terça-feira, 22 de outubro de 2019

Os defensores do castelo



Já o tenho contado mais vezes, pelo simbolismo caricatural das nossas andanças governativas com as andanças quixotescas do jovem Gil, futuro São Frei Gil de Santarém, que, predestinado a ser grande sábio, teve os seus amores de pureza por uma Solena, que foi raptada por bandoleiros. Em vão Gil a procurou, conta Eça na sua “Lenda de Santos”, incompleta - “Lenda de S. Frei Gil” - e até mesmo a procurou aflitivamente por Vouzela, e no castelo de Lanhoso, onde este era defendido por valentões que gritavam “Cá por aqui é honra!”.
Assim o nosso governo, feroz guardador do seu castelo, a sua honra, o seu remanso. Mas leiamos o texto de Luís Rosa, não de todo negativo todavia, para o castelo de António Costa, secundado por comentadores igualmente dos prós e dos contras, que trazem achegas úteis, segundo as respectivas honras.
Um Governo imobilista /premium
O espartilho do acordo com a extrema-esquerda foi destruído mas o resultado será o mesmo: um Governo com uma alergia absoluta a qualquer mudança estrutural que promova o progresso económico e social.
LUÍS ROSA, Redactor Principal e colunista do Observador
OBSERVADOR, 21 oct 2019
1. Mudar para que tudo continue como está — é a ideia central d’ “O Leopardo” de Tomasi di Lampedusa que resume bem os governos de António Costa. Acabou a geringonça mas o imobilismo político do primeiro Governo de António Costa vai continuar no segundo Executivo. O espartilho do acordo com a extrema-esquerda foi destruído, os ministros mais moderados viram o seu peso político reforçado mas o resultado final será exactamente igual: um crescimento económico medíocre, a ilusão dos portugueses de que estão a recuperar poder de compra e, acima de tudo, uma alergia absoluta a qualquer mudança estrutural que promova o progresso económico e social.
Com uma ou outra excepção, a esmagadora maioria dos 19 ministros irão gerir o dia-a-dia, apostando no marketing político em que o PS é especialista para vender uma imagem de país de sucesso — quando o mais provável é continuarmos a empobrecer e a perder competitividade face aos países europeus do nosso campeonato.
Uma Segurança Social falida que irá prejudicar, e muito, as gerações nascidas após 1974, um Serviço Nacional da Saúde a decompor-se lenta e irremediavelmente até que o Bloco de Esquerda e o PCP voltem a gritar, como no tempo da troika, que há utentes a morrer por falta de cuidados e uma Educação em que a escola pública voltará a ser um palco de confronto entre o corporativismo acéfalo de Mário Nogueira e um ministro fraco e sem rasgo. Como cereja no topo do bolo, teremos um Ministério das Finanças com uma enorme capacidade criativa para criar mais impostos e aumentar os já existentes.
Porque um Estado que não se deixa reformar, que não quer ser competitivo, que se está nas tintas para o cidadão e que mais não é do que uma espécie de balcão de atendimento das necessidades das diferentes corporações da administração pública — esse Estado é um Monstro que precisa de ser alimentado, bem alimentado com impostos, impostos e mais impostos para contentamento das clientelas do partido do dr. António Costa.
2. Costa não falhou a maioria absoluta por um deputado, como António Guterres em 1999, mas a sensação de déjà vu é incontornável. Além da falta de energia e de caras novas e do clima de económico igualmente de abrandamento, as semelhanças entre os segundos executivos de Costa e de Guterres chegam ainda à criação de um famoso e utópico Ministério para a administração pública.
Verdade seja dita que António Guterres escolheu o homem certo para nada fazer: Alberto Martins, de seu nome. O seu curriculum político resumia-se a falar bem e ao facto de ter sido um dos rostos da crise estudantil de 1969 em Coimbra. Dois anos depois de ter liderado o pomposo Ministério da Reforma do Estado e da Administração Pública o resultado foi um rotundo e absoluto zero: zero de reformas, zero de medidas concretas de modernização da administração pública e muitos mas mesmo muito estudo. A tradicional receita guterrista, portanto.
Já António Costa resolveu criar um Ministério da Modernização do Estado e da Administração Pública. Repare-se na subtileza: Guterres queria reformar, enquanto Costa quer modernizar o Estado. Apesar do perfil claramente mais executivo de Alexandra Leitão, algo me diz que o resultado não será diferente do de Alberto Martins.
Primeiro porque Mário Centeno irá ter sempre uma palavra a dizer em qualquer alteração que Leitão queira fazer na organização do Estado ou na administração pública pelo óbvio impacto orçamental. Por outro lado, se há área em que o PS nunca quererá gerar grandes insatisfações é precisamente na função pública — uma das suas base eleitorais de apoio.
