quinta-feira, 10 de outubro de 2019

A opinião de TS gerou grande oposição



A mim parece-me correcta, educada segundo as perspectivas de “Cisnes Selvagens”, e do que se tem visto ultimamente, quer nos jornais, quer na infiltração sinuosamente progressiva e silenciosa…
ANÁLISE:  Um gigante com pés de barro? Sim e não
Sem abertura política, poderá a China continuar a desenvolver-se ao ritmo de que precisa?
TERESA DE SOUSA   PÚBLICO, 6 de Outubro de 2019
1. A China comemorou os 70 anos da fundação da República Popular gozando de uma situação aparentemente invejável. É a segunda economia mundial e a mais forte candidata superpotência, capaz de desafiar a hegemonia americana. Tornou-se um país incontornável, com 1,4 mil milhões de pessoas. Impõe-se na região da Ásia-Pacífico, incomodando cada vez mais os seus pequenos e médios vizinhos e desafiando a presença militar americana. Depois da fase da “ascensão pacífica” inaugurada por Deng, entrou abertamente numa nova fase de ambição internacional, com uma estratégia destinada a criar linhas de comunicação marítima e terrestre que lhe permitam aumentar a sua influência directa em cada vez mais países e continentes. A nova Rota da Seda é a tradução desta estratégia, mesmo que os seus resultados não sejam tão perfeitos como se possa pensar à primeira vista. Contada assim, a história deste 70.º aniversário é, sem qualquer dúvida, uma história de sucesso para um país gigantesco que há meia dúzia de décadas ainda era extremamente pobre e atrasado.
2. O Partido Comunista Chinês e o seu novo “grande líder”, Xi Jinping, quiseram celebrar condignamente o seu poder e a sua nova ambição. Na Praça Tiananmen, houve uma espécie de Jogos Olímpicos de Pequim multiplicados por 100, em que as fitas e os arcos coloridos deram lugar às armas. Mostrar o poderio militar da China era o objectivo. Entre os tanques, os aviões, as tropas em parada, destacavam-se os novíssimos mísseis balísticos intercontinentais que podem atingir qualquer cidade americana em poucos minutos. Um longo caminho. Em 1949, os únicos 17 aviões de combate de que o Exército de Libertação dispunha receberam ordens para sobrevoar duas vezes a Praça Tiananmen para parecerem ser mais. Para efeitos domésticos, toda a mise-en-scène das celebrações foi organizada em torno da figura de Xi Jinping, que não enjeita a herança do fundador da República Popular. Pelo contrário, recupera habilmente a figura de Mao e o culto da personalidade que o envolveu como instrumento para concentrar cada vez mais poderes nas suas próprias mãos.
Houve um pormenor das cerimónias que não durou mais do que breves segundos, mas que valeu por muitas palavras. Quando Xi entrou na Praça Tiananmen, ladeado pelos seus antecessores, todos eles usam o muito ocidental fato e gravata, à excepção dele próprio, que exibe o tradicional fato à Mao Tsetung. Hoje, sob o seu comando, o controlo sobre a vida da população aumentou, a repressão multiplicou-se, a violência sobre as minorias é brutal. Não é um regresso ao passado, nem poderia ser. Mas é o regresso ao controlo férreo do Partido Comunista sobre a sociedade, através dos mais sofisticados mecanismos, para além da repressão pura e dura. E é ainda muito cedo para esquecer que a história da República Popular da China desde 1949 é também uma história de brutal violência, de total desprezo pela vida humana em nome da construção do socialismo, de dezenas de milhões de chineses mortos pela fome depois do fracasso do Grande Salto em Frente, de milhões de pessoas atiradas para os “campos de reeducação”, entre as quais académicos, intelectuais, quadros do partido, com a Grande Revolução Cultural Proletária.
3. Setenta anos depois, também acabaram as ilusões das democracias ocidentais sobre o futuro da China. Com o fim da Guerra Fria e a ideia de que o futuro da humanidade pertenceria aos mercados e à democracia, o Ocidente convenceu-se que esse seria inexoravelmente o destino da China. Quanto mais rica ficasse, mais a sua nova classe média exigiria os direitos políticos próprios das democracias. O massacre de Tiananmen, a 4 de Junho de 1989, que pôs termo ao movimento dos estudantes que, inspirados por Gorbatchov, exigiam mais liberdade e mais democracia, não chegou para dissuadir o Ocidente. Foi nesse momento que o futuro da China ficou traçado. Até hoje.
Deng Xiaoping tinha declarado, em 1979, três anos depois da morte de Mao, que era “glorioso” enriquecer, dando início a um ambicioso programa de reformas económicas para conduzir a China ao desenvolvimento. Mas o líder reformista chinês não se enganou quanto ao caminho: foi ele que se inclinou, no momento decisivo, para o lado dos membros do bureau político que defendiam o esmagamento dos protestos de 1989, contra aqueles que insistiam no diálogo. Ainda faltavam quatro meses para a queda do Muro de Berlim e dois anos para o fim oficial da União Soviética. Mas a liderança chinesa já sabia que não queria seguir o caminho de Gorbatchov. A lição soviética passou a estar presente em todas as suas decisões. Até hoje.
