Afinal, apesar de António Barreto - que, na opinião dos seus comentadores
escreve com despeito, pela vitória do PS, a maioria, pois, satisfeita com ela, e cujo optimismo
o EDITORIAL de David Pontes parece confirmar,
ao invocar opiniões estrangeiras elogiosas para os resultados da geringonça -
esse feito do PS é logo desmistificado
pelos receios do Editorialista, perante as indecisões
de António Costa, não tão seguro este, e ambíguo nas soluções que
escolheu para o país, com a possibilidade de rodagem, ora à esquerda ora à direita,
consoante os ventos das simpatias que merecer na ocasião das grandes decisões.
No fundo, A. Barreto revela
idêntica preocupação à de D.
Pontes por essa indefinição, mas como este joga à esquerda, não merece os
comentários agressivos que mereceu António
Barreto. «Oh!
senhores!» como diria a Catarina dos Batanetes
à sua professora, desgostosa das contradições desta ou das
suas perguntas irrelevantes.
É isto democracia, meus senhores?
Liberdade de opinião é que não é! Para mais, séria e lógica, como sempre, a de AB, de preocupação pelo seu país.
OPINIÃO: A benefício do inventário
Na legislatura anterior, o PS não tinha
escolha: precisava de todas as esquerdas. Agora, tem. Pode governar sozinho, à
bolina, com terra à vista, de lei em lei, saltitando entre as esquerdas ou
entre a esquerda e a direita, o que será mau para o país.
Siga a noite
eleitoral ao minuto. Veja os
resultados (por partido, concelho, freguesia, género e idade) e conheça o
perfil dos deputados já eleitos
Quem?
O Partido Socialista, com certeza. Em certa medida, merece. Depois de tantas derrotas (Tancos, incêndios, Sócrates, declínio dos
serviços públicos, corrupção, famílias no Estado, investimento insuficiente e
endividamento crescente), é uma
grande vitória os Socialistas terem resistido. Os eleitores não consideraram
negativamente aquelas derrotas. Também é verdade que, depois de um êxito tão
grande na estabilidade do governo, na paz social, na queda do desemprego e no
aumento de rendimentos, é evidentemente uma derrota política não ter vencido
com maioria absoluta. Porquê? Porque o PS teve jeito e sorte, porque a
economia ajudou e o turismo também. Porque a economia europeia soprou a favor.
Porque o governo soube aproveitar alguns ventos. Porque as oposições tiveram um
comportamento desastrado. Porque a direita portuguesa, no seu conjunto, atinge
fasquias da sobrevivência, na linha de vida. E porque, com ou sem
razão, os eleitores preferem as esquerdas, que, parece, lhes dão mais
benefícios.
Com
quem? Na legislatura anterior, o PS não
tinha escolha: precisava de todas as esquerdas. Agora, tem. Pode
governar sozinho, à bolina, com terra à vista, de lei em lei, saltitando entre
as esquerdas ou entre a esquerda e a direita, o que será mau para o país. Ou
pode governar com um, dois ou três. Já não basta ser hábil, é necessário
ter uma política, um carácter e um objectivo. Já não é suficiente ficar com
quem mais convém, mais promete facilidades ou mais se prepara para cedências.
Com uma legislatura nacionalmente difícil e internacionalmente muito complexa e
perigosa, será melhor ter uma solução consistente, de compromisso e de
responsabilidade.
O quê? Todos têm centenas de
promessas. Como
todos, o PS também tem dezenas de prioridades e outros tantos “planos
nacionais” e “estratégias nacionais”. Escolher para governar vai ser
difícil. Sobretudo porque se trata da segunda legislatura. Mas é difícil
contestar a ideia de que as grandes prioridades são mesmo a Justiça e a corrupção. E logo a seguir o
investimento.
Para
quê? Esta é a questão mais difícil. O PS partilhou, com quase todos os
candidatos, a atitude ignorante que consiste em ignorar o mundo e a Europa, em
não ter uma qualquer ideia clara sobre um e outra. Portugal não pode, evidentemente, ter uma voz mais
forte do que os outros, não deve julgar que está sozinho no mundo, nem se lhe
permite imaginar que a Europa e o mundo devem a Portugal o que quer que seja. Mas
não se admite que os dirigentes políticos portugueses se limitem a negociar as
margens e os restos, ou a deixar os europeus tratar de nós. E depois? Esta foi a mais elevada taxa de abstenção da história da
democracia portuguesa. Quase metade da população não votou nem se
interessa pela política. É bom pensar nisso.
SOCIÓLOGO
COMENTÁRIOS
Luís Pires, 08.10.2019: Factos? Toda a ladainha que por aí vai, qual papão
espreitando... Os factos não casam com os desejos do autor (e de outros), não
colavam há quatro anos, não colam agora. Mas a sobranceria tem (lhes) saído
caro. É vê-los acabrunhados como o outro, que tão bem se expressou "festejem,
festejem" à espera do Apocalipse down....
A. Martins, 07.10.2019: Como sempre A.
Barreto fala de factos, não fala de crenças clubistas, como alguns dos fowlers
abaixo, que em termos de argumentos para contrariar os factos, apenas têm
tweets de passarinho.
AB
cada vez mais a perder o que, por mérito próprio, tinha conquistado como
sociólogo e como analista político. Não consegue já disfarçar o seu escorregar
contínuo para a direita revanchista.
