sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Ingratos e esquecidos



Um editorial que mereceu apoios mas sobretudo censuras, uns sobre os malefícios do euro, outros sobre os malefícios da direita de Passos Coelho, com alguns mais providos de senso a contrapor. Aqueles tais esquecidos do seu país falido, aquando da entrada na CEE, falido, aquando da entrada na Troika, que, sem esses favores, as tais esquerdas já teriam destruído o pouco que restou, esquerdas que não se importam de impor soluções beneméritas, venha o dinheiro donde vier, a esses só cabe dar, depois de estendida a mão generosa por conta alheia. O que não isenta os responsáveis pela corrupção, é claro, que sempre se aboletaram… Ainda bem que a CEE nos tomou sob o seu manto… Quanto à Grécia… os gregos eram bem mais mimosos, foi outra história, que alguns contam mal, por conveniência própria.
EDITORIAL:  Obrigado, senhor Draghi
Portugal e a Europa estão onde estão hoje, em grande medida, por causa da ousadia de Mario Draghi. Na hora em que se despede do BCE, aqui fica a nossa vénia ao seu papel.
MANUEL CARVALHO   PÚBLICO, 24 de Outubro de 2019
A complexidade do mundo moderno é avessa à glória de actos individuais, mas no nosso tempo tivemos a felicidade de ouvir uma frase com quatro palavras apenas que mudou o curso de uma crise que estava a devastar a Europa – e a levar Portugal para um caminho de lúgubres incertezas. Quando, em 26 de Julho de 2012, o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, anunciou em Londres que faria “tudo o que for preciso para salvar o euro” e garantiu que o que tinha em mente era “suficiente” para o conseguir, criou-se um desses momentos de mudança que afectou a vida de milhões de pessoas. Num rasgo que combinou visão, determinação e coragem, Draghi fez da ousadia uma estratégia e das palavras uma arma contra o fatalismo. Depois desse dia, a ameaça que pairava sobre Portugal, Grécia, Espanha e Itália começou a diluir-se. O euro resistiu e hoje merece um apoio dos cidadãos como nunca teve na sua curta história.
Por muito que seja arriscado falar no homem providencial da crise, até porque o mandato de Mario Draghi está longe de ser perfeito, vale a pena regressar a esses tempos sombrios e recordar o seu papel.Os resgates da Grécia e de Portugal estavam feitos e a Espanha receberia um pacote de ajudas de 100 mil milhões de euros, mas o contágio propagado pela descrença no euro elevava os juros das emissões de dívidas para níveis incomportáveis e a Itália aproximava-se do precipício. Enquanto os países mais ricos se entretinham na miserável narrativa dos riscos (e facturas) morais da crise que os pecadores tinham de suportar para redimir os seus “pecados”, quando as instâncias europeias paralisaram num clima de cobardia política e de fatalismo, só um golpe de convicção e determinação poderia inverter o ciclo. Draghi foi o homem que teve esse rasgo e a coragem para rumar contra a maré.Não vale a pena invocar a história contrafactual para se adivinhar o que teria acontecido sem as palavras de Draghi e sem a crença dos mercados financeiros na sua autenticidade. O que importa é notar que a crise se começou a dissipar, a Europa regressou à senda de crescimento que criou 11 milhões de postos de trabalho, Portugal sobreviveu à tempestade, regressou aos mercados e entrou numa fase de estabilidade e de crescimento. Dizer que tudo aconteceu à custa da coragem de Draghi pode ser excessivo. Mas reconhecer que Portugal e a Europa estão onde estão hoje, em grande medida, por causa da sua ousadia é um gesto de simples justiça.
Na hora em que se despede do BCE, aqui fica a nossa vénia a Mario Draghi.
COMENTÁRIOS
vinha2100, 24.10.2019: Draggi merece o nosso reconhecimento. O euro é um sucesso. Agora há que criar as reformas que equilibrem o papel da moeda única, em particular a união bancária e fiscal.
Vieira, 24.10.2019: A união bancária e a harmonização fiscal tinha que ser feito antes do Euro e não vai ser feito provavelmente nunca, e por favor fale por si próprio, os slogans de supermercado só propagandeiam uma marca e não um conjunto. Obrigado.
JonasAlmeida, 24.10.2019: Concordo Vieira, e vale bem a pena recordar que Draghi vem de um posto de director na Goldman Sachs. Montar coisas com rendas irreversíveis e regras sem alternativa é a especialidade desta gente. Queixam-se das americanices de Wall Street mas presidentes do BCE só vindos da GS ou FMI...
