lidar com o populismo. Bom
senso é o que se pede ao Pai Natal que distribua em boas doses. Contrariamente ao que se esperava, a “Gerigonça” não
nos trouxe uma sociedade menos radicalizada. Continuamos, há pelo menos
cinco anos, a assistir à dificuldade em aceitar as opiniões dos outros quando
são diferentes das nossas – realidade muito exposta na população urbana. E a
desenhar-se, também em Portugal, uma oposição entre quem vive nas grandes
cidades e quem não vive.
Esperávamos
estar livres do populismo mas não estamos. Até à Gerigonça tínhamos um populismo de
esquerda que se moderou – não desapareceu – com as responsabilidades de apoiar o Governo
do PS. Aparece-nos agora um populismo de direita, que se manifesta ao mesmo tempo como espelho das
preocupações de população menos urbanas ou suburbanas.
Boa parte da classe política tem-se
revelado incapaz de compreender o que se está a passar. E em vez de “olhar para a Lua olha
para o dedo que aponta para a Lua”. Parece
nunca se lembrarem das pessoas que estão a mostrar simpatia pelo Chega e
atiram-se simplesmente ao seu líder, falando dele sem cessar, em vez de
reflectirem sobre os problemas que são referidos por ele.
Neste
início de campanha eleitoral para as presidenciais apenas dois candidatos deram
ao Chega um tratamento normal, foram eles João Ferreira do PCP e o actual Presidente e candidato Marcelo
Rebelo de Sousa.
Marcelo Rebelo de Sousa alertou discretamente que o Chega será aquilo que os
outros fizerem dele. “A resposta depende dos outros partidos que estão à
direita ou à esquerda: podem maximizá-lo na forma como o tratam ou não tratam,
dão-lhe peso se o convertem no centro da sua estratégia, colocam-no no centro
do sistema”, disse o Presidente na entrevista à SIC e que aqui no Público se resume.
João Ferreira disse que
dava posse a um Governo liderado pelo Chega mas estaria muito atento ao
cumprimento da Constituição. “Se um Governo iniciasse funções afrontando a
Constituição, demitiria esse Governo”, afirmou João Ferreira em entrevista
ao Observador.
Parece
tão óbvio o que disse o Presidente – “se o convertem no centro da sua
estratégia, colocam-no centro do sistema” – que é com incredulidade que se vê
os outros candidatos e alguns partidos políticos não o compreenderem. Como é
óbvio e respeitador da democracia em geral e da Constituição em particular o
que disse João Ferreira.
Esperemos que o bom senso se generalize,
que os protagonistas políticos comecem a perguntar-se porque há pessoas a
votarem no Chega, quais as preocupações e os problemas que enfrentam e que, a
partir daí, procurem respostas e apresentem propostas.
Com a pandemia e a crise
económica temos a mistura para as tentações populistas e até autoritárias. Se viermos a cair nessas tentações, a
responsabilidade é dos protagonistas políticos que não foram capazes de nos
convencer que o caminho não é por ali. A falta de bom senso no tratamento
dos partidos radicais populistas, fazer deles o centro do discurso e das
conversas, é a via para mais radicalização e mais simpatia pelo populismo.
Que
o Natal nos inspire. Boas Festas.
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COMENTÁRIOS:
Maria L Gingeira: Os milagres
acontecem, mas a humanidade está afastada da conjugação de factores para que
eles sejam realidade. Basta olhar para esta raiva contra o Reino Unido, este
ajuste de contas da Europa Unida contra o ex-membro que a rejeitou. Uma guerra
política no meio de uma pandemia que todos fingem levar a sério. Um mundo cão
de interesses e hipocrisia. Eu Mesmo “existindo
aparentemente apenas a convicção de que mal não fará?” Mal não fará? E quem lhe garante isso? E já pensou nas centenas de milhares de pessoas que
vão recusar a vacina, a começar por mim?
