sábado, 19 de outubro de 2019

Como também o Acordo Ortográfico



Também já o assunto me tinha indignado, o da nova disciplina que ao que parece o governo aprova, indiferente a essas niquices, de que trata AG, este, naturalmente indignado: «Podia falar da fresquíssima e (por enquanto) opcional disciplina de “História, Culturas e Democracia”, que altera o passado à luz da “culpa” e das “vítimas” e sobretudo da “sensibilidade”, de modo a rimar com a infantilidade dos tempos que correm

Um tal acrescentamento de uma disciplina escolar a espevitar ódios, em jeito de cartilha para a vida adulta! O que vale é que por cá, como diz Alberto Gonçalves, é tudo aparência, fingimento, sem grande consistência, por isso... Será mesmo? Baço, sim, intragável também. Revelador de deformação moral e de perfídia. E isso não é ficção, bem assente sobre nós, que assim vamos avançando numa história que não pode ser tomada a sério, ainda que Clara Ferreira Alves se esmere em dizer bem agora de Costa – o “João que ri” e mal de Cavaco, “o João que chora”, das criações educativas da Condessa de Ségur… Eu também gostava que Maria Luís Albuquerque, (que Cavaco sugere como representante de um PSD - o que indigna Clara, que repudia Cavaco, num seu artigo (E, 12/10/19) e o arruma na prateleira da sua vetustez de “gentinha”, sem o mérito, pois, do nascimento, que outros representantes da nação da sua estima tiveram) – que Maria Luís Albuquerque, pois, estivesse presente como representante, não de um partido mas da nação portuguesa. Concordo com Cavaco na admiração por Maria Luís Albuquerque. E não estou a fingir, embora me tenha desviado do texto de AG, tantos são os motivos de idênticas amarguras, que este extravasa em sátira feroz.



