quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Era uma vez



Gostei a valer de rever o historial do CDS que São José Almeida nos oferece, o qual, ao que parece, não tem futuro nem mais apetece. Julgo que já não é preciso esse partido agora, bem útil outrora, todavia, ainda que mais não fosse, porque nos trouxe certa acalmia, quando fazia com o PSD parceria, ou mesmo com o PS, o que também aconteceu então, zeloso que foi na restauração da ordem no país de desordem. Mas teve figuras, além do mais, esse partido, de grande relevo, que São José Almeida tão bem rememora e que lembrámos saudosamente, do tempo ido. Mas por ora esse partido anda à nora, sem ideal e muita confusão, nem é mais preciso, pois estamos bem com quem nos seduz diariamente, na companhia do presidente, no esforço pertinaz de ir cumprindo, apalpando terreno, à esquerda, à direita, progredindo sempre, e rindo, e rindo, possantemente.

OPINIÃO: CDS, que futuro?
Com os pés sobre ruínas, o CDS terá de tentar encontrar um caminho, mas, repito, o momento é único e qualquer comparação com o passado não faz sentido.
SÃO JOSÉ ALMEIDA
PÚBLICO, 26 de Outubro de 2019
O CDS vive o momento mais difícil da sua história. Apesar de comparações apressadas e superficiais, o CDS não regressou ao “partido do táxi”. Nada do que se vive agora neste partido fundador da democracia tem paralelo na crise que atravessou durante a década do cavaquismo.
Reduzido a 221.774 votos, que representam 4,22%, o CDS tem o pior resultado de sempre. Caiu de 18 para cinco deputados e está ainda em estado de choque. Com congresso marcado para 25 e 26 de Janeiro, a dimensão do desastre dificulta o aparecimento de candidatos a líder, depois de Assunção Cristas se ter demitido na noite eleitoral.
Era, aliás, a única coisa que podia fazer, depois do falhanço da estratégia política que escolheu, sobretudo desde as autárquicas. O CDS acantonou-se na auto-suficiência de Cristas, que se encheu de si, com os 20,59% de votos para a Câmara de Lisboa. Desde então, não travou a proclamação de autonomia do CDS, desdenhado entendimentos com o PS e também com o PSD. Pior. A direcção de Cristas estigmatizou-se ao entrar em acordo com a esquerda parlamentar, em defesa da luta dos professores pela reposição integral das carreiras, que é liderada por Mário Nogueira. Para, nas europeias, radicalizar o discurso, depois de ter tentado protagonizar uma direita moderada e aberta.
Cristas chocou com a tradição do CDS e com a mentalidade machista do eleitorado conservador de direita ao assumir-se como uma mulher afirmativa e até assertiva (ou mesmo agressiva) no discurso, mas que explora o estereótipo da “mãe de família” e usa técnicas de comunicação que passam pela exposição em revistas e programas de entretenimento na TV.
Com os pés sobre ruínas, o CDS terá de tentar encontrar um caminho, mas, repito, o momento é único e qualquer comparação com o passado não faz sentido. A começar pela sociedade portuguesa, que está a anos-luz do que era há três décadas. O próprio país político é outro. O CDS terá de fazer o caminho das pedras num Parlamento onde está acossado. De um lado, tem o discurso reaccionário da extrema-direita representada pelo Chega. Do outro lado, é apertado pelo liberalismo da Iniciativa Liberal.
Já a posição do PSD — e a relação possível do CDS com ele — é radicalmente diferente da que foi no cavaquismo. O PSD é o segundo partido, mas teve um resultado baixo e não tem um projecto político aglutinador como foi o de Cavaco Silva. O relacionamento com o PSD é, para o CDS, um desafio complexo e insere-se na crise profunda que o centro-direita vive e no processo de transformação a que está obrigado.
O CDS, “partido do táxi”, levou uma década a recuperar, mas em circunstâncias diferentes. A crise de então caracterizou-se por um demorado processo de erosão eleitoral, depois de, em 1985, Lucas Pires ter recusado o convite de Cavaco para o CDS se apresentar às legislativas em listas conjuntas com o PSD. O resultado foi o PSD no Governo de maioria relativa e o CDS a ficar-se pelos 9,96%, descendo de 30 para 22 deputados.
