A tese. As demonstrações. Apresentadas por Diana Soller e seus apoiantes e por Pedro M. Alves Lopes Pereira: a primeira, sobre a retoma da China na direcção do domínio sobre o mundo inteiro, mau grado o ligeiro desvio deste primeiro ano de Covid-19. O segundo, particularizando, sobre a aplicação da tese do poderio chinês sobre a Austrália. A Austrália não se conforma e vai reagindo. Servirá isso de lição?
Nós, por cá, bem. Ainda ontem fui comprar plásticos a uma das quatro
lojas chinesas perto dos meus sítios. Quatro!
I - 2020: o ano que podia ter sido da China /premium
A Huawei não desmente o documento, mas
alega que não passou da fase de testes. Esta informação vem juntar-se a outras,
que demonstram que a China é a primeira autocracia tecnológica do mundo.
DIANA SOLLER
OBSERVADOR, 11 dez 2020
Há
muito que o mundo não se via sem liderança internacional. Os Estados
Unidos de Trump estavam
resolvidos a ser uma “potência normal” em vez de liderar o sistema
internacional. E a
potência que se seguia em ordem de importância era a China, que há algum tempo procura um lugar ao sol da
hierarquia do poder mundial.
No entanto, este ano, segundo a Pew Research Center, uma das mais reputadas
empresas de sondagens do mundo, que fez um estudo em Outubro, a percepção desfavorável
de Pequim atingiu picos históricos, não
só nos EUA, mas em diversos países do mundo.
Isto
deve-se, evidentemente, à péssima gestão que o regime de Xi
Jinping fez da pandemia. Escondeu a existência do vírus das entidades
internacionais competentes, deixou-o sair de avião da China para os quatro
cantos do mundo, quando estava demasiado espalhado ofereceu ajuda internacional
e despachou material médico sem qualidade (algum dele pago pelos receptores)
para onde foi possível.
Ainda
mandou equipas médicas para os países mais aflitos, como Itália, mas já foi
tarde demais. Já todos
sabíamos que o vírus tinha tido origem na China e que Pequim não teve a mais
pequena preocupação em deixá-lo transformar-se numa pandemia mundial, a fim de
tentar encobrir o fracasso do regime em contê-lo dentro das suas próprias
fronteiras. Por outras palavras, por muito que Xi Jinping (secundado por
Putin) fale de multilateralismo, todos sabemos que este precisa de um líder e a
China não esteve, simplesmente, à altura.
A
história podia ter ficado por aqui. Mas não. E a razão por que não ficou é
simples: pela primeira vez na história recente, a China está no centro dos
holofotes internacionais e tivemos a oportunidade de ver de perto e com boa luz o
tipo de regime que Pequim é e que tipo de ator internacional que quer ser.
Ainda
há três dias, o Washington Post provou, através de um documento encontrado pela
IPVM, que a Huawei, em conjunto com a startup Megvii, fez uso da
inteligência artificial, desenvolveu e testou com sucesso um software de
reconhecimento facial que permite distinguir traços étnicos dos Uigur e enviar
alertas para a polícia chinesa. Os Uigur são uma minoria muçulmana que está a
ser sistematicamente perseguida e encerrada em “campos de reeducação”, como têm
vindo a alertar activistas e jornalistas de todo o mundo.
A
Huawei não desmente a veracidade do documento, mas alega que não passou da fase
de testes. Mas a
verdade é que esta informação vem juntar-se a um conjunto de outras, como, por
exemplo: os sistemas sociais de pontos, em que a tecnologia e a
híper-vigilância nas suas várias valências se juntam para atribuir aos cidadãos
castigos e prémios de bom comportamento; a repressão dos manifestantes de Hong
Kong; e o branqueamento da História – os mais jovens ignoram a existência do
massacre de Tiananmen –, só para nomear alguns exemplos que
demonstram que a China é a primeira autocracia tecnológica do mundo. Mas
pode não ser a última. Há sempre Estados dispostos a seguir exemplos destes.
