sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Le roi est mort, vive le roi…


Como em todo o sempre. Espremida a borbulha Trump, outra borbulha se apronta, numa pele territorial vasta e vária. A incógnita põe-se sempre, não vale a pena tentar já espremer a nova borbulha, que terá largo tempo para amadurar…

CRÓNICA

O mal da borbulha

Uma borbulha é feia e pode infectar, mas removê-la não vai curar outra doença da pele que se tenha – ou fazer seja o que for para melhorar o estado geral da pele. Acontece o mesmo com as ditaduras – e com as pandemias..

MIGUEL ESTEVES CARDOSO

PÚBLICO, 17 de Dezembro de 2020

Ainda Joe Biden não é Presidente já a presidência de Biden começa a desiludir. Mas a culpa não é de Biden. Um dos males das coisas más é a ressaca. A ressaca de Trump ainda não começou mas já dói. Um dos males das coisas más é levar-nos a pensar que, quando o mal tiver passado, tudo será melhor.

Perdi a conta do número de pessoas que viram a remoção de Trump da Casa Branca como uma solução para os problemas dos Estados Unidos da América. A verdade é que, quando se tirar Trump da Casa Branca, a única coisa boa que se obterá é a ausência de Trump.

Ora a ausência de Trump não resolverá nada. É confundir uma borbulha com a pele. Uma borbulha é feia e pode infectar, mas removê-la não vai curar outra doença da pele que se tenha – ou fazer seja o que for para melhorar o estado geral da pele. Acontece o mesmo com as ditaduras – e com as pandemias. É uma atracção irresistível da política: confundir tudo ao ponto de achar que todos os males se reduzem a um – e que esse mal concentrado pode ter um concentrado remédio.

As pessoas mais díspares, com objectivos políticos inconciliáveis, juntam-se para fazer frente a um inimigo comum. Mas, mal esse inimigo foi derrotado e passado o curto período de alívio, as diferenças originais reaparecem com uma força maior, ampliada pela ilusão nascida daquela unidade momentânea. É um erro mais grave por ser tão facilmente transmissível. Pouco depois de Biden tomar posse, reaparecerá na forma de é preciso substituir Biden por uma pessoa mais eficaz/mais activa/mais nova/mais de esquerda”.

O que muda é a identidade (a localização?) da borbulha. A satisfação de espremê-la não muda. Nem a de vê-la secar. E muito menos a veleidade de imaginar a utopia que virá de viver sem ela. Mas pronto.

 

COMENTÁRIOS:

Colete Amarelo EXPERIENTE: Deus queira que a borbulha Biden não seja tão maligna.       Gualter Cabral EXPERIENTE: Como diria Jonh Le Carré - na sua contida linguagem: "Mudam-se as moscas, mas a ...... é a mesma. Mas eu penso (às vezes penso) que o que interessa não são as borbulhas na pele, mas sim mudar de pele.         Tiago INFLUENTE: Não há pele que resista ao consumo de água tão podre... E nem adianta purificar a água, com tantos dejectos sendo atirados a ela... constantemente. Borbulhas? Apenas os sintomas. Pele? Apenas a superfície visível que os expõe e com eles as doenças. Mente? Apenas a fonte e reservatório da água. Mentiras? Os dejectos que transportam o vírus da ignorância. Passam-se os ânus, mas a m**** é a mesma.

Gualter Cabral EXPERIENTE: Não percebi o seu comentário. Em abono da verdade o meu também não é muito perceptível. Estamos um para o outro. É como as pinturas abstractas: cada um entende como quiser.    José P. MODERADOR: Caro Gualter, se eu pudesse votava na sua resposta para comentário do ano. Fartei-me de rir. Obrigado. Cumprimentos.        Gualter Cabral EXPERIENTE: José P - O MEC diverte-se com as suas crónicas, e eu, procuro ir-lhe no encalco. Ele diverte-se, e ainda lhe pagam. Eu não recebo um centavo, mas também de divirto. Um abraço.       Sandra. MODERADOR: Olhe Miguel, li, por outras palavras vá, aquilo que aqui diz, no Avante! Só não lhe chamam borbulhas.         Mr.Mar INICIANTE: Na mouche!

 

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