O país, como alguém diz, reduz-se assim
à sua pequenez, como constante. O último comentador, Jay Pi, explica a semelhança de uns
e outros, nas pessoas de Costa e Rio. Rui Ramos analisa bem, julgo, a nossa qualidade - não de cavaleiros,
mas de tristes figuras, sim, e andantes sempre, em busca das sopas que outros
trarão à nossa mesa.
Entre a habilidade de Costa e a esperteza de Rio /premium
Ainda
pedem tempo para Rio: o homem ainda chega lá, é dar-lhe tempo! Talvez chegue,
da mesma maneira como Raul Brandão dizia que na tropa quem vivesse até aos cem
anos chegava pelo menos a capitão.
RUI RAMOS OBSERVADOR, 22 oct 2019
Parece
que só há uma coisa que a actual direcção do PSD não quer ser: “burra”. “Burra”,
neste caso, terá o popular sentido de “pouco esperta”. Sinceramente, não
percebo a preocupação. Que eles não são burros, viu-se na noite do dia 6,
quando decidiram ganhar as eleições às sondagens: havia sondagens que
previam pior, logo o resultado não tinha sido tão mau como isso. Que eles
continuam a não ser burros, está-se a ver outra vez, em véspera de eleições
internas, com a insinuação de que talvez viabilizem os orçamentos de António
Costa: ou seja, os caciques partidários passaram a saber que, com eles,
podem beneficiar de cumplicidades com o governo, ao passo que com os seus
rivais apenas podem contar com mais quatro anos de distância do poder. É a
esperteza do já proverbial queijo limiano.
Para Rui Rio, o inimigo principal
continua dentro do PSD. Até por isso, o governo socialista só lhe
pode aparecer como um aliado. E como os inimigos de Rio são aqueles que,
no PSD, recusam concessões ao poder socialista, são também os inimigos de
António Costa que, para dispensar a primeira geringonça, precisa agora de boas
vontades à direita. O entendimento é fatal.
Percebe-se o plano de Rio: juntar-se ao
PS, fazer acordos com o PS, sustentar o PS, tudo isso disfarçado, agora que vai ser líder parlamentar
até ao congresso do partido,
por alguns debates mais enérgicos na Assembleia da República, do tipo com que
deixou a imprensa de boca aberta no mês passado. As bocas ainda continuam abertas, a pedir tempo
para Rio: o homem ainda chega lá, é dar-lhe tempo! Talvez chegue, da mesma
maneira como Raul Brandão dizia que na tropa quem vivesse até aos
cem anos chegava pelo menos a capitão.
Mas é preciso perceber como é que Rui Rio lá vai chegar.
Rio
e os seus conselheiros pretendem situar o PSD como um simples parceiro de
rotação com o PS: não como uma alternativa, mas como um suplente. Quando não houver dinheiro e Costa perceber que
convém aos socialistas tirarem umas férias mais longas, lá estará Rio em
primeiro lugar na fila dos possíveis substitutos. É a forma mais fácil de chegar
ao poder, apostando apenas na roda da fortuna. Mas para isso, Rio não
pode confrontar verdadeiramente António Costa e os seus apoios. Pode falar de
“reformas”, mas apenas daquelas a fazer com o PS (isto é, nenhumas). Pode
entusiasmar-se, mas apenas nas causas partilháveis com o PS: o
esquartejamento partidário do Estado ou a submissão do Ministério Público ao
poder político. No fundo, trata-se de dar às clientelas do PS a garantia
de que nada mudará com o PSD.
Que mais poderiam desejar os socialistas, para a
eventualidade de o “ciclo político” variar, do que um sucessor que lhes dê a
segurança de que, quando voltarem, encontrarão tudo como deixaram?
O problema, no entanto, não é só Rui
Rio. É toda uma classe política que se fechou no Estado como instrumento para
controlar a sociedade, e que por isso não bate uma pestana com o facto de menos
de metade do eleitorado votar. É também
uma classe comentadora fascinada pelo poder, e portanto mais do que ansiosa por
se embasbacar perante habilidades e espertezas, independentemente de qualquer
finalidade. O sucesso passou a medir-se em tempo de poleiro. Costa aguentou
quatro anos no governo? É um génio. Rio já é líder do PSD há quase dois anos? É
outro génio. Abençoado regime que descobre talentos tão facilmente.
Chesterton dizia que quando os homens
deixam de acreditar em Deus, passam a acreditar em qualquer coisa. No caso dos
regimes políticos, quando deixam de acreditar nos seus fins, passam a acreditar
em quem manda. Estamos assim.
