Gente atenta a
um mundo de falcatrua generalizada a qual se observa até mesmo no assalto às
estruturas linguísticas, culturais, pedagógicas, a que vamos assistindo, na
impassibilidade ignara dos governos que o promovem ou a isso fecham os olhos, como
coisa de reles importância, em face das coisas importantes com que se debatem –
de outros assaltos a outras estruturas e outras integridades a defender. Ainda
bem que Maria do Carmo
Vieira é das que está atenta e não
se amedronta, nem com os comentários pseudo eruditos daqueles para quem tudo é
cediço, quando não alinha…
OPINIÃO: Atentados e absurdos no ensino do Português:
tudo em família
As sucessivas e absurdas alterações no
ensino do Português, todas elas marcadas pelo oportunismo, pela ausência de
debate, pela ignorância e pela arrogância intelectual, têm-no lesado
profundamente.
MARIA DO CARMO VIEIRA PÚBLICO,
27 de Outubro de 2019
Com fúria e raiva acuso o demagogo
E o seu capitalismo das palavras
Pois é preciso saber que a palavra é sagrada
Que de longe muito longe um povo a trouxe
E nela pôs sua alma confiada (...)//
(…) // Com fúria e raiva acuso o demagogo
Que se promove à sombra da palavra
E da palavra faz poder e jogo
E transforma as palavras em moeda
Como se fez com o trigo e com a terra.
E o seu capitalismo das palavras
Pois é preciso saber que a palavra é sagrada
Que de longe muito longe um povo a trouxe
E nela pôs sua alma confiada (...)//
(…) // Com fúria e raiva acuso o demagogo
Que se promove à sombra da palavra
E da palavra faz poder e jogo
E transforma as palavras em moeda
Como se fez com o trigo e com a terra.
Sophia de Mello Breyner Andresen, in “O
Nome das Coisas”
De
2000 a 2019, as histórias absurdas, a propósito do ensino do Português, vão-se
repetindo em moldes semelhantes porque a esperteza, bem como a mentira e o
medo do debate público dominam nestas situações. E a nossa falha está em
não termos ainda aprendido com os erros. Histórias que em segredo se
organizam, no isolamento de gabinetes, e que não têm que ver propriamente com
os partidos políticos, mas com a falta de Cultura e de Conhecimento, e de Ideal
democrático, que grassam no seu interior e se têm vindo a ampliar, o que se
reflecte nos Governos e na Assembleia da República. Foquemo-nos em três dessas
histórias:
1. Na
década de 90, eram muitos
os indícios de que algo se prepararia na 5 de Outubro, através de encontros de
formação que decorriam em escolas e a que assistiam todos os professores,
independentemente da sua área de ensino, incluindo os do Conselho Directivo. Tudo em
nome de uma “pedagogia nova”,
invocando “o direito dos alunos à
felicidade”, uma espécie de “baba pedagógica”, nas palavras de Fernando Pessoa, sobre a
estupidificação a que, por vezes, sujeitamos os nossos alunos. Num
desses encontros de “reeducação”, alertava-se o professor para a possibilidade
de um aluno sugerir que fossem jogar futebol, o que
deveria ser satisfeito interrompendo-se a aula. “Quando
regressassem viriam mais estimulados!”, concluía-se, o que valeu umas
gargalhadas e intervenções críticas de alguns professores que assistiam e que
desde esse momento foram apontados como “resistentes à mudança”.
Ninguém
acreditou que o absurdo e a estupidez se viessem a impor, mas
poucos anos depois receberam os professores novos programas de Português
(Reforma de 2003) para uma análise crítica, em cuja Nota Explicativa se
explicitava que “as críticas dos professores não poderiam colidir com as
metodologias apresentadas”. Programas
cozinhados com a colaboração de 2 interlocutores exclusivos do ME, sem intrusos
e sem discussão, numa apologia, sem precedentes, da facilidade e do
funcional, a par de um profundo desprezo pela Literatura.
No
entanto, sabe-se, por experiência, que a facilidade não é estimulante, antes
entedia, que os textos funcionais não
determinam um bom domínio da língua, essencial no acto de pensar, nem, e cito o
neurocientista António Damásio (Março de 2006), despertam “a criatividade e a imaginação”, sem as
quais “não
haveria evolução científica e tecnológica porque não haveria curiosidade ou
capacidade de imaginar alternativas.”,
concluindo criticamente com o facto de o sistema educativo “deixar de lado as
artes e as humanidades”. É ainda Damásio,
em 2017, numa entrevista concedida ao Público, que acentua de novo a importância da Literatura
enquanto representação da vida. Muito aplaudido, mas pouco seguido, no eterno
jogo do ser e do parecer bem explícito na conduta hipócrita de muitos decisores
políticos.
