Felizmente que é assim, como dizem os Trovante, pela análise de Paulo Trigo Pereira: Há sempre alguém a travar. Ou antes pelo contrário. A tramar que seja...
«Há sempre
alguém que nos diz: tem cuidado
Há sempre alguém que nos faz pensar um pouco
Há sempre alguém que nos faz falta
Ahhh, saudade…»
E João Miguel
Tavares também ajuda a perceber, no seu artigo do PÚBLICO de 1/12:
«OPINIÃO: PCP anuncia o seu apoio ao Governo até 2023
Se
o país se afundar e a direita vencer as eleições, o PCP corre o risco de se
tornar o partido do Trabant. Se o país resistir ao pós-pandemia e a esquerda
ganhar em 2023, o PCP pode ser premiado pela fidelidade ao PS – e assim
continuar a exibir ao mundo o incrível milagre da sua existência……»
O PCP tem a chave desta legislatura /premium
Doravante os
OE só poderão ser aprovados com a abstenção do PCP e as suas propostas serão
cada vez mais prejudiciais no futuro por serem um travão ao relançar do
emprego, da inovação e do crescimento.
PAULO TRIGO PEREIRA
OBSERVADOR, 29 nov
2020
1Conforme
se esperava, o Orçamento de Estado de 2021, passou só com os votos favoráveis
do PS. O PCP absteve-se, e o Congresso do PCP realizou-se como previsto. Este
arranjo de conveniência entre PS e PCP, decisivo para a sua aprovação, não é
solução para o país, nem para o PS, mas é uma estratégia inteligente do PCP.
Nos
idos anos revolucionários (de Abril de 1974 a Novembro de 1975) o PCP
denunciava a democracia burguesa e não estava ainda decidido a viver com as
suas regras, mas com a estabilidade constitucional, e com a constituição
socialista de 1976, tornou-se seu acérrimo defensor. Do ponto de vista dos princípios o PCP teve toda a
razão em não adiar o Congresso. A razão de ser da lei sobre o estado de
emergência é precisamente de, ao mesmo tempo que dá poderes extraordinários ao
executivo, não suprime os direitos políticos fundamentais. Alguém ainda não percebeu que apesar da COVID,
estamos em plena pré-campanha para as presidenciais (apesar
do-que-não-declara-se-é-candidato-já-o-ser)? Como diz a Susana Peralta, na
corrida ao tabu Marcelo ganha a Cavaco. Ao contrário do PS, cuja posição
é não ter candidato e desvalorizar as presidenciais, o PCP tem e já marcou
terreno neste congresso com as fortes críticas do candidato presidencial João
Ferreira a Marcelo. Aproveitou também o congresso para divulgar as cedências
todas que o governo fez ao PCP e as propostas que conseguiu aprovar, umas vezes
com o governo outras com a oposição, e que significarão um acréscimo de despesa
de mais de 600 milhões.
A estratégia do PCP é assim clara e
serve os interesses do seu eleitorado. Nunca dará um voto favorável ao
Orçamento de Estado, e manterá a abstenção, a menos que haja algo muito
“anti-patriótico” num orçamento e seja forçado a votar contra. A abstenção é algo que o PCP estará sempre disposto a negociar
em cada OE em troca de concessões à sua base eleitoral: parte
dos pensionistas e dos trabalhadores em funções públicas. Neste ano em particular, ter um orçamento um pouco
mais expansionista, em grande parte financiado por fundos europeus, até será
positivo para a economia sem grande impacto na dívida pública. Ter um orçamento
aprovado e não ficarmos em duodécimos também é claramente benéfico. Ao
contrário do BE a
posição política do PCP foi mais construtiva. Porém
este arranjo, a breve prazo, não é sustentável, nem para o país nem para o PS
se quiser continuar a ser um partido relevante.
2A manter-se a viabilização do OE pelo PCP em 2022 e 2023, isso
significaria o PS ser progressivamente incapaz quer de relançar o crescimento e
o emprego, quer de controlar as finanças públicas. As medidas do PCP são, como
de costume, todas no sentido de aumento da despesa e de diminuição de receita. Se isto em 2021, até é defensável, não o será em 2022
e 2023 com as previsões que temos neste momento, quer para a redução dos
efeitos da pandemia, e da vacinação associada, quer para o crescimento
económico e emprego. As medidas
de política orçamental, neste período de emergência, de apoio às empresas e
trabalhadores deveriam até ser mais fortes, mas de carácter temporário e não
com um impacto estrutural e permanente nas finanças públicas. Se muitas são
temporárias e outras de execução incerta (investimentos) há ainda outras que
terão um impacto estrutural na despesa pública (e.g.
contratação de novos profissionais das forças de segurança ou de médicos de
família) caso
aumentem o número de efectivos, mesmo considerando as saídas.
