domingo, 13 de outubro de 2019

Afinal, ninguém escapa


E somos - todos - o bom povo do seu desprezo, que aceita tudo e todos, com ingenuidade ou ignorância. VPV avisa, com altivez, mas há quem o desmascare, com prevenção e iracúndia. VPV corta a direito, indiferente à sensibilidade alheia - com os seus ódios (mais por nós cá), com as suas paixões, mais por lá, por onde estudou. Mas há quem lhe faça frente: “Para o cérebro de pirata que sempre tiveram – os ingleses - tudo se resume ao comércio e às golpadas, sem nenhum ideal europeu”, afirma o comentador Rafael Guerra.
Quanto a Diogo Freitas do Amaral, será que tem o direito de o menosprezar assim? Nessa noite negra do atentado, era necessário pegar nos estilhaços, em termos de coesão nacional, FA chefiou apenas interinamente o governo, não foi mais ambicioso do que outros que se lhe seguiram, de resto, repelido pela orientação esquerdista que o país ia tomando, a qual, certamente, VPV não deixaria de acompanhar do seu púlpito, com idêntica presunção de infalibilidade…



CRÓNICA
Diário
Reuniões, conversas, tretas: António Costa vai fazer o que quiser. Com um pequeno empurrão aqui e um jeitinho ali, lá se irá aguentando até o bom povo se fartar dele.
VASCO PULIDO VALENTE
PÚBLICO, 12 de Outubro de 2019
Conheci o Diogo aos 17 anos na Faculdade de Direito de Lisboa. Éramos do mesmo curso e ele já tinha o ar metódico e modesto que guardou em toda a sua vida. Mas, quando me lembro dele, lembro-me sempre da mesma cena.
Foi no dia em que Sá Carneiro morreu. O governo, tremelicante, esperava sussurrando na sala do Conselho de Ministros. O Diogo tinha ido à televisão para anunciar os factos ao país. De repente, abriu-se a porta, ele entrou e começou a andar para o topo da mesa. Estavam três lugares vazios: o dele, o do Adelino e o de Sá Carneiro. E eu pensei: se este homem se senta no lugar dele, o governo cai aqui e sabe-se lá o que pode acontecer. Mas não, o Diogo, mansamente, burocraticamente, sentou-se no lugar de Sá Carneiro. A vida continuava e ele tinha chegado ao seu maior momento de glória.
6 de Outubro: Rui Rio deu esta noite um espectáculo nunca visto de narcisismo, de vingança e de ressentimento. Se alguém ainda pensa que este homem pode ser primeiro-ministro, é porque perdeu a cabeça.
7 de Outubro: Já não se pode ouvir a voz morta e monótona de Catarina Martins a recitar maniacamente o mantra da seita. É como as beatas a rezar o terço, sem saber o que estão a dizer.
8 de Outubro: A Inglaterra moderna foi assaltada duas vezes. Primeiro, pela França de Napoleão e, depois, pela Alemanha de Hitler. Mal ou bem, foi sobrevivendo. Agora são a França e a Alemanha juntas que a tentam subordinar. A Inglaterra está sozinha. E, admito, Boris não é Pitt e muito menos Churchill. De qualquer maneira, mesmo só com Boris, cheira-me que a Inglaterra se vai aguentar. Só a ideia que um primeiro-ministro inglês tem de ir negociar a Bruxelas, que libertou duas vezes, primeiro dos franceses e, a seguir, dos alemães, me arrepia.
9 de Outubro: O PSD conseguiu tirar das suas entranhas um ente político chamado Montenegro que faz de Rui Rio um homem virtuoso. Se esse novo espectro aparecer à frente do PSD, o país inteiro vai esconder-se na casa de banho.
10 de Outubro: Não percebo o clamor que por aí se levantou por causa de Trump ter retirado as tropas da Síria. Acho sensato que a América não meta o nariz na guerra religiosa, étnica e tribal do Médio Oriente, que nenhum anglo-saxão e protestante jamais entenderá.