Internacionalmente,
como mostrou a pandemia, Pequim também já não esconde que quer ser uma grande
potência. Aliás, como
explica Vasco Rato no seu livro
De Mao a Xi: O Ressurgimento da China, Pequim
tem
um objectivo muito concreto: libertar-se
do “século de humilhação” que, do seu ponto de vista, lhe foi imposto pelo Ocidente e pelo Japão
na sequência das guerras do Ópio
e das guerras Sino-Japonesas,
e retomar o seu lugar de “grandeza” no sistema internacional, que na óptica chinesa é nada mais que o de primus
inter pares. Daí
a importância dos projectos das Rotas da Seda terrestre e marítima. São uma
espécie de cerco ao mundo.
Como já disse noutras ocasiões, as
potências não são todas iguais. O comportamento interno da China, a culpa que
atribui ao Ocidente pelo seu declínio e a forma como mostrou não se importar
com o destino do mundo relativamente à pandemia são uma pequena amostra do que
Pequim pode ser como líder internacional. A
primeira tentativa séria foi este ano, mas outras se seguirão. Numa
altura em que a chamada “política de poder” volta a estar na ordem do dia,
líderes internacionais têm cada vez menos desculpas para ignorarem o perigo que
a China representa para a nossa segurança. E podem começar a demonstrá-lo nos
seus negócios referentes ao 5G.
MUNDO CHINA GEOPOLÍTICA PANDEMIA SAÚDE
COMENTÁRIOS:
Jorge costa: Mas ainda não compreenderam que os chineses não jogam pelo mesmo conjunto
de valores que os ocidentais. O povo chinês sabe, na carne e na memória, que
passou muita fome e muita miséria durante séculos, para além da humilhação a
que foram submetidos pelas potências coloniais. Também sabe que quem
lhes aumentou o nível de vida, lhes proporciona bens materiais, comida e os faz
tornar a sentir orgulho em ser Chinês é a política do PCC. Por isso o
povo chinês está pura e simplesmente a marimbar-se para as chamadas liberdades
individuais, não caras ao Ocidente! Enquanto não se compreender isso, nunca irão
compreender a China! Quanto ao facto de estar uma potência hegemónica no
mundo, isso é história! Sempre houve e haverá um conjunto de países que
terão mais poder do que outros, ou será que os USA trabalharam sempre em prol
da humanidade? Acho que isso é só ingenuidade! E já agora: o Tibete antes
de ser governado pela China era uma teocracia ignorante e despótica onde um
estrangeiro seria condenado imediatamente à morte, só por ter ousado entrar em
território Tibetano e os tão falados Uygurs já levaram a cabo imensos actos
terroristas dentro da China, não em nome de uma qualquer independência mas sim
em nome de um radicalismo Islâmico que, infelizmente, está espalhado pelo
mundo. Alguma dessas coisas é boa?? Paulo
Silveira: A narrativa
hegemónica progressista nos media e na academia poderiam ter origem nalgum
projecto de poder global? Há quem ainda duvide. Francisco Tavares de Almeida: A China chama-se a si própria o
Império do Meio, isto é, está situada entre o céu e a barbárie da
terra que está destinada a governar. É uma ideologia com séculos que
resiste a mudanças políticas, por isso desiludam-se todos os que pensam que a
China apenas aspira a ser um "primum inter pares". Hoje mencionar, discutir ou
criticar os 3 Ts (Taiwan, Tiannamen e Tibete) dá prisão. A mim choca-me especialmente como
o mundo ou os media, que é o mesmo, esqueceu o Tibete, há anos vítima de
violência e de uma agressão cultural diária e agora a deslocar forçadamente
camponeses para trabalharem em fábricas chinesas possivelmente produzindo bens
para exportação para o Ocidente. Andrade QB: Não há pior cego do que o que
não quer ver. Infelizmente o único inimigo que faz mover os actuais arautos da
"liberdade" são os países ocidentais e isso não é fácil de
contrariar. Actualmente os países invasores e obscurantistas contam com muita
mão de obra gratuita e empenhada em servi-los nos países que querem dominar. Pensamento Positivo: Caríssima Diana Soller:
Permita-me apenas uma constatação que não é de fantasias. É de factos: Podemos
não gostar dos métodos... E podemos não acreditar nas estatísticas... Mas, o
único bloco económico que resolveu bem a pandemia foi o bloco Asiático!... Não
tarda muito irão tirar dividendos disso. Olhe; veja os resultados dos recentes
testes de conhecimento dos alunos especialmente a matemática!... É que nem o
"deslize" da India torna isto diferente. 500 mortos ao dia na India
equivale a 1 ou 2 em Portugal... E depois; quem é que está em termos práticos a
gerar tudo o que precisamos para nos protegermos do Covidico? Em breve exigirão
o pagamento da factura!... Não têm dinheiro? Pagarão em bens diplomáticos!...
