quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Um pequeno texto justificativo



«A caridade trouxe-me à Comunidade. Da Vida e Paz recebi a esperança pois é possível a mudança. E é neste caminho de partilha desinteressada que se fundem as energias que compõem este grande corpo de voluntariado.»

Foi o Ricardo que o escreveu e que a Comunidade Vida e Paz publicou. Eu admiro sem rebuço todos os meus que fazem voluntariado, e já são cinco, e tantos mais, e ainda os que me vão extorquindo dinheiro ou víveres, para colaborar com as Instituições beneméritas. São todos precisos, é certo, mas, no primeiro caso, em que, duas vezes por mês se dispõem a encurtar as suas noites de descanso para ir distribuir víveres ou razões de apelo a um viver mais digno e menos parasita, conquanto lhes exalte o altruísmo (não isento de riscos), não deixo de sentir zanga contra uma sociedade que resguarda o parasitismo dos que romperam com a sua condição humana de responsabilidade e acção, entregues ao seu desprezo pela sociedade a quem viram costas só aparentemente, submersos no mundo inefável da sua redução larvar. O nosso PR prometeu tratar do caso, reduzir o número dos que escolheram a calçada e o céu aberto como guarida ou outras grutas do seu afundamento social.
O certo é que cada vez se precisa mais, ao que parece, destes altruísmos de uma caridade real, (que, é certo, por vezes conseguem livrar alguns dessa condição, através de argumentação construtiva).
Dantes, os “Garrinchas” pediam esmola, de terra em terra, esforçavam-se para sobreviver apelando para a caridade alheia e tomando decisões, tema de muitos poetas, que Guerra Junqueiro rematou com o seu lirismo apiedado (mas que Cesário Verde referiu com natural repúdio de revolta social):
OS POBREZINHOS (in OS SIMPLES)
Pobres de pobres são pobrezinhos
Almas sem lares, aves sem ninhos.
Passam em bandos, em alcateias,
Pelas herdades, pelas aldeias….
Mas hoje os excluídos sociais são menos lutadores, habituados a serem servidos por uma sociedade responsável, certamente, pelo seu afundamento, através da droga que a permissividade dos governos deixou progredir, fonte de receitas criminosas que rodam no mundo.
Partilha desinteressada, escreveu o Ricardo. Sim, isso é real, e admiro por isso todos esses que altruisticamente e obscuramente dispõem de horas da sua vida para benefício de quem não quer ter vida.
Mas esperança de mudança? Aqui???

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