sábado, 26 de dezembro de 2020

Espírito de Natal… ou menos


Para mim, toda esta leitura foi um prazer. De Jaime Nogueira Pinto, naturalmente, na seriedade amena dos seus referentes literários, voltados sobre um Dickens das nossas recordações juvenis, que nos faziam vibrar de emoções várias e que voltaram à baila e ao apetite de releitura, para confronto de mundos, em que o nosso, mal difere em mal-estar, daquele, pese embora tanto objecto e esclarecimento para nosso bem-estar de modernidade e vacuidade também. Mas foi igualmente prazer o despique entre comentadores ateus e crentes, com os seus argumentos de teses opostas, reveladoras, no caso do espírito ateu, de uma altivez desnecessária em mordacidade crítica.

Uma Canção de Natal / premium

Neste Natal, assombrados pelos fantasmas da peste e da depressão, num tempo onde pressentimos a força de um laicismo agressivo, reler Dickens é uma forma de reencontrar o espírito de todos os Natais.

JAIME NOGUEIRA PINTO

Sou do tempo do Menino Jesus, do sapatinho ou da bota ao pé da chaminé, dos presentes na manhã de dia 25. Os meus filhos mais velhos ainda apanharam esses Natais. Tudo se passava com o Menino Jesus. O Pai Natal não fazia parte da história, ou era uma personagem secundária, se não um mero figurante. E a história era uma história séria, a mais séria e misteriosa das histórias: a história da Encarnação de Deus. Um Mistério, como quase todas as coisas importantes, desde a paixão entre um homem e uma mulher à sobrevivência de um povo.

Hoje, e muito especialmente neste Natal, com um isolamento reforçado numa sociedade já tendencialmente individualista, com os pobres e economicamente débeis a multiplicarem-se e os pequenos comércios a fechar, aproximamo-nos do cenário de sonho dos antigos marxistas-leninistas: o de estarem os ricos cada vez mais ricos, pelo menos relativamente, e os remediados cada vez mais pobres. Cenário ideal para a grande “luta final” entre Burguesia e Proletariado, não fosse o actual predomínio dos marxismos imaginários, que relega para o passado os sonhos de justiça social dos antigos igualitários, que sempre tinham o mérito de tentar atabalhoadamente laicizar os ideais evangélicos.

Olhando à volta, nesta cidade de Lisboa, as iluminações municipais podiam parecer inspiradas na Primeira República, quando os laicos triunfadores do Cinco de Outubro acabaram com os feriados religiosos e chamaram ao Natal “Festa da Família Portuguesa”. Mas não. Agora, já não é sequer desejável que a família figure. Nem a Sagrada, nem a portuguesa. Nestas iluminações profícuas da cidade, não se vê uma referência que seja ao Presépio, aos Magos, aos Pastores, ao ponto de partida histórico para tudo isto. Nada. Já quase nem estrelas – só árvores assépticas, embrulhos, fitas, luzes. É o espectáculo desolador da descristianização sinuosamente imposta como facto consumado.

Dickens e os vitorianos

Foi em meados de Outubro de 1843 que Charles Dickens começou A Christmas Carol. Escreveu-o em seis semanas, estava pronto no fim de Novembro e saiu antes do Natal. Para se inspirar, passeou por Londres, andou pelos mercados do East End, deambulou pelos bairros pobres da cidade, nos princípios da era vitoriana.

Foi também ali, entre a neve e a lama das ruas periféricas e a City burguesa, que nos habituámos a imaginar e a fantasiar o espírito ambulante desses natais. Mas, no meio de uma descrição rica, festiva, quase epicurista, quase trimalciana dos Natais festivos, Dickens traz-nos, como ninguém, a mensagem cristã.