Vai um bom acordo comercial? É uma questão de tempo!... Anarquista Coroado: Soller, o seu amigo Biden vai
dar uma ajudinha. Pensamento
Positivo > Anarquista Coroado: Caro: Há no partido
Democrático dos EUA tantos ou mais com receios face à China do havia no
Trumpismo... Só que, quando se derem conta, já a China viverá noutra era...
Isto vai ser muito rápido. Dentro de 3 ou 4 anos já talvez muito terá mudado...
Nada que Biden, ou Trump possam fazer. São as dinâmicas dos tempos!... Manuel Magalhães: Bom aviso, esperemos é que
Portugal e a própria Europa não continuem a “assobiar para o lado”, pois já
poderá ser tarde...
Manuel Magalhães > Manuel
Magalhães: É bom também não esquecer que o
enorme crescimento da China foi feito à custa do Ocidente e de uma política
quase esclavagista em relação ao trabalho praticada pelo próprio governo Chinês! Pensamento Positivo > Manuel
Magalhães: Caro: Infelizmente deixe-me que
lhe diga: A razão pela qual cada vez mais grandes marcas estão a deslocalizar
da China para a India não tem nada a ver com a guerra comercial... Isso é só a
fachada... A verdade é que, na India há quem esteja disposto a trabalhar
por, nalguns casos metade do que ganha um Chinês!... Dá que pensar... Mas, é
assim!... Maciej
Hermann: China???? : boa
piada. Tudo de tecnologia e patentes e ideias roubados. Leonardo d'Avintes: Mandem o Costa, o destruidor
de muros, e a China certamente transformar-se-á num respeitável player
internacional. Afinal foi o que ele fez cá dentro. bento guerra: 2020 foi da China, só não
sabemos, Huawei aparte, se o "bicho" foi natural, ou fabricado Martelo de Belem ....: Ah finalmente acordam para o
perigo amarelo. Esta China de hoje e implacável e desumana cujo objectivo é
submeter o mundo e os humanos a um futuro sem liberdades.
II -
“G'day”, comunidade internacional
A nova ascensão da China, que tem
vindo a promover medidas assertivas através do seu regime autoritário por todo
o globo, levará a Austrália a redefinir os seus planos geopolíticos e
geoestratégicos.
PEDRO M. ALVES
LOPES PEREIRA, Estudante de Relações Internacionais
OBSERVADOR, 15 dez 2020,
00:01
A imagem publicada
pelo porta-voz das Relações Exteriores chinês, Lijian Zhao, reflecte o estado actual da relação bilateral
sino-australiana. Para além de “pouco” diplomática, demonstra as
intenções que o Partido Comunista Chinês tem com países vulneráveis e
especialmente fragilizados pelas acções tomadas pelo Ocidente.
