sexta-feira, 25 de outubro de 2019

«Nem haverá senão estrume…



 …de tantas conquistas futuras». E retomamosTabacaria”, para melhor nos situarmos numa questão que vamos percebendo, com as achegas de uns e de outros, que quer se traduza em bem, quer se traduza em mal, passará, como o resto… talvez convertido em mito, “O Mito do Eterno Brexit”, até ver, ou mesmo que se não veja…
OPINIÃO: O Mito do Eterno “Brexit”
O que trouxe Boris Johnson ao seu Parlamento? Um acordo muito pior (para o Reino Unido) do que o de Theresa May. E perante esta brutal passagem de cavalo para burro, que fez o Parlamento britânico? Aprovou o acordo na globalidade.
RUI TAVARES   PÚBLICO, 23 de Outubro de 2019
Desde logo, reconheça-se isto: se Boris Johnson fosse uma mulher esforçada em vez de um homem preguiçoso, estaria em piores lençóis. Lembram-se de Theresa May? Depois de árduas negociações, trouxe um acordo ao Parlamento britânico que permitiria ao Reino Unido sair da União Europeia. E qual foi a paga que teve pelos seus trabalhos? Foi ver o seu acordo chumbado, chumbado e chumbado, uma e outra e outra vez.
E porquê? Como dizia um certo Boris Johnson então na oposição interna, porque May aceitava pagar demasiado dinheiro à União Europeia (39 mil milhões de libras, ou euros, que agora valem praticamente o mesmo), porque mantinha a jurisdição de algumas leis europeias durante uma fase de transição e porque admitia que a Irlanda do Norte pudesse ficar com o resto do Reino Unido num sistema de cooperação aduaneira para evitar uma fronteira entre a Irlanda e a Irlanda do Norte.
Sai Theresa May, entra Boris Johnson. Como bom cábula que é, os menos de três meses da sua governação foram passados a evitar negociar com Bruxelas até ao momento em que a isso foi forçado pelo seu Parlamento. Assim de repente, em três dias Boris Johnson lá se decidiu a chegar a um acordo apressado que lhe permitisse cumprir com a sua promessa de sair da UE a 31 de outubro, na Noite das Bruxas. E que trouxe ele ao seu Parlamento? Inevitavelmente, um acordo muito pior (para o Reino Unido) do que o de Theresa May. Na alínea respeitante aos pagamentos britânicos à UE, não há nenhum limite de montante, mas apenas o reconhecimento de que “os dinheiros devidos sairão do Orçamento britânico”. Na parte relativa às leis europeias, a primeira alínea do acordo de Boris Johnson revoga a “Grande Lei Revogatória” de Theresa May, para reinstituir o direito europeu no Reino Unido até ao fim da fase transitória, com possibilidade de extensão.
E no que diz respeito à Irlanda do Norte, Boris Johnson aceita uma fronteira… entre a Irlanda do Norte e o resto do Reino Unido, de tal forma que vai ser necessário preencher formulários de exportação entre aquelas duas partes do mesmo país para transportes que sejam maiores do que uma mudança de casa. O resultado que Boris Johnson trouxe para casa é tão favorável às pretensões mais duras de líderes continentais como Emmanuel Macron que até este se juntou ao coro de chantagem para que o Parlamento britânico aprovasse depressa e em força o acordo.
E perante esta brutal passagem de cavalo para burro, que fez o Parlamento britânico? Aprovou o acordo na globalidade. Extraordinária foi a reviravolta dos brexiteiros ortodoxos que chumbaram três vezes o acordo de May e agora aprovaram este compromisso humilhante, em parte porque Boris Johnson é um deles, em parte porque estão fartos de discutir “Brexit” e querem seguir adiante.
Em relação a esta última parte, ninguém os critica: todos estamos fartos de discutir “Brexit”. Mas atenção, que há pior: uma vez que este era apenas o acordo de saída, ainda sem qualquer decisão sobre as futuras relações definitivas entre a UE e o Reino Unido, o que sucederia ao governo britânico após 31 de outubro seria continuar incessantemente a discutir, só que a partir de uma posição negocial muito pior. É que para um acordo abrangente de livre-comércio e investimento UE-Reino Unido a partir de dezembro de 2020 será necessária unanimidade entre os Estados-membros, e portanto é depois da data oficial do “Brexit” (mas ainda antes que a fase transitória acabe, com todas as consequências que podem recair sobre o Reino Unido se ficar sem acordo) que as exigências e os ultimatos da França sobre pescas, da Espanha sobre Gibraltar, ou de toda a gente sobre todas as coisas, podem começar a aparecer. No entanto, usei no último parágrafo um verbo no condicional: o que “sucederia” se o “Brexit” acontecesse a 31 de outubro. E isto porque, na mais brexitesca das reviravoltas, o Parlamento britânico decidiu chumbar o prazo para decidir sobre o acordo depois de o ter aprovado na generalidade. Ou seja, o parlamento britânico concordou em sair, mas não aceita dizer quando. E como não aceita dizer quando, na verdade deu a si mesmo tempo para decidir como: agora poderiam começar a aparecer emendas à legislação do “Brexit” que obriguem Boris Johnson a ficar dentro de uma união aduaneira com a UE, ou dentro do mercado único, ou até a ver o seu acordo aprovado na condição de o apresentar a segundo referendo.