A mensagem é a história de uma salvação. A história da salvação de Ebenezer Scrooge, o milionário avarento que, na noite de 24 para 25, é visitado pelo espírito do Natal e dos Natais. Michael Timko escreveu na revista America, uma revista de jesuítas norte-americanos, um texto sobre o significado de Dickens, dizendo que o escritor tivera como objectivo principal, senão único, que as suas histórias fossem parábolas dos ensinamentos de Cristo.

E A Christmas Carol é um conto de conversão. Uma conversão que chega também pela visão do castigo que os espíritos do Natal lhe revelam. Dickens era de uma família anglicana, Church of England, não especialmente praticante. Foi a igreja que seguiu toda a vida, excluindo uma breve passagem pelos Unitários, nos anos de 1840.

O enredo de A Christmas Carol é conhecido. Ebenezer Scrooge, o velho avarento, é visitado, na noite de Natal, pelo fantasma do seu antigo sócio, Jacob Marley. Marley vem acorrentado, com ar sofredor, e vem dizer a Scrooge que está a penar no Purgatório pela indiferença com que tratou os seus irmãos – os pobres, os empregados, as crianças – durante toda uma vida de próspero homem de negócios.

Scrooge é um velho mau, misantropo, que não quer saber do Natal, que recusa o convite do sobrinho para jantar, que trata mal o seu empregado Bob Cratchit. Marley, vindo directamente do Purgatório, avisa Scrooge de que vai ser visitado por três espíritos de Natal – o dos natais passados, o dos natais presentes e o dos natais futuros.

O primeiro, o Espírito dos Natais Passados, leva Scrooge até à sua infância e juventude: à sua irmã Fan, ao seu patrão, o bondoso Mr. Fizziwig, que o tratava como um filho, e à sua namorada Belle, que perdeu pelo amor ao dinheiro. O segundo, o Espírito do Natal Presente, leva-o a visitar a alegria do Natal dos pobres, a casa do seu sobrinho Fred, a casa do seu empregado Cratchit, que tem um filho pequeno, Tiny Tim, um menino alegre, mas muito doente e semi-paralítico. E o terceiro, o Espírito dos Natais Futuros, mostra-lhe um homem que morreu, que tem um funeral de homem de negócios e que é roubado pelos seus próximos. Ninguém tem pena dele, e jaz numa campa abandonada, onde Scrooge vê inscrito o seu próprio nome. E também vê Bob Cratchit e a família, que choram a morte de Tiny Tim.

Uma segunda oportunidade

Quando acorda na manhã de Natal, Scrooge é outro homem: toma consciência dos seus erros e do mal na sua vida, mas percebe que, ao contrário de Marley, vai ter uma segunda oportunidade.

E sendo Cristo o Novo Adão, a própria encarnação é uma segunda oportunidade. O artifício de mandar espíritos prevenir os vivos também é comum, na Bíblia, nos poemas homéricos no teatro clássico, em Shakespeare, no Ricardo III e no Hamlet, nos românticos. O fantasma de Marley, por um lado, assusta – e assusta até Scrooge –, mas por outro, sabemos que vem por bem e que é, por isso, um “fantasma bom”, ainda que condenado ao Purgatório.

O Purgatório é mais uma segunda oportunidade; a oportunidade de purgar além vida os pecados cometidos no mundo; é um lugar de pena, mas sereno, como nalguns primitivos italianos do Quatrocento, ou como naquela Ponte do Purgatório, de Mateu Lopez, do século XVI, onde os anjos vão ajudando os penitentes a partir para o Céu, com o ar de enfermeiros de convalescentes que se preparam para ter alta. Marley ainda não está nessa fase; vem com correntes e visivelmente aflito; mas a sua visita vai desassossegar Scrooge e encaminhá-lo para a Salvação. Os três espíritos do Natal farão o resto.

Dickens tinha 31 anos quando escreveu e publicou A Christmas Carol. Era já um escritor de sucesso, naquela sociedade vitoriana só medianamente convertida mas com valores cristãos oficialmente estabelecidos. Sociedade repetidamente acusada de hipocrisia, farisaísmo, opressão dos pobres e dos mais fracos e exploração do trabalho infantil para enriquecer os usurários como Scrooge e Marley. Marx era um grande leitor e admirador de Dickens e foi perante esta sociedade que ele e outros socialistas escreveram panfletos e descreveram e construíram utopias.