O absurdo e a estupidez
impuseram-se em 2003, apesar de
intensa polémica. Com o esvaziamento dos programas, não só na disciplina de
Português, mas em todas, com especial relevo para as de Humanidades,
desenhava-se já o modelo, que actualmente se pretende e que o meu colega Paulo Guinote
sintetizou bem na expressão “descaracterização de saberes fundamentais”, sendo
de realçar que, na preparação da Reforma de 2003, se preconizara retirar toda a
Literatura dos programas de Português, o que não aconteceu por receio de forte
oposição.
O
espírito funcional continua a ser elogiado e imposto, em 2019, a literatura desprezada,
com destaque para a poesia, e o descalabro das humanidades prossegue.
2. Ao
longo da década de noventa, foram muitos os professores que se queixaram da
falta de uniformidade na nomenclatura gramatical, uma situação resultante da dita “Gramática das
Árvores” que o próprio criador, Noam Chomsky, advertira não ser apropriada à Escola. Contrariando Chomsky, entrou nos ensinos Básico e Secundário, convivendo,
na sintaxe, por exemplo, sujeito e predicado com sintagma nominal e sintagma
verbal, respectivamente. David
Justino, ministro da Educação (2002-2004),
num encontro com professores de Português, de diferentes níveis de Ensino,
anunciaria para breve a uniformidade desejada, notícia bem recebida por quem há
muito a exigia. E aconteceu o habitual: crédulos em promessas, e
deixando que outros o fizessem por nós, esperámos confiantes.
O resultado foi a desconcertante
Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário (TLEBS), actualmente disfarçada num Dicionário
Terminológico, cujo mentor foi o agora reconduzido Secretário de
Estado da Educação, João Costa, aliás, um
dos interlocutores do ME, na Reforma de 2003, e adepto convicto do funcional. A TLEBS,
que se pautava por uma descrição estéril e confusa, foi enviada aos
professores, num CD, de que escolhi um exemplo, que evidencia a linguagem
usada, a propósito do adjectivo “assinalável” e da sua nova designação: “Chamam-se
adjectivos de possibilidade os adjectivos derivados de uma base verbal, e que
podem ser parafraseados pela expressão “que pode ser Vpp”, sendo Vpp a forma do
particípio passado da base verbal derivante.” Assim
mesmo!... Face à polémica, o linguista Jorge Morais Barbosa, em
Novembro de 2006, com outros abaixo-assinados, de que recordo os nomes de Vasco
Graça Moura, Manuel Gusmão, Maria Alzira Seixo e José Saramago,
expressava à Ministra da Educação a sua “preocupação com as consequências
negativas […] da colocação em funcionamento da TLEBS, […] terminologia proposta
em termos de parcialidade científica e disciplinar […] à margem dos
especialistas […] e sem discussão pública […]”, solicitando a “suspensão
imediata da sua aplicação […] por se tratar de uma “terminologia incorrecta e
abstrusa, inadaptável a certos níveis etários e ocasionadora de graves
dificuldades de aprendizagem […]”.
O
ME acabaria por decidir a sua revisão (18 de Abril de 2007), salientando
simplesmente a necessidade de identificar “alguns termos inadequados”, como se
a isso se resumisse a imensa polémica suscitada. O linguista João Andrade Peres lamentava igualmente “que o ME não [reconhecesse]
denúncias públicas de erros e inconsistências científicas de documentos
produzidos sob a sua tutela”. Foi então que num programa televisivo sobre a
polémica suscitada, com a presença da Professora Maria Alzira Seixo e o mentor
da TLEBS, Professor João Costa, se soube que do grupo revisor da TLEBS faria
parte a esposa do Professor João Costa, o que ele próprio atarantadamente
confirmou quando questionado a esse propósito por Maria Alzira Seixo. Tudo em
família, portanto.
