E assim se revê o passado próximo, com a
resenha histórica de Paulo Rangel sobre as
eleições presidenciais. Mas aquele atribui a Marcelo sentimentos de apego ao centro-direita, e por isso
deveria esperar maior entusiasmo apoiante desses partidos em torno da sua
eleição, para o proteger contra a indiferença do PM nesse capítulo, muito embora este tenha dado o seu
aval à eleição de Marcelo, não apoiando
a candidata do seu próprio partido, Ana
Gomes. O que me parece é que António
Costa receia mais Ana Gomes como hipotética
presidente, criando-lhe sarilhos, aguerrida que é, da mesma escola dos demais
da esquerda, e António Costa, com Marcelo, sempre tem mais assegurado o seu
poder, em todas as frentes, pois Marcelo não faz
muitas ondas, a não ser no que toca às artimanhas da sua sedução popular, própria
da época, de visibilidade e ruído, na aparência, mas de ocultação real, na
essência.
OPINIÃO
Costa pôs o PS pela segunda vez fora das presidenciais
Abusando dos neologismos, o PS e Costa
têm toda a conveniência em “pandemizar” as eleições presidenciais. É justamente
isso que o PSD e o CDS não devem deixar que aconteça.
PÚBLICO, 29 de
Dezembro de 2020
1.Para
todos aqueles que, como eu, no centro e no centro-direita apoiam convicta e
decididamente Marcelo Rebelo de Sousa,
nunca será demais denunciar o oportunismo táctico do PS em matéria de
eleições presidenciais. É
fundamental lembrar a mundividência de Marcelo e o seu apego aos valores do
PSD, do centro e do centro-direita para que o PS e António Costa não se possam apropriar da esperada vitória
do Presidente em funções.
A
vitória de Marcelo será, como todas as vitórias numa eleição unipessoal, a vitória
de uma personalidade. Mas será também – e isso não pode ser escamoteado – uma
vitória de um bloco, de um projecto e de uma visão política. Especialmente
se essa pessoa foi um militante destacado e um antigo líder partidário. Por
isso mesmo, gostava de ver o PSD, a sua máquina e os seus militantes mais
empenhados e embrenhados neste acto eleitoral e na respectiva campanha. Estão,
aliás, muito a tempo de o fazer e devem fazê-lo sem cerimónia nem pruridos.
Compreende-se
perfeitamente que o Presidente
recandidato queira pairar acima dos partidos e, no presente
contexto pandémico, aposte numa campanha suave e de baixo perfil. Mas o PSD
e a sua área política não devem baixar a guarda. É preciso lembrar que, com
a reeleição de Marcelo, o PSD terá ininterruptamente, por 20 anos, um antigo
líder na chefia do Estado. É um feito político de tomo, que não pode ser
desprezado; num sistema semipresidencial, com eleição directa do chefe de
Estado, isso não é pouco nem pode ser apoucado.
2. É
evidente que ao PS e a António Costa interessa de sobremaneira desvalorizar e
“neutralizar” as presidenciais, embrulhando-as nas brumas da pandemia.
Abusando dos neologismos, o PS e Costa têm toda a conveniência em
“pandemizar” as eleições presidenciais. É justamente isso que o PSD e o CDS
não devem, em caso nenhum, deixar que aconteça. O primeiro passo para tanto é lutar
contra a abstenção: a abstenção pode ser a grande inimiga de Marcelo e
do bloco político de onde ele provém e será, sem dúvida, a grande amiga – a
maior amiga – de Costa e do PS. Quanto mais abstenção existir,
quanto mais forem “pandemizadas” as eleições, menor será a força, a autoridade
e a legitimidade de Marcelo. E
ao PS e ao primeiro-ministro, em início de segundo mandato, nada serve mais do
que um Presidente empalidecido.
3. Costa
tudo fez e tudo fará para sair destas presidenciais como não perdedor, se
possível, como aliado do vencedor ou, até idealmente, como vencedor. Compete às forças que genuinamente apoiam Marcelo
contrariar essa tentativa de aproveitamento. De resto, também é do interesse
cardial de Marcelo que esse aproveitamento não tenha quaisquer hipóteses de
sucesso. Importa,
lembrar que, apesar da louvável candidatura de Ana Gomes, o PS não tem nem quis ter um candidato
próprio. Porquê? Porque não tem o PS um candidato em nome
próprio, forte, capaz de empunhar as suas bandeiras? Porque Costa sabe, depois
longuíssimos anos de experiência, que o PS tem um problema congénito com as
presidenciais. Tanto sabe que, desde que é líder, nunca foi capaz de apoiar um
único candidato presidencial nem de pôr o seu partido a fazê-lo. Desde que é
secretário-geral do PS que António Costa desistiu das presidenciais,
renunciando sempre a fazer qualquer escolha. Como chefe, Costa pura e
simplesmente retirou o PS do jogo e do mapa das presidenciais. Sob a
liderança de Costa, o PS ignora olimpicamente as eleições presidenciais.
