Estamos tão dependentes dos de fora que
não devemos fazer muitas ondas. O problema é que fazemos ondas, muitas ondas,
em termos de favorecimento próprio, greves e mais greves que as esquerdas
bairristas promoverão, industriando as gentes no sentido do provimento dos seus
direitos e apenas isso. Não, a tarefa não será fácil para Costa. Ainda bem que
ele está agarrado ao poder, caso contrário desistiria, mas, homem do leme, ele
saberá lutar contra o Mostrengo, este, que está no mar dos seus inícios, mas que
também chia e voa, como o outro, o do fim do mar na noite de breu… E não é menos
aterradora, a chiadeira. Nem o voo macabro.
OPINIÃO
Um governo velho para tempos novos
Costa cria uns ministérios novos, como
quem muda os sofás do lugar e compra dois bibelôs no IKEA para a casa parecer
mais moderna. E mantém um par de ministros para queimar lá à frente.
PÚBLICO, 17 de
Outubro de 2019
Se
o título deste texto soar a crítica, peço desculpa. Eu gosto de velhos, até
porque estou cada vez mais próximo de ser um. E uma equipa governativa composta
por veteranos de guerras políticas não é necessariamente um defeito. Sim, a
constituição do novo governo
tem sido acusada de falta de renovação. Mas isso é não perceber a forma como António
Costa pensa e trabalha em equipa. Em
linguagem futebolística, aquilo que ele sempre privilegiou, desde que é
primeiro-ministro, foram as trocas de bolas seguras no meio campo, em vez de
passos arriscados em profundidade, que tanto podem dar golo como sair pela
linha de fundo. Se isto já fazia sentido em 2015, faz ainda mais sentido nos
próximos quatro anos, quando a prioridade de Costa não é marcar golos, mas evitar ser goleado. Dentro desta lógica, que é uma espécie de
catenaccio aplicado à política portuguesa, o primeiro-ministro escolheu bem. Gente
nova, criativa, independente e com grandes ideias serve para abanar estruturas
e criar oportunidades
António Costa
não quer nada disso, até porque para
cabeças independentes já chegam Mário Centeno e Pedro Nuno Santos (que não
fazem parte do seu núcleo duro, note-se). Para o resto do governo, aquilo que
ele procura é a devida solidez e um módico de competência, deixando depois umas
secretarias de Estado para ex-autarcas e apparatchiks partidários, porque é a
vida e são as exigências da politiquice (como seria de esperar, foi ao nível
dos secretários de Estado que surgiram os problemas mais embaraçosos para Costa).
O
governo não foi construído em cima do joelho. Tem um núcleo duro reforçado,
não só para enfrentar a presidência do Conselho da União Europeia, mas também
os muitos conflitos sociais que irão surgir, agora que o PCP voltou para a
Margem Sul. Faz a limpeza do regabofe familiar no Conselho de Ministros,
com a saída de Vieira da Silva (pai) e Ana Paula Vitorino (esposa),
demonstrando que Costa é teimoso mas aprende. Cria uns ministérios novos,
como quem muda os sofás do lugar e compra dois bibelôs no IKEA para a casa
parecer mais moderna. E mantém um par de ministros para queimar lá à frente.
Porquê
ministros para queimar?
Lembremo-nos que em Junho de 2020 termina o mandato de Centeno à frente do
Eurogrupo, e foi bastante noticiado o seu desejo de não passar mais quatro anos
no Terreiro do Paço. Saia ele em 2020 ou 2021, a verdade é que há uma
remodelação Centeno anunciada à partida – e com ele poderão sair os ministros
que então estiverem desgastados por mais dois anos de embates com professores (o
Tiago da Educação) ou de ruína do SNS (a Marta da Saúde). António
Costa não dá ponto sem nó.
Nota: No meu artigo anterior, a propósito da mina de lítio
de Montalegre, afirmei que o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, tinha
“tutela directa sobre o negócio”. Essa afirmação está errada. Em Outubro do ano
passado, com a entrada de Siza Vieira na Economia, a secretaria de Estado da
Energia transitou para o Ministério do Ambiente, de modo a evitar conflitos de interesse
do titular da pasta com a área da energia (Siza Vieira foi sócio do escritório
de advogados Linklaters, que assessorou a China Three Gorges na OPA à
EDP). Embora tudo aquilo que escrevi sobre o ex-secretário de Estado da
Internacionalização e o problema das portas giratórias não perca pertinência, a
ligação directa que estabeleci com o ministério da Economia estava factualmente
incorrecta e não deveria ter sido feita. As minhas desculpas.
COMENTÁRIOS
francisco
tavares, 17.10.2019 19:24: É
claro que Costa tem os ministros que ele entende serem os melhores para aplicar
a estratégia que ele acha ser a melhor para Portugal. Um 1º ministro tem na sua
cabeça a ideia do país que ele deseja para Portugal. Nessa tarefa é ajudado pelos
assessores e adjuntos, que fazem parte do seu gabinete e, eventualmente por
outros colaboradores. Os ministros são escolhidos para realizar essa ideia. Ele
foi soberano na escolha dos ministros. Não para se livrar deles mais à frente.
Conde do Cruzeiro, 17.10.2019: "Costa cria uns ministérios novos,
como quem muda os sofás do lugar e compra dois bibelôs no IKEA para a casa
parecer mais moderna. " Já tudo serve a este cronista para fazer uns
cobres, até publicidade encapotada que falta de vergonha e de nível. Quanto ao
resto da crónica, está ao nível habitual é apenas de escárnio e mal dizer.
paulocarnaxide, 17.10.2019 : Até foi muito amigo. Este governo é um governo de gestão
e estagnação. É só aguardar para ver.
Conde do Cruzeiro, 17.10.2019: Sim, a cassete é a mesma desde
26/11/2015. Já só lhes resta, ir evocando as pragas e paleios do costume.
Ministério da coesão territorial? Isso é o quê? Mais um ministério
ao monte dos 19...dezanove?!, para também não funcionar? Pena que nós não
possamos escolher o destino dos nossos impostos e contribuições...eu escolhia
para o conde suportar esse ministério em particular...talvez seja para Portugal
não partir pela fronteira com Espanha e derivar ate à Madeira ou aos Açores...está
muito correcto o Tavares: governo velho...mas os desafios também são
velhos...décadas para reforma da justiça, da saúde, da educação...estão feitas?
Concluídas? A espectacularidade do Costa já resolveu tudo qual Liedson do Sporting?
Regressamos ao início da governação Sócrates, com mais trapaças
"resolvidas", particularmente na banca. Somos globais, e nisso
estamos prontos para mais uma crise? Espero que sim!
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