Era uma sociedade de classes, com uma classe alta – aristocracia e grande burguesia – dominando o poder político e económico; e uma classe média abastada, que abrangeria 10 ou 15% da população. O resto, a grande maioria vivia em austeridade e dificuldade.

Dickens retratou esta sociedade melhor que ninguém; com rigor, sem concessões, com sentido de justiça e de verdade. Ele mesmo tivera uma dura experiência numa família numerosa, com o Pai preso por dívidas e ele a ter de trabalhar numa fábrica. Depois subira a empregado de um escritório de solicitadores e daí a jornalista e a escritor. A fama chegou-lhe aos 25 anos com os Pickwick Papers, em 1837 (“Ter já lido os Pickwick Papers é uma das grandes tragédias da minha vida”, diria Pessoa). Oliver Twist e Nicholas Nickleby, que o consagraram, são anteriores a A Christmas Carrol.

Mais tarde, com David Coperfield e Great Expectations confirmará uma obra única, não só pelo realismo do testemunho, mas pela criação de uma galeria de personagens reais mas “morais” – simbolizando o bem e o mal da natureza humana –; e que, por isso, continuam, por gerações, a inspirar novas criações, na literatura, no cinema, na televisão, no mucic-hall.

Neste Natal, assombrados pelos fantasmas da peste, da crise e da depressão económica, numa cidade e num tempo onde, em decisões e legislações subtis e pretensamente inócuas, pressentimos a força de um laicismo agressivo e iconoclasta, reler Dickens e Uma Canção de Natal é – para nós, para os nossos filhos e para os nossos netos – uma forma de reencontrar e espírito de todos os Natais: o da Esperança e da Salvação.

E de reencontrar o caminho para lá chegar, aqui, nas luzes do nosso Natal descristianizado, como o velho e mau Ebenezer Scrooge o reencontrou, numa manhã de 1843, na pérfida Londres vitoriana.

Um Santo Natal.

NATAL SOCIEDADE

COMENTÁRIOS:

Manuel Magalhães: Belo texto, obrigado Jaime, um Santo Natal também para ti!!!       Julius Evola: Belo texto, obrigado. Jesus Cristo, Deus encarnado, nasceu para nos salvar. Vendo como as coisas estão, não sei se merecemos a segunda oportunidade.     António Serrano: Que texto notável, na forma e no conteúdo! Obrigado          Gil Lourenço: Excelente texto! Um Santo Natal para si e para os seus.       Carminda Damiao: É bom recordar Dickens no tempo de Natal. Ainda muito jovem li a Christmas Carol e mais tarde vi e revi, várias vezes, em filme, a história de Ebenezer Scrooge e os espíritos de Natal, que continua a encantar-me. Fernando Estrela: Parabéns! Feliz Natal para todos, com mais Valores e menos egoísmos !         Luis Teixeira-Pinto: "É o espectáculo desolador da descristianização sinuosamente imposta como facto consumado. "Temos alguma responsabilidade nós em termos deixado invadir o nosso espaço, as nossas coisas, as nossas crenças e tradições por esta gente ateia que a única coisa que sabe fazer é tentar provocar-nos, insistentemente, ladrando-nos às pernas, como se isso nos fizesse parar e levasse a mudarmos de rumo. Enganem-se os ateus, os mal-amados que não têm eira nem beira onde cair, nem família que os acolha, que o seu ressabiamento não colhe. Deus disse para sermos misericordiosos e tolerantes, mas não disse em nenhum momento para sermos parvos. Portanto que saibam, que para além da nossa bonomia, que defendemos e praticamos em especial neste tempo, não dormimos, não baixamos a guarda, não deixamos passar os cães raivosos. Porque não buscam abrigo, nem respaldo, não buscam Amor nem Carinho. Querem apenas semear ódios, divisões, saciar-se com o mal que tentam trazer-nos. Vade Retro Satanás.       Maria Augusta >Luis Teixeira-Pinto: Muito bem.   Gil Lourenço > Luis Teixeira-Pinto: Excelente comentário! Um Santo Natal para si.         Luis Teixeira-Pinto > Gil Lourenço: Obrigado meu Caro Gil Lourenço, um Santo e Feliz Natal para si também.        Luis Teixeira-Pinto > Maria Augusta Obrigado Cara Maria Augusta, aproveito pra desejar um Santo e Feliz Natal.      Ia ficar tudo bem! ! Um Santo Natal! A luz do mundo nasceu! "Ora, havia naquela mesma comarca pastores que estavam no campo, e guardavam, durante as vigílias da noite, o seu rebanho. E eis que o anjo do Senhor veio sobre eles, e a glória do Senhor os cercou de resplendor, e tiveram grande temor. E o anjo lhes disse: Não temais, porque eis aqui vos trago novas de grande alegria, que será para todo o povo: Pois, na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor. E isto vos será por sinal: Achareis o menino envolto em panos, e deitado numa manjedoura." Lucas 2:8-12         Paulo Alexandre : Ateu > Ia ficar tudo bem!! Sério? V. Exa. precisa de ser salvo de um "pecado" cometido por um casalinho de antepassados remotos? Casalinho esse que, por sinal, nunca existiu? Portanto, V. Exa. aceita a tese de que, quando nasceu, ainda não tinha tido um pensamento, ainda não tinha pronunciado uma palavra e ainda não tinha praticado um acto mas já era responsável e culpado de um acto praticado por um original casalinho? Lamento muito mas, quando nasci, nasci inocente; quando nasci, não era responsável pelos actos dos meus antepassados e muito menos pelos actos de um casalinho que nunca existiu e que nunca foi meu ascendente; quando nasci, não era responsável pelos actos cometidos por antepassados remotos e não tinha, nem tenho, de ser julgado e condenado pelos actos praticados pelos meus antepassados. Mas, enfim, se V. Exa. está disposta a aceitar a tese de que merece ser julgada e eventualmente condenada pelos actos dos seus antepassados, quem sou eu para a convencer a não dar crédito a semelhantes disparates?     Gil Lourenço > Paulo Alexandre: Ateu. Acho que está a conspurcar este espaço com o seu ódio. Há espaços que são sagrados, mas disso você não entende. Vá praticar a sua raiva para outro artigo...          