3O BE parece acreditar completamente na existência de uma
crise política no final de 2021 e avaliou (provavelmente mal) que seria melhor
estar claramente na oposição e colocará, por convicção ou por sentido de
oportunidade, várias pedras no caminho do governo ao longo do ano de 2021 para
que esta convicção se torne uma realidade
(as famosas self fulfilling expectations). A questão do Novo
Banco é uma delas e esta é por convicção
pois sempre foi contra a venda à Lone Star, embora não usasse o principal
argumento para ser contra (como explicarei em artigo só sobre o NB). Saltar
fora do barco da governação é uma estratégia arriscada. Neste ano de 2020 tudo indica que o PCP terá
tido mais ganhos reais e simbólicos. Não só ajudou a viabilizar o OE2021, sem
se comprometer com a governação, como retirou o BE da esfera do arco da
governação desta legislatura.
4.O PSD de Rui Rio, revelou
através de algumas votações neste OE, quer na redução das portagens, quer no
Novo Banco, posições que dificilmente serão compreensíveis pelo seu eleitorado
e que necessitarão ser bem explicadas pois contrariam o sentido de
responsabilidade e de sentido de Estado que Rui Rio tem tentado associar o PSD.
Todos se lembram bem das reviravoltas do PSD na votação dos professores. O
facto de Costa ter fechado a porta a entendimentos com Rui Rio levou-o a este
voto contra. Em relação ao Novo Banco não tenho dúvidas de que viabilizará
com abstenção a injecção de capital no Orçamento rectificativo. Só tenho
dúvidas sobre se o montante será apenas o que estava inscrito na proposta de
lei do OE ou se ainda será maior. Apesar deste voto, parece também definida a
estratégia do PSD para esta legislatura. Saltou também para fora do barco.
Doravante, os OE só poderão ser aprovados com a abstenção do PCP. Se as suas propostas, neste orçamento,
até foram benéficas, tornar-se-ão cada vez mais prejudiciais no futuro ao serem
um travão ao relançar do emprego, da inovação, e do crescimento, ignorando por
completo a justiça inter-geracional com o seu foco nos actuais pensionistas. Caberá a Costa fazer a sua análise
custo-benefício político, económico e social deste apoio, mas é o PCP que tem a
chave desta legislatura e para já está satisfeito em mantê-la na porta.
POLÍTICA PCP ORÇAMENTO DO
ESTADO ECONOMIA GOVERNO
COMENTÁRIOS
Gabriel Moreira: Pensar que com
o 25 de Novembro foi retirada ao PCP a sua influência ilegítima na governação
do país e, agora, com um Ps pretensamente habilidoso, essa influência
regressou, conclui-se que o Sr. Costa afinal é um aprendiz de feiticeiro. Filipe Costa: Quando o objectivo de um partido passa pela automutilação,
está tudo dito. Nuno Viana: Acho
que PTP tem vindo a evoluir e a assumir posições cada vez mais realistas e
pragmáticas. Saúdo a evolução sem prejuízo de pensar que o Governo do sr costa
é uma monumental pantominice, ausente de um projecto, senão a premissa inicial
das reversões. O resto é populismo barato e inconsequente que nos levará a nova
falência. De resto, como bem sabe, já temos a maior carga fiscal de sempre e a
maior dívida de sempre ... chapeau. manuel soares Martins: Como o BE se desarriscou de sócio do negócio, e já não
há geringonça, proponho que daqui em diante se passe a falar de ARRANJINHO. O
diminutivo sugere coisa pequenina e ...foi o que se arranjou. Paulo Guerra: Com os principais países da UE
muito mais confinados que Portugal, acho sobretudo piada ao movimento da
restauração – que ninguém duvida que precisam de apoios económicos – que têm
feito as manifestações que querem em Lisboa e no Porto - com muito menos
cuidados que os vistos no Congresso do PCP - e agora inclusive acampados à
porta da AR, com o seu porta-voz a reclamar que estamos a viver numa Ditadura?!
Imagine-se o que dirá de Inglaterra, Alemanha, França, Itália ou Espanha, só
para citar algumas das maiores economias. E nunca lhe deve ter passado pela
cabeça que numa verdadeira Ditadura não estava de certeza acampado à porta da
AR a dizer que vivemos em Ditadura ou outra asneirada qualquer.
Provavelmente quando crescer também nem quer ouvir falar em vacinas.