Mas atenção (se ainda me estiver a seguir): usei um novo condicional na frase anterior — “poderiam começar a aparecer emendas” — porque, em mais outra reviravolta brexitesca, Boris Johnson decidiu que assim não brincava mais e optou ele próprio por suspender o processo de aprovação da legislação do “Brexit" até que a União Europeia decida o que fazer com mais um pedido de extensão para o Reino Unido. “Assumir o controle”, diziam eles.
Pode no entanto argumentar-se que este é o resultado mais desejado por todas as partes do debate britânico: poderem ficar na União Europeia, enquanto se queixam por não os deixarem sair, evitando enfrentar as consequências da saída propriamente dita. É o Mito do Eterno “Brexit”. Quanto mais inalcançável, mais perfeito. Desconfio até que Boris Johnson nunca terá querido outra coisa.
Historiador; fundador do Livre
COMENTÁRIOS
Leitor Registado, 23.10.2019: um acordo muito pior? do ponto de vista de quem? A irlanda do norte recupera autonomia face às regras anteriores do backstop....e o Governo do RU fica, com este acordo, com a possibilidade de impor o No-Deal no final de 2020....
joorge, 23.10.2019: Do ponto de vista do RU! Tem dúvidas? Pergunte aos deputados unionistas que estão absolutamente contra o acordo. Em Portugal, pelos vistos, sabem o que é melhor para eles.
Luis Morgado, 23.10.2019: Claro que este acordo é pior do ponto de vista da unidade do Reino Unido. Boris Johnson que não tem escrúpulos mas é inteligente, sabe-o de certeza. Anda é entretido em jogadas maquiavélicas de poder. Há um ano afirmava que seria inaceitável o que agora está no acordo relativamente à Irlanda do Norte. Os Unionistas sentem-se traídos. A Irlanda, o Sin Fein e a Escócia, estão decerto a preparar a melhor estratégia de independência. Quanto a mim, o RU que desapareça da Europa rápido, tem-se revelado verdadeiramente tóxico, mas duvido que não surjam patriotas Britânicos que tentem impedir esta loucura. A dimensão brutal das manifestações contra o Brexit só não teve grande eco nos media porque foram civilizadas e pacíficas.
ana cristina, 23.10.2019: a questão tornou-se: e queremos que eles fiquem? é que não há pachorra....
Jose, 23.10.2019: Não há pachorra é o que dizem ou pensam os eleitores do RU há mais de 3,5 anos, Cara ana cristina. Aqueles parasitas do Parlamento não vêem maneira de alcançar a única coisa que querem: ser eleitos eternamente dê para onde der. Nem esses parasitas nem os que poluem a UE se importam absolutamente nada com a degradação do clima económico e financeiro que provocam, eles gostam deles, não gostam de pessoas. Não se cansam. Estão no seu meio, sentam-se na mesma poltrona, recebem os mesmos rendimentos. A vida corre-lhes bem. Farão de tudo para continuar essa vida de parasitas, como fazem os piolhos. Já todos vimos parlamentos serem invadidos por insurreições de eleitores. São os que perdem a pachorra!
TM, 23.10.2019: Parasitas do Parlamento? E os 16 milhões que votaram para permanecer na UE José? São ignorados!? Isso é tudo agonia pelos seus comunas terem perdido nas eleições?
Jose, 23.10.2019: A história do RU não ficará marcada por este zig zag das ridículas figuras que perderam o pé político e se obstinam em prolongar o assento nos Comuns. Todos os caminhos vão dar à derrota eleitoral que 3,5 anos a sabotar a decisão popular da restauração da independência lhes garante. Cada adiamento afasta mais aquelas pessoas ridículas dos cidadãos que votaram a saída do RU da UE. Saída quer dizer apenas saída e não dá para confundir. A retórica política dos funcionários que mandam na UE e dos parlamentares profissionais do RU embrulham argumentos absurdos para travar a decisão do eleitorado, para o enganar, para se enganarem uns aos outros. Os povos não se enganam! Desenganem-se os parasitas da UE e do Parlamento do RU. Por conta desta decisão de não acatar a decisão popular todos perdem.
TM, 23.10.2019: O seu desconhecimento do mundo é impressionante! Só alguém que provavelmente nunca saiu da terrinha em que vive é que poderia achar que era só sair da UE e mais nada! Não seja ridículo José! Para alguém capaz de escrever num computador deveria ter um conhecimento mais alargado do mundo que o rodeia.
Americo Silva, 23.10.2019: Hum, aposto que em próxima eleição votam novamente neles! A questão da saída tem que ter um qualquer acordo! Isto não é o mesmo que um arrufo de namorados, em que um bate com a porta e sai de casa. A esmagadora maioria das pessoas desconhece a forma como os países se relacionam bem como o que está por detrás de cada bem exposto na prateleira, à espera de ser consumido! A fazer exactamente como alega e alegam os radicais, acontecia qualquer coisa como duas semanas até já não haver bens no RU. Com o pânico dessa situação a manifestar no terceiro dia, as duas semanas passam a uma! Em oposição, sair do país levará horas, que facilmente passam a dias. Recorda-se das escaramuças nas bombas de gasolina? e estávamos só a falar da distribuição-
francisco cruz, 23.10.2019 José, homem você está possuído, pelo síndroma Brexit. Acalme-se, corre o risco em lhe dar uma "coisa". Contrariando o seu discurso; os povos enganam-se sim. Neste concreto caso, evidentemente que os cidadãos pró-Brexit foram execravelmente enganados, o futuro determinará. Você também anda equivocado, o Brexit para os britânicos é o 1640 deles? é a restauração da independência!!?? grande canastrice. Ah,Ah,Ah,Ah,Ah,Ah,Ah,Ah,Ah!

Nenhum comentário: