Notícias do mundo, de há uma semana.
Gente que luta, que mal conhecemos, na rebeldia jovem contra uma autoridade
cediça, num mundo sempre em evolução e em guerra, os mais afoitos, em guerra de
armas, os confiantes nos ideais democráticos, em guerra de palavras e panfletos.
Afinal, guerras sempre as houve, no Médio Oriente, no Vietnam, e o resto do
mundo olha de longe, não com indiferença, mas com curiosidade expectante, e
receosa, admirando a coragem, desta vez, das reivindicações, num mundo cada vez
mais fechado ao futuro, na monstruosidade populacional que o condena. É claro
que há sempre “editorialistas” unilateralmente solidários, como apontam alguns
comentadores bem informados… Quanto ao Kosovo, foi um pouco mais de história
europeia a leste que nos esclareceu…
I - Kosovo vai a eleições em ambiente de
revolta contra corrupção e desemprego
Dois partidos da oposição disputam o
primeiro lugar, ambos rejeitam concessões à Sérvia.
FATOS BYTYCI
PÚBLICO, 6 de Outubro de 2019
Vjosa
Osmani quer ser a primeira mulher a chefiar o Kosovo GEORGI LICOVSKI/EPA
Os
eleitores do Kosovo vão este domingo escolher um novo Parlamento em eleições dominadas pela corrupção generalizada,
o desemprego altíssimo e a má relação com a vizinha Sérvia.
As
eleições foram antecipadas pela demissão do primeiro-ministro Ramush
Haradinaj, em Julho, depois de ter sido convocado a responder a uma
investigação sobre crimes de guerra em Haia pelo seu papel na insurreição
contra as forças sérvias em 1998-99. Mas este factor terá pouco a ver com
as dificuldades que Haradinaj vai encontrar nas eleições: a sua actuação no
passado é vista como legítima, e os líderes militares são considerados heróis
na luta contra a Sérvia. Os eleitores devem votar a pensar mais no
presente.
A
insatisfação pública com o governo de Haradinaj (que tem, com outros dois
antigos líderes do Exército da Libertação do Kosovo que se tornaram políticos,
uma coligação a três) fez com que o apoio para os partidos da oposição
tivesse aumentado, com a Liga Democrática do Kosovo (LDK) e o nacionalista
de esquerda Vetevendosje a disputar o primeiro lugar (o vencedor, qualquer que
seja, não deve conseguir votos suficientes para governar sozinho).
A
candidata da LDK, Vjosa Osmani, quer ser a primeira mulher a ocupar a
chefia deste Governo, e usou este argumento na campanha: “Em mais de 90% dos
casos são os homens que estão envolvidos em corrupção. Uma mulher vê o Estado e
o modo como se deve tratar dos nossos cidadãos de um modo totalmente
diferente”, disse à Reuters.
Osmani,
professora de Direito de 37 anos, estudou no Estados Unidos e representa uma
geração de kosovares mais familiarizados com a vida no Ocidente e frustrados
com o nepotismo e ineficiência dos partidos tradicionais do país dos Balcãs.
“Não
pode ficar pior”
O slogan de
campanha de Osmani é “Acreditem!”
mas os eleitores são cépticos em relação às promessas dos políticos no país
em que mais de um terço dos cidadãos não tem emprego e onde para ter um emprego
bem pago exige geralmente algumas manobras.
“Para
ter um emprego é preciso subornar alguém ou conhecer os responsáveis certos”,
diz Lindita Azemi, 22 anos, que ganha 300 euros a fazer hambúrgueres numa loja,
apesar de ser licenciada em Ciência Política e Administração Pública.
O Kosovo tem a população mais jovem da
Europa, com uma média de 29 anos de idade, mas apesar do crescimento económico
ser de cerca de 4% ao ano na última década, mantém-se muito pobre.
Fazendo
eco do desapontamento, Ramadan Bibaj, 66 anos, disse: “Quem quer que ganhe, não
vai poder ficar pior do que está.” Se tudo continuar como está, previu,
“dentro de cinco anos não teremos no país nem 400 mil pessoas”.
A população
do Kosovo é de 1,8 milhões. Mais de 200 mil kosovares deixaram o país e
pediram asilo na União Europeia desde que Pristina declarou a sua independência
em relação a Belgrado em 2008.
A declaração de independência, quase
uma década depois de a NATO ter bombardeado forças sérvias do que era então uma
província sérvia, foi reconhecida por mais de 100 países, mas entre
os que não reconheceram estão cinco estados da União Europeia e duas potências,
a Rússia e a China (além da Sérvia, que considera o Kosovo uma província na sua
Constituição).
Se
no Governo cessante a tensão entre Pristina e Belgrado piorou, com Haradinaj a impor uma taxa de 100% nas importações
de produtos sérvios, nenhum dos
potenciais vencedores tem qualquer intenção de fazer cedências territoriais
à Sérvia, uma das opções para recomeçar conversações iniciadas em 2013 mas que
nunca registaram progressos significativos.
