Oxalá os comandantes desta barca
arrombada prestassem atenção à proposta feita na crónica seguinte, de Salles da Fonseca, de
fortalecimento das universidades com professores estrangeiros – ou nacionais,
penso - competentes e disponíveis para dinamizar culturalmente – e moralizar
convenientemente - de forma a corrigir algumas orientações que por cá falham. É
uma proposta sensata a considerar, oxalá fosse levada a sério. Mas
os rombos da barca metem demasiada água, desde há muito, não haverá já, por cá,
betume suficiente para impedir o afundamento. Resta a proposta, de um esforço
titânico, que já não é para nós, por isso mesmo que escreveu Salles da Fonseca: «tenho as pessoas como determinantes no
desenvolvimento dos respectivos países».
O GATO E A LEBRE
HENRIQUE SALLES DA
FONSECA
A BEM DA MAÇÃO, 26.12.20
Resulta
linearmente do meu texto anterior sobre este mesmo tema que tenho as
pessoas como determinantes no desenvolvimento dos respectivos países e as
riquezas naturais como factor secundário. Igualmente determinante – e
directamente relacionado com o desenvolvimento humano – o funcionamento da
«máquina» económica.
Objectivamente, segundo me parece, o problema português está na
debilidade da escolaridade, na subalternização da produção e no privilégio ao
consumo.
*
* *
Partindo
do pressuposto de que a infância já está totalmente escolarizada (e a minoria
de tradição nómada?), é importante erradicar o analfabetismo
adulto - que, só por si, consiste em real
inércia ao desenvolvimento - podendo (devendo) ser realizado pelas autarquias
conforme a realidade local (com eventual apoio do IEFP) e pela Igreja no âmbito da sua tradicional acção de
promoção humana.
Se,
conforme nos diz o Eurostat, quase metade da população portuguesa apenas tem
o ensino primário, isso significa que o problema seguinte se localiza no
secundário. Aqui chegados, parece que os dois principais problemas – abandono precoce e escassez de vias
profissionalizantes – já
começaram a merecer a atenção que lhes era devida mas tardam os resultados com
expressão significativa. É que, se
assim não fosse (o atraso nos resultados), o problema identificado no final da
primária ter-se-ia transferido para o final do secundário, do que não tenho
ainda notícia. Talvez fosse de alguma utilidade harmonizar os esforços
públicos pela integração dos cursos do IEFP nas vias profissionalizantes do
secundário assim dando a este uma panóplia de hipóteses profissionalizantes que
actualmente me dizem não possui e, ipso facto, reduzindo o abandono precoce.
*
* *
Como
se observa nas estatísticas internacionais, nomeadamente no Eurostat[i],
temos relativamente poucos licenciados com cursos superiores apesar de a
situação já ter sido estatisticamente muito pior. Recordando, desde o
reinado de D. Dinis até à implantação da República, tivemos apenas uma única
Universidade, a de Coimbra, já que as de Lisboa e Porto apenas apareceram com a
primeira República. E assim se manteve o panorama universitário em Portugal
pejado de autismo corporativo, o que fez com que o «arejamento» de ideias fosse
raro. Pior: a rígida hierarquia ainda hoje faz com que o mérito científico
possa ficar condicionado à existência de vagas de criação meramente
administrativa e submetidas a condicionantes de ordem orçamental: as
Cátedras que ficam ocupadas por Catedráticos eventualmente detentores de
Ciência caduca e os seus Assistentes, eventualmente distinguidos na cena
internacional, a permanecerem na escura e desmoralizante fila de espera sem a
merecida relevância e reconhecimento académicos. O verdadeiro mérito
sente-se frustrado e zarpa para outras paragens onde rapidamente alcança os
patamares que em Portugal lhe tinham sido vedados. Eis por que há quem diga que
«a Universidade (pública) portuguesa está cientificamente faisandée».
Então,
quando finalmente começaram a aparecer (quase como cogumelos) as Universidades
não-públicas, eis que algumas se dedicaram ao facilitismo a que
vulgarmente chamamos «gato por lebre» e à outorga de diplomas sem as mínimas
provas curriculares. Maus exemplos
que colocaram sorrisos de vingança no rosto dos corporativistas de antanho. Ou
seja, o instrumento de dinamização técnico-científico-cultural-profissional que
deveria ter sido o autor do «grande salto em frente» no ensino superior em
Portugal ainda mais não foi do que «mais do mesmo» ou, pior «menos do mesmo»,
não se lhe conhecem ainda assinaláveis performances de inovação científica e
tarda a ser reconhecido como algo mais do que uma alternativa (onerosa) para
quem não teve nota suficiente para entrar na Universidade pública. Ao
contrário das (minhas) expectativas, a Universidade não-pública
portuguesa, salvo honrosas excepções, nivelou por baixo. Mas é claro que está a
tempo de «dar a volta por cima». Inch Allah!
Solução
urgente, precisa-se! E, sim, há: abramos as portas a Universidades
estrangeiras de cujos corpos docentes constem, pelo menos, 2 ou 3 nobelizados
nos ramos científicos a ministrar entre nós.
(continua)
Dezembro de 2020
Henrique Salles da
Fonseca
[i] - https://ec.europa.eu/eurostat/statistics-explained/index.php?title=Europe_2020_indicators_-_education&oldid=301033%20
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COMENTÁRIOS:
Anónimo
26.12.2020: : Universidade de Évora 1559 a
1759??
Henrique Salles da
Fonseca 26.12.2020
Tem TODA
a razão!Esqueci-me da Universidade de Évora fundada pelo Cardeal D. Henrique,
dirigida pela Companhia de Jesus e encerrada pelo Marquês de Pombal.
Mea culpa, mea maxima culpa.
NOTAS
DE APOIO:
Da INTERNET:
Ensino superior em Portugal
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Diplomados a cada
ano, por área de formação (PORDATA):
Em Portugal
- segundo a Lei de Bases do Sistema Educativo
- o ensino superior constitui uma das componentes da educação escolar, para além do ensino secundário e do básico.
Por sua vez, o ensino superior compreende o ensino universitário e o ensino politécnico.
O ensino universitário é orientado por
uma constante perspectiva de investigação e de criação do saber. Visa assegurar
uma sólida preparação científica e cultural e proporcionar uma formação técnica
que habilite para o exercício de actividades profissionais e culturais e
fomente as capacidades de concepção, de inovação e de análise crítica. O ensino
universitário realiza-se em universidades e em institutos universitários ou outras
escolas universitárias não integradas.
O ensino politécnico é orientado por uma
constante perspectiva de investigação aplicada e de desenvolvimento dirigido à
compreensão e solução de problemas concretos. Visa proporcionar uma sólida
formação cultural e técnica de nível superior, desenvolver a capacidade de
inovação e de análise crítica e ministrar conhecimentos científicos de índole
teórica e prática e as suas aplicações com vista ao exercício de actividades
profissionais. O ensino politécnico realiza-se em escolas
superiores ou outras escolas politécnicas, que podem associar-se em institutos politécnicos ou integrar-se em
universidades.
As instituições de ensino superior portuguesas
integram-se na rede pública ou na rede privada. A rede pública é mantida
pelo Estado e
inclui as instituições de ensino superior público universitário, de ensino
superior público politécnico e de ensino superior militar e policial. A
rede privada inclui as instituições de ensino particular e cooperativo
mantidas por empresas privadas ou por cooperativas de ensino e as instituições de
ensino superior concordatário mantidas pela Igreja Católica.
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