COMENTÁRIOS
William Smith: Essa do Raul Brandão não conhecia. Mas
todos sabemos que um coronel do nosso exército é um alferes que não morreu.
Geraldo Sem
Pavor: Tempo de votar Iniciativa Liberal.
francisco oliveira: Rio tem razão! O centrão não pode desaparecer, caso contrário a implosão
dar se ia no PS e PSD. A gestão da coisa pública terá que continuar a ser
partilhada.
Manuel Magalhães: Será que o PSD, votando em Rio quererá subalternizar-se de vez? O pior é
que a direita envergonhada irá continuar a votar PSD e a vê-lo definhar como já
está a acontecer. Se o PS de Costa virar um pouco ao centro e praticar uma
política mais social-democrata, sempre quero ver qual o brilhante futuro do
PSD, assim à direita haja gente capaz e se deixem de guerrinhas ridículas com
acusações irreais e que não auguram nada de bom. Se for esse o caso talvez
possamos ter uma democracia digna desse nome...
dragone, Pedro: “Quando não houver dinheiro e Costa perceber
que convém aos socialistas tirarem umas férias mais longas, lá estará Rio em
primeiro lugar na fila dos possíveis substitutos.” Basta nesta afirmação
substituirmos “Costa” por “Sócrates” e “Rio” por “Passos Coelho”, o ídolo da
“alt-right” do Observador e dos opositores internos de Rio, e teremos a cena
política pré-Troika que se passou em 2011. Que levou Passos ao poder e Sócrates
até à boa vida Parisiense! É caso para
perguntarmos: por que raio deixou o vosso ídolo Passos Coelho que o socialista
Sócrates tirasse umas férias? Em vez de continuar no poder a juntar os cacos da
m*rda que fez? E até se juntou à extrema-esquerda para correr com ele...
Antaeus IX >
dragone,
pedro: O outrora todo-poderoso
Marco António Costa avisou Passos Coelho quando soube que este ia votar o PEC4
com o PS: «Fazes o que entenderes, mas
já sabes que daqui a 3 meses o PSD terá nova liderança caso votes o PEC4 ao
lado do PS.» E Passos Coelho votou pela salvação da sua cabeça...
dragone, Pedro > Antaeus IX: Ora vamos lá a ver: Passos
Coelho não aprovou a austeridade do PEC IV para não perder a oportunidade de
chegar a presidente do PSD e a PM. Mas depois de chegar a PM não apenas
concordou com toda a austeridade imposta pela Troika (bom, mas aqui tinha de
ser) como quis ir além dessa austeridade; lutando com o Tribunal Constitucional
para que alguma dessa austeridade, como por exemplo o corte em pensões, se
tornasse definitiva. E sem se aperceber (??) de que essa política
inevitavelmente levaria a que o seu partido poderia vir a sofrer, como sofreu,
a maior sucessão de perdas de votos, e de eleitores tradicionais do PSD, de
toda a sua história: legislativas de 2015 e autárquicas de 2017. E é este o herói, o ídolo, a referência política
dos opositores internos de RR e da "alt-right" aqui do Observador? É
preciso eu dizer mais alguma coisa?
Antonio Fonseca > dragone,
pedro Vocês têm um medo tão grande do
Passos Coelho que passam a vida a esconjurá-lo. Deve ser cada pesadelo....
Antaeus IX: Eu ainda me recordo do ridículo memorável de RR aquando da sua candidatura
à liderança do PSD...
Pedro Covas: Rui Ramos que porcaria de artigo e de opinião. Claro que em democracia
todos têm direito a dizer e a ouvir disparates.
Conde do Cruzeiro: Esta luta entre o PPD e o PSD colocou o RR à nora.Será que ele apoia o PPD,
ou o PSD?
Desengoma-te.
Ana Ferreira: Ramos está a marimbar-se para o PSD e para o país, o que lhe interessa
mesmo é um PSD nas mãos de um iliberal, que arraste Portugal para um regime
ultraconservador de queques e ricaços no poder! Esquisito como um historiador
falha tão redondamente na análise da História! Só pode ser fraquinho!
chints CHINTS: OK ok Rui Ramos, vamos ter de aturar a sua guerra pessoal por muitos anos?
Devo dizer que acho pouco profissional, mas você é que tem acesso a emitir
longas arengadas, a direcção do Observador deve achar normal o seu
comportamento.
