quarta-feira, 23 de outubro de 2019

O que conta mesmo é o ego de uns e de outros



O país, como alguém diz, reduz-se assim à sua pequenez, como constante. O último comentador, Jay Pi, explica a semelhança de uns e outros, nas pessoas de Costa e Rio. Rui Ramos analisa bem, julgo, a nossa qualidade - não de cavaleiros, mas de tristes figuras, sim, e andantes sempre, em busca das sopas que outros trarão à nossa mesa.

Entre a habilidade de Costa e a esperteza de Rio /premium
Ainda pedem tempo para Rio: o homem ainda chega lá, é dar-lhe tempo! Talvez chegue, da mesma maneira como Raul Brandão dizia que na tropa quem vivesse até aos cem anos chegava pelo menos a capitão.
RUI RAMOS    OBSERVADOR, 22 oct 2019
Parece que só há uma coisa que a actual direcção do PSD não quer ser: “burra”. “Burra”, neste caso, terá o popular sentido de “pouco esperta”. Sinceramente, não percebo a preocupação. Que eles não são burros, viu-se na noite do dia 6, quando decidiram ganhar as eleições às sondagens: havia sondagens que previam pior, logo o resultado não tinha sido tão mau como isso. Que eles continuam a não ser burros, está-se a ver outra vez, em véspera de eleições internas, com a insinuação de que talvez viabilizem os orçamentos de António Costa: ou seja, os caciques partidários passaram a saber que, com eles, podem beneficiar de cumplicidades com o governo, ao passo que com os seus rivais apenas podem contar com mais quatro anos de distância do poder. É a esperteza do já proverbial queijo limiano.
Para Rui Rio, o inimigo principal continua dentro do PSD. Até por isso, o governo socialista só lhe pode aparecer como um aliado. E como os inimigos de Rio são aqueles que, no PSD, recusam concessões ao poder socialista, são também os inimigos de António Costa que, para dispensar a primeira geringonça, precisa agora de boas vontades à direita. O entendimento é fatal.
Percebe-se o plano de Rio: juntar-se ao PS, fazer acordos com o PS, sustentar o PS, tudo isso disfarçado, agora que vai ser líder parlamentar até ao congresso do partido, por alguns debates mais enérgicos na Assembleia da República, do tipo com que deixou a imprensa de boca aberta no mês passado. As bocas ainda continuam abertas, a pedir tempo para Rio: o homem ainda chega lá, é dar-lhe tempo! Talvez chegue, da mesma maneira como Raul Brandão dizia que na tropa quem vivesse até aos cem anos chegava pelo menos a capitão. Mas é preciso perceber como é que Rui Rio lá vai chegar.
Rio e os seus conselheiros pretendem situar o PSD como um simples parceiro de rotação com o PS: não como uma alternativa, mas como um suplente. Quando não houver dinheiro e Costa perceber que convém aos socialistas tirarem umas férias mais longas, lá estará Rio em primeiro lugar na fila dos possíveis substitutos. É a forma mais fácil de chegar ao poder, apostando apenas na roda da fortuna. Mas para isso, Rio não pode confrontar verdadeiramente António Costa e os seus apoios. Pode falar de “reformas”, mas apenas daquelas a fazer com o PS (isto é, nenhumas). Pode entusiasmar-se, mas apenas nas causas partilháveis com o PS: o esquartejamento partidário do Estado ou a submissão do Ministério Público ao poder político. No fundo, trata-se de dar às clientelas do PS a garantia de que nada mudará com o PSD. Que mais poderiam desejar os socialistas, para a eventualidade de o “ciclo político” variar, do que um sucessor que lhes dê a segurança de que, quando voltarem, encontrarão tudo como deixaram?
O problema, no entanto, não é só Rui Rio. É toda uma classe política que se fechou no Estado como instrumento para controlar a sociedade, e que por isso não bate uma pestana com o facto de menos de metade do eleitorado votar. É também uma classe comentadora fascinada pelo poder, e portanto mais do que ansiosa por se embasbacar perante habilidades e espertezas, independentemente de qualquer finalidade. O sucesso passou a medir-se em tempo de poleiro. Costa aguentou quatro anos no governo? É um génio. Rio já é líder do PSD há quase dois anos? É outro génio. Abençoado regime que descobre talentos tão facilmente.
