Ao menos para se usar um termo
de comparação superior, para assim nos engrandecermos, com os nossos casos
domésticos… Sebastião
Bugalho explora o tema, jovem sério
que aparenta ser.
As palavras da insurreição /premium
Nós, a um oceano de distância dos EUA e com vários
tweets de proximidade, talvez devêssemos reflectir sobre aquilo que deixamos
passar em branco por parte das nossas lideranças.
SEBASTIÃO BUGALHO
OBSERVADOR, 09 jan 2021
Não
estou certo de que a opinião publicada em Portugal se tenha apercebido da
gravidade do que se passou esta semana no capitólio dos Estados Unidos da
América, em Washington D.C., como não estou nada convencido de que os políticos
portugueses tenham retirado grandes ilações sobre o sucedido. Vamos por partes.
Desde
que perdeu a sua reeleição, que Donald Trump se dedicou a questionar a validade dos resultados,
criando uma realidade alternativa em torno do voto popular e do colégio
eleitoral. Empenhou-se,
em telefonemas já tornados públicos, numa escabrosa tentativa de contornar a
vontade dos norte-americanos, ao mesmo tempo que reclamava uma “fraude” que
nunca existiu. Não
esteve, contudo, sozinho. Mais de metade dos congressistas republicanos
apoiaram a sua iniciativa, recusando reconhecer Joe Biden como presidente-eleito dos Estados Unidos. E nenhum deles, durante os quatro anos da presidência
Trump, se levantou
para colocar em causa as variadas enormidades proferidas, as múltiplas
vénias a tiranetes estrangeiros e o evidente aproveitamento do cargo para
benefício da sua família e das suas empresas.
Foi
preciso o partido perder, mais uma vez, o congresso; foi preciso o partido
perder, por larga maioria, a presidência; foi preciso o partido perder,
presumivelmente, o senado; e foi preciso uma multidão de manifestantes
invadirem o Capitólio e morrerem cinco pessoas para o Partido Republicano
acordar e rejeitar o trumpismo.
Kelly Loeffler, que 24 horas antes havia manifestado o seu apoio à
continuação do ainda presidente, acabou por admitir que não podia “em boa
consciência negar a certificação do voto dos eleitores”. James Lankford também recuaria, assumindo que o partido, depois do
incidente, “certificaria Joe Biden
como presidente dos Estados Unidos”. E Richard Burr, também senador e também republicano, afirmaria mesmo
que “o presidente carrega responsabilidade pelos eventos de hoje ao ter
promovido teorias da conspiração infundadas”. Vários membros da administração
demitiram-se e vários antigos membros do gabinete de Donald Trump defenderam a sua remoção imediata do cargo.
Durante a semana que antecedeu o
ataque ao Capitólio, no entanto, enquanto
Trump atiçava os seus apoiantes no Twitter e em discursos, nenhum dos senhores
ousou abrir a boca. Era mais um dia, mais uma alarvidade, mais uma coisa
que não era para levar a sério e que acabaria por se esfumar no tempo. Cinco mortos mais tarde, incluindo um polícia
espancado pela multidão com um extintor, o silêncio terminou ‒ mas só depois da
tragédia. Entre os manifestantes já ouvidos pela justiça, encontram-se veteranos
de guerra, proprietários de armas automáticas e um que conseguiu a proeza de
entrar no capitólio com onze cocktails molotov. As imagens de homens camuflados empunhando algemas descartáveis
mostram como muito pior poderia ter acontecido e como a América, independentemente do seu
novo presidente, continuará dividida, radicalizada e furiosa.
As lições para o mundo que esta
história deixa? Incontáveis. E nós, a um oceano de distância e com vários tweets
de proximidade, talvez devêssemos reflectir sobre aquilo que deixamos passar em
branco por parte das nossas lideranças. Sejam
acusações de traição internacional, como o primeiro-ministro lançou esta semana
ao PSD, seja um profundo desprezo pela lei, como aquele que o líder da oposição
exibiu ontem, resumindo a função dos juristas a “complicar” as suas reuniões
com o governo, as palavras em política, como o sr. Trump provou esta semana,
nunca são só palavras. E as suas consequências tendem a escapar às intenções
dos seus autores.
