sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Nem a propósito



Leio este texto de Salles da Fonseca, complementado com um retrato de Raymond Aron, com o indicativo da sua leitura - “In «Memórias» - ed. Guerra & Paz, Fevereiro de 2018, pág. 122” – e, lembrei-me de o colocar a seguir, no meu blog, como complemento necessário, no seu conceito enriquecido de valores e de leituras necessárias para um alargar de reflexão a domínios de rigor mais racionalmente dimensionados, e não, como no caso do texto anterior, de Rui Tavares, se fixar em puros enunciados subjectivos, de uma contundência perfeitamente infeliz, pelo que deixa pressupor de irracionalidade e pobreza espiritual, divorciadas dos tais princípios que atraíram as referências de Salles da Fonseca. Por tal motivo, o coloco, com gratidão, no meu blog, fazendo votos para que as leituras destes filósofos que interessam Salles da Fonseca, atraíssem a ponderação de muitos dos nossos cultores de uma política “sociológica” de «relatividade sem limites», de «redução dos valores a uma realidade mais natural do que espiritual, submetida a um determinismo e não aberta à liberdade»


HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 10.10.19
[Na década de 30 do séc. XX] os sociólogos, democratas, livres-pensadores, partidários da liberdade individual, confirmavam com a sua ciência os valores aos quais espontaneamente aderiam. Aos seus olhos, a estrutura da civilização presente (densidade ou solidariedade orgânica) exigia de algum modo as ideias igualitárias, a autonomia das pessoas. Os juízos de valor ganhavam, mais do que perdiam em dignidade, ao tornarem-se juízos colectivos. Substituía-se com toda a confiança a sociedade de Deus. Aliás, o termo «sociedade» não deixa de ser equívoco pois ora designa os colectivos reais, ora a ideia ou o ideal destes colectivos. Na verdade, só se aplica aos agrupamentos particulares, fechados sobre si mesmos, mas menos do que as palavras «pátria» ou «nação» e recorda as rivalidades e as guerras (não se imagina facilmente uma sociedade alargada aos limites da humanidade inteira). Dissimula os conflitos que assolam todas as comunidades humanas. Permite subordinar à unidade social as classes opostas e conceber uma moral nacional que seria sociológica sem ser política.
Ora, se este conceito designar o geral parcialmente incoerente dos factos sociais, desprovido de todo o prestígio emprestado, pergunto: não parece assim que o “sociologismo” junta, com uma relatividade sem limites, a redução dos valores a uma realidade mais natural do que espiritual, submetida a um determinismo e não aberta à liberdade?


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