Seja revendo as carreiras especiais da função pública (como está no programa do Governo), seja alterando outras matérias, qualquer mudança terá sempre o mesmo objectivo: deixar tudo como está, uma vez mais.
3. Aliás, só consigo ver uma área onde há condições para alterações estruturais: as Infraestruturas. Primeiro porque está a entregue ao ministro com maior capacidade política (leia-se capacidade de fazer) deste Governo: Pedro Nuno Santos. Por outro lado, porque há um trabalho preparatório que o primeiro Governo de Costa já fez e há condições orçamentais em termos da União Europeia para um forte apoio, por exemplo, à modernização da ferrovia e à expansão na área portuária.
Pedro Nuno Santos é o homem certo para iniciar esse processo de modernização que pode verdadeiramente aproximar o país da média europeia, promover um aumento da qualidade de vida dos cidadãos e ainda ter ganhos ambientais significativos. Mas que terá sempre de ser continuado pelos seus sucessores.
O mesmo se diga da escolha de Ana Mendes Godinho para o Ministério do Trabalho. Neste caso, o objectivo será estancar a vontade do PCP e do Bloco de Esquerda de influenciarem a reversão da flexibilização da lei laboral aprovada (com os votos do PSD) na última legislatura.
4. Outro lado positivo do novo Governo é a continuidade de Francisca Van Dunem na pasta da Justiça. Depois da acusação do caso Tancos a surgir em plena campanha eleitoral, os socialistas ficaram de pé atrás em relação à Justiça. O Expresso o o Observador chegaram mesmo a noticiar que o PS acreditava que existia uma conspiração do Ministério Público contra o partido.
Depois dessa acusação gravíssima, era expectável a substituição de Van Dunem por alguém adepto de uma linha dura contra o sector da Justiça — um pouco na linha do que Rui Rio tem defendido.
A continuidade de Van Dunem significa que António Costa optou por um perfil mais consensual e pacífico. Para todos os efeitos, trata-se de uma magistrada prestigiada que, certamente, não será cúmplice de qualquer controlo da Justiça por parte do PS.
5. O mais extraordinário, contudo, é o alfa e ómega do novo Executivo: a presidência portuguesa da União Europeia (UE) em 2021, como se o Governo se esgotasse naquele evento que dura seis meses.
Aparentemente, e numa presidência portuguesa da UE que durará seis meses, o primeiro-ministro deixará de ter tempo para o país e, por isso, necessita de quatro ministros de Estado — sendo que um deles, Augusto Santos Silva, também estará ausente do território nacional algures na União Europeia no primeiro semestre de 2021.
Tendo em conta o défice de organização dos portugueses, pode parecer boa ideia começar a pensar com dois anos de antecedência num evento como a presidência da UE. Mas, na realidade, tal capacidade de antecipação só quer dizer uma coisa: António Costa já está a pensar numa carreira internacional.
Como se não bastasse já termos um primeiro-ministro sem visão de longo prazo para o país, também tínhamos de ter um chefe de Governo que não tem a cabeça em Portugal mas sim na alta política europeia para benefício próprio com todos os jogos palacianos e de bastidores inerentes aos processos de decisão europeu.
O que dá vontade de perguntar: será que António Costa quer imitar Durão Barroso e fugir do país quando as nuvens negras da economia (e do imobilismo político por si promovido) impedirem a política de distribuição de rendimentos de que Costa tanto gosta? O que fará Costa se o Governo cair?
É uma pergunta legítima tendo em conta a convicção geral de que este Governo não durará mais do que dois anos e as presidenciais de 2021 já têm um vencedor antecipado: Marcelo Rebelo de Sousa.
Rectificação: A Presidência do Conselho da União Europeia não é tripartida, logo Portugal exercerá a sua presidência no 1.º semestre de 2021. O chamado programa de trabalho de cada presidência é acordado entre os três Estados-Membros que exercem tal presidência de forma consecutiva, sendo que Portugal terá de negociar esse mesmo programa com a Alemanha e a Eslovénia.
COMENTÁRIOS
Joao Mar: O Governo que Portugal merece
Antaeus IX: Eppure se muove!...
Joaquim Zacarias: Valha-nos a ministra da agricultura, que sabe imenso de olivicultura.
Antaeus I > Joaquim Zacarias: A Cristas nem de galináceos sabia...
Antonio Fonseca > Antaeus IX: Mas nunca ouviu dizer que a Cristas desse 3000 euros por um galináceo,
Antonio Fonseca: O governo pode ser imobilista mas o país, esse não vai ficar parado. Lenta e seguramente vai continuar a sua marcha, calma e serena, em direcção à cauda da Europa. Nessa marcha, breve só teremos à nossa frente a Grécia.
