Nem direita nem esquerda têm razão para
estarem optimistas, julgo, nenhum português que se preze tem razão no que
concerne tal optimismo. Porque o certo é que, embora sejamos um povo que
trabalha, como outros o fazem – e vemo-lo na labuta diária de quem participa
nas estruturas operatórias com que nos confrontamos – supermercados, farmácias,
hospitais, ensino, centros de apoio, algumas fábricas que vamos escrutinando,
os condutores de transportes públicos, os construtores de casas ou de ruas, os
produtores de vária ordem, os serviços públicos e os privados, etc., etc., sustentáculos
da nação, afinal, tudo isso que transparece, quando somos atendidos, por gente
que está ganhando a sua vida, apesar de todo este problema sanitário que
envolveu o mundo inteiro - estamos aqui, frustrados sempre. Todos esses nos merecem gratidão, mas orgulho não,
que não só não produzimos o suficiente, como vivemos cada vez mais na dependência
financeira que nos cobre as falhas mas não nos permite progredir
economicamente, talvez por deficiência de estratégia governamental, talvez por
tristes motivos de comportamentos irregularmente obscuros. João Miguel Tavares explica e demonstra,
com razões justas, um país aproveitado por quem de direito, um país acobardado
na sua maioria, de todos, aliás, desconfiando, mas acolhendo-se às razões de um
pseudo-conforto, de um pseudo-governo manhosamente usurpador, que não nos
convém pôr em causa …
OPINIÃO
A direita não tem razões para estar tão optimista
Que se denota cansaço neste Governo e
pouquíssima capacidade para recrutar fora do círculo dos gabinetes, não há
dúvida alguma. Mas a direita ainda tem muito que penar nos próximos anos.
PÚBLICO, 22 de Dezembro de 2020
O
acordo à direita nos Açores, o crescendo de confiança de Rui Rio, a conversa
interminável em torno da ascensão de André Ventura e os problemas económicos causados pela pandemia têm
permitido à direita um discurso bastante optimista quanto à possibilidade de conquistar o poder em 2023. Quando juntamos a isso a fragilidade
dos acordos à esquerda, o desgaste
natural que ocorre em qualquer governo e o facto de apenas Cavaco Silva
ter aguentado três legislaturas (na verdade, duas e meia) como
primeiro-ministro, então a conclusão de que o próximo ciclo vai ser de
Rio e do PSD pode parecer relativamente natural. Na minha opinião, não é.
E
não é, desde logo, por ser extremamente difícil antecipar o impacto desta
pandemia, e porque nada nos garante que no ano de 2023 o país esteja ainda a
apanhar os cacos do annus horribilis de 2020. Sei que é difícil ter discursos optimistas sobre a
situação de Portugal quando o nível de moratórias de crédito já abrange um
terço dos empréstimos das empresas, e quando a suspensão das prestações
em dívida por parte de empresas e de particulares cobre uns exorbitantes 46
mil milhões de euros. Estamos sentados
em cima de um barril de pólvora, para mais
com vistosos rastilhos, como o da TAP.
Mas, ao mesmo tempo, 2021 e 2022 poderão vir a revelar-se anos de
surpreendente optimismo, após o confinamento de 2020, e é inevitável que o
consumo dispare após um ano de enorme poupança.
A
chegada em força das vacinas tenderá, só por si, a aliviar o estado de espírito
do país, e mesmo que não seja ainda possível salvar o Verão de 2021, vai quase
de certeza ser possível salvar o Natal do próximo ano. Sobretudo, haverá
um horizonte temporal bem definido, a partir do qual podemos voltar a planear
as nossas vidas em segurança. Em 2021, o mundo vai ser tomado por um enorme
desejo de regresso à normalidade, de jantar fora, de ir ao cinema, de viajar,
num compreensível movimento de distensão após um período de tantas limitações.
Historicamente,
depois de um grande conflito ou de uma pandemia, foi sempre assim. Comprovam-no
os roaring twenties que se seguiram à Primeira Grande Guerra e à devastadora
gripe espanhola, ou a golden age do capitalismo americano, após a Segunda
Guerra Mundial. Para mais, este novo período coincidirá, nos Estados Unidos,
como a eleição de um novo Presidente, que será um bálsamo de normalidade após
os tempestuosos anos Trump.
Portugal tem problemas estruturais tão graves, uma dívida
pública tão grande e um Governo tão limitado na sua actuação, por estar
dependente do apoio da esquerda radical, que os desafios que tem pela frente
são muito mais pesados do que na maior parte dos países do Primeiro Mundo. Pode perfeitamente acontecer que uma rápida
recuperação dos outros países não tenha recuperação equivalente no nosso.
