Gostei a valer de rever o historial do CDS que São José Almeida nos oferece, o qual, ao que parece, não
tem futuro nem mais apetece. Julgo que já não é preciso esse partido agora, bem
útil outrora, todavia, ainda que mais não fosse, porque nos trouxe certa
acalmia, quando fazia com o PSD parceria, ou mesmo com o PS, o que também
aconteceu então, zeloso que foi na restauração da ordem no país de desordem.
Mas teve figuras, além do mais, esse partido, de grande relevo, que São José Almeida tão bem rememora e que lembrámos saudosamente,
do tempo ido. Mas por ora esse partido anda à nora, sem ideal e muita confusão,
nem é mais preciso, pois estamos bem com quem nos seduz diariamente, na
companhia do presidente, no esforço pertinaz de ir cumprindo, apalpando
terreno, à esquerda, à direita, progredindo sempre, e rindo, e rindo, possantemente.
OPINIÃO: CDS, que futuro?
Com os pés sobre ruínas, o CDS terá de
tentar encontrar um caminho, mas, repito, o momento é único e qualquer
comparação com o passado não faz sentido.
SÃO JOSÉ ALMEIDA
PÚBLICO, 26 de Outubro de 2019
O CDS vive o momento mais difícil
da sua história. Apesar de comparações apressadas e superficiais, o CDS não
regressou ao “partido do táxi”. Nada do que se vive agora neste partido
fundador da democracia tem paralelo na crise que atravessou durante a década do
cavaquismo.
Reduzido a 221.774 votos, que
representam 4,22%, o CDS tem o pior resultado de sempre. Caiu de 18 para cinco deputados e está
ainda em estado de choque. Com congresso marcado para 25 e 26 de Janeiro, a
dimensão do desastre dificulta o aparecimento de candidatos a líder, depois de
Assunção Cristas se ter demitido na noite eleitoral.
Era, aliás, a única coisa que
podia fazer, depois do falhanço da estratégia política que escolheu, sobretudo
desde as autárquicas. O CDS acantonou-se na auto-suficiência de Cristas, que se
encheu de si, com os 20,59%
de votos para a Câmara de Lisboa. Desde então, não travou a
proclamação de autonomia do CDS, desdenhado entendimentos com o PS e também
com o PSD. Pior. A direcção de Cristas estigmatizou-se ao entrar em acordo com
a esquerda parlamentar, em defesa da luta dos professores pela reposição
integral das carreiras, que é liderada por Mário Nogueira. Para, nas europeias,
radicalizar o discurso, depois de ter tentado protagonizar uma direita moderada
e aberta.
Cristas chocou com a tradição do CDS e com a mentalidade machista do
eleitorado conservador de direita ao assumir-se como uma mulher afirmativa e
até assertiva (ou mesmo agressiva) no discurso, mas que explora o estereótipo
da “mãe de família” e usa técnicas de comunicação que passam pela exposição em
revistas e programas de entretenimento na TV.
Com os pés sobre ruínas, o CDS
terá de tentar encontrar um caminho, mas, repito, o momento é único e qualquer
comparação com o passado não faz sentido. A começar pela sociedade
portuguesa, que está a anos-luz do que era há três décadas. O próprio
país político é outro. O CDS terá de fazer o caminho das pedras num
Parlamento onde está acossado. De um lado, tem o discurso reaccionário da
extrema-direita representada pelo Chega. Do outro lado, é apertado pelo
liberalismo da Iniciativa Liberal.
Já a posição do PSD — e a
relação possível do CDS com ele — é radicalmente diferente da que foi no
cavaquismo. O PSD é o segundo partido, mas teve um resultado baixo e não tem um
projecto político aglutinador como foi o de Cavaco Silva. O relacionamento com
o PSD é, para o CDS, um desafio complexo e insere-se na crise profunda que o
centro-direita vive e no processo de transformação a que está obrigado.
O
CDS, “partido do táxi”, levou uma década a recuperar, mas em
circunstâncias diferentes. A crise de então caracterizou-se por um
demorado processo de erosão eleitoral, depois de, em 1985, Lucas Pires ter recusado o convite de
Cavaco para o CDS se apresentar às legislativas em listas conjuntas com o PSD.
O resultado foi o PSD no Governo de maioria relativa e o CDS a ficar-se pelos 9,96%, descendo de 30 para
22 deputados.
Lucas Pires demite-se, mas seguem-se dez anos de mínimos eleitorais. Em 1987, Cavaco conquista a primeira maioria absoluta.
