segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Trata-se de reconstrução


Afinal, apesar de António Barreto - que, na opinião dos seus comentadores escreve com despeito, pela vitória do PS, a maioria, pois, satisfeita com ela, e cujo optimismo o EDITORIAL de David Pontes parece confirmar, ao invocar opiniões estrangeiras elogiosas para os resultados da geringonça - esse feito do PS é logo desmistificado pelos receios do Editorialista, perante as indecisões de António Costa, não tão seguro este, e ambíguo nas soluções que escolheu para o país, com a possibilidade de rodagem, ora à esquerda ora à direita, consoante os ventos das simpatias que merecer na ocasião das grandes decisões. No fundo, A. Barreto revela idêntica preocupação à de D. Pontes por essa indefinição, mas como este joga à esquerda, não merece os comentários agressivos que mereceu António Barreto. «Oh! senhores!» como diria a Catarina dos Batanetes à sua professora, desgostosa das contradições desta ou das suas perguntas irrelevantes.

É isto democracia, meus senhores? Liberdade de opinião é que não é! Para mais, séria e lógica, como sempre, a de AB, de preocupação pelo seu país.

OPINIÃO: A benefício do inventário
Na legislatura anterior, o PS não tinha escolha: precisava de todas as esquerdas. Agora, tem. Pode governar sozinho, à bolina, com terra à vista, de lei em lei, saltitando entre as esquerdas ou entre a esquerda e a direita, o que será mau para o país.
ANTÓNIO BARRETO         PÚBLICO, 7 de Outubro de 2019
Quem? O Partido Socialista, com certeza. Em certa medida, merece. Depois de tantas derrotas (Tancos, incêndios, Sócrates, declínio dos serviços públicos, corrupção, famílias no Estado, investimento insuficiente e endividamento crescente), é uma grande vitória os Socialistas terem resistido. Os eleitores não consideraram negativamente aquelas derrotas. Também é verdade que, depois de um êxito tão grande na estabilidade do governo, na paz social, na queda do desemprego e no aumento de rendimentos, é evidentemente uma derrota política não ter vencido com maioria absoluta. Porquê? Porque o PS teve jeito e sorte, porque a economia ajudou e o turismo também. Porque a economia europeia soprou a favor. Porque o governo soube aproveitar alguns ventos. Porque as oposições tiveram um comportamento desastrado. Porque a direita portuguesa, no seu conjunto, atinge fasquias da sobrevivência, na linha de vida. E porque, com ou sem razão, os eleitores preferem as esquerdas, que, parece, lhes dão mais benefícios.
Com quem? Na legislatura anterior, o PS não tinha escolha: precisava de todas as esquerdas. Agora, tem. Pode governar sozinho, à bolina, com terra à vista, de lei em lei, saltitando entre as esquerdas ou entre a esquerda e a direita, o que será mau para o país. Ou pode governar com um, dois ou três. Já não basta ser hábil, é necessário ter uma política, um carácter e um objectivo. Já não é suficiente ficar com quem mais convém, mais promete facilidades ou mais se prepara para cedências. Com uma legislatura nacionalmente difícil e internacionalmente muito complexa e perigosa, será melhor ter uma solução consistente, de compromisso e de responsabilidade.
O quê? Todos têm centenas de promessas. Como todos, o PS também tem dezenas de prioridades e outros tantos “planos nacionais” e “estratégias nacionais”. Escolher para governar vai ser difícil. Sobretudo porque se trata da segunda legislatura. Mas é difícil contestar a ideia de que as grandes prioridades são mesmo a Justiça e a corrupção. E logo a seguir o investimento.
Para quê? Esta é a questão mais difícil. O PS partilhou, com quase todos os candidatos, a atitude ignorante que consiste em ignorar o mundo e a Europa, em não ter uma qualquer ideia clara sobre um e outra. Portugal não pode, evidentemente, ter uma voz mais forte do que os outros, não deve julgar que está sozinho no mundo, nem se lhe permite imaginar que a Europa e o mundo devem a Portugal o que quer que seja. Mas não se admite que os dirigentes políticos portugueses se limitem a negociar as margens e os restos, ou a deixar os europeus tratar de nós. E depois? Esta foi a mais elevada taxa de abstenção da história da democracia portuguesa. Quase metade da população não votou nem se interessa pela política. É bom pensar nisso.
SOCIÓLOGO
COMENTÁRIOS
AMPinto, 11.10.2019: Barreto & Cavaco, a mesma luta.
Luís Pires, 08.10.2019: Factos? Toda a ladainha que por aí vai, qual papão espreitando... Os factos não casam com os desejos do autor (e de outros), não colavam há quatro anos, não colam agora. Mas a sobranceria tem (lhes) saído caro. É vê-los acabrunhados como o outro, que tão bem se expressou "festejem, festejem" à espera do Apocalipse down....
A. Martins, 07.10.2019: Como sempre A. Barreto fala de factos, não fala de crenças clubistas, como alguns dos fowlers abaixo, que em termos de argumentos para contrariar os factos, apenas têm tweets de passarinho.