Jim Pereira: O senhor Rui Rio fez um discurso autofágico: lembrou, muito bem, que
depois das eleições internas, é tempo de paz. Justamente o que ele não fez ao
longo do governo de Pedro Passos Coelho, líder do PSD e PM de Portugal! Aqui se
faz, aqui se paga: morrerá pela boca! E deixará o PSD for ever!
O Famoso Faisão: RR ainda não percebeu que a recuperação nas sondagens não se deveu ao seu
trabalho mais sim ao medo que muitos no PSD tinham do costa ganhar com maioria.
Isto só funciona uma vez pois agora que já existe alternativas no IL e no CHEGA
o psd de RR corre o sério risco de competir pelo taxi com o CDS. Não mudem
não.....
José Martins: O que já sabemos é que Rui Rio está cheio de vontade de fazer REFORMAS
ESTRUTURAIS com o PS. O que nos falta saber
é se o PS quer fazer REFORMAS ESTRUTURAIS com o PSD de RUI RIO e se quer fazer
as mesmas REFORMAS ESTRUTURAIS que RUI RIO quer fazer.
É que se o PS de COSTA não quer fazer esses REFORMAS ESTRUTURAIS com o
PSD então nós que acreditamos em RUI RIO andamos a ser enganados e lá se vai
toda a ESTRATÉGIA do RUI RIO por água abaixo. Em
22 de Julho de 2014, na Universidade Católica, COSTA e RUI RIO assumiram
publicamente o compromisso de, caso chegassem à liderança dos respectivos
partidos (Costa era então Presidente da CM Lisboa e Rui Rio não tinha qualquer
cargo) fazerem entendimentos de Regime e acordos a 10 anos para fazer as
Reformas Estruturais que o país necessita. Eu,
até hoje, tenho defendido e apoiado RUI RIO. Mas,
meu caro RUI RIO, face aos resultados eleitorais, ou tem a garantia de que
COSTA vai honrar os compromissos que assumiu publicamente, de fazer verdadeiras
REFORMAS ESTRUTURAIS (e não reformas a fingir) ou então demita-se. Caso não tenha a garantia de que o COSTA cumpre
o “dichote” de que tanto gostava “Palavra dada Palavra Honrada”, por favor,
então desfaça o equívoco e demita-se. Não
engane os eleitores do PSD e deixe que sejam os militantes a escolher a nova
liderança em que possamos acreditar.
José Martins: O que já sabemos é que Rui Rio está cheio de vontade de fazer REFORMAS
ESTRUTURAIS com o PS.O que nos falta saber é se o PS quer fazer REFORMAS
ESTRUTURAIS com o PSD de RUI RIO e se quer fazer as mesmas REFORMAS ESTRUTURAIS
que RUI RIO quer fazer.É que se o PS de COSTA não quer fazer esses REFORMAS
ESTRUTURAIS com o PSD então nós que acreditamos em RUI RIO andamos a ser
enganados e lá se vai toda a ESTRATEGIA do RUI RIO por água abaixo.Em 22 de Julho
de 2014, na Universidade Católica, COSTA e RUI RIO assumiram publicamente o
compromisso de, caso chegassem à liderança dos respectivos partidos (Costa era
então Presidente da CM Lisboa e Rui Rio não tinha qualquer cargo) fazerem
entendimentos de Regime e acordos a 10 anos para fazer as Reformas Estruturais
que o país necessita.Eu, até hoje, tenho defendido e apoiado RUI RIO.Mas, meu
caro RUI RIO, face aos resultados eleitorais, ou tem a garantia de que COSTA
vai honrar os compromissos que assumiu publicamente, de fazer verdadeiras
REFORMAS ESTRUTURAIS (e não reformas a fingir) ou então demita-se.Caso não
tenha a garantia de que o COSTA cumpre o “dichote” de que tanto gostava
“Palavra dada Palavra Honrada”, por favor, então desfaça o equívoco e
demita-se.Não engane os eleitores do PSD e deixe que sejam os militantes a
escolher a nova liderança em que possamos acreditar.
Antonio
Rodrigues: Só era escusada
referência a Chesterton. De resto, percebe-se com Rui Rio o porquê de Portugal
vir a ser o País mais envelhecido da Europa, o homem é velho, muito
velho.
Pérolas a
porcos: ...as moscas nem
sequer mudam!!!