Na
avalancha indescritível de descrições exaustivas, algumas acabaram por ser
poupadas a professores e alunos, por intervenção de académicos críticos cujas
fontes foram inexplicavelmente omitidas pelos revisores, numa atitude de
visível desonestidade intelectual, mas a TLEBS permanece e lembremo-nos, entre
muitos exemplos, da designação errónea de “Nome”, usada em vez de
“Substantivo”, do “complemento oblíquo” ou do cansativo item “funcionamento
da língua” analisado pelos alunos através de um estonteante método descritivo e
de opções.
3. Em
1986, pretendeu-se impor aquilo que ninguém pedira: um Acordo Ortográfico da
Língua Portuguesa que, entre outras barbaridades, preconizava a abolição dos
acentos nas palavras esdrúxulas, o que foi anedoticamente aproveitado por Miguel
Esteves Cardoso, no seu exemplo do “cágado” que evoluiria para “cagado”. A
muita polémica suscitada e os inúmeros pareceres técnicos contrários
determinaram uma acalmia nesta aventura e a todos pareceu que o assunto ficara
encerrado. Foi o nosso mal. Como habitualmente, guardaram segredo dos seus
encontros e viagens de “estudo”, esperaram com paciência o momento oportuno, e,
em 1990, deram à luz um novo acordo ortográfico que, segundo as suas palavras,
decorria da “correcção de aspectos criticados em 1986”, o que na realidade não
correspondia à verdade.
Com
efeito, mantiveram-se intactos aspectos da acentuação gráfica (lembre-se o
equívoco que gera a falta de acento em “pára”), a supressão das consoantes
ditas mudas, a alteração desastrosa das regras de hifenização e a capitalização
de alguns nomes próprios, com a agravante de lhe terem acrescentado, entre
outras aberrações, “grafias duplas”, pondo em causa a função normativa da
ortografia. E, como não podia deixar de ser, a facilidade para as crianças foi
invocada, arrastando a aberração do “critério da pronúncia” na ortografia e o
consequente menosprezo pela etimologia, “coisa de elites”!
Na
pegada de outras histórias, redactores do AO e decisores políticos ignoraram pareceres críticos
emitidos fosse para a versão de 1986 fosse para a de 1990, realçando-se neste
último caso o parecer do linguista António Emiliano, em 2008, bem como a
petição “Manifesto em Defesa da Língua Portuguesa Contra o Acordo Ortográfico”,
com 113.206 assinaturas “oficialmente registadas em 10.05.2009”. Ao
contrário do que redactores e decisores políticos continuam a afirmar, os
debates públicos nunca aconteceram e o certo é que são incapazes de indicar
quando e onde tiveram lugar.
A
polémica dura há anos, mantêm-se as inúmeras dúvidas suscitadas pelo Tratado
Internacional que deu origem ao acordo, e que Augusto Santos
Silva (ASS), na sua arrogância habitual e deficitário comportamento
democrático, recusa esclarecer; o debate continua por fazer-se, e, pior,
trabalha-se exclusivamente em família e à porta fechada, sendo disso exemplo,
mais um, a recente reunião do Conselho de Ortografia Portuguesa (COLP), na
Universidade do Porto, a que presidiu ASS que prometeu todo o dinheiro
necessário. Decorreu este encontro sob o signo do Absurdo em que se realçou de
novo a mentira e se deixou a descoberto a ignorância. Na verdade, não se
compreende que alguém que reagiu ao AO 90 com um “Deus nos livre daquela
bomba!”, tenha posteriormente aceitado promover o dito, no Brasil. Referimo-nos
a Evanildo Bechara, um dos homenageados, no Porto, que, em 2008, afirmou que o
AO continha “imprecisões, erros e ambiguidades” e, em 2011, “Mergulhamos no
texto do acordo e muitas vezes demos com a cabeça na pedra. O texto é muito
lacunoso e, o que não sabíamos, interpretamos, imbuídos do espírito do acordo”.
Agora, contrariando o seu pensamento, realça que “Será difícil encontrar quem
faça melhor do que foi feito, seja no Brasil seja em Portugal”. E é para isto
que ASS garantiu já todo o dinheiro necessário!
Em
suma, estas sucessivas e absurdas alterações no ensino do Português, todas elas
marcadas pelo oportunismo, pela polémica, pela ausência de debate, pela ignorância
e pela arrogância intelectual, têm-no lesado profundamente. Não se questionará
Tiago Brandão, na sua qualidade de investigador, sobre a violência que
representa para um professor ser forçado a obedecer a alterações aberrantes que
contrariam estudo e inteligência? Podem os professores estar motivados para
ensinar, mantendo-se esta contínua pressão exterior?
