Com certeza que estão certas, não seria
inteligente se não estivessem, mas talvez pela índole implicativa do
articulista, talvez pelo aumento encarniçado dos adeptos das “sopas e descanso”,
que a aliança à esquerda piedosamente e gloriosamente deixa supor, mascarando
desilusões específicas, que as contas de JMT justificam, o certo é que o número dos seus inimigos
tem aumentado ultimamente, saltando-lhe em cima às centenas, tornando-o uma
espécie de bobo da corte, como representante de uma posição de sinceridade “à
antiga” que já ninguém ou pouca gente suporta, gente que ele desmascara nos
seus posicionamentos com base nas “sopas e descanso” referidos. Sim, JMT ainda é dos que
vai estrebuchando, num Jornal que o vai
aceitando, a pretender isenção, onde predomina o facciosismo da tendência
esquerdista. O certo é que os apoiantes de JMT vão cada vez mais rareando, agradados do sorriso
triunfal de Costa e de Catarina, os restauradores do Portugal novo,
assente, como nunca, no descanso e nas sopas... por conta alheia.
O lento desmoronar do sistema político
português
O peso do anti-sistema dentro do sistema
mais do que quadruplicou em menos de duas décadas – e esta é a verdadeira
notícia destas eleições.
JOÃO MIGUEL TAVARES
PÚBLICO, 7 de Outubro de 2019
Sim,
eu sei que toda a gente está interessada em saber quem
governa e como – já lá vamos. Mas, primeiro, façam o favor de
atentar nestes números. Esta manhã estive entretido a em pequenos partidos, somados aos votos
brancos e nulos, desde o início do milénio. De um lado, os partidos que vêm do
século passado – PS, PSD, CDS, PCP e Bloco –, e que dominaram a
representação parlamentar até 2015 (altura em que o PAN conseguiu eleger o seu
primeiro deputado); e do outro lado tudo o resto, sendo que este “tudo o
resto” representa, em boa medida, o peso do anti-sistema dentro do tradicional
sistema político português. (Note-se que nem sequer estou a contar com a
evolução da abstenção, que iria reforçar a minha tese.)
Os
números são impressionantes. Em 2002, apenas 3,5% dos votos dos
portugueses foram para pequenos partidos ou para brancos e nulos. Em 2005, esse número subiu para 5%. Em 2009,
situou-se nos 6,2%. Em 2011
já estava nos 8,5%. Em 2015 chegou aos 10%. E agora, em 2019, os votos dispersos por pequenos
partidos e pela soma de brancos mais nulos saltou para uns impressionantes 15%.
Isso significa que o peso do anti-sistema dentro do sistema mais do que
quadruplicou em menos de duas décadas – e esta é a verdadeira notícia
destas eleições, até porque com
no Parlamento e a entrada do
Chega, da Iniciativa
Liberal e do Livre,
a tendência será sempre para estes partidos aumentaram as suas votações nas
próximas legislaturas, à boleia da maior visibilidade dos seus deputados. A velha
era das maiorias absolutas de um único partido pode muito bem ter morrido de
vez em 2019.
Sim,
nós não somos a aldeia de Astérix numa Europa em turbilhão. Estamos mesmo a
assistir ao lento desmoronar do sistema político português tradicional, e não é
por o movimento ser lento que ele deixa de ser real. Portanto, a resposta sobre
quem perdeu ou quem ganhou estas eleições é muito fácil: do PAN para baixo
ganharam quase todos (a derrota da Aliança de Pedro Santana Lopes é uma
excepção que demonstra bem este movimento de substituição de velhos
protagonistas por novos); do PAN para cima perderam quase todos.
Essa derrota inclui o PS? Sim e não. Por um lado, o PS aumentou a sua votação
e ganhou, palminhas para o vencedor, mas se olharmos para aquilo que eram as
suas expectativas, não ganhou coisíssima nenhuma. Mais três ou quatro
deputados e teria ganho – bastaria aliar-se ao PAN e ao Livre para conseguir os
116 deputados. Assim, morreu na praia, ainda por cima com uma conjuntura
internacional dificilmente repetível, um ministro das Finanças super-popular, e
um primeiro-ministro com uma habilidade para estabelecer compromissos como não
há memória desde o PREC.
E quanto à grande vitória da
esquerda? Também não houve. O negócio da
Geringonça favoreceu um único partido – o PS – e todos os outros perderam votos em relação a 2015.
O PS ganhou 150 mil, mas o Bloco, que começou a noite eleitoral em clima de
festa, perdeu 50 mil votos, e a CDU perdeu mais 115 mil. Conclusão: a chamada Geringonça teve menos
votos em 2019 do que em 2015.
