De Nuno Crato li “O
Eduquês em Discurso Directo: Uma Crítica da Pedagogia Romântica e Construtivista” que me fez logo aderir ao seu pensamento honesto, não
montado nas futilidades das pedagogias
modernistas que muito contribuíram para um gradual depauperamento do ensino, a
par, é certo, de outros motivos de desastre, como a indisciplina, e uma exasperada
alienação pelas tecnologias mediáticas que têm o seu quê de embrutecedor. Escolho
algumas Notas da Internet para lembrar o que foi, para mim, Nuno Crato, e responder assim à Editorial de Manuel Carvalho, do Público, com, pelo meio, a própria defesa de Nuno Crato, no Observador:
1 - EDITORIAL: A Matemática e o fantasma de
Nuno Crato
A remissão do pecado da Matemática
para Nuno Crato, que está fora de jogo há mais de uma legislatura, não é apenas
ridícula: é contraproducente e perigosa
MANUEL CARVALHO PÚBLICO, 8
de Dezembro de 2020
Depois
de vários anos de boas notícias na frente da educação que nos chegavam através
de importantes
estudos internacionais, estão aí os primeiros indicadores que nos
permitem suspeitar de que a tendência positiva congelou. Mas em vez de todos
(pais, professores, Governo, oposição) sermos convocados para uma reflexão
profunda capaz de nos ajudar a entender o que está a acontecer, o secretário
de Estado da Educação, João Costa, abriu
o período de caça aos suspeitos do costume: os seus antecessores no Governo.
A remissão do pecado para Nuno Crato,
que está fora de jogo há mais de uma legislatura, não é apenas ridícula: é
contraproducente e perigosa. Porque
tenta encontrar uma resposta a um problema grave e complexo como o da avaliação
dos nossos alunos através da menção de um simples bode expiatório.
Se
só o mais puro primarismo argumentativo nos pode levar a acusar o actual
ministério pela queda de 16 pontos nos conhecimentos de Matemática no
4.º ano, da mesma forma não se pode eximir por completo os anteriores
Governos do que hoje se está a passar. Na prática, os programas duram há anos e
na educação as reformas geram sempre efeitos de longo prazo. Mas entre aquilo
que permanece incólume do mandato de Nuno Crato e que a actual equipa alterou
há questões a discutir. Acabar
os exames do 4.º ano, optar pelo discurso das “aprendizagens” em vez de
insistir na velha Matemática da tabuada e das contas de cor são, como recorda
Nuno Crato, responsabilidades do actual Governo. De resto, Nuno Crato não pode ser o eterno fantasma dos problemas da
Matemática.
Dizer neste contexto que a culpa é do
anterior Governo envolve uma tentativa de encobrimento de responsabilidades
próprias que não ajudam a resolver o problema. Porque, não nos iludamos, há um
problema. Os alunos portugueses, os professores e toda a comunidade educativa
não perderam competências de um dia para o outro nem o extraordinário progresso das nossas escolas medidas
através do TIMSS ou do PISA não ficou irremediavelmente perdido. Mas
havia um caminho que aproximava os desempenhos dos nossos alunos ao dos países
mais avançados, e esse caminho está a desaparecer.
Deixemo-nos
então da politiquice barata do passa-culpas, deixemos Nuno Crato no seu remanso e ouçamos que
respostas tem o Ministério da Educação para voltar aos bons desempenhos nos
estudos internacionais. Mais do que fazer julgamentos do passado, a nossa escola
precisa é de ideias para o
futuro. Que sejam capazes de incorporar os valores das aprendizagens
que o Governo defende sem deixar de lado a ideia de que ensinar Matemática,
Ciências ou Português com rigor e exigência é uma responsabilidade que a escola
tem para com os seus alunos.