Joaquim Moreira: Desde o consulado de Pedro Passos Coelho, raramente estou de acordo com Rui
Ramos, sobretudo quando está em causa Rui Rio. Confesso que não sendo político,
muito menos historiador, limito as minhas opiniões à do atento observador. Mas
não deixo de o fazer com o máximo de rigor. Desde logo, porque valorizo muito,
nos políticos, as suas qualidades pessoais. E, nomeadamente, em pleno século
XXI, a seriedade, a coragem e a transparência. Que, sendo qualidades pessoais,
são muito úteis na política de hoje. Até porque, como diz o filósofo basco, Daniel Innerarity, no seu livro a “Política para perplexos”, os posicionamentos políticos
hoje são mais complexos. O “recentramento” do partido, comparado com o Programa
Eleitoral do PSD, nomeadamente na área económica, é um bom exemplo. O mesmo
para a já famigerada “aproximação” ao PS, que é muito diferente daquilo que
parece. Ou melhor dito, que muitos querem fazer parecer aquilo que sabem que
não é, ou deviam saber. E, depois, uma questão fundamental, os políticos só
deviam estar para, de forma uma desinteressada, servir Portugal.
dragone, Pedro: A "alt-right" do Observador está furiosa: esperavam encontrar uma
via rápida para o controlo do PSD, mas afinal deparam-se com um caminho cheio
de pedras com um rio tumultuoso pelo meio para atravessarem. Não seria
preferível criarem um novo partido, e com ele irem a votos para ver o que
valem, ou isso dá muito trabalho?
Sergio Coelho: Excelente!! Na minha humilde opinião,
se o PSD se atrever a servir de muleta aos despesistas e nepotistas da enorme
FAMIGLIA do largo, será a ruína do PSD, em beneficio do "Chega" e
"IL"....
Ana Ferreira: Por uma vez Ramos acerta, ainda que por más razões. Rio não vai chegar lá
porque Costa é melhor, não porque não preste. O que acontece é que para o gosto
do historiador, Rui Rio é "extrema esquerda"...
António Fernandes: Gente séria é outra coisa, que certos jornalistas de suposta direita não
querem !!
Rui Kissol > "Para a Rui Rio, o
inimigo principal continua dentro do PSD". - Tal qual o que a ASDI
considerava o PSD de Sá-Carneiro! - Porque o objectivo era aliarem-se ao P.S. - para
garantir 'status' no Estado da perene adoração da Elefantíase do Estado, com as
suas apelativas sinecuras e mordomias restritas aos Iluminados.
Carlos Chaves: Caríssimo Rui, Mais um excelente artigo, obrigado. Necessitaríamos exactamente
do oposto que analisa, líderes com visão com projectos a longo prazo, num mundo
que muda diariamente e que necessita de sociedades preparadas e não do
imobilismo, senão mesmo retrocesso, em que nos encontramos.
Jay Pi: Lembro-me de um programa especial da TSF de há uns anos largos, era Costa
presidente da câmara de Lisboa e Rio presidente da câmara do Porto, em que
ambos, fora dos estúdios da rádio, nalguma sala de conferências de onde o
programa era emitido em directo, ambos os senhores demonstravam uma sintonia e
concordância anómala para militantes de partidos adversários. Recordo-me na
altura de ter reparado na superficialidade, na impreparação, na falta de
conhecimentos técnicos e teóricos relativos a áreas cruciais da acção política,
nomeadamente finanças e economia, mas recordo-me como as suas vozes ganharam
ânimo e entusiasmo quando se abordou a questão do sistema eleitoral e político.
A monotonia, carácter esquivo, insuficiente, ligeiro, superficial e amador
do debate no que dizia respeito às questões anteriores, rapidamente se
transformou numa conversa animada, fluente, viva, empenhada e cheia de energia.
Reparei como aqueles dois homenzinhos vibravam quando o tema eram votos,
mandatos, lugares e distribuições e como nada tinham a dizer de jeito quando os
temas diziam efectivamente respeito aos cidadãos. Que dois belos caciques
carreiristas, pensei na altura. Lembro-me também de como me arrepiou a
ligeireza com que Rio fez referência a alterações da constituição. "A
constituição não permite? Dois terços da assembleia, vota-se, muda-se a
constituição" disse ele várias vezes, com uma ligeireza e simplismo dignos
de um radical marxista sem princípios. Não que eu seja grande adepto desta
constituição que temos, mas o respeito pelos fundamentos que conferem
estabilidade à nação e sobre os quais poderemos trabalhar e edificar uma
sociedade evoluída é o mínimo que se exige de um político responsável...
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