Na
verdade, não podemos, por uma questão de dignidade profissional, tolerar a
demagogia, nem esperar que “outros
remedeiem o mal e ponham fim aos [nossos] lamentos” (Henry Thoreau, in
Desobediência Civil). Tudo dependerá da nossa resistência à estupidez!
Professora
TÓPICOS
OPINIÃO
LÍNGUA PORTUGUESA EDUCAÇÃO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO PROFESSORES ACORDO ORTOGRÁFICO ANTÓNIO DAMÁSIO
COMENTÁRIOS
Jorge Sm: Texto quase ininteligível ao comum dos cidadãos, embora se
perceba que são citadas - e mal citadas - algumas propostas que nunca passaram
à prática. Quanto ao ponto 3, é a velhinha polémica da reforma ortográfica de
1990, para a qual já não há pachorra. E como se fosse uma questão central no
ensino do Português uma reforma que deixou intactas 98% das palavras.
mzeabranches: (cont.) Obrigada ainda,
por trazer até nós a voz de Sophia. Um dos aspectos fundamentais da sua poesia
reside, a meu ver, na celebração repetida do valor da "palavra".
Recordemos também: «Pátria»: «Por um país de pedra e vento duro / (...) E pela
limpidez das tão amadas / Palavras sempre ditas com paixão / Pela cor e pelo
peso das palavras / Pelo concreto silêncio limpo das palavras / Donde se erguem
as coisas nomeadas / Pela nudez das palavras deslumbradas / - Pedra rio vento
casa / Pranto dia canto alento / Espaço raiz e água / Ó minha pátria e meu
centro / Me dói a lua me soluça o mar / E o exílio se inscreve em pleno tempo»
Celebrar o centenário do nascimento de Sophia e a sua obra, em 'acordês'?!
Resistamos: «Eu sou aquela que não aprendeu a ceder aos desastres».
José Manuel Martins: excelente panorâmica do
fundo da questão, que em muito excede a mera 'querela ortográfica'. De facto, a
superficialidade dos que (mesmo na academia) reduzem a escrita de uma língua a
'mais acento menos acento', é a mesma que os impede de aperceber a estratégia
de imposição da bitola da superficialidade em todos os domínios - não só do
saber, como do todo cultural como tal. Não é só o neomarxismo da luta de
classes contra o elitismo do literário, é também a frente de ataque q reúne
estratégias conjugadas (cito são boaventura SS sobre a necessidade de unir
feminismo, pós-coloniais e anticapitalismo numa só frente revolucionária a q eu
chamo neogramsciana) como: a novilíngua PC (politicamente correcta), a
descolonização do currículo, a batalha anti-'normatividade', o revisionismo da
história
mzeabranches: Muito obrigada, por mais esta intervenção pública em defesa do
ensino da nossa língua materna! Os sucessivos Ministérios da Educação têm-se
revelado empenhados em 'usar' o seu ensino como oportunidade para sempre
renovadas e iluminadas experiências linguísticas, didácticas ou pedagógicas.
Com as 'cobaias' sempre disponíveis... Como promover nos mais jovens a
consciência do valor cultural da nossa língua, expressão e motor "duma
filosofia do mundo, dum imaginário e até de utopias inscritas no tecido da sua
gramática, na estrutura das suas palavras e na organização das suas
frases" (v. C. Hagège)? O AO90 foi condenado por inúmeros
especialistas: leiam os 'contributos' enviados para o GT da AR: A. Emiliano,
Carmen Gouveia, Luís Fagundes Duarte, entre outros. E leiam o dito: uma
vergonha!
José Manuel Martins: coitada da Sophia, tão
cega de luz grega (e já, à sua maneira, de um politicamente-correcto
aberrantemente rebocado para dentro de um poema poluído) que não percebeu que
se preparava todo um socialismo das palavras... Esta mania d' 'o Capitalismo'
como palavra mágica para designar obscuramente todo o mal do universo, é de uma
preguiça intelectual (e de um narcisismo psico-moral) medonhos. Lido a escorrer
militância, este poema, em vez de pensar para cima (pelos poderes do próprio
poético), pensa para baixo (como expressão rimada de uma cartilha), em direcção
ao ralo do funil da ideologia prêt-à-porter que o informa, alimenta, dirige e mata.