Lucas Pires demite-se, mas seguem-se dez anos de mínimos eleitorais. Em 1987, Cavaco conquista a primeira maioria absoluta. Liderado por Adriano Moreira, o CDS bate no fundo, com 4,44% dos votos, e elege quatro deputados. É o “partido do táxi”. Depois da demissão de Adriano Moreira, Freitas do Amaral regressa à liderança e, em 1991, o CDS tem 4,43% e elege cinco deputados. Freitas retira-se. O partido é presidido interinamente, durante uns meses, por Adriano Moreira até ao Congresso do Altis, em Março de 1992, em que, com o apoio oficial e assumido no palco do congresso de Adriano Moreira e de Nuno Krus Abecasis, Manuel Monteiro é eleito.
Tinha, então, 29 anos, apenas uma licenciatura em direito e o currículo político de ter sido líder da Juventude Centrista. Mas tinha um núcleo duro fortíssimo: Jorge Ferreira, Gonçalo Ribeiro da Costa, Luís Queiró, Luís Nobre Guedes e, também, o ainda não militante do CDS Paulo Portas, então director de O Independente. Além disso, a sua direcção contava com pessoas como Fernando Paes Afonso, Nogueira Simões, Rui Vieira, Manuel Queiró. E agregou personalidades como Maria José Nogueira Pinto e Nuno Fernandes Thomaz. E, questão não menor, mesmo com cinco deputados, a bancada do CDS era um escol: Adriano Moreira, Narana Coissoró, José Luís Nogueira de Brito, Girão Pereira, António Lobo Xavier.
Mais: Monteiro tinha um projecto e uma ideia de país. Assumiu um programa político-ideológico de direita nacionalista e eurocéptica que levou o CDS a recusar o Tratado de Maastricht e a ser contra a adesão ao euro, então em construção. Ensaiou técnicas de discurso populista, mas nunca pôs em causa o modelo de democracia liberal. Um projecto e uma ideia de país que refundou o CDS e o levou aos 15 deputados, em 1995.
Nas diversas e peculiarmente adversas circunstâncias actuais, quem — e com que projecto — irá dar um futuro ao CDS?
COMENTÁRIOS
VitalBicho E Portugal, 28.10.2019: "CDS que futuro" o futuro pode passar por a reflexão desta crónica, onde "Portas e Cristas"  são de pouca referência, a politica e as necessidades, têm outros prioridades e como já escrevi, o CDS só faz sentido, com uma reestruturação, com a evolução dos tempos, reconquistando credibilidade, se mesmo com a astúcia politica de Portas, o CDS perdeu identidade, com Cristas foi o descalabro, por vezes populista, sempre ressentido e em negação, em gíria diria, "quis voar sem asas"... Mais ao centro ou à mais direita, um CDS com linhas do passado, praticando a Democracia Cristã, não só evocando, tem lugar na democracia portuguesa, pede-se simplesmente, "uma oposição construtiva"...
Raquel Azulay, 26.10.2019: Futuro???
AndradeQB, 26.10.2019: Não milito nem votei no CDS, mas o julgamento dos eleitores ditado por todos estes jornalistas comunistas enoja-me. O sucesso da geringonça deve-se fundamentalmente a medidas tomadas pelo CDS, Adolfo Mesquita Nunes no turismo, Paulo Portas nos vistos gold e a Assunção Cristas com a lei das rendas e a desburocratização do licenciamento de obras de reabilitação urbana. Jornalistas como SJM trabalharam diariamente para lhes atribuir a culpa da falta de dinheiro, virem agora falar sobre o seu enterro é deprimente.
Qualquer coisa, 26.10.2019: Andrade, a São é uma jornalista experiente e como ex eleitor do CDS até às últimas eleições devo dizer que é certeira. Votei IL. O Nuno Melo costumava me inspirar mas hoje em dia acho-o um cobarde político, que está bem acostumado a Bruxelas. Aliás muitas das pessoas do CDS parecem me hoje em dia uns betinhos, sem gana nenhuma.
Mendonça, 26.10.2019: CDS é um partido condenado. Não tem conteúdo ideológico. Não tem base social. A Dª Cristas foi fingindo que existia mas todo aquele vazio era mais que patente, sem qualquer hipótese de levar muito mais longe a farsa.

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