«A caridade trouxe-me à Comunidade. Da Vida e Paz
recebi a esperança pois é possível a mudança. E é neste caminho de partilha
desinteressada que se fundem as energias que compõem este grande corpo de
voluntariado.»
Foi o Ricardo que o escreveu e que a Comunidade Vida e Paz publicou. Eu admiro sem rebuço todos os meus que fazem voluntariado, e
já são cinco, e tantos mais, e ainda os que me vão extorquindo dinheiro ou
víveres, para colaborar com as Instituições beneméritas. São todos precisos, é
certo, mas, no primeiro caso, em que, duas vezes por mês se dispõem a encurtar
as suas noites de descanso para ir distribuir víveres ou razões de apelo a um
viver mais digno e menos parasita, conquanto lhes exalte o altruísmo (não
isento de riscos), não deixo de sentir zanga contra uma sociedade que resguarda
o parasitismo dos que romperam com a sua condição humana de responsabilidade e
acção, entregues ao seu desprezo pela sociedade a quem viram costas só
aparentemente, submersos no mundo inefável da sua redução larvar. O nosso PR prometeu tratar do
caso, reduzir o número dos que escolheram a calçada e o céu aberto como guarida
ou outras grutas do seu afundamento social.
O certo é que cada vez
se precisa mais, ao que parece, destes altruísmos de uma caridade real, (que, é
certo, por vezes conseguem livrar alguns dessa condição, através de
argumentação construtiva).
Dantes, os “Garrinchas”
pediam esmola, de terra em terra, esforçavam-se para sobreviver apelando para a
caridade alheia e tomando decisões, tema de muitos poetas, que Guerra
Junqueiro rematou com o seu lirismo apiedado (mas
que Cesário Verde referiu com natural repúdio
de revolta social):
OS POBREZINHOS (in OS SIMPLES)
Pobres de pobres são pobrezinhos
Almas sem lares, aves sem ninhos.
Almas sem lares, aves sem ninhos.
Passam em bandos, em alcateias,
Pelas herdades, pelas aldeias….
Pelas herdades, pelas aldeias….
Mas hoje os excluídos
sociais são menos lutadores, habituados a serem servidos por uma sociedade
responsável, certamente, pelo seu afundamento, através da droga que a
permissividade dos governos deixou progredir, fonte de receitas criminosas que
rodam no mundo.
Partilha
desinteressada, escreveu o Ricardo. Sim, isso é real,
e admiro por isso todos esses que altruisticamente e obscuramente dispõem de
horas da sua vida para benefício de quem não quer ter vida.
Mas esperança
de mudança? Aqui???
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