TÓPICOS: SOCIEDADE NUNO CRATO MATEMÁTICA MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO ESCOLAS PISA 2018 TIMSS
COMENTÁRIOS:
OldVic1 MODERADOR: Enquanto em Portugal o ridículo não "matar"
politicamente, continuaremos a ter estas desculpas surrealistas. pronouncer EXPERIENTE: Foi você que pediu mais uma escaramuça APM/SPM? Em
Portugal não se discute ensino, apenas se usa o ensino como mais uma espada da
guerrilha política. Pobre de quem tem que os aturar. Carlos Diogo MODERADOR: A qualidade da educação não está relacionada no facto
de ser pública ou privada. A qualidade está na capacidade de preparar uma
criança ou jovem para a sua vida social e profissional. Por isso tem de ser
diferenciada para poder ajudar cada um atingir o seu potencial. Nivelar todos
por igual como este governo fez leva apenas a mediocridade. Isso é válido quer
para alunos quer para professores. diogodoismil.864263 INICIANTE: a política do facilitismo está a dar estes resultados-
Como em competição internacional não é possível mascarar, então a culpa foi do
outro. Uma
canalhada no ministério da educação. Eng. Jorge Simões INFLUENTE: É preciso não ter vergonha para vir passados quase 6
anos culpar os seus antecessores pelos seus fiascos. Se por acaso estava mal e
não alteraram, a culpa é deles. Mas ao que consta, "mexeram" o
bastante para causar alguns estragos no sistema de ensino. LMDuarte INICIANTE: As políticas de educação que estiveram em evolução
continuada durante várias legislaturas, governos de PS e PSD, deram resultados
em 2015, depois apareceram os "iluminados" que acharam que tudo
estava errado e devia ser alterado, e o óbvio aconteceu, mas como de costume
nos "não populistas" os méritos são nossos os deméritos são
reponsabilidades dos outros. Sandra. MODERADOR: Eu, ao professor Nuno Crato, só tenho de agradecer.
Pelo contributo que deu para a educação neste país, principalmente para os mais
pobres. Tenho muita pena que não haja essa noção. Da minha parte, um grande
obrigada pela Excelência. jorcarv INICIANTE: Totalmente de acordo. Nota: em Espanha, verificou-se o
mesmo, acentuada descida nos rankings. cidadania 123 EXPERIENTE: Aí está a política de educação de facilitismo e
ausência de exames, em que a prioridade é: " que os alunos sejam felizes" MTeixeira EXPERIENTE: A Fenprof anda a falar baixinho, é porque anda tudo
bem, até fazem uma "paralisação", para não chamar greve.
joaqmorgado.922014 INICIANTE: Onde anda a exigência, o rigor e a qualidade das
aprendizagens? Há palavras que desapareceram do léxico actual da educação... E
depois os efeitos começam a surgir nas avaliações externas. Mario Coimbra EXPERIENTE: Mas o ministério não vai dar nenhuma explicação, claro.
JORGE COSTA EXPERIENTE: Isto é o (des)governo total. O Ministro é um
verdadeiro erro de casting, os Sec de Estado da Educação uma vergonha. Espelho
meu diz-me tu, haverá gente mais capaz do que a que temos a gerir o País? Disse
o espelho: "Sem dúvida
ATV INICIANTE: Pedir
respostas para o futuro, obriga a pensar e isso é impossível no actual
ministério. Daí que encontrar um bode expiatório seja muito mais simples AMatos INICIANTE: Oh "Manel", é mais um a defender Crato, não
foi ele que alterou o programa que vinha a ter sucesso, Conhece as metas
curriculares de Crato? é voltarmos à matemática de 40 anos atrás que resolvemos
o problema, o mundo não mudou muito desde aí, criar uns exames resolve tudo? wuzzu INICIANTE: Infelizmente não vejo neste ministério razões para
acreditar e isso viu-se muito em particular no ensino à distância durante a
pandemia e na vontade de querer passar a ideia de que era óptimo.
2 - Nuno
Crato responde a secretário de Estado: "Nunca se assistiu a um
passa-culpas deste nível"
O
antigo ministro da Educação reagiu à associação feita pelo secretário de Estado
da Educação entre a evolução negativa de alunos a matemática e as suas
políticas: "Acusações falsas e irresponsáveis".
MANUEL DE ALMEIDA /LUSA
OBSERVADOR; 08 dez 2020,
As metas curriculares foram
introduzidas O antigo ministro da Educação e Ciência Nuno Crato criticou esta terça-feira “as acusações irresponsáveis e falsas” do actual secretário de Estado da Educação, João
Costa, que lhe atribuiu responsabilidades
pelos maus resultados obtidos pelos alunos do 4.º ano a Matemática.
“Nunca,
na história da nossa democracia, se assistira a um passa-culpas deste nível”,
lamentou o ex-governante, que é também professor catedrático de Matemática,
citado pela agência Lusa.
A
reacção de Nuno Crato surge na sequência de uma declaração do actual secretário
de Estado Adjunto da Educação, que associou as políticas do Governo de PSD e
CDS (2011-2015) à queda recente no desempenho dos alunos portugueses do 4º ano
a matemática — revelada pelo estudo “Tendências Internacionais de Matemática e
Ciência”, de 2019 e da Internacional Association for the Evaluation of
Educational Achievement, dado a conhecer esta terça-feira.