Paulo Alexandre: Ateu >  Gil Lourenço: Pois estás! Estás a conspurcar este espaço com os teus ataques pessoais contra quem se atreve a expor as contradições e os erros das vossas crenças. Tivesses tu a capacidade de contrariar o que eu escrevi mas até tu sabes que não consegues ir além do insulto pessoal. Paulo Alexandre : Ateu: Eis o espírito do Natal: 1 - Um mui remoto antepassado casalinho (que, por sinal, nunca existiu!) cometeu um pecado original; e, segundo uma divindade monoteísta inventada no Médio Oriente, cada descendente desse casalinho (o tal que nunca existiu!) nasce responsável e culpado pelo pecado cometido apenas e só por aqueles dois seres humanos; assim, segundo a "lógica" desse deus monoteísta, milhões e milhões de seres humanos inocentes devem ser responsabilizados e culpados pelos actos praticados por ascendentes remotos. Quem está disposto a venerar uma divindade que quer "salvar" apenas aqueles que se deixam baptizar, condenando os restantes seres humanos que não se baptizam, pelos actos cometidos pelo remoto casalinho original? Quem estaria disposto a distorcer o seu diapasão ético, levando a tribunal um neto de Hitler, para o julgar e condenar pelos crimes cometidos pelo avô? Quem está disposto a celebrar o Natal, celebra a concepção segundo a qual milhares de milhões de seres humanos devem ser julgados e condenados por actos cometidos pelos seus antepassados; ou seja, celebrar o Natal é o mesmo que celebrar a ideia de que os inocentes devem responder em tribunal pelos actos dos culpados; é celebrar a ridícula tese de que um bebé acabado de nascer tem culpas no cartório por actos conscientemente cometidos por antepassados remotos. Celebrar o Natal é celebrar a mais pura das iniquidades! 2 - Celebrar o Natal é celebrar as palavras de Jesus! O tal que, nos evangelhos, repete e volta a repetir a tese de que a esmagadora maioria da humanidade será condenada ao fogo eterno. Quem é que está disposto a desafinar o seu diapasão ético aceitando a aplicação da tortura constante, sádica e cruel aos condenados? Celebrar o Natal é celebrar a apologia descarada da tortura, por toda a eternidade; ou seja, é o mesmo que celebrar o sadismo (e)levado à máxima potência: por toda a eternidade, significa para sempre, o que quer dizer que se aceita a lógica(!!!) da condenação totalmente desproporcionada; os apologistas desta forma de "justiça" não se contentam com condenações de 100 milhões de anos, de 800 mil milhões de anos ou de 300 triliões de biliões de anos; não, tem de ser por toda a eternidade; e, mais ainda, não se contentam com simples condenações, já que as mesmas têm de ser profunda, constante, sádica e cruelmente aplicadas. Celebrar o Natal é o mesmo que defender: 1 - A ideia de que milhares de milhões de inocentes devem ser julgados e responsabilizados pelos "crimes" ou pecados cometidos por outras pessoas (nomeadamente antepassados remotos); 2 - A ideia de que milhares de milhões de pessoas devem ser submetidas a condenações desproporcionadas (por toda a eternidade) em circunstâncias de puro sadismo e crueldade. Celebrar o espírito do Natal? Só para quem aceita desafinar o seu diapasão ético!            Vashny Karpouzis > Paulo Alexandre : Ateu Quem assim escreve demonstra que não quer entender nem raciocinar sobre o tema. O problema não está no ‘casalinho-que-nunca-existiu’ (tese, aliás, passível de debate mais aprofundado); o problema está é ‘na consequência’ (nas consequências) do acto que o ‘casalinho-que-nunca-existiu’ conscientemente praticou. O problema da Queda (segundo a perspectiva que perfilho) é muito mais complexo e de implicações muito mais profundas do que o ‘facilitismo’ com que se pretende negar o ‘casalinho-que-nunca-existiu’. Convido os leitores do Observador a procurarem no YouTube os trechos de um grande apologeta Cristão (curiosamente, oriundo da Índia), talvez o maior do século XX, para maiores e melhores desenvolvimentos sobre o tema. Seu nome: Ravi Zacharias. Há vários canais a publicarem os ‘seus’ vídeos, mas atrever-me-iria a sugerir dois: ‘Naga Seminarien’ e da organização ‘RZIM - Ravi Zacharias International Ministries’.       Paulo Alexandre : Ateu  V Vashny Karpouzis: Quem assim escreve demonstra que não percebe nada de nada sobre ética e ainda menos sobre as ridículas narrativas cristãs. O problema está no facto de haver tanta gente acéfala ao ponto de se deixarem doutrinar, acreditando que um bebé acabadinho de nascer é responsável e culpado por actos cometidos por terceiros. Mais, na narrativa cristã, a treta do pecado original não é a única situação onde inocentes são responsabilizados por actos cometidos por terceiros. Seja como for, obrigado por achar que, segundo o seu "sistema de valores", os crimes de Hitler são menos graves do que os de Adão e de Eva. Por sinal, sobre o ponto 2, nem abriu a boca! Não me diga que subscreve a aplicação de penas de tortura sádica por toda a eternidade? Como são "justos" os seus valores!       josé maria: Prefiro "Quando um Homem Quiser" de José Carlos Ary dos Santos:

Tu que dormes à noite na calçada do relento

numa cama de chuva com lençóis feitos de vento

tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento

és meu irmão, amigo, és meu irmão

E tu que dormes só o pesadelo do ciúme

numa cama de raiva com lençóis feitos de lume

e sofres o Natal da solidão sem um queixume

és meu irmão, amigo, és meu irmão

Natal é em Dezembro

mas em Maio pode ser

Natal é em Setembro

é quando um homem quiser

Natal é quando nasce uma vida a amanhecer

Natal é sempre o fruto que há no ventre da mulher

Tu que inventas ternura e brinquedos para dar

tu que inventas bonecas e comboios de luar

e mentes ao teu filho por não os poderes comprar

és meu irmão, amigo, és meu irmão

E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei

fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei

pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei

és meu irmão, amigo, és meu irmão

advoga diabo > josé maria: Simplesmente maravilhoso! Parabéns pela escolha.      Maria Augusta > josé maria: Devias ir fazer essa serenata ao teu amigo, vigarista profissional, xuxareco incompetente como é habitual, de seu nome Pinocrates 44!        Vashny Karpouzis > josé maria: A sensibilidade com que Ary dos Santos escreveu este poema - e cujo ‘fundo ético’ eu perfilho - está ‘na linha’ da tese de Charles Dickens que o Autor desta crónica tão eloquentemente expressou, neste texto que aqui publicou. ... e a tragédia suprema é quando nós queremos ajudar quem ‘dorme à noite na calçada do relento ( não será: ‘ao relento’?)’ e quem ‘dorme à noite na calçada, ao relento’ recusa a nossa ajuda... ...         Noémia Santos > Vashny Karpouzis: Verdade o que refere e muito doloroso para aqueles que perante isso se sentem totalmente incapazes.  advoga diabo: Reler Dickens com arejada interpretação laica, muito contribuirá para transformar a sua datada forma, assim saudavelmente contribuindo para renovar o belo espírito do seu conteúdo.        Maria Augusta > advoga diabo: blablablabla blablablabla blablablabla blablablabla blablablabla blablablabla blablablabla blablablabla blablablabla blablablabla blablablabla blablablabla do seu conteúdo.         José Leandro: Muito obrigado. Feliz Natal!           FME: Uma Canção de Natal de Dickens como uma forma de reencontrar e espírito da Esperança e da Salvação para a actual desgraça que vivemos, é a mesma coisa que acreditar que os espíritos de Natal fizeram ontem uma aparição aos comunistas, bloquistas e socialistas, incluindo o ministro Cabrita e ao candidato Marcelo. Se assim fosse, hoje acordaram todos, pessoas diferentes. Os comunistas criticam abertamente Stalin e o regime da Coreia do Norte, os bloquistas condenam o regime da Venezuela, deixam de querer ir buscar o dinheiro ao banco de quem o anda a poupar, e aplaudem a iniciativa privada, os socialistas deixam de querer ser comunistas, respeitam o resultado das eleições e Costa assume que se está lixando para o resultado das próximas eleições. O ministro Cabrita faz o acto de contrição, pede desculpa aos portugueses, porque, à família da vítima já pediu, e vai pastorear para outras bandas, enquanto que o candidato Marcelo deixou de vez de ser um populista bom que quer agradar a gregos e troianos tornando-se um bússola certeira. Só num conto de Natal, só na imaginação fértil de Charles Dickens!         Jorge Graça: Uma feliz e sensata abordagem do nosso Natal. Um Santo Natal!    Miguel Oliveira: Excelente. Um Santo Natal.         