domingo, 27 de dezembro de 2020

Como se fosse possível


Oxalá os comandantes desta barca arrombada prestassem atenção à proposta feita na crónica seguinte, de Salles da Fonseca, de fortalecimento das universidades com professores estrangeiros – ou nacionais, penso - competentes e disponíveis para dinamizar culturalmente – e moralizar convenientemente - de forma a corrigir algumas orientações que por cá falham. É uma proposta sensata a considerar, oxalá fosse levada a sério. Mas os rombos da barca metem demasiada água, desde há muito, não haverá já, por cá, betume suficiente para impedir o afundamento. Resta a proposta, de um esforço titânico, que já não é para nós, por isso mesmo que escreveu Salles da Fonseca: «tenho as pessoas como determinantes no desenvolvimento dos respectivos países».

 

DO DESENVOLVIMENTO - 2

O GATO E A LEBRE

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA MAÇÃO, 26.12.20

Resulta linearmente do meu texto anterior sobre este mesmo tema que tenho as pessoas como determinantes no desenvolvimento dos respectivos países e as riquezas naturais como factor secundário. Igualmente determinante – e directamente relacionado com o desenvolvimento humano – o funcionamento da «máquina» económica.

Objectivamente, segundo me parece, o problema português está na debilidade da escolaridade, na subalternização da produção e no privilégio ao consumo.

* * *

Partindo do pressuposto de que a infância já está totalmente escolarizada (e a minoria de tradição nómada?), é importante erradicar o analfabetismo adulto - que, só por si, consiste em real inércia ao desenvolvimento - podendo (devendo) ser realizado pelas autarquias conforme a realidade local (com eventual apoio do IEFP) e pela  Igreja no âmbito da sua tradicional acção de promoção humana

Se, conforme nos diz o Eurostat, quase metade da população portuguesa apenas tem o ensino primário, isso significa que o problema seguinte se localiza no secundário. Aqui chegados, parece que os dois principais problemasabandono precoce e escassez de vias profissionalizantesjá começaram a merecer a atenção que lhes era devida mas tardam os resultados com expressão significativa. É que, se assim não fosse (o atraso nos resultados), o problema identificado no final da primária ter-se-ia transferido para o final do secundário, do que não tenho ainda notícia. Talvez fosse de alguma utilidade harmonizar os esforços públicos pela integração dos cursos do IEFP nas vias profissionalizantes do secundário assim dando a este uma panóplia de hipóteses profissionalizantes que actualmente me dizem não possui e, ipso facto, reduzindo o abandono precoce.

* * *

Como se observa nas estatísticas internacionais, nomeadamente no Eurostat[i], temos relativamente poucos licenciados com cursos superiores apesar de a situação já ter sido estatisticamente muito pior. Recordando, desde o reinado de D. Dinis até à implantação da República, tivemos apenas uma única Universidade, a de Coimbra, já que as de Lisboa e Porto apenas apareceram com a primeira República. E assim se manteve o panorama universitário em Portugal pejado de autismo corporativo, o que fez com que o «arejamento» de ideias fosse raro. Pior: a rígida hierarquia ainda hoje faz com que o mérito científico possa ficar condicionado à existência de vagas de criação meramente administrativa e submetidas a condicionantes de ordem orçamental: as Cátedras que ficam ocupadas por Catedráticos eventualmente detentores de Ciência caduca e os seus Assistentes, eventualmente distinguidos na cena internacional, a permanecerem na escura e desmoralizante fila de espera sem a merecida relevância e reconhecimento académicos. O verdadeiro mérito sente-se frustrado e zarpa para outras paragens onde rapidamente alcança os patamares que em Portugal lhe tinham sido vedados. Eis por que há quem diga que «a Universidade (pública) portuguesa está cientificamente faisandée».

Então, quando finalmente começaram a aparecer (quase como cogumelos) as Universidades não-públicas, eis que algumas se dedicaram ao facilitismo a que vulgarmente chamamos «gato por lebre» e à outorga de diplomas sem as mínimas provas curriculares. Maus exemplos que colocaram sorrisos de vingança no rosto dos corporativistas de antanho. Ou seja, o instrumento de dinamização técnico-científico-cultural-profissional que deveria ter sido o autor do «grande salto em frente» no ensino superior em Portugal ainda mais não foi do que «mais do mesmo» ou, pior «menos do mesmo», não se lhe conhecem ainda assinaláveis performances de inovação científica e tarda a ser reconhecido como algo mais do que uma alternativa (onerosa) para quem não teve nota suficiente para entrar na Universidade pública. Ao contrário das (minhas) expectativas, a Universidade não-pública portuguesa, salvo honrosas excepções, nivelou por baixo. Mas é claro que está a tempo de «dar a volta por cima». Inch Allah!

Solução urgente, precisa-se! E, sim, há: abramos as portas a Universidades estrangeiras de cujos corpos docentes constem, pelo menos, 2 ou 3 nobelizados nos ramos científicos a ministrar entre nós.

(continua)

Dezembro de 2020

Henrique Salles da Fonseca

[i] - https://ec.europa.eu/eurostat/statistics-explained/index.php?title=Europe_2020_indicators_-_education&oldid=301033%20

 

Tags:

"economia portuguesa"

 

COMENTÁRIOS:

Anónimo 26.12.2020: : Universidade de Évora 1559 a 1759??

Henrique Salles da Fonseca 26.12.2020

Tem TODA a razão!Esqueci-me da Universidade de Évora fundada pelo Cardeal D. Henrique, dirigida pela Companhia de Jesus e encerrada pelo Marquês de Pombal.
Mea culpa, mea maxima culpa.

 

 

NOTAS DE APOIO:

Da INTERNET:

Ensino superior em Portugal

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Diplomados a cada ano, por área de formação (PORDATA):

Em Portugal - segundo a Lei de Bases do Sistema Educativo - o ensino superior constitui uma das componentes da educação escolar, para além do ensino secundário e do básico. Por sua vez, o ensino superior compreende o ensino universitário e o ensino politécnico.

O ensino universitário é orientado por uma constante perspectiva de investigação e de criação do saber. Visa assegurar uma sólida preparação científica e cultural e proporcionar uma formação técnica que habilite para o exercício de actividades profissionais e culturais e fomente as capacidades de concepção, de inovação e de análise crítica. O ensino universitário realiza-se em universidades e em institutos universitários ou outras escolas universitárias não integradas.

O ensino politécnico é orientado por uma constante perspectiva de investigação aplicada e de desenvolvimento dirigido à compreensão e solução de problemas concretos. Visa proporcionar uma sólida formação cultural e técnica de nível superior, desenvolver a capacidade de inovação e de análise crítica e ministrar conhecimentos científicos de índole teórica e prática e as suas aplicações com vista ao exercício de actividades profissionais. O ensino politécnico realiza-se em escolas superiores ou outras escolas politécnicas, que podem associar-se em institutos politécnicos ou integrar-se em universidades.

As instituições de ensino superior portuguesas integram-se na rede pública ou na rede privada. A rede pública é mantida pelo Estado e inclui as instituições de ensino superior público universitário, de ensino superior público politécnico e de ensino superior militar e policial. A rede privada inclui as instituições de ensino particular e cooperativo mantidas por empresas privadas ou por cooperativas de ensino e as instituições de ensino superior concordatário mantidas pela Igreja Católica.

 

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