Em 2001, o Ocidente permitiu a entrada da China na OMC, abrindo-lhe as portas aos mercados internacionais e contribuindo de forma decisiva para a sua caminhada em direcção ao crescente económico, numa escala e com uma velocidade nunca registados antes. Na Europa, ao contrário dos Estados Unidos, o gigantesco mercado chinês tornou-se uma atracção irresistível, deixando qualquer preocupação geopolítica em segundo plano. Hoje, finalmente, os europeus começam a acordar para o real significado da ascensão já bastante menos pacífica da China. Estão a mudar lentamente de estratégia, embora o peso dos negócios ainda conte bastante – só a Alemanha representa 40% das trocas comerciais com a China; o investimento chinês na França, Reino Unido, Itália ou Suécia é já muito significativo; a China aproveitou a crise do euro para investir em grande escala nos países mais periféricos e mais vulneráveis da União Europeia, sobretudo no Leste, mas também na Grécia ou em Portugal. Os especialistas prevêem que a próxima Guerra Fria pela hegemonia mundial será sobre a economia. Pode ser ou pode não ser. Não sabemos.
4. No dia 1 de Outubro, na Praça Tiananmen, tudo estaria perfeito, não fossem as imagens registadas em Hong Kong, igualmente transmitidas para o mundo inteiro. Há quatro meses que milhões de pessoas se manifestam contra a ameaça ao Estado de direito e às liberdades de que ainda gozam, graças ao período de transição negociado em 1997 com o Reino Unido, mas que temem, à medida que se aproxima o seu fim, venham a ser postos em causa por Pequim. Tudo começou, desta vez – que não é a primeira – com uma lei do Governo de Hong Kong que permitia a extradição para a China continental de quem viesse a ser julgado por determinados crimes. A lei que provocou os protestos já foi revogada, mas o movimento não dá sinais de abrandar.
No dia 1 de Outubro, a polícia usou balas reais e um manifestante foi baleado no peito. Houve centenas de detenções. Nada incomoda mais o Governo de Pequim e nada contraria mais a sua política de mão pesada na China continental. O recurso à violência como em 1989 teria um custo internacional enorme. O contágio teria um custo político interno insuportável. Xi tem contado com alguma complacência das democracias ocidentais. O Governo britânico, a quem compete fazer respeitar o período de transição negociado com a China, já protestou ainda que sem grande veemência. Trump está mais interessado no braço-de-ferro económico, tem aquela natural atracção pelos “homens fortes” como Xi e não será a luta pela democracia que o vai comover. A Europa balbucia de vez em quando qualquer coisa.
Hong Kong tem a vantagem de pôr em evidência as fragilidades de qualquer ditadura, em contraste com a enorme força das democracias. Falhou a crença de que o desenvolvimento da China conduziria à sua democratização. Pelo contrário, o regime comunista encontrou uma nova legitimidade ao tirar da pobreza extrema 400 milhões de chineses e ao criar naqueles que ainda são pobres a expectativa de virem a deixar de sê-lo. Para manter a paz social, a economia precisa de continuar a crescer. A questão pode, portanto, colocar-se ao contrário: sem abertura política, poderá a China continuar a desenvolver-se ao ritmo de que precisa? A pergunta volta a ser perfeitamente legítima. Mesmo que necessariamente numa perspectiva de longo prazo.
COMENTÁRIOS
Macuti, 07.10.2019: O Partido comunista chinês não tem nada a ver com o PC português. Oitenta por cento da exportações chinesas provêem de empresas privadas. Metade destas exportações de grandes multinacionais, estabelecidas nesse país, como por exemplo a Walmart. China não é Venezuela nem Cuba.
Jose Vic, 06.10.2019: O artigo de TS é altamente preconceituoso e cheira a ajuste de contas pessoal. Deixe-me citar um excelente post de JM Correia Pinto. (...) Com a Revolução Chinesa, liderada pelo Partido Comunista, a China, depois de avanços e recuos, certamente suportados por grandes sacrifícios, tornou-se num país moderno, próspero, confiante no futuro, com um crescimento económico sem paralelo em qualquer outra parte do mundo, que caminha a passos largos para se tornar dentro de muito pouco tempo na primeira economia mundial. Desmerecer a Revolução Chinesa por se pretender que ela adopte os chamados “valores ocidentais” seria tão absurdo como esperar que o Ocidente adopte “os valores chineses” depois de perdida a sua hegemonia a nível mundial. São esses feitos que hoje aqui se comemoram na sua genuinidade e na sua inigualável grandeza na esperança de uma frutuosa cooperação internacional entre Ocidente e o Oriente.(...)
Alforreca Passista, 06.10.2019: China investe em inovação, modernizou-se a um ritmo nunca antes visto, Estados Unidos e Europa deixaram de investir naquilo que permite os países avançar, estando entretidos a cometer crimes de guerra no médio oriente e não só, e o casino onde a Goldman Sachs joga. A União €uropeia está a cair de podre, submete deliberadamente países à depressão, destrói as expectativas dos jovens, rouba a dignidade aos menos jovens, mas é a China que tem pés de barro... Teresa de Sousa é um caso perdido..........
TM, 06.10.2019: Mentirosa compulsiva!
Raquel Azulay, 06.10.2019: Sim e sim. A todos os níveis. O inevitável glasnost trará à tona todas as contradições (laborais, a dívida colossal ocultada pelas PPPs e pelas regiões chinesas, etc etc.)

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