AMÉRICA MUNDO POLÍTICA DONALD TRUMP
COMENTÁRIOS:
Francisco Albino: "...reclamava
uma fraude que nunca existiu"? Que me desculpe o autor mas anda muito mal
informado. E não faltam fontes de informação revelando precisamente o contrário
do que afirma. José
Luis Salema: Mas
vergonha maior, caso a tivessem, é a dos que alertaram para a gravidade do
recente esboço de golpe, depois de justificarem sem escrúpulos os esforços golpistas
dos democratas em 2016 – e, de facto, em 2017, 2018, 2019 e 2020. Em
democracia, a legitimidade de semelhantes palhaçadas é sempre, sempre, sempre
nula, nula como o “jornalismo” que não o admite. Alberto Gonçalves josé maria: Que diferença entre este artigo de Sebastião Bugalho e
o de Alberto Gonçalves. Sebastião confere à invasão do Capitólio a relevância e
gravidade que merece, Alberto desvaloriza. Ainda há boas diferenças nas
direitas portuguesas. Paulo
Cardoso > josé maria: Zé
Maria. AG não desvaloriza. Se tivesses lido tudo ou, lendo tudo, compreendido,
terias notado que AG diz “É evidente que a actuação de Trump foi vergonhosa.”.
AG faz é questão, e bem, de minimizar o efeito da miopia que muitas pessoas,
como tu, sofrem. AG, com argumentos concretos, vem recordar que este
comportamento não é exclusivo de Trump ou dos Republicanos mas também dos
democratas. E diz mais: diz que estes comportamentos são inaceitáveis, tanto
quanto é inaceitável dizer que são exclusivos de uma das partes. Paulo Cardoso: Caro Sebastião. Porque se adivinha a tua legítima
vontade de vir a ser um opinion maker de topo ou mesmo um político cimeiro,
vou-me permitindo expor alguns pensamentos que me ocorrem, da leitura dos teus
escritos. Sim. Donald Trump sempre foi, para mim, uma figura pouco consensual,
chegando mesmo a ser odiosa. Muito antes de chegar ao poder. No entanto, a
alternativa a este, acabou por lhe conferir legitimidade em muitos ditos e acções.
A forma como foi combatido pela tal alternativa - curta memória a tua, que não
se recorda dos ditos e acções dos democratas, aquando da eleição de Trump -
terá talvez sido a principal responsável pela animosidade crescente nos EUA
nestes últimos cinco anos. A constante guerrilha feita nos media, na rua, nas
redes sociais, recorrendo para o efeito a eventos aos quais Trump e a sua
equipa eram alheios, conseguindo que estes fossem percepcionados como
responsáveis, acabou por gerar este tipo de tensão. Queres um pequeno exemplo?
Dizes tu no teu texto “Cinco mortos mais tarde, incluindo um polícia espancado
pela multidão com um extintor, o silêncio terminou...”. Como foi um polícia
que (pelo teu texto deduzo) morreu barbaramente espancado, pouco ou nada se viu
nos media, nas ruas ou nas redes sociais. Motivou o discurso
republicano. Foi esta a primeira responsável pelo quase estado de sítio em
que por diversas vezes vimos os EUA nos últimos cinco anos. Sim. Trump sempre
foi, é e será uma personagem pouco consensual e odiosa. Sim. Trump tem
responsabilidades neste desfecho do seu mandato. Mas Trump não é seguramente o
único responsável. E, considero eu, não foi o primeiro. Paulo
Cardoso > Paulo Cardoso: Afinal não precisava de ter gasto o meu latim. O AG,
já se tinha encarregue do contraponto. advoga diabo: Se condescendendo com a
presunção própria da juventude, só faltou a SB ser mais específico sobre de
onde vem o verdadeiro perigo em Portugal, para se poder afirmar, com alguma
satisfação e esperança, que esta promessa da Direita, finalmente, "viu a luz"! El
Barto > advoga diabo: O perigo vem de quem afirma não dar posse a um governo
democraticamente eleito caso não seja do seu agrado, parece-me elementar e de
básica compreensão António Duarte: O Mc Artur chama-se agora
Zucherberg e, como se diz acima, também estranho que se aceite que um homem
tenha o poder de dirigir o espanque, em boa verdade, é público. Ontem dizia um
comentador que não se pode esquecer que o Facebook é privado e o interlocutor
nem se lembrou de dizer que também a MEO, a NOS etc são e parece que não podem
negar a ninguém o acesso aos meios de comunicação... Ping
PongYang > António Duarte: Ai, podem
podem... Andrade QB: Mesmo assim, a situação é
melhor nos EUA do que em Portugal. Os ratos do barco Trump abandonaram o barco, enquanto
que os ratos do barco Sócrates recuaram com fingimentos de abandono, para terem
tempo de assaltar o Ministério Público para lhes evitar a cadeia e para
assaltar todos os organismos que lhes possam continuar a garantir fundos
europeus para rechearem contas ou trocar favores. Curiosamente, os portugueses
revoltam-se mais com o oportunista Trump, do que com a estruturada máquina
trituradora doméstica. Curiosidades.