Enfim, entre língua, literatura, pensamento, muito, mesmo muito, haveria a
dizer... Assim, eis um poema 'ismo' – submetido ao império do já-dito.
lusoquim: Sobre o ponto 3 muito se tem dito. A ortografia agora em vigor
continua a ser alvo de críticas baseadas em argumentos não científicos: é a
personalidade do ministro; é o exemplo caricato de regras que, de facto, não
existem; é a insistência em dizer que situações como 'cativo' e 'captor',
mas 'Egi(p)to' e 'egípcio' estavam muito bem... Argumentos científicos é que
não se detectam. Aliás a quantidade de linguistas que declaram oposição à
ortografia em vigor contam-se pelos dedos das mãos. São essencialmente
escritores, literaturistas, tradutores, mas ninguém ligado à linguística como
ciência. Muito se estranha que a ninguém ocorra consultar um dermatologista
para realizar um "by-pass" coronário, mas todos achem muito bem um
literaturista procunciar-se sobre linguística.
José Manuel Martins: mais um perito em poeirinha para os
olhos. Cansam, estes blá-blás que surgem sempre a ladrar ao lado, numa
guerrilha de emperramento que apenas simula ter alguma coisa para dizer. Este
artigo pode perfeitamente dispensar-se de repetir ou de resumir o caudal
demolidor de argumentos e evidenciações que enterram o AO 90 como o acto intelectualmente mais imbecil alguma vez imposto
por um complot político contra a língua: esse acervo crítico que tritura o
'acordo' está estabelecido e é patente à consulta pública. Não nos mace com
jaquinzices.
lusoquim. Sobre o ponto 2: a TLEBS não se encontra em vigor, pelo que se
estranha a sua referência. Por mero exercício, permita-me dizer que não é sério
usar, em 1, o argumento da "facilidade" e, em 2, o argumento da
"dificuldade". A reforma curricular ou era facilitista ou o seu
contrário. As duas coisas ao mesmo tempo é que não. Já agora, sujeito,
predicado, sint. nominal e sint. verbal podem e devem conviver (aliás, com
outros conceitos como agente e paciente, etc...). Para os contextualizar está
lá o professor. Lamenta-se é que docentes como V. Ex.ª insistissem, à data, na
manutenção de confusões - veja o exemplo dos obsoletos complementos
circunstanciais disto e daquilo (complementos são conceitos sintácticos e
circunstâncias são conceitos semânticos - porquê insistir na caldeirada
científica?) Desculpar-me-á a autora, mas não basta dizer algumas
generalidades para se fazer uma boa e construtiva crítica. Sobre o ponto 1.,
lamenta-se que a senhora professora se refira ao esdrúxulo caso da sugestão do
jogo de futebol (naturalmente caricato, mas que a distinta opinadora toma por
absoluto), obliterando, por exemplo, as propostas integradas de trabalho do
texto literário nas suas dimensões estética, lúdica e de articulação literária
(em sentido estrito) e linguística, numa perspectiva funcional e crítica. Creio
que é a isto que António Damásio se refere na expressão que a senhora
professora usa (sem, no entanto, fazer citação completa). Lamenta-se, enfim,
que se limite um documento de 80 páginas a uma nota de rodapé, originalmente
produzida em discurso oral e descontextualizada.
Maria Teresa Ramalho, 27.10.2019: Mais uma excelente reflexão de Maria do Carmo Vieira, uma voz sempre inconformada com o
estado a que isto chegou. Olhando para o historial da implantação do AO
em Portugal, vê-se e não se acredita. O AO foi desmontado por numerosos e
credenciados linguistas, escritores e personalidades ligadas à cultura,
enquanto que do lado dos decisores políticos se vêem apenas a ignorância, a
soberba e a persistência no erro. E nós, como povo manso que somos, vamos
assistindo à paulatina degradação da nossa língua. Obrigada, MCV, por não se
calar.
Luís Ilhéu, 27.10.2019: o aparecimento na nova disciplina de
história no 12º ano diz bem da natureza de quem manda na educação...o
ministério da educação serve para apagar da memória ou denegrir a história da
civilização cristã portuguesa e substituir por internacionalismo da moda!!
Antonio Leitao, 27.10.2019: Este ensaio deve preocupar-nos a todos: a língua
portuguesa e o ensino da mesma são continuamente violados por
pseudo-intelectuais. Estes vândalos têm como único propósito deixarem a sua
marca na história, seja ela boa ou má. Ignorância é prepotência são o cocktail
do atraso português.
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