Chesterton dizia que quando os homens deixam de acreditar em Deus, passam a acreditar em qualquer coisa. No caso dos regimes políticos, quando deixam de acreditar nos seus fins, passam a acreditar em quem manda. Estamos assim.
COMENTÁRIOS
William Smith: Essa do Raul Brandão não conhecia.  Mas todos sabemos que um coronel do nosso exército é um alferes que não morreu.
Geraldo Sem Pavor: Tempo de votar Iniciativa Liberal.
António Hermínio Quadros Silva > Geraldo Sem Pavor: tempo de votar Chega
francisco oliveira: Rio tem razão! O centrão não pode desaparecer, caso contrário a implosão dar se ia no PS e PSD. A gestão da coisa pública terá que continuar a ser partilhada.
Manuel Magalhães: Será que o PSD, votando em Rio quererá subalternizar-se de vez? O pior é que a direita envergonhada irá continuar a votar PSD e a vê-lo definhar como já está a acontecer. Se o PS de Costa virar um pouco ao centro e praticar uma política mais social-democrata, sempre quero ver qual o brilhante futuro do PSD, assim à direita haja gente capaz e se deixem de guerrinhas ridículas com acusações irreais e que não auguram nada de bom. Se for esse o caso talvez possamos ter uma democracia digna desse nome...
dragone, Pedro:  “Quando não houver dinheiro e Costa perceber que convém aos socialistas tirarem umas férias mais longas, lá estará Rio em primeiro lugar na fila dos possíveis substitutos.” Basta nesta afirmação substituirmos “Costa” por “Sócrates” e “Rio” por “Passos Coelho”, o ídolo da “alt-right” do Observador e dos opositores internos de Rio, e teremos a cena política pré-Troika que se passou em 2011. Que levou Passos ao poder e Sócrates até à boa vida Parisiense! É caso para perguntarmos: por que raio deixou o vosso ídolo Passos Coelho que o socialista Sócrates tirasse umas férias? Em vez de continuar no poder a juntar os cacos da m*rda que fez? E até se juntou à extrema-esquerda para correr com ele...
Antaeus IX > dragone, pedro: O outrora todo-poderoso Marco António Costa avisou Passos Coelho quando soube que este ia votar o PEC4 com o PS: «Fazes o que entenderes, mas já sabes que daqui a 3 meses o PSD terá nova liderança caso votes o PEC4 ao lado do PS.» E Passos Coelho votou pela salvação da sua cabeça...
dragone, Pedro > Antaeus IX: Ora vamos lá a ver: Passos Coelho não aprovou a austeridade do PEC IV para não perder a oportunidade de chegar a presidente do PSD e a PM. Mas depois de chegar a PM não apenas concordou com toda a austeridade imposta pela Troika (bom, mas aqui tinha de ser) como quis ir além dessa austeridade; lutando com o Tribunal Constitucional para que alguma dessa austeridade, como por exemplo o corte em pensões, se tornasse definitiva. E sem se aperceber (??) de que essa política inevitavelmente levaria a que o seu partido poderia vir a sofrer, como sofreu, a maior sucessão de perdas de votos, e de eleitores tradicionais do PSD, de toda a sua história: legislativas de 2015 e autárquicas de 2017. E é este o herói, o ídolo, a referência política dos opositores internos de RR e da "alt-right" aqui do Observador? É preciso eu dizer mais alguma coisa?
Antonio Fonseca > dragone, pedro Vocês têm um medo tão grande do Passos Coelho que passam a vida a esconjurá-lo. Deve ser cada pesadelo....
Antaeus IX: Eu ainda me recordo do ridículo memorável de RR aquando da sua candidatura à liderança do PSD...
Pedro Covas: Rui Ramos que porcaria de artigo e de opinião. Claro que em democracia todos têm direito a dizer e a ouvir disparates.
Conde do Cruzeiro: Esta luta entre o PPD e o PSD colocou o RR à nora.Será que ele apoia o PPD, ou o PSD?
Desengoma-te.
Ana Ferreira: Ramos está a marimbar-se para o PSD e para o país, o que lhe interessa mesmo é um PSD nas mãos de um iliberal, que arraste Portugal para um regime ultraconservador de queques e ricaços no poder! Esquisito como um historiador falha tão redondamente na análise da História! Só pode ser fraquinho!
Francis Ferrer > Ana Ferreira: E pequenino ...
chints CHINTS: OK ok Rui Ramos, vamos ter de aturar a sua guerra pessoal por muitos anos? Devo dizer que acho pouco profissional, mas você é que tem acesso a emitir longas arengadas, a direcção do Observador deve achar normal o seu comportamento.