Carlos Quartel: O dito "espírito de Natal" é uma ilusão e uma falácia. A solidariedade, a preocupação com os outros não é assunto para um dia ou uma semana. É permanente, deve ser parte constituinte de uma pessoa bem formada. Haverá hipocrisia mais dolorosa do que, em plena guerra, se fazerem tréguas de Natal? No dia seguinte continua a matança!! Quanto a tradições, as culpas estão divididas. O marxismo ateu tentou destruí-las, mas o grande rombo foi dado pelo capitalismo, que transformou o Natal numa banca de mercado. Tudo se faz, tudo funciona tendo por objectivo fomentar o consumo, o gasto, o desperdício e a irracionalidade consumista. Marx está bem acompanhado por Wall Street ......         Domingas Coutinho: Que texto lindo. Obrigada! Feliz Natal. Maria Nunes: Excelente como é habitual. Obrigada e também para si e sua família, um Santo Natal.    Y H W H: Depois de séculos de catolicismo agressivo como surpreender-se ou pretender o choque advindo de meras amostras de laicismo da mesma tipologia?...     Gil Lourenço > Y H W H: Viveu nesses séculos, foi? Quer o quê, retroactivos? Basta ver o ateísmo militante dos comunas para perceber muitas coisas... Maria Cordes: A minha primeira reacção, foi a novidade de não ter feito esforço algum para que o texto fluísse, primeiro pelo cérebro, depois pelos glóbulos de todo o corpo. Foi um deslizar lento, e muito triste, de confirmação da lavagem ao cérebro que nos andam a fazer, sub-repticiamente, durante algum tempo, descaradamente, agora. Depois, lembrei-me dos bonnets rouges do séc XVIII, onde estão, é para onde estes caminham, sem apelo. Aflige-me mais, a ignorância e iliteracia, que semeiam nas novas gerações. Gostei muito da evocação carinhosa, e saudosa de Dickens, sou do tempo em que o líamos. Na minha casa, onde agora se reúnem as gerações mais novas, a árvore de Natal não existe. Há só presépio. Todos os anos, sem falha, há uma voz que pergunta, então a árvore? Só agora, reparei.         Sata: Muito obrigado pelo texto Dr. Jaime Nogueira Pinto. Motivou-me a reler algumas das obras de Charles Dickens.        Hugo Gonçalves: Eu, ateu, mas ex-católico, confesso, faz-me mta confusão já ñ ouvir ninguém desejar feliz Natal. Apenas “boas festas”. Apesar de ñ festejar o Natal católico, festejo uma tradição milenar e tb portuguesa, da qual ninguém se deveria envergonhar.        Paulo Alexandre : Ateu > Hugo Gonçalves: Eu, ateu, mas ex-católico, confesso que me faz muita confusão o facto de haver quem festeje o nascimento de um "salvador" que nos veio "salvar" de uma condenação que recai sobre cada ser humano por causa de um acto praticado por um original casalinho de antepassados. Ou seja, muito estranho eu o facto de haver quem esteja disposto a aceitar que lhe digam que nasceu responsável e culpado por um acto praticado por um casal de remotos antepassados, para depois precisar de ser "salvo" dessa responsabilidade e dessa culpa. Há muito, mas mesmo muito, de vergonhoso, nas natalícias tradições milenares. Até porque, segundo as palavras do celebrado natalício, a maior parte da humanidade merece passar a eternidade no fogo eterno. Por isso, quer-me parecer que há muitas razões para ter vergonha de celebrar o nascimento de uma personagem tão sádica e cruel.          Gil Lourenço : Paulo Alexandre : Ateu: Se lhe faz muita confusão é porque tem a cabeça confusa. Se não quiser comemorar não comemore. Vá choramingar para o muro das lamentações dos seus congéneres. Noémia Santos > Paulo Alexandre : Ateu: Tanto ódio não lhe faz nada bem. Afinal sofre dos mesmos males daqueles a quem aponta o seu dedo inquisidor. Tenha calma, relaxe, e disfrute de uma época do ano que nos permite ter alguma esperança no que o ser humano tem de melhor.        Gil Lourenço > Hugo Gonçalves: Nem mais!

 

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