Já o pantomineiro
de Belém enquanto puder utilizar as estruturas do Estado e do poder na sua
campanha não passa nada. Quanto ao crescimento nunca esquecer que nada o
promoveu tanto na última legislatura como os cortes da austeridade e a
devolução de rendimentos às pessoas. Outra coisa totalmente diferente são as
restrições da UE em termos de défice que voltarão mais cedo que tarde. Porque nenhum economista de bom senso pode pôr em causa que poucas vezes se
justificou tanto investimento público como agora. E quando digo agora, digo o
próximo triénio. Nem conheço outra maneira para sairmos da crise económico e
social que ainda se vai sentir muito mais em 2021. O caso da TAP até pode ainda
muito bem vir a ser paradigmático. Enquanto o transporte aéreo não normalizar
por completo e dada a forma como chegámos à pandemia com a economia
estruturada, vão ser precisos incentivos públicos. E a aviação civil não
normaliza de certeza antes de 2022. Na melhor das hipóteses. Nuno Viana >Nuno Viana: Só para citar "Mas
também isso foi um logro. Sabemos hoje que Portugal foi um dos países na União
Europeia que, até agora, menos apoiou a economia. Um estudo da semana passada
do FMI mostra que em 38 países desenvolvidos, Portugal é o 35º em gastos com a
crise em percentagem do PIB. O 4º a contar do fim!" Paulo Guerra > Nuno Viana: O contrário é que era anormal. Não foi por acaso que
antes ainda da ideia da bazuca europeia a Alemanha já tinha injectado mais
dinheiro na economia alemã que a totalidade da bazuca. Por isso é que a bazuca
ainda era mais urgente para países como Portugal sem recursos próprios. Não é por acaso que as crises por norma só acentuam
ainda mais as diferenças entre as economias. De qualquer forma as economias também não são
todas iguais. E em Portugal há uns sectores mais apoiados que os outros. Por
exemplo a restauração, apesar de precisar de muitos mais apoios, também já teve
muitos mais apoios que o que dizem os seus responsáveis. Há muitas formas de apoiar os
diferentes sectores. Empresas já muito endividadas por norma vão sentir os
mesmos problemas que países já muito endividados. E para quem decide o apoio
ainda se levanta a questão se todas as empresas de um determinado sector devem
ser todas apoiadas. Sobretudo quando já se sabe a posteriori que algumas já
chegaram à pandemia com muitos problemas e muito dificilmente abrirão portas
depois da pandemia. Além de que uma coisa é o que dizem os quadros e outra
coisa é a realidade. Em
França, só para citar um exemplo outra vez, há muitos fundos prometidos aos
restaurantes mas até hoje ainda não viram nada. E só estamos a falar dos apoios
à economia. Quando eu não acho nada menos premente os apoios sociais aos que
mais perderam. Paulo Guerra > Nuno Viana: Já para não falar que é impossível segurar alguns
salta – pocinhas em Portugal sempre sem capitais próprios – também não sei de
onde lhes vem o crédito - que ao segundo dia de confinamento já estavam a miar.
E por mais moratórias que já estejam no terreno. Nuno Romão: Fico estupefacto! Então quando, em 2015, António
Costa, decidiu aliar-se á esquerda radical leninista e trotskista, para poder
governar, não era já óbvio que essa aliança seria "cada vez mais
prejudicial ao relançamento do emprego, da inovação e do crescimento
económico"? Parece que as suas convicções não o impediram de colaborar com
o governo Costa... José Monteiro > Nuno Romão: Tentou. Até que a desilusão o convenceu. Antes pelo contrário: O que esta legislatura tem é as
calças em baixo, e um alvo pintado no traseiro. Joaquim Moreira: Confesso que até tenho muita dificuldade em começar,
tantas as incongruências que gostaria de denunciar. Mas vou começar, pelo que,
quase no fim, acaba por demonstrar. Que é um académico e também um cronista da
área socialista, incapaz de ver com rigor intelectual o que se está a passar. Quando no ponto 4, depois de
várias considerações, incluindo a da narrativa criada pelo PS, com o “caso dos
professores”, é em conclusões muito pouco rigoroso e parco: “Apesar (...)”, o
PSD, “Saltou também para fora do barco”. Já sobre os três pontos iniciais,
apenas duas sugestões e nada mais! A primeira é que leia o artigo de ontem, no
Público, de João Miguel Tavares: À direita, tudo é literal. À esquerda tudo é metáfora. A
segunda, mais que uma sugestão é uma constatação. Com a realização do
Congresso, o PCP demonstrou, que a forma como o PS está a lidar com a epidemia
é um enorme insucesso! bento
guerra: Cabecinha
pensadora. O "europeísta" Costa entregou a chave ao último partido
comunista da Europa. Segue a recomendação da IS "o poder a qualquer
custo". Aqui ao lado, Sanchez negoceia com os inimigos de Espanha, em
Itália, o derrotado PD "casa" com o 5Estrelas, criado pelo clown
Grilli para o "destruir", na Alemanha o SPD dá apoio ao seu
adversário histórico, a CDU. O poder é que conta. Não é isso fazer política, contar
assentos parlamentares?
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