sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Páginas de história de um passado relativamente próximo



Uma homenagem bem merecida de Manuel Monteiro, a Freitas do Amaral, fundador do CDS - um partido que felizmente surgiu, enquadrado numa ideologia que teve o seu peso na oposição a radicalismos oportunistas desintegrantes. Porque admirei Freitas do Amaral, extraio também da Internet um breve historial sobre a formação do CDS, de que aquele foi responsável, amenizando, na altura, o caminho dos atordoados. Ainda bem que existiram esses fundadores, e os outros, como Ramalho Eanes, Afonsos Henriques ou Joões IVs de recomeços…


OPINIÃO
Um lugar reservado na história da democracia portuguesa
Pensando no regime, teremos de recordar que a par de Sá Carneiro e de Mário Soares, a ele também se deve a afirmação da democracia pluralista que hoje conhecemos.
MANUEL MONTEIRO
PÚBLICO, 3 de Outubro de 2019
Apesar de partir, Freitas do Amaral terá sempre um lugar reservado na história da democracia portuguesa. Podemos com ele ter concordado ou com ele ter divergido, mas o que não podemos é esquecer o seu decisivo contributo na construção do regime, o seu inquestionável papel na adesão de Portugal à então CEE, e a sua firme determinação no voto contra a Constituição em 1976.
Pensando no regime, teremos de recordar que a par de Sá Carneiro e de Mário Soares, a ele também se deve a afirmação da democracia pluralista que hoje conhecemos. E teremos de o recordar, uma vez que essa afirmação foi feita numa época em que o poder dito das massas, visando subjugar ou até anular o papel dos partidos políticos, quis impedir a implantação de uma democracia representativa para em seu lugar impor a chamada democracia popular.
Pensando na adesão à CEE, não poderemos ignorar o trabalho desenvolvido por Freitas do Amaral, logo em 1974, nomeadamente no seio da UEDC (União Europeia das Democracias Cristãs, de que foi presidente), tendo em vista a integração de Portugal no Mercado Comum. Ao contrário do que tantas vezes se diz, o êxito da adesão e da integração não se deveu apenas a Mário Soares e ao PS. Foi também o CDS, com Freitas do Amaral como seu líder, que muito batalhou nesse sentido e nessa direcção.
E pensando na Constituição e na sua versão inicial, teremos ainda de lembrar que foi Freitas do Amaral, em 1976, a dizer que o CDS não aceitava uma Constituição em tudo contrária a um verdadeiro Estado de Direito Democrático. Nenhum outro partido na altura o acompanhou, mas ainda assim isso não o impediu de dizer o que disse e de votar como votou. Bastariam apenas seis anos, para que em 1982, na primeira revisão constitucional, muitas das suas posições fossem afinal seguidas e adoptadas.
Ao longo da sua vida defendeu o que considerou certo e fez o que sentiu ser adequado e consonante com os seus ideais. Muitos não o entenderam e eu próprio perante ele manifestei, e em vários momentos, profundas discordâncias. Sucedi-lhe na presidência do CDS, em 1992, após a sua demissão nas eleições legislativas de 1991. Sairia pouco tempo depois do partido que tinha fundado, precisamente por não concordar com o novo rumo que estávamos a seguir. No seu entendimento, a ideia que tinha sobre a construção europeia, já não encontrava eco nem espaço na casa que tinha construído. Procurei respeitar sempre a sua posição e em nome do muito que nos legou, aqui lhe presto a minha homenagem.
CDS
História[ Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.]
A fundação[]
Diogo Freitas do Amaral foi o primeiro líder do CDS, partido que acabou por abandonar mais tarde
O Partido do Centro Democrático Social foi fundado a 19 de Julho de 1974, baseado nos princípios da democracia-cristã, do conservadorismo e do liberalismo clássico. Entre os seus principais fundadores contavam-se nomes tão sonantes como Diogo Freitas do Amaral, Victor Sá Machado e Adelino Amaro da Costa.
Quando da fundação do partido, Portugal vivia momentos profundamente conturbados. Três meses antes, a Revolução dos Cravos tinha deposto o regime autoritário liderado por António de Oliveira Salazar e, mais tarde, por Marcelo Caetano, de que alguns dirigentes vieram a integrar o partido. A revolução trouxe também um clima de instabilidade e de grandes tensões sociais.
Mas a sua oposição à convocação da «maioria silenciosa» planeada para 28 de Setembro contribuíram para o CDS sobreviver, ao contrário de grupos direitistas, como o Partido do Progresso (MFP/PP) e o Partido Liberal.
