sábado, 19 de outubro de 2019

Um dia especial para mim


Nasceu o Ricardo, há 61 anos, o meu primeiro filho. Uma crónica especial, para ele, para mim. Vasco Pulido Valente é único, sempre, mesmo quando discordamos. Único, especialmente para Portugal.

CRÓNICA: Diário
O novo governo de Costa é um governo de amigos do peito, de amigos do PS e de amigos recentes. Não é um governo para mudar nada, é um governo para conservar tudo.
VASCO PULIDO VALENTE
PÚBLICO, 19 de Outubro de 2019
12 de Outubro: Esta gente não tem emenda, passou a semana a dizer que não se devia falar de André Ventura e, logo a seguir, falou ininterruptamente de André Ventura. André Ventura é um comentador desportivo, ponto final.
13 de Outubro: Eu sei como se resolvia o problema da Catalunha. A Espanha dava independência à Catalunha. A Catalunha, evidentemente, invadia as Baleares. E, a seguir, a esquadra de Vigo bombardeava Barcelona. A Catalunha capitulava – e todos ficavam bons amigos.
14 de Outubro: Mário Nogueira, ressuscitado dos mortos, apareceu outra vez para dizer que não queria Tiago Brandão Rodrigues para ministro da Educação. Ou seja, continua a confundir o papel do sindicalista com o papel do político. Os sindicatos não podem nem devem mandar no governo. Mas, desgraçadamente, em Portugal o Estado é o grande patrão.
15 de Outubro: O novo governo de Costa é um governo de amigos do peito, de amigos do PS e de amigos recentes. Não é um governo para mudar nada, é um governo para conservar tudo. A esquerda é intrinsecamente conservadora, muito mais conservadora do que a direita. Espanta-me que quase ninguém dê por isso.
16 de Outubro: Na América, a esquerda e a direita juntaram-se contra Trump a propósito da Turquia. Não têm razão. A lucidez de Trump, não a do indivíduo mas a da história, é maior que os seus pequenos preconceitos. A Rússia, que se vai imiscuir naquelas guerras, tem o interesse substantivo de controlar os seus portos de água quente. A América, agora que é auto-suficiente em petróleo, não tem qualquer interesse naqueles desertos e, seja como for, tem a Arábia Saudita, um feudo mais limpo e definido.
17 de Outubro: A juventude catalã, uma das mais mimadas da Europa, continua a fazer fogueiras nas ruas de Barcelona. Isto tudo pelo privilégio de falar uma língua que ninguém fala e que ninguém jamais quererá aprender. Os escritores catalães que não eram estúpidos nem paroquiais sempre escreveram em castelhano e é por isso que os lemos.
Podem dizer que nós estamos no mesmo caso, mas não estamos: uma importante parte do mundo fala português e, já agora, é bom lembrar que no século XVII Portugal tinha um enorme império e a Catalunha tinha sobretudo o problema, que persiste até hoje, de não saber onde começava e onde acabava e a ambição ridícula, que também persistiu até à guerra civil, de conquistar Leão e as Baleares.
18 de Outubro: Os media de Inglaterra e da América tentaram fazer de Boris Johnson um palhaço, uma espécie de réplica do que eles pensam que Trump é. Erro deles. Boris conseguiu um novo acordo com a União Europeia, que é aceitável pela maioria do Partido Conservador. Claro que a Câmara dos Comuns não vai aceitar. Porque metade do Partido Trabalhista é remainer e porque Corbyn tem medo de eleições. Mas Boris não tem, e com um acordo com a UE, que toda a gente julgava impossível, no bolso, ainda menos.
Ainda vou gozar com o fim desta história.
Colunista
COMENTÁRIOS:
Luis Morgado: Vasco Pulido Valente rendido ás manobras de Boris Johnson. O homem que conseguiu um "novo acordo". Um acordo com condições sobre a Irlanda do Norte que o mesmo Johnson, há menos de um ano, dizia serem inaceitáveis. O mesmo que há uma semana tinha cozinhado um "acordo", apresentando o DUP como aliado, e que agora substitui por outro em que o DUP é completamente ignorado. Basicamente Johnson está na mesma situação de Theresa May, mas com a vantagem de ser um jogador de poker.
Rafael.guerra: Descontando a sua opinião favorável sobre o misógino, racista, xenófobo e nacionalista que ocupa a Casa Branca, é preciso reconhecer o excelente humor com que no dia 17 de Outubro retratou o ridículo egoísmo paroquial dos nacionalistas regionais da Catalunha.
DCM: Por falar em constante mudança, admira-me que VPV não tenha mencionado as eleições em Moçambique. Para não sair do calendário, tal referência não destoaria se fosse incluída como complemento ao seu dia 15 de outubro. Não só por as eleições terem ocorrido naquela data, mas também porque os moçambicanos continuarão a ser espoliados pelo mesmo "governo" que sempre lhes tirou tudo.
Colete Amarelo: Ri-me com o diário de 13 de outubro. Era o que aconteceria se o mundo não estivesse em perpétua mudança.
henrique Mota: Uma lufada de ar frio vinda da História.
nelsonfari: 16 de Outubro: continuo a pensar, pelo que vejo, leio e oiço, que existe um tremendo equívoco com Trump, confirmado por certas figuras de intelectuais e cientistas portugueses que já viveram nos EUA, nomeadamente nas zonas ditas de ambiente liberal-americano. A imagem que é exportada para a Europa é precisamente esta, a da América liberal e cosmopolita. Trump só foi eleito pela degradação social e económica da maioria dos americanos, não enfrentada pelos democratas. Os americanos do Midwest votam em Trump e continuarão a votar em 2020. Será reeleito, o que custa admitir. O discurso das alterações climáticas e do colapso planetário não chega aos agricultores asfixiados pela agro-indústria, aos mineiros e ao pessoal da ferrugem. A Europa está completamente aturdida no seu labirinto decadente.
cisteina: Lúcido politicamente, não falhou uma, mesmo a da Catalunha, muito bem. O problema - e Vasco Pulido Valente sabe-o melhor que ninguém - é que a política nem sempre é lúcida, exactamente porque os interesses de todo o tipo (pessoais, corporativos, etc.) não agem com lucidez. E, porque tal acontece, só com políticos lúcidos e capazes, conseguimos resolver os problemas. Não sei se António Costa vai lá, uma boa parte da sua equipa (mais gorda e não encorpada, o que não ajuda) não tem estaleca para secretário de estado quanto mais para ministro. Pior ainda, faltam-nos directores gerais de peso, inteligentes e sabedores à moda de Salazar, e sobram-nos muitos chefes e chefinhos que nada percebem como funciona a política governativa e a quem se dirige, às pessoas, obviamente. Marcamos passo.
Espectro: Agora já não restam dúvidas. Os heróis de Pulido são o Trump e o Boris! Aqueles que quase todo o Mundo considera anormais responsáveis pelo desequilíbrio político, social, de segurança e económico em que vivemos, são para Pulido os cordeiros vítimas dos lobos maus, a saber: António Costa, Macron, Merkel e UE no seu conjunto. Arranjem-lhe um bom psiquiatra rapidamente. Aconselho o Daniel Sampaio, o que avalizou a sanidade mental do Bruno de Carvalho para ser presidente do clube do Lumiar. LOL

Luis: Fraquinho o comentário. Porque o autor não mostrou admiração por Boris ou Trump. Apenas constatou que a leitura mediática das acções dos mesmos, repito acções, é enviesada, com ou sem razão. O problema é que hoje apenas se pode repetir o eco. Mesmo que ele possa não fazer sentido às vezes. Ou faz sempre, para sempre, sentido?


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