Vieira, 24.10.2019: Caro Jonas, disse bem, eu nem fui por aí porque o camarada aqui de cima sabe isso também, está é a fazer-se de, como se costuma dizer, de lulas para ver se deixa o polvo da UE passar pelo rendilhado legislativo que se especializaram em produzir. Os comissários políticos sempre foram sabujos, fomos de bons alunos a sabujos, ou fomos bons alunos a ser sabujos, ou já éramos sabujos e aprendemos bem em ainda ser mais sabujos. Tudo isto assenta que nem uma luva no sr Manuel Carvalho. Para o sabujo de serviço do PSD imprimir notas e distribuir à banca privada para esta vender aos estados é um rasgo de génio. Sim, os empregos aumentaram até à próxima crise (na estatística do fundo de desemprego…) e estes que apareceram foram substituir empregos que foram destruídos (em maior número) pelos mesmos que agora dizem salvaram o Euro. E com umas vantagens, foram substituídos (os que foram porque não foram todos) por salários mais baixos. Quando todos diziam para se fazer o mesmo que nos EUA para remediar a crise financeira (mais uma ate à próxima), esperámos 4 anos para fazer o óbvio, mas isso o sabujo comissário politico
bento guerra, 24.10.2019:  Ó Manuel, você julga que a manipulação das taxas de juro ,a destruição das poupanças num país envelhecido e a dívida total (pública + privada) de 300 porcento do Pib, merecem "obrigado"?.Guarde este editorial por dois anos e depois falamos
Espectro, 24.10.2019: Nem sempre concordo com os editoriais de Manuel Carvalho (o que é normal, nem eu nem ele somos infalíveis), mas hoje concordo. O que MC escreve é factual, portanto não são precisos grandes argumentos para defender Draghi - a realidade dá-lhe toda a razão, como ele, Draghi, escreveu. Mas Merkel também foi muito importante António Costa também (se não tivesse havido governo de geringonça, se calhar Portugal mergulharia numa crise política, que, por sua vez, levaria ao desastre económico, financeiro e social. E até o Syrisa, na Grécia, foi importante, pois ao ser pragmático e sensato, conseguiu evitar a queda no precipício, quando parecia inevitável. Mas hoje é dia de elogiar e homenagear Draghi - e merece-o bem. LOL
mário borges, 24.10.2019: Obrigado senhor Draghi pela participação activa na Troika que fez do desgoverno do Passos/Portas o mais destrutivo da economia e do tecido social desde o 25 de Abril. Obrigado também pelos mais de 550 mil portugueses corridos a pontapé para a emigração. Obrigado pelos cortes nas pensões, nos subsídios e nos salários dos menos abastados. Obrigado pela salvação da banca portuguesa com o dinheiro dos portugueses. Estava aqui o dia todo a agradecer... Às vezes penso como é que é possível jornais de referência terem directores tão fora da realidade.
joaoteixeira, 24.10.2019: Só lhe pergunto qual era a alternativa mas enfim, falar é sempre fácil.
mário borges, 24.10.2019: A alternativa foi 4 anos de governo das esquerdas.. Não foi preciso continuar a roubar pensões, subsídios e salários e a pagar com o dinheiro do povo os roubos do capitalismo de casino bancário e especulativo. Em 4 anos de Costa não foram corridos do país mais de meio milhão de portugueses. Mas ainda não estou contente. Quem roubou o povo, bancários e afins ainda se passeiam livre e impunemente por aí. O Salgado deve ser o tipo que mais se ri em Portugal.
FERNANDO RODRIGUES, 24.10.2019: Mário, quando a esquerda entrou já o programa de ajustamento e a troika tinham ido embora. Estivesse a esquerda no governo e teria sido a mesma coisa nesse período.
Luis Morgado, 24.10.2019: Reconheço que foram feitas coisas boas, mas em 4 anos de "esquerdas" emigraram pelo menos 300 mil Portugueses. O "programa" do Governo para o retorno dos emigrantes é um fiasco. Porquê? Porque somos um país pobre. Aquilo que de bom fizeram as esquerdas, e ainda bem que o fizeram, incidiu sobre uma parte da população que trabalha para o Estado. O nosso tecido empresarial não pode oferecer nada de atractivo para os jovens que partiram e continuam a partir e já viram que por outras paragens se podem ganhar salários dignos das competências de cada um. Detesto dizer isto, mas já agora, os países para onde os portugueses mais emigram não são governados "pelas esquerdas". Também não sei que alternativa é que Passos tinha no tempo da Troika. Revoltar-se? Vejam como foi com o Tsipras.
Vieira, 24.10.2019: Caro Luís, como bem sabe não há pais nenhum governado pelas "esquerdas" na Europa. O Estado Social foi criado pelas políticas de esquerda (por vezes até aplicadas por governos de centro-direita) que agora por um fenómeno inexplicável parecem ser impossíveis. Na Europa os países são governados por uma clique ligada ao poder financeiro via partidos de direita ou pelos partidos socialistas (ou sociais democratas). O Estado foi completamente tomado de assalto pelo poder financeiro (quem paga manda). A emissão de moeda encapotada (empréstimos do BCE) 'a banca privada serviu para salvar esta do seu jogo de corrupção contínua e para endividar ainda mais os estados por estes pedirem à banca empréstimos a juro mais elevado do que aquele com o qual obtiveram financiamento do BCE.
As actuais políticas dos governos europeus são feitas para os grandes interesses instalados e não para as pessoas. E ai do estado que queira fazer de outro modo como foi o caso da Grécia onde foram criminosamente chantageados pela UE. Se o sr Passos tivesse feito finca pé com a Grécia talvez (provavelmente não) pudesse ter feito algo de muito diferente (que o PS apesar de tudo conseguiu fazer) e talvez a Grécia não tivesse que sofrer tanto. O certo é que empurrou a dívida para os 130%, 750000 desempregados, PIB acumulado -5%, corrupção em alta a nível do governo, tudo para satisfazer clientelas e fazer um programa que o próprio FMI designou como um fracasso. Os países ricos também são ricos à custa dos países pobres e nesses países também há muita miséria.
Luis Morgado, 24.10.2019: Como o Mário Borges (não transcrito) parece estar a dirigir-se a mim, digo-lhe que também não posso com a falta de memória daqueles que parecem esquecer-se que o maior escândalo da democracia portuguesa aconteceu no governo imediatamente anterior ao de Passos Coelho. Por mim, o CDS e o PSD e as suas clientelas podem ser apagados do mapa que até fico feliz, não percebo é como é que o PS, partido responsável pelo período mais negro da democracia portuguesa, com personagens que participaram nesse governo, consegue agora vencer eleições e aumentar os resultados anteriores. Há uma memória selectiva que até comove. Para terminar, lembro-lhe que o “povo que sofreu a austeridade criminosa” deu nessa altura a vitória a Passos Coelho nas eleições, à frente do PS. Lembra-se?

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