Numa altura em que ser de direita era considerado pela maior parte da população um acto de fascismo, o CDS declarou-se rigorosamente ao centro, mas já então contava com grande parte da direita portuguesa nas suas fileiras, incluindo membros do antigo regime. No dia 13 de Janeiro de 1975, os responsáveis do CDS entregaram no Supremo Tribunal de Justiça a documentação necessária à legalização do partido. O primeiro congresso foi a 25 de Janeiro de 1975 no Palácio de Cristal, no Porto. Foi nesse mesmo congresso que o cerco por militantes de extrema-esquerda marcou um dos episódios de maior confronto da vida política da democracia portuguesa e, apesar do qual, prosseguiu. O CDS é, juntamente com o PS e o PSD, uma das forças políticas a quem se credita o esforço da estabilização política após o PREC com obtenção de uma democracia liberal em oposição aos intentos alegadamente totalitários de parte das forças políticas revolucionárias neste conturbado período. Não obstante isto, são várias as acusações e alegadas implicações de notáveis do partido, no período do PREC, que terão contribuído para o contra-ataque às ofensas que as sedes do partido sofriam no Sul com recurso a movimentos populares, em especial no Norte, para a defesa de propriedades privadas, tendo por vezes recorrido para tal a vandalização e instigação de sedes de movimentos políticos de esquerda nesta região.
Primeiros anos de oposição
Depois de 11 de Março de 1975, o regime que então tentava dominar o país definiu como principais vectores as questões sociais, a intervenção na economia e a tutela militar. Tudo isto, somado ao COPCON (organização militar criada em 1974) e ao questionamento dos modelos democráticos ocidentais, levou o CDS a declarar-se partido de oposição. Os seus 16 deputados votaram sozinhos contra a Constituição de 1976, no dia 2 de Abril, também pelo facto de esta incluir no seu preâmbulo que Portugal é um país "a caminho do socialismo", frase que ainda contém.
Nas eleições de 1976, o CDS conseguiu os seus objectivos ao ultrapassar o PCP e conseguir eleger 42 deputados.
Governo PS–CDS
O CDS chegou pela primeira vez ao poder em aliança parlamentar com o Partido Socialista. O II Governo Constitucional tomou posse a 23 de Janeiro de 1978, e incluía três ministros do CDS: Rui Pena (Reforma Administrativa), Sá Machado (Negócios Estrangeiros) e Basílio Horta (Comércio e Turismo), além de cinco secretários de Estado. Terminou o seu mandato a 29 de Agosto de 1978.
A Aliança Democrática
Adelino Amaro da Costa, um dos fundadores do CDS e Ministro da Defesa da AD, faleceu nodesastre de Camarate.
Em 1979 o partido propôs a criação de uma frente eleitoral ao Partido Social-Democrata e ao Partido Popular Monárquico. Essa proposta deu origem à Aliança Democrática, conhecida por AD, que, liderada por Francisco Sá Carneiro (PSD), venceu as eleições legislativas de 1979 e de 1980.
Nos governos da AD o CDS foi representado por cinco ministros e dez secretários de estado, tendo o presidente do partido, Diogo Freitas do Amaral, sido nomeado vice-primeiro-ministro e ministro dos Negócios Estrangeiros (mais tarde, vice-primeiro-ministro e ministro da Defesa Nacional). (…)
Na noite de 4 de Dezembro de 1980, o primeiro-ministro de PortugalFrancisco Sá Carneiro, o ministro da Defesa, Adelino Amaro da CostaSnu Abecassis, Maria Manuel Amaro da Costa, António Patrício Gouveia e os pilotos Jorge Albuquerque e Alfredo de Sousa morreram num trágico despenhamento de avião em Camarate. Oficialmente tratou-se de um acidente, no entanto há muitos que ainda hoje suspeitam de atentado, tendo o assunto ficado conhecido como Caso Camarate.
Assim, o presidente do CDS, Freitas do Amaral, foi chefe de governo interino (como vice-primeiro-ministro) até à nomeação de um novo governo, desta vez, liderado por Francisco Pinto Balsemão. O VII Governo Constitucional tomou posse a 9 de Janeiro de 1981 e terminou o seu mandato a 4 de Setembro do mesmo ano, seguindo-se o VIII Governo Constitucional, liderado novamente por Pinto Balsemão, e que terminou o seu mandato a 9 de Junho de 1983, após Freitas do Amaral, depois de desentendimentos no seio da AD, se ter demitido do Governo e da presidência do partido, acabando assim com a coligação.
(…)

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