sábado, 5 de dezembro de 2020

Silêncio de ouro


Um gesto bonito, esse do minuto de silêncio, que o Dr. Salles descreve como elegante  invenção portuguesa. Só é pena que tenha sido criado em favor de um estrangeiro que, para todos os efeitos o era. Tantos portugueses, afinal, o mereciam, esse minuto de silêncio, pois que dignificaram o nosso país. Mas, subservientes, sempre – como hoje o mostram, com o AO – procuraram aplicar o tal minuto de homenagem a alguém de um país – irmão, embora  – que os poderia proteger melhor, à la longue

Mas não deixa de ser uma homenagem bonita, o simbolismo do silêncio…

Sabia que o minuto de silêncio foi inventado em Portugal? De todas as “invenções” portuguesas, a mais universal e mais difundida é, sem dúvida, o minuto de silêncio. O minuto de silêncio com o qual se presta homenagem a um morto ilustre ou a mortos em catástrofes.

Tudo começou em 1912 com a morte do Barão do Rio Branco, ministro dos Negócios Estrangeiros do Brasil e pessoa muito querida em Portugal por ter sido um dos primeiros estadistas a patrocinar o reconhecimento da República Portuguesa em 1910.

José Maria da Silva Paranhos Júnior nasceu no Rio de Janeiro a 20 de Abril de 1845, filho do também diplomata que se tornou famoso sob o título de Visconde do Rio Branco.

Político competente, o barão foi ministro dos Negócios Estrangeiros durante os governos presidenciais de 1901 até à data da sua morte em 10 de Fevereiro de 1912. Antes da República, Paranhos Júnior servira com igual empenho a causa da monarquia.

A sua morte teve tal repercussão no Brasil que o governo fez um decreto adiando o Carnaval, para que esse período de festas não coincidisse com o luto nacional. Como ministro dos Negócios Estrangeiros, Rio Branco foi o responsável pela demarcação das fronteiras, trabalho que executou com engenho e arte, dilatando ainda mais o já vasto território brasileiro com a anexação do actual Estado do Acre, que pertencia à Bolívia (1904), uma área em litígio com a Guiana Francesa, que abrangia quase todo o actual Estado do Amapá e resolvendo em favor do Brasil um litígio fronteiriço com a Argentina, incorporando em definitivo uma área territorial de 30 621 km2.

Em Portugal, havia um verdadeiro culto pelo Barão do Rio Branco, o estadista ilustre que o Brasil perdeu e o seu nome era entre nós tão querido e tão espalhado que raros portugueses de uma certa cultura o desconheciam. Todos os que amavam o Brasil e seguiam atentamente os seus movimentos políticos e literários, os que lá iam em busca de um pouco de bem-estar, os artistas que viajavam anualmente na terra nossa irmã, os comerciantes que regressavam com o seu pecúlio e iam instalar-se nas suas províncias, todos recordavam com admiração o nome do ilustre homem de Estado”, como ficou registrado na Ilustração Portuguesa, de 26 de Fevereiro de 1912, lamentando a sua morte e noticiando a missa de sétimo dia em sufrágio da sua alma.

A morte do Barão do Rio Branco causou um forte impacto em Portugal. O Parlamento Português na sua reunião do dia 13 de Fevereiro, sob a presidência de Aresta Branco, em homenagem ao morto ilustre, suspendeu a sessão por meia hora – como era tradicional. Já na reunião do Senado no dia seguinte, sob a presidência de Anselmo Braamcamp e secretariada por Bernardino Roque e Paes de Almeida, inovou e revolucionou. “O Presidente, aludindo ao falecimento do Sr. Barão do Rio Branco, recordou que os altos serviços por aquele estadista prestados ao seu país e a circunstância de ser ele ministro quando o Brasil reconheceu a República Portuguesa”, escrevia o Diário de Notícias sobre a sessão.Continuando com a evocação do DN: “Honrou também o Barão do Rio Branco as tradições lusitanas da origem da sua família e por tudo isso propôs que durante dez minutos, e como homenagem à sua memória, os Senhores Senadores se conservassem silenciosos nos seus lugares. Assim se fez…”. Cumpriu-se, assim, o primeiro momento de silêncio de que se tem notícia, numa sucessão que se vem prolongando até aos nossos dias.

Depois deste dia, todas as vezes que morria alguém passível de homenagem, o Parlamento Português repetia o gesto. Com o tempo, de dez minutos passou a cinco, depois a um, como actualmente. Em seguida, as Casas Legislativas europeias copiaram o modelo português e daí para o resto do mundo, ganhando visibilidade sobretudo nos estádios desportivos.     Autor não identificado

Tags: história

COMENTÁRIO: Anónimo 06.12.2020: Desconhecia de todo. Obrigado pela informação histórica e pela originalidade da "invenção". RBM

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