Paulo Silva: O Rui Rio é pior. Só para decidir se fica ou sai demorou duas semanas.
Alexandre Barreira: ....ó "Rosinha-dos-limões"........como não consegues chegar à "lata-de chouriços".....pimba.....toca a "chover-no-molhado"....assim não vais lá........!!!!
Conde do Cruzeiro: "Um Governo imobilista". Tem toda a razão, caro Luís, este governo é mesmo imobilista pois ainda não recebeu autorização para iniciar o seu caminho. O senhor é que os conhece bem, muito obrigado por alertar para esse facto os saloios.
Miguel Fernandes > Conde do Cruzeiro: Aguenta.
Conde do Cruzeiro > Miguel Fernandes: Ele aguenta e tu também. A palermice não tem limites.
Joaquim Moreira Este até pode ser considerado um “Governo imobilista”, mas é o ideal, para a maioria da comunicação social. Mas também é muito claro que, sendo socialista, só pode ser imobilista. Até porque, só pretende durar até que o maior protagonista arranje melhor lugar. Mas não posso deixar de dizer que o Luís Rosa e o Observador deram um forte contributo para o manter no poder, fazendo-lhe, assim, um grande favor. Ao fazerem um ataque cerrado àquele que foi, e vai continuar, o seu maior opositor. E, por uma simples razão: continuar a combater por uma verdadeira governação. Até porque, dizer que tivemos um “governo” nos 4 anos anteriores, só mesmo de quem entende os governos, como o melhor meio para se fazerem favores. Sendo socialista, mais do que ser imobilista é mais uma solução criada para manter em Cena o génio do Artista.
Alberto Gonçalves > Joaquim Moreira: Eu quando for grande quero ser poeta como o Joaquim. 
Joaquim Moreira > Alberto Gonçalves: Não é poeta quem quer. No meu caso nem se trata disso sequer. O que se trata é de rimar. Esta foi a forma que encontrei para, com a ignorância e a empedernida militância, não me irritar.
chints CHINTS: Se ganhou porque é que mudaria? Já ter tirado alguns familiares é de admirar (daqui a nada lá estarão)
Joao Rodrigues: Imobilista! O governo ainda não tomou posse!
O Famoso Faisão: Mudar?!...Mas por que carga de águas???....A famiglia está no governo, o pessoal é carregado com impostos e não protesta, morrem nos hospitais e não protesta, trabalhas as 40 horas e não protesta, o PR é dos nossos…...Mudar para quê!!! O pessoal está bem!!!!
Ana Ferreira Até agora o espartilho era a Geringonça, agora é o imobilismo...tradução: não há espartilho ou imobilismo, só "maus fígados" do Luís e Cª!
Paulo Guerra: Mas o que é que a Rosinha sabe de progresso económico e social?
Antonio Fonseca > Paulo Guerra: Mas o que é que o Paulo Guerra sabe de progresso económico e social?
Joaquim Zacarias > Antonio Fonseca: Só se for de Cuba
Sergio Coelho: Discordo! Não podemos acusar este clube mafioso, despesista e nepotista de "imobilismo", atendendo a que eles "mobilizam" guita (que não existe e de terceiros) às toneladas e banalidades, futilidades e inutilidades. Logo, não são imobilistas, mas "mobilistas". "mobiliza-os" a causa pública e o altruísmo! Está-lhes no "adn" do clube do Largo dos ratos.
Xico Nhoca: A imobilidade do PS quando governa é o melhor que podemos ter e desejar. Ou teríamos porcaria. Aliás a grande virtude do governo que agora termina foi ter mudado pouco o que o governo do PPC fez. Se tivesse minimamente cumprido o que prometeu (acabar com a austeridade, blablabla) já teríamos cá a troica.
Antonio Fonseca > Xico Nhoca: E a grande virtude do PPC foi ter mudado pouco o que o governo de Sócrates fez!!???
Pedro Silveira > Antonio Fonseca: Não parece António. Só para falar no défice, o sentido foi exactamente o inverso. Sócrates a subir e Passos Coelho a descer. Um abraço
António Hermínio Quadros Silva: É preciso que as moscas mudem para que a scheisse continue a mesma
Carlos Quartel: Costa e os seus desejam o poder para tratar da sua vida e para ajudar `
à prosperidade dos seus amigos, familiares, conhecidos.
Ao calor do pote vão tratando de juntar uns cobres, fazendo negócios, criando empresas para ganhar concursos e assim vai a vidinha. Não há interesse em mudar nada, assim está muito bem. Distribuem-se as cenouras indispensáveis para manter o pagante tranquilo, é só ....
Mosava Ickx: "um Ministério das Finanças com uma enorme capacidade criativa para criar mais impostos e aumentar os já existentes" E mais nada, 4 anos de esclerose!


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