Oxalá que volte tudo à normalidade embora eu tenha as minhas fortes
dúvidas. Os políticos provaram o poder
absoluto e governam por decreto. Acho que os nossos direitos não vão voltar tão
depressa (se é que voltam alguma vez). Feliz Natal pois para o ano pode já
estar proibido de vez. Paulo Guerra : Só dizer que a
nova estirpe não aparece agora em Inglaterra ou pelo menos foi a primeira nação
a reconhecê-la, por acaso. Esta é aliás a evolução normal de todos os vírus
e como em Inglaterra foi um dos países onde o vírus andou mais à solta. Muito
por responsabilidade das autoridades que no início também se decidiram por esse
tipo de rédea sobre o vírus. Todos os vírus, com ou sem combate, por norma
vão se tornando cada vez mais eficazes e mais letais. Darwin explicou isso há
muitos anos na evolução das espécies. E ainda sem verdadeiros testes, neste
momento ninguém pode afiançar se as vacinas continuarão ou não eficazes. Com
grande probabilidade continuarão. É pelo menos o que esperamos todos. Isto tudo
para chegar outra vez aos negacionistas que muito provavelmente também pensavam
que o vírus não evoluía. Sem um verdadeiro combate à pandemia estávamos
completamente condenados como espécie. E nem sequer alguém consegue
garantir que aqueles que hoje parecem mais imunes amanhã não estariam
igualmente condenados. Porque se é verdade que com o passar do tempo até
podemos alcançar mais imunidade de grupo também é verdade que o vírus nunca
deixa de se adaptar às novas condições, de evoluir. Sobre organismos
cada vez mais cansados de lutar. Além de que uma coisa é a carga viral mais uma
vez num cenário de confinamentos e outra coisa totalmente diferente é a carga
viral a que estaríamos sujeitos sem quaisquer medidas por parte das autoridades
de saúde. Como uma simples máscara. A peste negra é talvez o maior exemplo de uma pandemia
ainda com a humanidade praticamente sem cuidados de saúde. Ou com cuidados de
saúde completamente saturados. Finalmente,
o atestado de acéfalos que a HG passa a todos os eleitores portugueses é algo
absolutamente insuportável. Agora a culpa de alguém votar no Ventura é dos
outros… Se calhar era melhor deixar só os outros votarem… por nós. advoga diabo: Sempre que se
abstém de teorizar, ou dar palpites, sobre economia, a economista HG brilha bem
alto. Parabéns e bom natal! josé maria: Que venha a
"bazuca" europeia para os sapatinhos de Natal... Manuel Magalhães > josé maria: É a
única coisa que as esquerdas sabem fazer, pedir e gastar... António Duarte: Quem dera ser
um crente como a Helena, a vida era igual mas mais despreocupada Manuel Magalhães: Outro
assunto que considero prejudicial é o considerar-se a Constituição como uma
vaca sagrada em que não se pode mexer nem criticar, ora a “nossa” Constituição
tem ainda muitos tiques dos tempos do malfadado PREC e apenas tem sido
vantajosa para a esquerda que apenas a usa quando lhe convém e à direita
praticamente nunca a tenta usar, nem mesmo quando lhe poderia ser útil, alguma
coisa(s) estará errada... Esta mania
de apelidarem o Chega de partido populista não passa de um mero complexo de
esquerda que não há meio de abandonar grande parte da direita portuguesa, o
Chega existe por causa de praticamente todos os outros partidos, uns na extrema
esquerda nunca quiseram na realidade o sucesso do país, na esquerda PS nunca o
souberam atingir e na realidade toda a esquerda, essa sim, sempre praticou o
populismo, a direita encheu-se de complexos e durante 40 anos foi deixando o PS
tornar-se quase hegemónico e agora com os seus companheiros da estrema esquerda
andam a delapidar o país e os seus valores. O Chega apenas aponta todos estes
defeitos e fá-lo com a clareza que as pessoas facilmente entendem, o Chega era
absolutamente necessário ao país a fim de reequilibrar o nosso espectro
político. E chamam a isto populismo??? Adelino Lopes: Vacinas? Não existem dúvidas de que o tempo de protecção
e os efeitos secundários são parâmetros importantes. Mas existem outras
questões não menos importantes. 1ª) É verdade que, para os mais novos, a
eficácia da vacina é inferior ao número de assintomáticos? 2ª) É verdade que,
para os que precisam efectivamente (~15% da população), a vacina não é eficaz?
Mutação do vírus? A vacina poderá adaptar-se rapidamente, digo eu. Mais, a
variante que irá prevalecer será aquela que menos efeitos produz, não é?
Simplesmente porque essas variantes mais severas em termos de efeitos na saúde
conduzirão essas pessoas mais rapidamente à quarentena.
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