Um artigo de Alberto Gonçalves com acima de duas centenas de comentários, julgo que a
maioria de teor laudatório, que despertou o tema, como sempre visando o governo
e um povo passivo que se deixa manipular, a caminho da destruição.
Um jugoslavo num país de mansos /premium
Ao que parece, o sr. Ljubomir não é manso, e se um
quinto dos portugueses em risco de indigência o imitassem, a impunidade do dr.
Costa não seria tão plena, nem a indigência tão certa.
ALBERTO GONÇALVES
OBSERVADOR, 05 dez
2020
Se
as vestes dos fiéis ainda não se tinham rasgado por inteiro, acabaram em
farrapos quando o cozinheiro Ljubomir Stanisic, que eu nem conhecia, comparou
António Costa a Slobodan Milosevic. Ninguém concedeu ao sr. Ljubomir o
benefício da dúvida “metafórica”, que há dias permitiu que um dirigente
anti-racista apelasse repetidamente à morte do “homem branco” sem consequências
penais e sociais. Ninguém lembrou o direito à opinião, que nos dias da “troika”
levou Mário Soares a assinar um artigo em que comparava Pedro Passos Coelho a
Hitler e a Mussolini – e toda a gente achou a equivalência admissível e até
pertinente. Aliás, nos idos de 2013 era quase intolerável designar Pedro Passos
Coelho por qualquer coisa abaixo de “fascista” ou, nos momentos de simpatia,
“Salazar”. E não vale a pena notar o que por aí se dizia e diz impunemente de
determinados estadistas remotos, da sra. Merkel, a Bruxa Nazi, ao sr. Trump, o
Belzebu em carne e osso.
Não
foram os tempos que mudaram, foram os protagonistas. Hoje, o sr. Ljubomir não
pode chamar ditador ao dr. Costa pelo critério que impede um transeunte de lhe
chamar palhaço sem ser admoestado pela repórter televisiva, intrépida a
defender o emprego e a envergonhar a profissão. Nas sociedades livres, é assim:
o Grande Líder não é criticável. Ou então é criticado com tantas cautelas e
respeitinho que a crítica se assemelha a um louvor, e o crítico a um devoto. É
o género, assaz praticado pelo “comentariado” vigente: “O dr. Costa, que é
bondoso e sábio e competente, esteve um bocadinho mal nesta questão, erro que,
estou seguro, a bondade, a sabedoria e a competência dele corrigirão sem
demora.”
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A
verdade é que o sr. Ljubomir não precisava de ter feito a comparação a
Milosevic para suscitar o ódio dos serviçais do regime. O regime sentenciou-o
no momento em que, perante as sucessivas medidas de aniquilação da economia e
de incontáveis vidas a pretexto da Covid, o sr. Ljubomir não se ficou. Milhões
de portugueses, nados e criados por cá, ficam-se. Uns porque supõem que o
salário, como a presbiopia, é garantido. Outros porque não têm noção. E os
restantes porque têm medo. O sr. Ljubomir, que não é o português típico, não
teve medo. Quase sozinho, e presumivelmente com uma situação material que o
dispensaria de maçadas, decidiu maçar-se e recusar a criminosa arbitrariedade a
que o país desceu. À revelia de associações, sindicatos e seitas afins, o sr.
Ljubomir deu a cara e o nome por um processo que lhe trará menos alegrias do
que represálias. A caça já começou: além da fúria xenófoba nas “redes”, ontem
um diário informou que o “chef” subornara a polícia com vinho para furar o
“confinamento” – uma transgressão hedionda na pátria do “eng. Sócrates” e
motivo de sobra para a acusação do Ministério Público. O sr. Ljubomir não é
nenhum mártir, mas um homem, num lugar e numa época em que os homens
escasseiam.
O
lugar e a época estão propícios a espécimes diferentes. Não é a primeira vez
que os vejo. Uma ocasião, há alguns anos, passei boa parte da noite a seguir um
programa de “debate” na televisão venezuelana. Terminei algures entre o
fascínio e a náusea. Todos os convidados, sem excepção, exaltavam as virtudes
do mandarim local. Sobretudo, todos se riam da impotência dos opositores, que
desqualificavam nas atitudes e no carácter. Foi um serão instrutivo sobre a
violência do poder discricionário. Actualmente, tal educação não obriga a
recorrer aos despotismos caribenhos: os nossos “debates” não se distinguem
daquele. Ou distinguem, dado que a quadrilha que manda na Venezuela sempre
dispõe de oposição, resistência, multidões nas ruas. Os portugueses com voz
usam-na ao serviço do dono. Os portugueses sem voz, inebriados pela esperança
de “fundos” europeus, seduzidos pela dieta sem cães e submissos por vocação,
estão em casa, a cumprir ordens sem finalidade que não a mera exibição de
prepotência. É um estilo, que o sr. Ljubomir pelos vistos não partilha. Não
sendo o único insubmisso, é dos poucos com repercussão, e por isso é
interessante de perseguir e fácil de anular.
Não
é absurdo supor que, um dia, os insubmissos sejam abundantes e difíceis de
anular. Absurdo é presumir que a insubmissão se deverá a um princípio de
liberdade e não ao completo desespero. Propaganda de lado, estamos só no início
de uma crise devastadora. Quando a crise se alastrar, a miséria converterá ao
protesto demasiados cidadãos, demasiado tarde: literalmente, vão protestar por
nada. Por enquanto, o receio de arranjar chatices supera o receio da pobreza.