Mas isso não significa que, entre a chegada dos fundos da bazuca, a
habilidade política de António Costa e um eleitorado extremamente acomodado ao statu
quo, a direita possa ter como certa a vitória em 2023, ao ponto de André Ventura
andar já a distribuir a lista de ministérios que reclama para si.
Que
se denota cansaço neste Governo e pouquíssima capacidade para recrutar fora do círculo dos gabinetes,
não há dúvida alguma. Extrapolar a partir daí que são favas contadas e que o
Governo de António Costa vai cair de podre em 2023, ou até antes disso,
parece-me francamente exagerado. A direita ainda tem muito que penar nos
próximos anos.
TÓPICOS
GOVERNO ANTÓNIO COSTA RUI RIO
DIREITA COVID-19
CORONAVÍRUS OPINIÃO
COMENTÁRIOS
mariaestela.rodriguesmartins EXPERIENTE: Espero bem que a
sua previsão se concretize. Não é que goste de António Costa, mas Rui Rio tem
uns laivos de autocrata que me assustam, de Passos Coelho só de vê-lo já me
traz más recordações e André Ventura cheira-me a Le Pen pai renascido. Vade
retro Satanás! jorge morais EXPERIENTE: E que tal o regresso de Sócrates? Por bom caminho e segue EXPERIENTE: Que tem a ver o
Sócrates de má memória com esta direita indigente? Que argumento, ó Jorge
Morais! Esta direita nunca chegará ao governo, o que é lamentável porque a
esquerda não tem com Rui ou Ventura concorrência. E com o Jorge também não... jorge morais EXPERIENTE: Apesar que qualquer pessoa entender o meu comentário,
até era capaz de lhe dar uma explicação. Mas como não sei como o hei-de tratar,
não lhe faço esse favor. Fique-se com a sua ignorância. Leclerc EXPERIENTE: Dos menos de 15 mil milhões da bazuca cerca de 4 mil
milhões vão para a TAP e cerca de 3 mil milhões para o Hidrogénio. Ou seja,
antes de chegarem, já metade foi gasto. Nuno Silva EXPERIENTE: Se os fascistas
americanos tomaram conta do Partido Republicano, também irão comprar o Partido
Democrata (como tentaram cá com o PSD). É uma questão de tempo, e felizmente
que Portugal tem uma Constituição que proíbe o fascismo, e há que metê-los na
cadeia, antes que contaminem.
Leclerc EXPERIENTE: Por cá não
precisam de comprar nada, já temos os social-fascistas do bloco e do pcp. O pcp
e os grupos de esquerda radical, que foram a base do bloco, em 1975 tentaram
conquistar o poder pelas armas e não foram ilegalizados. Se isto não é ir
contra a constituição não sei o que será! jorge morais EXPERIENTE: Quando me
preparava para responder aqui ao Nuno, o Leclerc fê-lo por mim. Obrigado. pedbapt.1011048 INICIANTE: O socialista
Portugal inimigo do lucro estará na frente da fila pra pegar seu quinhão quando
a Alemanha distribuir dinheiro. Enquanto o alemão larga o couro trabalhando, o
português planeja uma greve/
maria INICIANTE: Meu caro JMT,
Pois, se calhar, mesmo!... em 2023 não está garantido que este governo esteja a
apanhar os cacos do ano de 2020, mesmo, muito, contra a vontade de V. Exa. Alexandre
Pinto-Fernandes EXPERIENTE:
Se
analisarmos as últimas sondagens parece que a esquerda vai reinar depois de
2023. RR parece pouco preparado e uma geringonça de Direita será um carnaval
ainda mais foleiro que o da esquerda. O Sr Ventura consegue ser pior que a Sra
Martins. bento guerra.919566 EXPERIENTE: A direita virá
pelo balanço das contas.Com o BCE a imprimir dinheiro e a Merkel a distribuí-lo
vai levar alguns anos. Entretanto, haverá muitos centrifugados pelo sistema Leclerc EXPERIENTE: A Merkel já está de malas aviadas. Não acredito que
quem a venha substituir não esteja mais atento à opinião pública alemã. ALRB EXPERIENTE: Eu diria que o governo aguentar-se ou não depende
unicamente do apoio da Europa às finanças portuguesas. Ou seja, depende daquilo
que os anti capitalistas estão sempre a exigir: mais capital. 22.12.2020
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