Jim Pereira: O senhor Rui Rio fez um discurso autofágico: lembrou, muito bem, que depois das eleições internas, é tempo de paz. Justamente o que ele não fez ao longo do governo de Pedro Passos Coelho, líder do PSD e PM de Portugal! Aqui se faz, aqui se paga: morrerá pela boca! E deixará o PSD for ever!
O Famoso Faisão: RR ainda não percebeu que a recuperação nas sondagens não se deveu ao seu trabalho mais sim ao medo que muitos no PSD tinham do costa ganhar com maioria. Isto só funciona uma vez pois agora que já existe alternativas no IL e no CHEGA o psd de RR corre o sério risco de competir pelo taxi com o CDS. Não mudem não.....
José Martins: O que já sabemos é que Rui Rio está cheio de vontade de fazer REFORMAS ESTRUTURAIS com o PS. O que nos falta saber é se o PS quer fazer REFORMAS ESTRUTURAIS com o PSD de RUI RIO e se quer fazer as mesmas REFORMAS ESTRUTURAIS que RUI RIO quer fazer. É que se o PS de COSTA não quer fazer esses REFORMAS ESTRUTURAIS com o PSD então nós que acreditamos em RUI RIO andamos a ser enganados e lá se vai toda a ESTRATÉGIA do RUI RIO por água abaixo. Em 22 de Julho de 2014, na Universidade Católica, COSTA e RUI RIO assumiram publicamente o compromisso de, caso chegassem à liderança dos respectivos partidos (Costa era então Presidente da CM Lisboa e Rui Rio não tinha qualquer cargo) fazerem entendimentos de Regime e acordos a 10 anos para fazer as Reformas Estruturais que o país necessita. Eu, até hoje, tenho defendido e apoiado RUI RIO. Mas, meu caro RUI RIO, face aos resultados eleitorais, ou tem a garantia de que COSTA vai honrar os compromissos que assumiu publicamente, de fazer verdadeiras REFORMAS ESTRUTURAIS (e não reformas a fingir) ou então demita-se. Caso não tenha a garantia de que o COSTA cumpre o “dichote” de que tanto gostava “Palavra dada Palavra Honrada”, por favor, então desfaça o equívoco e demita-se. Não engane os eleitores do PSD e deixe que sejam os militantes a escolher a nova liderança em que possamos acreditar.
José Martins: O que já sabemos é que Rui Rio está cheio de vontade de fazer REFORMAS ESTRUTURAIS com o PS.O que nos falta saber é se o PS quer fazer REFORMAS ESTRUTURAIS com o PSD de RUI RIO e se quer fazer as mesmas REFORMAS ESTRUTURAIS que RUI RIO quer fazer.É que se o PS de COSTA não quer fazer esses REFORMAS ESTRUTURAIS com o PSD então nós que acreditamos em RUI RIO andamos a ser enganados e lá se vai toda a ESTRATEGIA do RUI RIO por água abaixo.Em 22 de Julho de 2014, na Universidade Católica, COSTA e RUI RIO assumiram publicamente o compromisso de, caso chegassem à liderança dos respectivos partidos (Costa era então Presidente da CM Lisboa e Rui Rio não tinha qualquer cargo) fazerem entendimentos de Regime e acordos a 10 anos para fazer as Reformas Estruturais que o país necessita.Eu, até hoje, tenho defendido e apoiado RUI RIO.Mas, meu caro RUI RIO, face aos resultados eleitorais, ou tem a garantia de que COSTA vai honrar os compromissos que assumiu publicamente, de fazer verdadeiras REFORMAS ESTRUTURAIS (e não reformas a fingir) ou então demita-se.Caso não tenha a garantia de que o COSTA cumpre o “dichote” de que tanto gostava “Palavra dada Palavra Honrada”, por favor, então desfaça o equívoco e demita-se.Não engane os eleitores do PSD e deixe que sejam os militantes a escolher a nova liderança em que possamos acreditar.
Antonio Rodrigues: Só era escusada referência a Chesterton. De resto, percebe-se com Rui Rio o porquê de Portugal vir a ser o País mais envelhecido da Europa, o homem é velho, muito velho. 
Pérolas a porcos: ...as moscas nem sequer mudam!!!