Não é à toa que tudo na retórica das “autoridades” se destina a assustar as
massas: não facilitem, não saiam, não abusem, não se juntem, não jantem, não
bebam, não reclamem, não duvidem, não deixem de utilizar máscara inclusive
depois da vacina e antes de 2038, não insistam. As “autoridades” não estão a falar
da Covid: estão a falar de comando e controlo, curiosamente os termos
escolhidos para apresentar a logística da vacinação. A Covid, que em nações
dependentes lançou as bases da destruição, é agora o “argumento” para que,
através de ameaças, o bom povo assista quieto e mudo à consagração da dita.
Obviamente,
ao contrário de Milosevic, o dr. Costa não concebeu, ou permitiu, genocídios: o
coitado apenas promoveu irresponsavelmente uma ruína imensa, cujas vítimas são
cúmplices por mansidão. Ao que parece, o sr. Ljubomir não é manso, e se um
quinto dos portugueses em risco de indigência o imitassem, a impunidade do dr.
Costa não seria tão plena, nem a indigência tão certa. Por azar, são raros os
que o imitam, muitos os que o difamam e inúmeros os que se calam. Por sorte,
vivemos em democracia e não obedecemos a um tirano. Imagine-se se não
vivêssemos e se obedecêssemos.
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ECONÓMICA ECONOMIA POLÍTICA PANDEMIA SAÚDE ANTÓNIO COSTA GOVERNO
COMENTÁRIOS:
F A: O colunista é
uma das muito poucas vozes na imprensa que escreve com uma clareza e
desassombro notáveis. Uma
voz independente, incómoda para a Nomenklatura Socialista Maria Da Veiga: Concordo com tudo no seu artigo, excepto que não vivemos
em ditadura- eu vivo em ditadura, mesmo sendo mais como o chefe cozinheiro,
vivemos sob ditadura do polvo socialista. Quem não é do partido ou partidário,
nem direito a uma vacina da gripe tem, mesmo que as razões da sua saúde o
exijam. Apenas um exemplo. E estão todos calados na imprensa, escondendo a
verdade sobre o que fez o governo com as vacinas da gripe. Pedro Campos: Brilhante, como sempre! Joao Protasio Fialho Lda: Excelente ...é mesmo assim que isto vai , só muda
quando não houver nada a perder... agora é que se nota bem a ditadura cínica a
aviltante em que vivemos...
Liberal de Visita > Joao Protasio Fialho Lda: É uma ilusão a de que a democracia não pode ser
violenta. Daniela
Andrade: Dando embora de barato que o sujeito
possa ser uma 'figura pública' neste país, confesso que a sua existência e
status me tinham passado completamente ao lado até agora. E do que pude agora
ver a propósito das suas greves/manifestações, vi apenas um homem que, se
trabalha em restaurantes, sem dúvida, terá amplas razões de queixa, como muitos
outros, mas se faz notar, sobretudo, por uma grave dificuldade de comunicação e
uma inaceitável má criação. No entanto não deixa de me chocar o contra-ataque
que a máquina propagandística do regime socialista montou já sobre o senhor e
sobretudo a, essa sim, verdadeira xenofobia das tropas de ataque socialista e
da restante esquerda. Os mesmos desqualificados que falsamente de tal atacam o
Chega e o seu líder. A começar pelo próprio primeiro-ministro. De resto concordo
consigo quanto à característica, que eu diria de resignados, de boa parte dos
portugueses. E isso é muito negativo para o país. Sem cair em qualquer espécie
de espirito revolucionário, o que se exige é um espirito agudo de reforma
profunda a todos os níveis e de exigência e responsabilização política. António Sennfelt: Duas das mais brilhantes estrelas no indigente
firmamento da nossa imprensa, Alberto
Gonçalves no "Observador"
e João Miguel Tavares no "Público",
tiveram hoje a infeliz coincidência de escrever dois artigos sobre o mesmo
tema, o primeiro intitulado "Um Yuguslavo num país de mansos" e
o segundo " Baixa a bolinha, Lyubomir"! Não questiono a heroicidade de
quem, exposto à chuva e ao frio, estoicamente aguenta, junto às gélidas
escadarias do nosso Parlamento, três ou quatro longos dias de voluntário jejum,
tormento tanto mais cruel quanto é certo que o personagem em questão é, nada
mais, nada menos, do que um dos mais afamados "chefs de cuisine" da
capital! Tão pouco menosprezo o facto de que aquele seu voluntário sacrifício ter
sido, acto contínuo, alvo da chacota e maledicência da alcateia de polícias do
pensamento politicamente correcto, farejantes hienas que não perdoam quem se
atreva a questionar a mediana correcção do caminho rumo ao socialismo em boa
hora prosseguido pelo nosso bem amado Governo! Mas, francamente, erigir a
herói nacional o senhor Lyubomir não será um tudo nada exagerado? E então o que
dizer de todos nós que, rangendo os dentes mas calados e mudos, pagamos todos
os impostos, taxas, taxinhas, emolumentos e alcavalas com que o nosso bem amado
Governo generosamente nos contempla? Liberal de Visita > António Sennfelt: Fazer greve de fome ao ar livre
no Inverno, mesmo sendo este o lisboeta, é um bocado mais heróico do que pagar
taxas e taxinhos! Carlos
Almeida: Mais um excelente artigo do Dr. Alberto
Gonçalves. Uma prosa que escancara a realidade política e cívica do nosso pobre
país nas mãos de gente pouco
transparente e incompetente.
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