O sonho de Portugal é fingir que é um país /premium
O melhor de Portugal são aqueles instantes em que se esforça por simular a aparência de uma nação a sério e acaba a demonstrar espectacularmente que não passa de um equívoco.
ALBERTO GONÇALVES
OBSERVADOR, 19 OCT 2019
O melhor de Portugal? Não, não são as praias, nem o clima, nem a gastronomia, nem sequer a indústria das rotundas. O melhor de Portugal são aqueles instantes em que se esforça por simular a aparência de uma nação a sério e acaba a demonstrar espectacularmente que não passa de um equívoco. É como o saltador à vara que promete recordes e se limita a correr de cabeça contra o colchão, sem vara e sem juízo: temos uma vaga noção do que importa fazer; não temos noção nenhuma dos meios e dos métodos necessários para chegar lá. Nem temos vontade. Em “Seinfeld”, o sonho de George Costanza não era ser arquitecto, mas fingir que era arquitecto. O sonho recorrente de Portugal é fingir que é um país.
A título de exemplo recente, podia falar da “inauguração” das “obras” da ala pediátrica do hospital de São João, que o dr. Costa apadrinhou com pompa, descaramento e demagogia dois ou três dias antes das “legislativas”. Agora, toda a gente sabe que o projecto, que o governo do dr. Costa suspendeu em 2016 e adiou repetidamente, continua a prosperar apenas nos “media” que divulgam estas rábulas sem escrutínio. Não há obras e não há vergonha.
Podia falar do chefe de Estado, o exacto chefe de Estado que visitou um “espaço” de variedades televisivas para revelar ao povo que talvez, ou talvez não, estivesse doente, e que, de seguida, recebeu em Belém um batalhão de “influencers”. “Influencers” são pessoas que recebem sapatos e esfoliantes por recomendar sapatos e esfoliantes, e o prof. Marcelo conta com elas para debater o futuro da pátria, da Europa e do mundo. Perante o nível dos pensadores tradicionais com quem o prof. Marcelo priva, de Marques Mendes a Marques Lopes, sempre será um progresso.
Podia falar da RTP, o “serviço público” que suspendeu um programa (de Sandra Felgueiras) durante a campanha eleitoral para não contaminar as massas, aliás abúlicas, com a informação de que um secretário de Estado adjudicou um contrato potencial de 380 milhões a uma empresa com 50 mil euros de capital, um ex-secretário de Estado lá dentro e três dias de existência. A RTP tem sessenta e tal anos e a cada um o enxovalho aumenta: entre a miséria rotineira, esta semana houve vagar para uma entrevista hagiográfica ao sr. Lula.
Podia falar das televisões em geral, que repletas de ignorantes e militantes (desculpem a redundância), adoptam as “causas” do momento com o entusiasmo dos simples. Ontem eram os transtornos clínicos da pequena Greta, que os pequenos jornalistas confundem com ecologia. Hoje é o apoio aos “independentistas” catalães, porque não têm legitimidade democrática, e a aversão aos “nacionalistas” britânicos, porque têm legitimidade democrática. Amanhã logo se verá.
Podia falar dos eurodeputados do PCP e do BE, que coerentemente rejeitaram a equivalência do comunismo e do nazismo “decretada” pelo Parlamento Europeu. Embora não espante nenhuma criatura socialmente apta, a resolução do PE conseguiu indignar os quatro camaradas que em boa hora depositámos em Bruxelas e os 900 mil devotos do horror comunista que em péssima hora decidiram permanecer aqui.
Podia falar da nova ministra da Agricultura, que alguns consideraram uma surpresa. Não percebo porquê. Antes do ministério, a dra. Maria do Céu Albuquerque foi secretária de Estado de Nãoseiquê Regional, e antes da secretaria foi autarca em Abrantes. E foi na câmara de Abrantes que a senhora exibiu vastos conhecimentos agrícolas, ao pagar, com dinheiro público e por ajuste directo, 60 mil euros por 30 oliveiras pertencentes a familiares do então seu homólogo de Proença-a-Nova, ontem premiado com a secretaria de Estado das Florestas. Além disso, a dra. Maria do Céu também pagou 515 mil eurosdinheiro alheio – por uns filmes do filho do deputado socialista Pedro Bacelar de Vasconcelos. Provavelmente, as protagonistas dos filmes são as oliveiras, e aguardo com ânsia o lançamento em DVD.
Podia falar da fresquíssima e (por enquanto) opcional disciplina de “História, Culturas e Democracia”, que altera o passado à luz da “culpa” e das “vítimas” e sobretudo da “sensibilidade”, de modo a rimar com a infantilidade dos tempos que correm. É a troca do realismo patriótico pelo realismo mágico, ou de uma realidade ocasionalmente enviesada por uma realidade minuciosamente inventada para acomodar os delírios de burgessos. Quando os burgessos ocupam a mansão, é natural que plantem couves na banheira.
Podia falar, mas não falo. No fundo, reescrever o passado é de somenos: convém é reescrever o presente. Se um dia aparecer por cá vida inteligente, não haverá maneira de acreditar que o que está a acontecer aconteceu mesmo.
COMENTÁRIOS
Alexandre Barreira: .....é pá ó Alberto........és mesmo tu....ou estás a fingir......?!......vá lá diz lá ao "pessoal".........pronto já vi........só os outros é que estão a fingir.........olha "rapaz" isto que te vou dizer....não é a fingir....ou melhor...é um "fingimento" que a "malta" adora............NO FUNDO.....MESMO NO FUNDO DO "FINGIMENTO".......O QUE TU QUERIAS ERA UMA "LATA-DE-CHOURIÇOS"..........A SÉRIO................mas paciência....terás de te contentar com ela a "fingir".........!!!!!!
ZLV: Porque não fazemos nada para mudar isto? É mesmo só falta de inteligência ou temos medo? E de quê?
Mosava Ickx: Bem visto ... Mas será culpa de quem? De Portugal ou de alguns dos seus "filhos"?
Cipião Numantino: Pois eu, caro AG, apetece-me e vou falar! E desta vez vou contraditá-lo.
De facto Portugal pode não ser um país. Mas já o foi! O condestável do reino D. Nuno e a padeira de Aljubarrota confirmá-lo-iam, o Bartolomeu Dias que subjugou o Adamastor também, O Vasco de Sines e conde da Vidigueira mais o Afonso o Terrível conquistador de Goa e Malaca concordariam e o Aquiles português Duarte Pacheco Pereira e o honrado João de Castro assinariam por baixo. E tantos e tantos outros, os tais barões assinalados que da ocidental praia lusitana ... Mas agora, concordo, aportámos em outra praia. Onde as razões são esconsas, a iniquidade mora e a lógica arrivista e vigarista faz permanente escol.
É o que temos, caro AG.E por mim, confesso, já nem sei se isto é mesmo um país se uma terra de malandros onde a ética e a honra são mais raras do que miragem de um oásis na outra margem.
E falo do alucinado Galambino. Agora mais cordato do que menino de coro a quem se prometeu um par de chapadas se não se comportar com esmero e contenção. E falo da marosca do lítio para lá do Marão onde já nem sequer mandam os que lá estão. E falo do gangue da tropa fandanga que tomou este país de presúria e se sente mais impante, prepotente e vígaro do que outrora se sentiram os quadrilheiros que acompanharam o Zé do Telhado ou o Remexido. E, olhe, falo de coisas da vida.
Da matilha que cercou dois polícias num dos bairros do RSI ali bem perto de Almada e proporcionou a fuga de um criminoso já algemado e competentemente detido dentro do carro patrulha, quiçá temendo a populaça colorida que se acabaria ali o mãos-largas tipo abono de família que este tipo de marginais costuma ser.
E falo do papagaio-mor, um senhor que foi passar ali bem perto a mão na cabeça de outros marginais que haviam rebentado a boca a um polícia e apedrejado os restantes.
E falo da comunada, essa seita tonta e estulta que vive uma ilusão de mais de um século, permanentemente distraída e abstraída de todo o mal que os envolve e da iniquidade e miséria moral onde persistentemente medram. E falo, e falo, e falo. Enfim, tanta coisa para falar. Da próxima vez há mais, que não sou nem adepto da conspiração do silêncio e já não tenho idade para temer ou calar!...

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