Joaquim Moreira: Desde o consulado de Pedro Passos Coelho, raramente estou de acordo com Rui Ramos, sobretudo quando está em causa Rui Rio. Confesso que não sendo político, muito menos historiador, limito as minhas opiniões à do atento observador. Mas não deixo de o fazer com o máximo de rigor. Desde logo, porque valorizo muito, nos políticos, as suas qualidades pessoais. E, nomeadamente, em pleno século XXI, a seriedade, a coragem e a transparência. Que, sendo qualidades pessoais, são muito úteis na política de hoje. Até porque, como diz o filósofo basco, Daniel Innerarity, no seu livro a “Política para perplexos”, os posicionamentos políticos hoje são mais complexos. O “recentramento” do partido, comparado com o Programa Eleitoral do PSD, nomeadamente na área económica, é um bom exemplo. O mesmo para a já famigerada “aproximação” ao PS, que é muito diferente daquilo que parece. Ou melhor dito, que muitos querem fazer parecer aquilo que sabem que não é, ou deviam saber. E, depois, uma questão fundamental, os políticos só deviam estar para, de forma uma desinteressada, servir Portugal. 
dragone, Pedro: A "alt-right" do Observador está furiosa: esperavam encontrar uma via rápida para o controlo do PSD, mas afinal deparam-se com um caminho cheio de pedras com um rio tumultuoso pelo meio para atravessarem. Não seria preferível criarem um novo partido, e com ele irem a votos para ver o que valem, ou isso dá muito trabalho?
Sergio Coelho: Excelente!! Na minha humilde opinião, se o PSD se atrever a servir de muleta aos despesistas e nepotistas da enorme FAMIGLIA do largo, será a ruína do PSD, em beneficio do "Chega" e "IL"....
Ana Ferreira: Por uma vez Ramos acerta, ainda que por más razões. Rio não vai chegar lá porque Costa é melhor, não porque não preste. O que acontece é que para o gosto do historiador, Rui Rio é "extrema esquerda"...
António Fernandes: Gente séria é outra coisa, que certos jornalistas de suposta direita não querem !!
Rui Kissol > "Para a Rui Rio, o inimigo principal continua dentro do PSD". - Tal qual o que a ASDI considerava o PSD de Sá-Carneiro! - Porque o objectivo era aliarem-se ao P.S. - para garantir 'status' no Estado da perene adoração da Elefantíase do Estado, com as suas apelativas sinecuras e mordomias restritas aos Iluminados.
Carlos Chaves: Caríssimo Rui, Mais um excelente artigo, obrigado. Necessitaríamos exactamente do oposto que analisa, líderes com visão com projectos a longo prazo, num mundo que muda diariamente e que necessita de sociedades preparadas e não do imobilismo, senão mesmo retrocesso, em que nos encontramos.
Jay Pi: Lembro-me de um programa especial da TSF de há uns anos largos, era Costa presidente da câmara de Lisboa e Rio presidente da câmara do Porto, em que ambos, fora dos estúdios da rádio, nalguma sala de conferências de onde o programa era emitido em directo, ambos os senhores demonstravam uma sintonia e concordância anómala para militantes de partidos adversários. Recordo-me na altura de ter reparado na superficialidade, na impreparação, na falta de conhecimentos técnicos e teóricos relativos a áreas cruciais da acção política, nomeadamente finanças e economia, mas recordo-me como as suas vozes ganharam ânimo e entusiasmo quando se abordou a questão do sistema eleitoral e político. A monotonia, carácter esquivo, insuficiente, ligeiro, superficial e amador do debate no que dizia respeito às questões anteriores, rapidamente se transformou numa conversa animada, fluente, viva, empenhada e cheia de energia. Reparei como aqueles dois homenzinhos vibravam quando o tema eram votos, mandatos, lugares e distribuições e como nada tinham a dizer de jeito quando os temas diziam efectivamente respeito aos cidadãos. Que dois belos caciques carreiristas, pensei na altura. Lembro-me também de como me arrepiou a ligeireza com que Rio fez referência a alterações da constituição. "A constituição não permite? Dois terços da assembleia, vota-se, muda-se a constituição" disse ele várias vezes, com uma ligeireza e simplismo dignos de um radical marxista sem princípios. Não que eu seja grande adepto desta constituição que temos, mas o respeito pelos fundamentos que conferem estabilidade à nação e sobre os quais poderemos trabalhar e edificar uma sociedade evoluída é o mínimo que se exige de um político responsável...

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