Liderado por Adriano
Moreira, o CDS bate no fundo, com 4,44% dos votos, e elege quatro
deputados. É o “partido do táxi”. Depois da demissão de Adriano
Moreira, Freitas do Amaral regressa à liderança e, em 1991, o CDS tem
4,43% e elege cinco deputados. Freitas
retira-se. O partido é presidido interinamente, durante uns meses, por Adriano Moreira até ao Congresso do
Altis, em Março de 1992, em que, com o apoio oficial e assumido no palco do
congresso de Adriano Moreira e de Nuno Krus Abecasis, Manuel Monteiro é eleito.
Tinha, então, 29 anos, apenas uma
licenciatura em direito e o currículo político de ter sido líder da Juventude
Centrista. Mas tinha um núcleo duro fortíssimo: Jorge Ferreira, Gonçalo Ribeiro da Costa, Luís Queiró,
Luís Nobre Guedes e, também, o
ainda não militante do CDS Paulo Portas, então director de O Independente.
Além disso, a sua direcção contava com pessoas como Fernando Paes Afonso, Nogueira Simões, Rui Vieira,
Manuel Queiró. E agregou personalidades como Maria José Nogueira Pinto e Nuno Fernandes
Thomaz. E, questão não menor, mesmo com cinco deputados, a bancada do
CDS era um escol: Adriano Moreira, Narana Coissoró, José Luís Nogueira
de Brito, Girão Pereira, António Lobo Xavier.
Mais: Monteiro tinha um
projecto e uma ideia de país. Assumiu um programa
político-ideológico de direita nacionalista e eurocéptica que levou o CDS a
recusar o Tratado de Maastricht e a ser contra a adesão ao euro, então em
construção. Ensaiou técnicas de discurso populista, mas nunca pôs em causa o
modelo de democracia liberal. Um projecto e uma ideia de país que refundou o
CDS e o levou aos 15 deputados, em 1995.
Nas diversas e peculiarmente adversas
circunstâncias actuais, quem — e com que projecto — irá dar um futuro ao CDS?
TÓPICOS POLÍTICA CDS ASSUNÇÃO CRISTAS MANUEL MONTEIROADRIANO MOREIRADIOGO FREITAS DO AMARAL LEGISLATIVAS 2019
COMENTÁRIOS
VitalBicho E Portugal, 28.10.2019: "CDS que
futuro" o futuro pode passar por a reflexão desta crónica, onde
"Portas e Cristas" são de pouca referência, a politica e as
necessidades, têm outros prioridades e como já escrevi, o CDS só faz sentido,
com uma reestruturação, com a evolução dos tempos, reconquistando credibilidade,
se mesmo com a astúcia politica de Portas, o CDS perdeu identidade, com Cristas
foi o descalabro, por vezes populista, sempre ressentido e em negação, em gíria
diria, "quis voar sem asas"... Mais ao centro ou à mais direita,
um CDS com linhas do passado, praticando a Democracia Cristã, não só evocando,
tem lugar na democracia portuguesa, pede-se simplesmente, "uma oposição
construtiva"...
AndradeQB, 26.10.2019: Não milito nem
votei no CDS, mas o julgamento dos eleitores ditado por todos estes jornalistas
comunistas enoja-me. O sucesso da geringonça deve-se fundamentalmente a medidas
tomadas pelo CDS, Adolfo Mesquita Nunes no turismo, Paulo Portas nos vistos
gold e a Assunção Cristas com a lei das rendas e a desburocratização do
licenciamento de obras de reabilitação urbana. Jornalistas como SJM
trabalharam diariamente para lhes atribuir a culpa da falta de dinheiro, virem
agora falar sobre o seu enterro é deprimente.
Qualquer coisa,
26.10.2019: Andrade, a São é uma jornalista
experiente e como ex eleitor do CDS até às últimas eleições devo dizer que é
certeira. Votei IL. O Nuno Melo costumava me inspirar mas hoje em dia acho-o um
cobarde político, que está bem acostumado a Bruxelas. Aliás muitas das pessoas
do CDS parecem me hoje em dia uns betinhos, sem gana nenhuma.
Mendonça, 26.10.2019:
CDS é um partido
condenado. Não tem conteúdo ideológico. Não tem base social. A Dª Cristas foi
fingindo que existia mas todo aquele vazio era mais que patente, sem qualquer
hipótese de levar muito mais longe a farsa.
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