AB cada vez mais a perder o que, por mérito próprio, tinha conquistado como sociólogo e como analista político. Não consegue já disfarçar o seu escorregar contínuo para a direita revanchista. Talvez também fruto da amizade com "pérolas" bonifácias... É já só azia e destempero. Uma espécie de Assis, não de trazer por casa, mas de trazer pela rua... Azar, AB, sonho de uma noite de bloco central, quem sabe com outras "pérolas" (Luís Amado, Lurdes Rodrigues...). Talvez um dia ainda venhas a fazer parte do Conselho de Estado...
Fowler Fowler, 07.10.2019: Com tanta bílis, o sr. Barreto não consegue digerir a sua derrota. Este quixotesco propagandista da Direita só não é soterrado com ela porque beneficia de um forte instinto de sobrevivência, alimentado pelo sentimento de vingança. Acorda diariamente apenas com o objectivo de listar e inventariar contra o PS, o moinho de vento que o persegue e do qual não se consegue libertar.
J Ferraz, 07.10.2019: Sempre pessimista
ARLINDO OLIVEIRA, 07.10.2019: Há uns comentaristas em Portugal, com um passado que deviam preservar, a meu ver, que hoje, nas suas análises políticas, mais parecem uns "Marretas" e não digo isto no sentido pejorativo, pois à semelhança do que me acontecia com os marretas rio-me, bastante, também quando os leio ou os ouço. Enfim é a vida!! Mas não deixa de ser uma tristeza!
Carlos Oliveira, 07.10.2019: A "mais elevada abstenção da história da democracia" inclui cerca de um milhão de eleitores "fantasma" (por conta da desactualização dos cadernos eleitorais) e a entrada súbita de outro milhão de eleitores que muitas vezes nunca puseram os pés em Portugal, nem têm qualquer ligação ao país. Factos que inviabilizam qualquer comparação com o passado. De alguém com o passado de António Barreto nesta área (inclusivamente em termos profissionais) esperava-se outro rigor.
mpro, 07.10.2019: Aquilo que eu gosto, é ter um jurássico a querer ver uma cidade, estando no meio da selva.
Jorge Sm, 07.10.2019: A crónica mais infantil que li até hoje de António Barreto. Ganhaste? Mas perdeste quando foi os incêndios, etc. Deve ser da azia. Afinal de contas António Barreto andou aqui meses a tentar que o resultado fosse outro...
Luísa Alpalhão, 07.10.2019: Na paz social? Como? Houve mais greves do que no governo anterior. A dimensão do silêncio pela comunicação social (força vencedora destas eleições) é que foi diferente
II - EDITORIAL: Para onde vão os votos na “geringonça”?
Declarar simplesmente que a “geringonça” não morreu porque se vai continuar a trabalhar “nos termos” em que se trabalhou nos últimos anos é enganador e é curto.
DAVID PONTES, Director-Adjunto        PÚBLICO, 14 de Outubro de 2019
A “geringonça” não foi só a experiência política que conseguiu a notável proeza de colher elogios em latitudes tão díspares como o Financial Times – “Perspectivas brilhantes para Portugal levam alguma esperança à Europa” – ou o pensador anarco-sindicalista e socialista libertário Noam Chomsky – “pelo que pude ir apreendendo, parece-me um dos desenvolvimentos mais esperançosos do período actual”.
A “geringonça” foi também a solução que esteve presente no voto de muitos portugueses que deram uma vitória folgada ao PS, permitiram ao Bloco de Esquerda manter o número de deputados, mesmo com a dispersão de votos à esquerda, e, se a CDU se ressentiu, é admissível que as razões para a diminuição da sua expressão eleitoral possam ser encontradas em problemas estruturais do PCP. E não é irrazoável pensar que houve muitos votos que escaparam ao PS porque os eleitores apreciaram a solução parlamentar e não lhe quiseram entregar uma maioria absoluta. É bem provável que o PAN, por exemplo, possa ter beneficiado disso.
Com um Parlamento dividido entre os 142 mandatos dos que participaram ou apoiaram a “geringonça” e os 84 dos que a rejeitam, haverá hoje muitos portugueses a perguntar-se como tão clara vitória se conjuga com o fim anunciado da solução que estimaram. É por demais óbvio que os resultados eleitorais permitem ao PS outra amplitude de acção. Mas ao fim de uma semana de negociações (?) que levaram o Bloco a decretar o óbito da solução e o Presidente da República a projectar uma estabilidade negociada à vista não sobra horizonte nenhum para quem apreciou esta solução? O PS, sentado à mesa da realpolitik, pode justificar que o PCP se pôs de fora e o Bloco quis demais. Mas declarar simplesmente que a “geringonça” não morreu porque se vai continuar a trabalhar “nos termos” em que se trabalhou nos últimos anos é enganador e é curto.
Se não quer dar razão aos que consideram que o entendimento dos últimos anos não foi mais do que um mero recurso táctico, a que deitou mão por questões de sobrevivência, António Costa tem a obrigação perante os eleitores da “geringonça” de mostrar mais do que vagas boas intenções. Se não é indiferente governar à direita ou à esquerda, o PS devia mostrá-lo no programa de Governo e anunciar desde já com quem conta para o concretizar. Similar clareza deveria vir dos pretéritos parceiros que, afinal, lutaram contra uma maioria absoluta porque acreditavam numa solução negociada à esquerda. Há muitos eleitores que esperam uma resposta.


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