“É
esta equipa que tem conduzido a educação. Deveria reflectir”
Nuno
Crato considerou que “depois de quase uma década de melhorias contínuas que nos
levaram, em 2015, aos melhores resultados internacionais de sempre, tanto no PISA como no TIMSS,
esta é uma descida que exige ser muito seriamente analisada”.
É
lamentável que essa análise seja evitada e substituída por acusações
irresponsáveis e falsas por parte desta equipa ministerial”, afirma Nuno Crato, numa declaração enviada à Lusa.
O
antigo ministro da Educação defendeu ainda que “é esta equipa que tem
conduzido desde 2016 a educação em Portugal e deveria reflectir sobre as suas
responsabilidades”.
Nuno
Crato defende ainda: “A reversão do progresso comprovado em 2015 é, certamente,
resultado de uma série de medidas entretanto adoptadas. A
avaliação externa no 4.º ano, que vinha desde 2001 com provas de aferição e
depois com provas finais em 2014, foi abolida e não foi substituída por nenhuma
forma de avaliação externa. A obrigatoriedade de mais horas em Matemática e em
Português e da frequência do apoio ao estudo também foi eliminada”.
Crato critica falta de avaliação e ‘flexibilidade curricular’: “É
preciso tirar ilações”
O
secretário de Estado Adjunto da Educação em 2012 pelo então ministro
da Educação Nuno Crato e foram muito contestadas dentro e fora das salas de
aula pela sua extensão e inadequação à idade das crianças, segundo os críticos.
Viriam a ser revogadas e substituídas pelas chamadas aprendizagens essenciais,
criadas pelo Governo de António Costa, na anterior legislatura.
João
Costa elogiara também, no entanto, os resultados genericamente obtidos pelas
políticas educativas ao longo dos últimos anos: “Apesar de algumas oscilações,
temos razões para dizer, independentemente dos governos, que as coisas têm corrido
bem”.
Sobre
as metas curriculares que o actual secretário de Estado associou aos maus
resultados, apontou Nuno Crato: “As metas curriculares, que
estavam em vigor em 2015 e pelas quais foram preparados os alunos então
avaliados, não sofreram alterações. O que mudou foi a avaliação, ou a falta
dela, e foi a ‘flexibilidade curricular’ e a natureza vaga das ‘aprendizagens
essenciais’ que aboliram as prioridades curriculares e geraram um discurso e
prática de menor ambição, menosprezando as metas e reduzindo em muito o seu
impacto positivo”, considera.
Os
estudantes do 4.º que nos encheram de orgulho tinham feito todo o seu percurso
escolar entre 2011 e 2015, numa cultura de exigência, de avaliação e de
valorização do conhecimento. Os alunos
avaliados pelo TIMSS em 2019 não tiveram esse percurso. É sobre isto que é
preciso tirar lições“, apontou ainda Crato.
O
ex-ministro da Educação disse ainda ter ficado “profundamente preocupado com a
descida significativa a Matemática dos alunos de 4.º ano, nas avaliações do
TIMSS de 2019. Não só com a descida, como também com o perverso aumento das
desigualdades revelado”.
NOTAS DA INTERNET:
……. Ideias
sobre educação
O pensamento de Nuno Crato sobre a
educação rompe com a tradição construtivista e sócio-construtivista que foi
muito disseminada na Europa e nos Estados Unidos, sobretudo entre os anos 1980
e 2000. No seu discurso político, destaca-se a defesa da liberdade de escolha,
da autonomia das escolas e, sobretudo, de um ensino mais organizado, rigoroso,
centrado nos conteúdos curriculares e não na noção de "competências",
que tem acusado de ser uma noção vaga e que secundariza o conhecimento em favor
da capacidade imediata de fazer. Tem reforçado o ensino do que
considera serem matérias fundamentais, nomeadamente Português, Matemática,
História, Geografia, Ciências e Inglês, ao mesmo tempo que tem oferecido mais
diversidade de complementos curriculares, nomeadamente línguas e ciências.
Introduziu em diversos documentos e oportunidades a possibilidade de criação de
disciplinas adicionais pelas escolas e de flexibilidade na gestão curricular.
Introduziu mais avaliação externa no ensino e promoveu a elaboração de Metas Curriculares,
rompendo com a tradição anterior, segundo ele, contrária à avaliação e a
objectivos cognitivos claros. Cita frequentemente os estudiosos da
educação Eric Hanushek, E.D.
Hirsch, John Anderson e Stanislas
Dehaene, que parecem ser as suas referências fundamentais.