11 de Outubro: Reuniões, conversas, tretas: António Costa vai fazer o que quiser. A única maneira de o incomodar, para não dizer travar, é uma aliança entre o PSD e o Bloco, coisa que excede a imaginação. Costa sempre foi um apparatchik, hoje promovido a director-geral: toma medidas, inventa programas, discute prioridades. Com um pequeno empurrão aqui e um jeitinho ali, lá se irá aguentando até o bom povo se fartar dele.
Mas, como diziam dantes os capitães de Abril: “O povo aguenta tudo.”
11 de Outubro, à noite: A Europa democrática está muito zangada com a brutalidade da Turquia, a quem pagou 6000 milhões de euros para ficar com os gentios. E várias figuras dessa religião vieram declarar-se “preocupadas”.
Para quem não saiba o que significa “preocupadas”, basta dizer: a Europa não tem um exército. Não é uma potência, é um encontro de conveniências.
Colunista
COMENTÁRIOS:
Sethe, 12.10.2019: O Vasco espanhol (Guedes soava a nome de perfeito de colégio) é o cartomante-mor do reino. Parece muito criterioso na escolha dos seus clientes, mas é puro engano. Apesar de só ler o horóscopo aos personagens a quem dedica alguma raiva de estimação. Estima-se que deteste 99,98% das pessoas que vê na televisão (já pouco sai de casa). Só se sente reconfortado com os restantes 0,02% dos bonecos da televisão. É o doping que o conserva: a fixação nostálgica nos ilhéus do outro lado da Mancha, os amigos Boris, mesmo que sejam umas bestas!
francisco cruz, 12.10.2019: O número de réplicas dos seus artigos de opinião revela que a "euforia" VPV terminou. Afinal a máquina pifou. E percebe-se porquê; diz você: - Com um pequeno empurrão aqui e um jeitinho ali, lá se irá aguentando até o BOM POVO se fartar dele -. Como é habitual, você mostra o seu lado pejorativamente paternalista com relação aos demais, como se carregasse o rei na barriga. Nem sequer a idade avançada, lhe traz sapiência e humildade, crê-se ainda criativo e original, mas já não é mais. Desdenhar nos cidadãos portugueses que decidiram apoiar - votando - António Costa apelidando-os de BOM POVO, revela o seu pacovismo medíocre e tendencioso. VPV, utilizar eufemismos para camuflar as suas reais intenções, já era. Afinal o BOM POVO é mais perspicaz, do que a vulgar percepção que você tem dele. Responder
António GS, 12.10.2019: Este Valente é essencial. Há que tempos ando a dizer que o Montenegro é medíocre, que se limitou a seguir a voz do dono e a fazer uns discursos parlamentares sem conteúdo, apenas um rosnar entre dentes de quem nunca terá força para morder. Faz do tonto Rui Rio um génio. Espero que Rio se aguente para não termos, com Montenegro, mais um partido da extrema direita. Responder
rafael.guerra, 12.10.2019: "A França e a Alemanha juntas que tentam subordinar a Inglaterra que está sozinha."?! A idade faz com que VPV já se esqueceu da recente visita de Trump a Londres acompanhado dos magnatas da finança e da indústria militar? VPV não faz a mínima ideia do que os ingleses que votaram Brexit pensam dos negros do sul da Europa como nós. Para o cérebro de pirata que sempre tiveram, tudo se resume ao comércio e às golpadas, sem nenhum ideal europeu. Responder
Visitante da Noite, 12.10.2019: Bela nota sobre o Diogo Freitas do Amaral. VPV ainda não percebeu que o Brexit é um problema doméstico. Responder
Alforreca Passista , 12.10.2019: Pois é, o "povo", o "povo" é a maior preocupação do Valente, uma preocupação que ele insistiu em demonstrar ao longo da sua vida…
agany, 12.10.2019: De que lado estavam quando saquearam o Iraque e a Líbia; mataram o Sadam e o Khadhafi e condenaram Morsi à morte na prisão? Sejam homens e limpem as lágrimas (de crocodilo)
Sandra, 12.10.2019: E já se deu conta de que o Partido (ainda é o Partido), não morreu e o Vasco teve apenas um sonho na passada semana?
ana cristina, 12.10.2019: o partido talvez ainda respire mas já é um fóssil.


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