II - EDITORIAL
Hong Kong, a democracia em causa perante
o silêncio do mundo
O que as ruas de Hong Kong revelam é
uma luta entre a defesa de uma forma de vida e um regime que a recusa
PÚBLICO, 6 de Outubro de 2019
MANUEL CARVALHO
Já se passaram 18 semanas. Sob a chuva, nas ruas, nas estações de metro, no
aeroporto ou nos viadutos gigantescos que tornam possível o fluxo do quotidiano
a 7.5 milhões de pessoas acotoveladas numa área exígua, os cidadãos de Hong
Kong continuam a resistir e a protestar. Começaram por recusar
uma lei de extradição, entretanto anulada, que permitiria o
julgamento dos seus cidadãos em tribunais da China. Continuaram com a exigência do sufrágio universal.
Hoje lutam quase essencialmente pelo direito de lutar. Depois de injectarem tinta azul nos canhões de
água, depois de mobilizarem gangs pró-chineses para causar tumultos e agredir
manifestantes, o governo da cidade decidiu por estes dias dar mais um passo no
endurecimento da sua resposta às manifestações: uma lei de excepção herdada dos
tempos coloniais que já não se aplicava desde 1967 foi ressuscitada para proibir que os manifestantes usem máscaras nos seus
protestos.
Entrámos definitivamente num
território desconhecido. Apesar
de todas as ameaças, de todas as proibições e da escalada da repressão, os
manifestantes, na sua maioria jovens, não desarmam. O desespero leva as franjas
mais radicais à violência gratuita. A cidade estava ontem praticamente
paralisada. Sem o metro a funcionar, com centenas de lojas fechadas, com o seu
habitual bulício suspenso. Só os manifestantes voltaram à rua e com máscaras.
Sem que uma pretensa maioria silenciosa de cidadãos se exponha a exigir o
regresso à normalidade, o que as ruas de Hong Kong revelam é uma luta entre a
defesa de uma forma de vida e um regime que a recusa. O modelo
de “um país dois
sistemas” só existe se um desses sistemas impuser limites ao outro.
Tudo se passa perante uma gelada indiferença do mundo, em concreto a indiferença
das democracias ocidentais. A União Europeia
limita-se a recordar valores, sem pressionar a favor do seu respeito. Dos
Estados Unidos ouve-se o comprometedor silêncio de Donald Trump. A democracia só se exige aos mais
fracos, nunca a um colosso com a dimensão da China.
Pode-se argumentar que esta indiferença se justifica com a prudência
com que as autoridades têm gerido o conflito. Mas a
situação mudou com o regresso da lei de excepção. O que se segue é incerto mas,
olhando para a tenacidade dos cidadãos de Hong Kong nos últimos meses, nada
garante que desarmem pela persuasão das palavras. Talvez então, nessa
luta entre um gigante e um anão que se adivinha, o Ocidente democrático tenha a
coragem de dizer que a razão está do lado da democracia. Mas
será tarde demais.
COMENTÁRIOS
antonio jose, 07.10.2019: Grande defensor da Democracia o srº Manuel Carvalho,
vem alertar a opinião pública para os graves acontecimentos em HONG Kong. Basta
ver as imagens que as nossas Tv,s por vezes mostram para vermos os gravíssimos
actos de vandalismo que diariamente vão sendo praticados, felizmente sem que se
tenham registado mortos. Mas, o seu empenhamento de grande defensor da democracia
fica-se por HONG KONG , não chega ao Iraque onde a população se tem manifestado
contra o desemprego , a fome , a corrupção dos governantes, e a mando destes
democratas já foram assassinadas mais de 100 pessoas. Grandes defensores da
Democracia, mas sempre com dois pesos e duas medidas.
AndradeQB, 06.10.2019: Atrasado ouvi dizer a, salvo erro, um professor da
UTAD que se tivessem sido tomadas medidas conhecidas quando começaram a
aparecer vespas asiáticas, a situação não teria chegado ao que chegou. Quando a
China ocupou Macau e Hong Kong, também houve quem avisasse. Quando a China
começou a criar aeroportos em ilhéus submersos para tomar conta do mar a sul da
China, também ninguém abriu o bico. Teve que aparecer Trump para dizer " o
Rei vai nu". Vir agora dar falsas esperanças aos que se manifestam, é
repetir o que se fez na Síria, ou na Venezuela. É empurrar heróis para a
fogueira a ver se ganham alguma coisa com isso.
Conta desactivada por
violação das regras de conduta, 06.10.2019: O
propagandista pafioso está desejoso para que comecem a chover bombas
democráticas made in USA em Hong Kong, tudo pela "democracia",
claro...... Já a Comissão Totalitária €uropeia devia ir a Pequim dar lições
sobre "democracia", e que leve o Manuel Carvalho para ensinar aos
chineses como passar anos a fio na comunicação social a regurgitar propaganda e
fazer-se passar por especialista em economia!!