Portanto, o modelo de governação que alegadamente tinha satisfeito tanto os portugueses
ao longo dos últimos quatro anos perdeu eleitores em relação a 2015, quando
ninguém sabia que ele iria existir. Reescrevam a História, se faz favor. Boa
parte do país está profundamente descontente com o que tem. E nota-se cada vez
mais.
COMENTÁRIOS:
maria: O JMT é, de facto, um articulista
manhoso. Durante o reinado do seu admirado e amado Passos, nunca
ventilou/sussurrou, ao mundo, qualquer indício do desmoronamento do sistema
político português. Agora, porque levou um banho/tareia da sua
"insuportável e nefasta" esquerda, cospe cobras e lagartos para a sua
própria sombra, quiçá, para se convencer de que é um grande conforto para si
próprio.
ARLINDO OLIVEIRA: Constato, que só
ele, JMT ri, com aquilo que escreve!! Pretende estar em todas, numas acerta e
noutras passa muito longe do alvo, mas sempre ri, mesmo quando não tem piada
nenhuma!! Como vivem felizes com tão pouco!! Caso para estudo, ou não??
Carlos Alberto da Sila Martins: Confesso que
prefiro ler as profecias de Cavaco Silva a perder tempo com este
desprestigiante escrevedor.
Fernando Geração: Caro JMT, ser
sério implica dizer que a geringonça perdeu 15 000 votos, mas que votaram menos
200 000 do que em 2015. Portanto, 52,78% dos votos de 2019 (50,87% em 2015)
perderam 7,5% do total de votos a menos. Já a PaF (32,05% dos votos em
2019/36,83% em 2015) perdeu 344 458 votos, que representa mais de 172% do total
de votos a menos. Em percentagem, a descida da PaF é 150% mais do que a subida
da geringonça.
trosario51: JMT faz parte da turba de
jornalistas e outros que tudo têm feito para degradar o sistema politico, curiosamente
vem agora depois de fazer continhas, concluir o óbvio do seu contributo. JMT e,
o seu guru politico Passos, por exemplo, fabricaram o porta voz da
extrema-direita, um tal Ventura.
Alforreca Passista: JMT não é
jornalista, se o é onde está o jornalismo da sua responsabilidade? Por favor,
não confundam opinião com jornalismo....
lgfernandes: Na sua ânsia de
desvalorizar a vitória da "esquerda" nas últimas eleições procura
mostrar que a "geringonça" teve agora menos votos do que tinha tido
em 2015. Mas esqueceu-se do Livre, que mesmo antes da "geringonça"
existir já era um seu fervoroso adepto!... Se adicionar os seus votos concluirá
que afinal a "esquerda" defensora da "geringonça" até teve
agora mais votos do que nas anteriores eleições Legislativas...
JDF, 07.10.2019:
É incrível como não se pode apresentar pontos de vista e raciocínios perfeitamente
válidos e a terem-se em conta, que os comentários jorram na crítica. O ps não ganhou,
com maioria relativa? Não tem o tapete chamado BE? Sim, se antes era uma
bengala, agora, depois de uma campanha a dizer que o ps não iria ter um modelo
de geringonça, e o anterior """parceiro""". Parecem
adolescentes carentes do homem mais velho e cool, é um autentico tapete que
anda todo contente desde que a direita perca. E perdeu, e o cds retrocedeu 10
anos...felicidade para todos...vamos a 4 anos e que tudo corra bem para
todos...
Sum Legend, 07.10.2019: A minha opiniao:
1) a esq. não teve a "vitória estrondosa" que apregoou toda a noite
pois além de o total PS+BE+PCP/PEV só ter aumentado 2% entre as eleições de
2015 e 2019, o BE e especialmente o PCP/PEV perderam eleitores e
eleitores+deputados respectivamente. 2) O Livre elege uma deputada que quer
mais religiões na assembleia (isto num estado laico) e mais mulheres que
homens. Começa bem. 3) O Chega!, que teve mais votantes que o IL e o Livre (o
Rui Tavares deve estar a roer-se todo a esta hora), elege o primeiro deputado
da história da Assembleia que tem 2 primeiros-ministros, o clubístico e o
verdadeiro 4) O IL elege um deputado que já está farto de dizer que agora é que
o PS vai ter oposição (com um deputado!) 5) O CDS... quem? Resumindo, isto
promete.
Choninhas Chanfrado - prof. Catedrático em New Iorque
(exatamente 3 cátedras), 07.10.2019: E convém não esquecer que a esquerda
(extrema) nem considera o PS um partido de esquerda.
agany, 07.10.2019: Seria, se os 45%
de abstencionistas votassem fora do bloco central, criando um novo equilíbrio
de forças. Até lá, continuamos na mesma.
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