Coisas que por cá passam
“Coisas
que terei pudor / de contar seja a quem for”…. As de José Régio eram, certamente, bem diferentes das
desta nova “Portalegre”, de uma “toada”
bem mais grave e mesquinha que a daquela outra, que nos ficou na memória, pela
voz de João Villaret.
Saudosismos de outros Natais, neste de hoje. E todavia, na narrativa de João Marques de Almeida, afinal,
com jeitos generosos também, que diluem um pouco a mesquinhez de figuras da
actual proeminência política, em jeitos de candidatura presidencial, que muito
lembram atitudes dos fascismos que elas condenam… Leiamos Marques de Almeida, e a sua
boa ordenação dos factos da história recente em torno das exigências presidenciais
e das vozes partidárias:
Marcelo Rebelo de Sousa matou a diabolização do Chega /premium
Os portugueses prestam muita mais
atenção ao que diz Marcelo Rebelo de Sousa do que aos ataques das esquerdas,
incluindo duas das suas candidatas presidenciais.
JOÃO MARQUES DE
ALMEIDA Colunista do Observador
OBSERVADOR, 23 dez
2020
Durante meses, a diabolização do Chega ocupou os estúdios e as
páginas da comunicação social.
Intensificou-se com o acordo das direitas nos Açores (o PS irrita-se quando
perde o poder) e cresceu ainda mais com o início da campanha para as eleições
presidenciais. Para diabolizar o Chega, Ana Gomes a Marisa
Matias confessaram que estariam dispostas a violar a
Constituição portuguesa se fossem eleitas para Belém, não dando posse a um
Governo apoiado por André Ventura. Pelos
vistos, para duas candidatas presidenciais, já nem a Constituição constitui um
limite à competição política com o candidato do Chega.
Esqueçam
o partido de um único deputado. A estratégia de diabolização tem pouco a ver
com o Chega ou com Ventura. A diabolização do Chega serve, em
primeiro lugar, para passar uma esponja sobre o papel de António Costa e do PS
na formação de alianças com partidos de extrema-esquerda. Com a diabolização da “extrema-direita”, Costa
deixa de ser o líder socialista que abriu um precedente perigoso na política
portuguesa, abrindo o poder às esquerdas anti-democráticas, para se tornar num
PM moderado e sensato. Costa continua a chefiar o Governo graças ao
apoio do PCP, mas o radical passaria a ser Rui Rio.
Em segundo lugar, a
diabolização do Ventura também serve para ajudar o processo de normalização do
PCP e do Bloco. Dois partidos que sempre foram contra a democracia
liberal, aparecem agora como forças políticas moderadas em oposição ao
“iliberalismo” radical do Chega.
Por exemplo, durante uma entrevista
recente aqui no Observador, nunca ocorreu a Pedro Duarte o ponto
mais óbvio de todos: a verdadeira escolha é entre um Governo do
PS com o apoio do PCP (ou e com o Bloco),
e um Governo do PSD e do CDS, com o apoio do Chega e da IL. Ou seja, Pedro Duarte conseguiu
opor um cenário extremista, o seu partido aliado ao Chega, a um cenário
moderado, o PS aliado à extrema-esquerda. E disse que preferia a segunda. Isto
é para rir ou para chorar?
Com
a normalização em curso do PCP e do Bloco, iniciada com a geringonça, um dia
destes vão dizer-nos que, apesar dos seus discursos e programas políticos, na
realidade, os comunistas e os bloquistas são a favor do euro e da NATO, e que
sempre defenderam a democracia ocidental e se opuseram aos totalitarismos
marxistas.
Por
fim, as esquerdas precisam de renovar periodicamente o seu “anti-fascismo”
porque têm pouco mais para apresentar aos portugueses. Nos
últimos 25 anos, o PS esteve 19 no governo. Nessas
duas décadas e meia, a economia portuguesa esteve sempre a piorar em comparação
com as outras da UE. A pobreza aumentou em termos europeus. A
dívida subiu para níveis impossíveis de pagar. Os serviços públicos
degradaram-se. Os casos de corrupção multiplicaram-se. E nos últimos cinco
anos, o PCP e o Bloco foram cúmplices do PS. Nada melhor para
fazer os portugueses esquecer a realidade do que inventar “fascistas.” A renovação periódica do “perigo fascista” permite às
esquerdas falarem como se não tivessem qualquer responsabilidade pelo que se
passou nos últimos 25 anos em Portugal.
Mas estava a diabolização do
Chega em curso, quando o Presidente da República disse em directo aos
portugueses que, obviamente, daria posse a um Governo apoiado pelo partido de
Ventura. E justificou a sua posição com três
argumentos poderosos. O Chega é um partido legítimo para o Tribunal
Constitucional e, portanto, respeita a Constituição. Também compete ao PR
respeitar a Constituição do Estado português.
Além disso, o Chega representa eleitores portugueses. E não há
eleitores de primeira e de segunda. São todos iguais. Aliás, essa foi
uma das justificações para legitimar a geringonça. Finalmente, explicou
com toda a naturalidade, e razão, que se o voto dos deputados do Chega não
servisse para uma maioria governamental, também não serviria para qualquer
outra matéria parlamentar. Ou seja, no
cenário de Ana Gomes, teríamos uma de duas situações absurdas. Um grupo de
deputados proibidos de votar sobre qualquer questão parlamentar. Ou um grupo de
deputados que poderia votar, excluindo a votação sobre a formação de um
Governo. Qualquer português percebe que só há uma motivação para as
esquerdas: a diabolização do Chega serve para impedir um Governo de
direita e manter a esquerda no poder.
As
tentativas de diabolização do Chega não vão parar, mas o Presidente acabou com
a sua legitimidade. Os
portugueses prestam muita mais atenção ao que diz Marcelo Rebelo de Sousa do
que aos ataques das esquerdas, incluindo duas das suas candidatas
presidenciais. Tal como conta muito mais a posição do PR do que as
indignações dos militantes do PSD e do CDS que se opõem aos respectivos líderes
partidários, usando a ameaça da “extrema-direita” para fazer oposição interna.
Não
sem alguma ironia, a reeleição de um Presidente, que justificou um Governo com
maioria parlamentar que inclua os deputados do Chega, será um marco simbólico
na integração plena do partido de Ventura no sistema democrático nacional.
Tendo em conta que Ventura é um adversário de Marcelo nas eleições
presidenciais, não deixa de ser uma acto com alguma generosidade política. Deve
ser o Natal em Belém.
POLÍTICA PARTIDO CHEGA MARCELO
REBELO DE SOUSA PRESIDENTE DA
REPÚBLICA PRESIDENCIAIS
2021 ELEIÇÕES
PRESIDENCIAIS ELEIÇÕES
COMENTÁRIOS:
FME: O BE já é
social democrata. Já se defendem novas interpretações do que é a social
democracia. O hipócrita do RAP já veio passar a mensagem no último programa do
governo sombra. Todavia, são comunistas, apesar de fugirem do título comunista
como o diabo da cruz. Esquecem, que, por muito que neguem, nunca poderão
esconder o berço onde nasceram, o berço comunista, o berço marxista-leninista!
Carlos Quartel: Há que
continuar insistindo na verdade. Aqui quem está fora do baralho são PC e BE,
não o Ventura ou o Chega. O que está em causa é a o tipo de sociedade que se
defende, não a postura mais ou menos musculada quanto à ordem pública ou a
sensibilidade quanto ao parasitismo social de algumas minorias. Ventura e o
Chega não querem nenhuma alteração quanto às liberdades individuais, quanto ao
pluralismo, à propriedade, à iniciativa privada, aceitam e defendem o voto
livre e secreto e a alternância resultante de eleições limpas e em plena
liberdade. PC e BE são de outro universo, o universo da sua verdade,
cientificamente provada, que há que impor às massas ignorantes. A vanguarda
revolucionária, a elite esclarecida do partido porá mãos à tarefa. Doutrinando,
recuperando hesitantes em tratamento especial, em campos ou campas até que
todos vejam a luz.
Partidos
políticos, imprensa livre, propriedade privada, tudo luxos burgueses e fascistas,
que há que eliminar de raiz. Esta
é a mensagem que os aterroriza...
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