Julio, 06.10.2019:
Em Hong Kong há problemas? Claro que os
há! Onde é que não há problemas? Todavia, o articulista não refere um único -
que Hong Kong tem um PIB que é 30 hoje em dia vezes inferior ao "pobre
continente"; que é uma cidade extremamente cara para se viver e, em
especial, para um estudante, se torna impossível, pois não tem dinheiro ... nem
quarto; que a sua praça financeira já pouco interessa à China; Uma cidade que
tem de mudar de paradigma de vida pois a sua herança colonial - em todos os
aspectos - já não se adapta aos tempos modernos. Não, o articulista nada
refere. Prefere concentrar-se naquilo que entende ser democracia - a democracia
da cartilha que segue - que, como no caso Venezuela, preconiza e defende a
completa perversão das instituições onde, para isso, vale tudo.
E
como vale tudo, o articulista está decepcionado - o Trump não larga uma das
"mães das bombas". Só isso. De resto ninguém está em silêncio
muito menos deixa de agir na subversão, nos motins na sua organização e
financiamento. É pública a acção da Nulland lá para o sítio como é público
o financiamento de tais grupelhos. Do mesmo modo é pública a intervenção desse
baluarte da democracia, paz e defesa dos direitos humanos que dá pelo nome de
Rubio. Tudo porque, atrevo-me a dizer também para o articulista, os cidadãos
de Hong Kong nada interessam. Não passam de peões no tabuleiro de xadrez. Aí, o
que está em causa é a manutenção do domínio do Império que deve ser defendido a
todo o custo. Isso reflecte-se em todo o lado. Até o Irão tem a ver com o
torpedear a China . Isso é a democracia...
...
a democracia que, como outra "esperta" no assunto em artigo hoje
publicado denuncia : " a China põe em causa a presença militar dos EUA"
como se tal presença militar fosse a coisa mais normal do mundo. No fundo é o
mesmo que se diz relativamente à Rússia que, rodeada por todos os lados por
forças militares dos EUA e NATO " se aproximou agressivamente " de
tais forças. O "normal" seria abandonar o seu próprio território!
Haja paciência para aturar isto..
Raquel Azulay, 08.10.2019: Julio, o q é q aconteceu à máxima "o povo é quem
mais ordena"??????? Pelos vistos o povo de HK não importa.
Jose Saraiva: 06.10.2019 Tiros contra manifestantes em Hong Kong, de cara
tapada e reivindicações sortidas? Inaceitável! Tiros de um exército poderoso
sobre palestinianos a quem a terra é roubada todos os dias? Não se fala nisso,
é normal, e viva a democracia... Responder
bento guerra, 06.10.2019: Não é verdade. A insurreição da juventude de Hong
Kong é ampliada pela comunicação ocidental. Mas a China é a segunda potência
mundial e como diz o Costa, foram eles que vieram com capital, depois da
"troika", não os europeus. Mais "democracia"do que a de um
partido comunista? Espectro, 06.10.2019: E o que é que Manuel Carvalho defende? Vamos invadir a
China para implementar uma democracia igual à dos EUA (de Trump) ou do RU (de
Boris)?! Vamos
repetir, portanto, a invasão do Iraque e obrigar a China a ajoelhar perante os
valentes soldados lusos comandados por Durão Barroso! Já ouviu falar em
pragmatismo? E em Realismo? E em bom senso? Pois é, é mesmo com todos esses
ingredientes que teremos que viver, e conviver, com a história que se vai
desenhando nos nossos dia, embora sem abdicar de afirmar os nossos valores e
princípios - mas com calminha! LOL
Conta desactivada por violação das regras de conduta, 06.10.2019: "democracia igual à dos EUA (de Trump) ou do RU
(de Boris)" --- Era tudo uma maravilha com Obama e anteriores, os EUA eram
uma democracia fulgurante veio Trump (com a ajuda de Putin) e ela acabou num
ápice! Demagogia reles!!
Animação e descanso, 06.10.2019: Na China é a defesa da Democracia, em França já são
uns vândalos.. O Ocidente hipócrita bem representado pelos seus
editorialistas. Deixem a
China mandar na China. Esta já percebeu que não pode confiar no Ocidente e nas
suas falsas democracias. Os Estados Unidos envolvidíssimos neste movimente em
HK claro. A China também devia patrocinar o BLM ou os coletes amarelos.
Raquel Azulay, 06.10.2019: Na China, um sistema totalitário brutalmente
repressivo. Na França, uma democracia liberal.
Excelente
artigo, Manuel. Preservar o acesso ao gigantesco mercado chinês é a razão de
ser deste silêncio ensurdecedor e hipócrita.
Chan Chan, 06.10.2019: Em
nome da democracia pode se matar tudo e mais alguma coisa e isento de responsabilidades.
Por favor viaje um pouco para conhecer um bocado do mundo exterior.
Conta desactivada por violação das regras de conduta, 06.10.2019: O silêncio sobre a repressão que está a ocorrer no
Equador, por parte do Público, é que continua a ser bem representativo da sua
linha editorial de "defesa da democracia" selectiva. Fosse na
Venezuela e haveria já uma infindável série de artigos. A voz do dono no
melhor, como sempre.
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