4. O trauma do PS com as presidenciais começa na Assembleia Constituinte em
que Soares e o PS se
mostraram relutantes em apoiar a eleição directa do Presidente, que acabaria consignada na Constituição. Logo em 1976, depois de Sá Carneiro ter antecipado o apoio ao general Eanes,
o PS vê-se na contingência de parecer ir a reboque e apoiá-lo também. Já
em 1980, começam as grandes fracturas:
apesar de o PS apoiar oficialmente a recandidatura de Eanes, Soares retira-lhe
o seu apoio pessoal e “auto-suspende-se” do cargo de secretário-geral. Em 1986, por
sua vez, dar-se-á a grande ruptura, com as candidaturas simultâneas de Soares e do seu número dois (e companheiro de sempre) Salgado
Zenha. O primeiro apoiado pelo PS
institucional, o segundo por eanistas e comunistas.
A história foi feliz para com Soares
e a sua reeleição seria pacífica em 1991.
Mas em 1996, o fantasma regressa de novo: Sampaio apresenta-se como candidato à revelia do
líder do partido António Guterres. A
má relação entre ambos era proverbial, por Guterres ter desbancado Sampaio da
liderança uns anos antes. A contragosto, Guterres apoiará Sampaio, este vencerá e será reeleito sem problemas em 2001.
Também
em 2016, sob a
liderança de Costa, o PS não apoiou qualquer candidato. E, nessa altura, não havia incumbentes. Costa
tirou ao PS o património presidencial. A persistente desistência de Costa dá
que pensar
A
grande turbulência haveria de voltar, numa situação mais crítica, em 2006. Em
2006, porque não havia candidato incumbente, tudo estava em aberto. Mas Sócrates
escolhe Mário Soares como rosto oficial do PS, o que estimula e motiva a
candidatura de Manuel Alegre. Na prática,
o PS tem dois candidatos, perde as eleições e o candidato oficial (com 14%)
fica atrás do não oficial (com 20%). Em 2011, Manuel Alegre passa a candidato oficial do PS, mas as divisões
internas canalizam muitos apoios para o independente Fernando
Nobre. O primeiro terá 20%, o segundo 14%. Em 2016, já sob
a liderança de Costa, abre-se
uma nova oportunidade, pois o Presidente em funções não pode recandidatar-se. Mais uma vez, o PS divide-se por dois candidatos,
na mesma área, optando por não apoiar oficialmente nenhum deles: Sampaio
da Nóvoa (que terá cerca de 23%) e Maria
de Belém (que terá pouco mais de 4%).
5.Muitos
supõem que, em 2021, o PS de Costa não tem um candidato oficial, apesar da
vontade de Ana Gomes, porque o
Presidente em funções se recandidata e, como todos os seus predecessores,
vencerá as eleições. Mas não é verdade. Também em 2016, sob a liderança de Costa, o PS não apoiou qualquer candidato. E, nessa altura, não havia incumbentes. Costa
tirou ao PS o património presidencial. A persistente desistência de Costa dá
que pensar.
SIM E NÃO
SIM Michel Barnier. O acordo comercial pós-"Brexit” deve-se
à persistência, à mestria e ao zelo com que cuidou dos interesses de britânicos
e europeus. Pela sua fleuma, nunca um francês pareceu tão britânico.
NÃO Ministro do Ambiente. Apesar das declarações, o massacre de animais na
quinta da Torre Bela continua sob a sombra dos interesses da transição
energética. Para quando um esclarecimento cabal?
Eurodeputado (PSD)
TÓPICOS
OPINIÃO ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS MARCELO REBELO DE SOUSA ANTÓNIO COSTA PS PSD SAMPAIO DA NÓVOA
COMENTÁRIO:
Ilídio Silva.896796 INICIANTE: Quando
se vota nas eleições presidenciais vota-se na pessoa, não em partidos
políticos. Por mais que PSD e CDS queiram vir colher os louros de uma
(esperada) vitória de Marcelo R. Sousa, essa vitória será sobretudo uma vitória
pessoal. Ao contrário da vontade de alguns, quando alguém é eleito Presidente
da República é-o em relação a todos os Portugueses e não apenas para agradar ao
seu partido de origem. Um partido não apoiar oficialmente um candidato e deixar
isso ao critério dos seus simpatizantes pode ser visto como um sinal de cultura
democrática! Porque é que um PM não deveria apoiar um PR com o qual mantém
excelentes relações institucionais? Por vezes, P. Rangel critica A. Costa por
não lidar bem com a pandemia, agora critica por sobrevalorizar a pandemia e
menosprezar as eleições!
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