No
entanto, este incidente não é o primeiro, e provavelmente não será o último, no
cadinho das tensões existentes entre ambos os países. Logo no início da
pandemia do novo coronavírus, Camberra questionou a forma como Pequim geriu internamente o
controlo da não propagação do vírus e, por conseguinte, o respectivo inquérito
realizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Estas declarações valeram uma forte contestação
por parte da China,
que considerou o posicionamento australiano como um confronto
político. Assim,
acabou por cortar as suas importações de cevada e carne
australiana e o próprio embaixador da República Popular da China (RPC) na
Austrália, Cheng Jingye, afirmou que, caso o governo australiano continuasse
com estas atitudes, a China deixaria de comprar produtos australianos e
os jovens chineses deixariam de estudar em universidades australianas. Em poucas palavras, de acordo com Shaun Rein,
fundador do China Market Research Group: “(…) se não fizerem o que os líderes
políticos de Pequim querem que vocês façam, estes castigar-vos-ão
economicamente (…).”
Seguindo
o raciocínio de Clive Hamilton
(co-autor do livro Hidden hand: Exposing How the Chinese Communist Party is
Reshaping the World, 2020), o investimento chinês no estrangeiro
tem como propósito manipular o país em questão, de forma a “controlá-lo”
através do seu poder e influência. Os objectivos
acabam por ser dúbios, visto que não são apenas comerciais, mas também
estratégicos. Isto
é, do ponto de vista da RPC, o investimento chinês é considerado como uma
ferramenta tacticamente engenhosa. Através
da sua capacidade financeira, é capaz de pressionar e reprimir qualquer país
para que este se adapte às suas medidas políticas e possa servir os interesses
estratégicos de Pequim.
Ou
seja, o Partido Comunista Chinês (PCC) tem um profundo conhecimento do que a
China representa para a economia australiana, logo, acaba por ter um poder
decisivo em sectores essenciais para a prosperidade da Austrália. Desta forma, Camberra foi alvo da estratégia implementada pelo PCC através de
empresas e bancos estatais chineses. Do ponto de vista do governo chinês,
era necessário criar fortes ligações com Camberra e com influentes
empreendedores australianos através das suas empresas e bancos. Assim, a China “ganhou
terreno”, concedendo empréstimos; fazendo investimentos; aquisições e doações;
tornando-se accionista, sócia e até proprietária de empresas e instituições
australianas. Neste seguimento, focaram-se sobretudo em partidos políticos,
infra-estruturas, universidades e na indústria mineira.
Apesar
dos factores referidos e de estarem a passar por um período diplomaticamente
conturbado, nem Camberra nem Pequim consideram que o fim da
relação comercial seja uma realidade.
Mas a nova ascensão da RPC, que tem vindo a promover medidas assertivas através
do seu regime autoritário por todo o globo, levará a Austrália a redefinir os seus planos geopolíticos e
geoestratégicos.
A situação existente no Mar do
Sul da China, a construção de inúmeras ilhas artificiais para fins militares, a
violação dos direitos humanos com as perseguições feitas em Xianjing aos
Uighurs, a questão de Taiwan, a situação desastrosa em Hong Kong e o roubo de
propriedade intelectual em muitas empresas, instituições e universidades
ocidentais (nomeadamente, australianas) constituem uma grave e poderosa ameaça
ao mundo como nós o conhecemos. Muitos destes indicadores sugerem
que a Austrália possa começar a conter e a restringir a sua relação comercial
com a China e aposte no desenvolvimento e modernização da manufacturação
nacional. Fortalecendo e reformando as suas relações comerciais com o Japão,
Índia, EUA e UE, continuará a contribuir para a cooperação internacional e para
a sua prosperidade e segurança.
Desta
forma, o exemplo da relação entre a China e a Austrália poderá ser um claro
aviso à comunidade internacional relativamente ao comportamento do Partido Comunista
Chinês.
MUNDO CHINA AUSTRÁLIA GEOPOLÍTICA
Nenhum comentário:
Postar um comentário