bento guerra > Andrade QB: Essa é que é essa! Paulo Neves > Andrade QB: Exactamente! Isso é que é surpreendente. Ou talvez
não, porque explica o estado a que chegámos. Maria L Gingeira: O mais grave em todo este
processo é vermos que sem qualquer ordem judicial para o efeito, os donos das
redes sociais bloqueiam contas a alguém que ainda é presidente dos EUA, só
porque os seus opositores assim querem. Isso sim é muitíssimo grave. Isto é o
que nos contaram. Se calhar há muitas nuances entre o mau da fita e os
salvadores da pátria. bento
guerra: Quem não teve já
um Parlamento invadido, ó Bogalho? Blá-blá JB Dias: Fraco texto onde se pretende
cavalgar a onda da indignação politicamente correcta para extrapolar para
guerras de alecrim e manjerona das politiquices de baixíssimo nível em que
António Costa e o PS já se tornaram referências. Recordo - ou se calhar informo
por que provavelmente não seria o cronista ainda vivo - que o Parlamento
português foi objecto de cerco e os deputados eleitos sequestrados - com a
excepção dos do PCP e seus "compagnons de route" - e que não foi a
Direita, que tais actos promoveu e apoiou ... nem Trump. Adelino Lopes: “ao mesmo tempo que reclamava uma “fraude” que
nunca existiu”. Só um ignorante da lógica básica é que pode escrever uma
calinada destas. Vou explicar. Em tribunal ficou provado que milhares de votos
não poderiam ter existido porque as pessoas já não eram vivas. Mas, nesses
estados, a vitória foi atribuída, pelo juiz, ao Biden porque esse número
(provas apresentadas) era inferior à diferença na contagem dos votos. Sim
senhor. Mas alguém no seu juízo pode dizer que não existiram mais casos? Por
amor de DEUS … Miguel
Soares Franco: Leia o Alberto Gonçalves sff
João Paulo Reis: É na derrota que se vêem os
grandes homens, Trump optou por sair pela porta pequena e a História ser-lhe-á
implacável. Há mínimos de comportamento cívico e Trump revelou-se inimigo da sã
convivência democrática, o bem defende-se com palavras e actos dentro do quadro
democrático. Revelou-se ainda inimigo da sã convivência democrática, não que a
ditadura das redes sociais não seja muito preocupante, mas esta combate-se com
palavras e actos dentro do quadro democrático sem lhes conceder qualquer
direito de se substituírem aos mecanismos legais eleitos. Com os seus
irresponsáveis e antidemocráticos actos, deu azo a que nos próximos meses e
anos assistamos a um McCartnynismo da esquerda americana liderados pelas redes
sociais, a qual perseguirá tudo o que mexer fora da sua agenda, os católicos
estarão entre as vítimas e muitos nem empregos conseguirão. Cá já sucede por
via da filiação partidária, é triste, mas é verdade.
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