Tem
também desenvolvido o ensino profissional e vocacional e defendido um reforço
da sua vertente dual, isto é, da aliança entre a formação académica e a
realizada em ambiente de trabalho, nas empresas.
No campo
externo, nomeadamente nos CPLP,
tem ajudado a cooperação com diversos países, promovendo, por exemplo, a ida de
professores para Timor Leste e a vinda de estudantes brasileiros para as
universidades portuguesas. Tem também fortalecido a cooperação científica
internacional, não só com países da CPLP como também com países europeus e
mediterrâneos, no quadro da organização 5+5.
Ministro da Educação e Ciência
Alterações no currículo e metas
curriculares: Uma das primeiras medidas que tomou como Ministro da
Educação e Ciência foi reforçar a carga horária de Português e Matemática no
Ensino Básico e acabar com as áreas curriculares não disciplinares de "Estudo acompanhado" e "Área de projecto".
Tornou o Inglês disciplina obrigatória
durante cinco anos, no segundo e terceiro ciclos, posteriormente durante sete
anos, iniciando-se esta disciplina no 3.º ano de escolaridade a partir do ano
lectivo de 2015/16.
A disciplina de Educação Visual e
Tecnológica, que era leccionada com dois professores por turma, foi desdobrada
em duas, leccionadas por apenas um professor em cada tempo[10].
Determinou a elaboração de Metas
Curriculares que promovessem uma clarificação dos conteúdos fundamentais dos
Programas e permitissem uma maior clareza nos desempenhos desejados. Essas
metas permitem a professores, autores de manuais, autores de exames e outros
participantes do processo educativo, nomeadamente alunos e encarregados de
educação, orientar melhor o seu trabalho. Em 2013, revogou o programa de
Matemática no Ensino Básico, que considerou estar eivado de recomendações
pedagógicas antiquadas e cerceadoras da liberdade dos professores, e homologou
um novo, com os mesmos conteúdos essenciais, mas sem "recomendações
pedagógicas excessivas", para dar mais autonomia aos professores e
permitir uma melhor ligação entre metas e programas[11].
Introdução de provas finais
Em 2012, introduziu Provas Finais no
6.º ano de escolaridade e em 2013 no 4.º ano[12].
Exames nacionais
Nos exames nacionais em Junho de 2013,
garantiu estar a trabalhar para que todos os alunos fizessem o exame na data
prevista e convocou todos os docentes, excluindo os do pré-escolar, para
acompanharem os exames do secundário. Nessa altura referiu que «Com novas
greves a serem marcadas, desmarcar exames nesta situação abriria um grave
precedente (...) não se deve permitir por um simples aviso de greve que os
exames sejam recalendarizados com consequências para alunos, pais e
professores»
Cerca de 20% dos alunos não realizaram o
exame em várias escolas. Mais tarde, durante a greve geral de 27 de Junho, o
ministro mudou a data do exame de matemática para evitar o prejuízo dos alunos.
A média nacional no exame de Português foi 8,9 (numa escala de 0 a 20) Resultados
escolares
De acordo com o Gabinete de Avaliação
Educativa (actual IAVE), os resultados dos exames de 2013 mantiveram-se
semelhantes aos anos anteriores e o nível de retenções no 4º ano do 1º Ciclo do
Básico melhorou, foi o mais baixo desde 2000..
Durante os quatro anos do seu mandato o
abandono escolar baixou consideravelmente, passando de 23-27% para 13.7%, as
taxas de retenção melhoraram, tendo-se reduzido para valores historicamente
baixos. As avaliações internacionais do TIMSS e do PISA em 2015 mostraram uma
melhoria muito significativa, tendo Portugal atingido os melhores valores de
sempre. Alguns analistas atribuem essa melhoria a uma política de avaliação
externa sistemática de alunos, escolas e professores, a programas e a metas
curriculares mais exigentes e ambiciosas[19].
Ensino superior
No que se refere ao ensino superior
definiu orientações acerca da sua internacionalização, e de uma mais clara
distinção entre os papéis das universidades e dos politécnicos e promoveu a
criação de ciclos curtos de ensino superior, com a duração de dois anos [cursos
técnicos superiores profissionais, conferentes de um diploma de técnico
superior profissional (TESP)]
Obras
Autor
Zodíaco: Constelações e Mitos (Gradiva, 2001)
Passeio Aleatório (Gradiva, 2007)
A Matemática
das Coisas (SPM/Gradiva, 2008)
O Eduquês em Discurso Directo: Uma Crítica
da Pedagogia Romântica e Construtivista (Gradiva,
2006)
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