Talvez também fruto da amizade com "pérolas" bonifácias... É já só
azia e destempero. Uma espécie de Assis, não de trazer por casa, mas de trazer
pela rua... Azar, AB, sonho de uma noite de bloco central, quem sabe com outras
"pérolas" (Luís Amado, Lurdes Rodrigues...). Talvez um dia ainda
venhas a fazer parte do Conselho de Estado...
Fowler Fowler, 07.10.2019: Com tanta bílis, o sr. Barreto não consegue digerir a
sua derrota. Este quixotesco propagandista da Direita só não é soterrado com
ela porque beneficia de um forte instinto de sobrevivência, alimentado pelo
sentimento de vingança. Acorda diariamente apenas com o objectivo de listar e
inventariar contra o PS, o moinho de vento que o persegue e do qual não se
consegue libertar.
ARLINDO OLIVEIRA, 07.10.2019: Há uns
comentaristas em Portugal, com um passado que deviam preservar, a meu ver, que
hoje, nas suas análises políticas, mais parecem uns "Marretas" e não
digo isto no sentido pejorativo, pois à semelhança do que me acontecia com os
marretas rio-me, bastante, também quando os leio ou os ouço. Enfim é a vida!!
Mas não deixa de ser uma tristeza!
Carlos Oliveira, 07.10.2019: A
"mais elevada abstenção da história da democracia" inclui cerca de um
milhão de eleitores "fantasma" (por conta da desactualização dos
cadernos eleitorais) e a entrada súbita de outro milhão de eleitores que muitas
vezes nunca puseram os pés em Portugal, nem têm qualquer ligação ao país.
Factos que inviabilizam qualquer comparação com o passado. De alguém com o
passado de António Barreto nesta área (inclusivamente em termos profissionais)
esperava-se outro rigor.
mpro, 07.10.2019: Aquilo que eu
gosto, é ter um jurássico a querer ver uma cidade, estando no meio da selva.
Jorge Sm, 07.10.2019: A crónica mais
infantil que li até hoje de António Barreto. Ganhaste? Mas perdeste quando foi
os incêndios, etc. Deve ser da azia. Afinal de contas António Barreto andou
aqui meses a tentar que o resultado fosse outro...
Luísa Alpalhão, 07.10.2019: Na paz social? Como? Houve mais greves do que no
governo anterior. A dimensão do silêncio pela comunicação social (força
vencedora destas eleições) é que foi diferente
II - EDITORIAL:
Para onde vão os votos na “geringonça”?
Declarar simplesmente que a “geringonça”
não morreu porque se vai continuar a trabalhar “nos termos” em que se trabalhou
nos últimos anos é enganador e é curto.
DAVID PONTES, Director-Adjunto PÚBLICO, 14 de Outubro de 2019
A
“geringonça” não foi só a experiência política que conseguiu a notável
proeza de colher elogios em latitudes tão díspares como o Financial Times – “Perspectivas
brilhantes para Portugal levam alguma esperança à Europa” – ou o
pensador anarco-sindicalista e socialista libertário Noam Chomsky – “pelo que pude ir
apreendendo, parece-me um dos desenvolvimentos mais esperançosos do período
actual”.
A “geringonça” foi também a solução que
esteve presente no voto de muitos portugueses que deram uma vitória
folgada ao PS, permitiram ao Bloco de Esquerda manter o número de
deputados, mesmo com a dispersão de votos à esquerda, e, se a CDU se ressentiu,
é admissível que as razões para a diminuição da sua expressão eleitoral possam
ser encontradas em problemas estruturais do PCP. E não é irrazoável pensar que houve muitos votos que escaparam ao
PS porque os eleitores apreciaram a solução parlamentar e não lhe quiseram
entregar uma maioria absoluta. É bem provável que o PAN, por exemplo, possa ter
beneficiado disso.
Com
um Parlamento dividido entre os 142 mandatos dos que participaram ou apoiaram a
“geringonça” e os 84 dos que a rejeitam, haverá hoje muitos portugueses a
perguntar-se como tão clara vitória se conjuga com o fim anunciado da solução que estimaram. É por
demais óbvio que os resultados eleitorais permitem ao
PS outra amplitude de acção. Mas ao fim de uma semana de negociações
(?) que levaram o Bloco a
decretar o óbito da solução e o Presidente da República a projectar uma
estabilidade negociada à vista não sobra horizonte nenhum para
quem apreciou esta solução? O PS, sentado à mesa da realpolitik, pode
justificar que o PCP se pôs de fora e o Bloco quis demais. Mas declarar
simplesmente que a
“geringonça” não morreu porque se vai continuar a trabalhar “nos
termos” em que se trabalhou nos últimos anos é enganador e é curto.
Se
não quer dar razão aos que consideram que o entendimento dos últimos anos não
foi mais do que um mero recurso táctico, a que deitou mão por questões de
sobrevivência, António Costa tem a obrigação perante os eleitores da
“geringonça” de mostrar mais do que vagas boas intenções. Se não é
indiferente governar à direita ou à esquerda, o PS devia mostrá-lo no programa
de Governo e anunciar desde já com quem conta para o concretizar. Similar
clareza deveria vir dos pretéritos parceiros que, afinal, lutaram contra uma
maioria absoluta porque acreditavam numa solução negociada à esquerda. Há
muitos eleitores que esperam uma resposta.
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