Pelo dedo orientador e sagaz de Salles da Fonseca, que assim nos vai demonstrando os motivos da nossa má organização económica, entregue que está a inimigos das forças produtoras e enriquecedoras da nação, não se permitindo considerar a indispensabilidade do capital como gerador de trabalho…
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 07.01.21
NOTA PRÉVIA
À
semelhança dos textos anteriores sob a mesma epígrafe, este também é de
opinião, não é nem pretende ser um Tratado sobre a Teoria do
Desenvolvimento; não me limito a descrever conceitos e modelos, não hesito em
emitir juízos de valor.
*
* *
Tenho
o conceito de bem comum e o modelo
de desenvolvimento numa relação
directa uma vez que cada modelo de
desenvolvimento resulta necessariamente de um conceito de bem comum; o vice-versa
pode não ser tão taxativo porquanto a um conceito de bem comum podem
corresponder vários modelos alternativos de desenvolvimento. A
biunivocidade não é linear.
A biunivocidade não é linear nos
regimes democráticos, pluripartidários mas nos regimes monolíticos,
ditatoriais, não há discussão de nada, não há modelos alternativos de
desenvolvimento e os conceitos de bem comum são autocraticamente definidos (por
unanimidade) de acordo com a vontade do «dono da verdade».
Estou,
obviamente, a referir a todos os países comunistas eufemisticamente denominados
«socialistas, democráticos e populares» e academicamente chamados «de
direcção e planeamento centrais».
Nestes
conceitos de bem comum e de modelo de desenvolvimento enquadram-se actualmente
todos os países com regimes totalitários marxistas leninistas e maoistas já que de trotskistas e gramscianos não
houve experiências históricas registadas com perenidade suficiente para que se
consiga estabelecer alguma distinção dos casos conhecidos de flagrante fiasco
no que se refere ao «bem comum
contido pela cortina de ferro» e
à ruina económica em resultado da diabolização marxista do lucro e,
consequentemente, da morte conjunta da poupança e do investimento. De tudo,
testemunha a inversão estrondosa do «determinismo histórico» de Marx.
Em
Portugal, os adeptos deste fiasco historicamente registado são o PCP (marxista
leninista e stalinista) e o BE (marxista gramsciano, trotskista,
anarquista…) e o MRPP (marxista maoista).
Noto
o absurdo de uma corrente de pensamento que pugna pela anulação
do Estado (no sentido de Autoridade pública), o
anarquismo, se integrar em Partido, o BE, onde as correntes dominantes são as
marxistas trotskista e gramsciana que preconizam a supremacia absoluta da
Autoridade pública com exclusão de tudo o mais[i].
O
modelo marxista de desenvolvimento assenta na propriedade pública de todos os
meios de produção cuja missão
é a de cumprirem as determinações qualitativas e quantitativas emanadas da
Administração Central do Plano com exclusão de todas as alternativas e
improvisos; o conceito de bem comum assenta no princípio de que o Estado
assegura todas as necessidades das pessoas com excepção de todas as
alternativas de provedoria. E à pergunta
de como se justifica o grande crescimento económico da República Popular da
China, a resposta é pelo abandono chinês do modelo exclusivamente comunista
e, desde a liderança de Deng Xiao Ping, a adopção do modelo «um país
(politicamente comunista) dois sistemas (económicos)» em que prevalecem
dois motores de desenvolvimento, a saber, as empresas privadas e a inexistência
de liberdade sindical (mão de
obra a raiar a escravatura). E não estou a referir o trabalho prisional forçado.
Cada
bugiganga que compramos na «loja do chinês» na esquina ali ao fundo, configura
a nossa conivência com a barbárie enunciada.
(continua)
Janeiro
de 2021
Henrique
Salles da Fonseca
[i] -
Historicamente, registe-se que em 1920, o Príncipe Pyotr Kropotkin, líder do
movimento anarquista russo, morreu na mais aviltante miséria de fome frio por
ter sido votado ao ostracismo pelo poder soviético então liderado por Lenine.
Para saber mais, ver p. ex.https://en.wikipedia.org/wiki/Peter_Kropotkin
Tags: "economia
portuguesa"
COMENTÁRIOS
Francisco G. de Amorim, 7.01.2021:: Se
pelo menos tivéssemos técnica para desenvolver material de guerra... podíamos
copiar a URSS. Neste momento só posso exclamar: "Valha-nos o Dom
Sebastião"! Não sei se o governo permitirá que se forme quantidade
suficiente de nevoeiro para que o Desejado possa chegar
Henrique Salles da
Fonseca 08.01.2021; Boa
noite, Apenas um detalhe: O actual PCP é marxista-leninista mas, segundo
informações de um militante, não se define como estalinista. Obrigada pela
partilha dos seus textos. Abraço, Benilde Tomaz Fonseca
NOTAS DA INTERNEYT:
Piotr Kropotkin
Origem: Wikipédia,
a enciclopédia livre.
Piotr
Alexeyevich Kropotkin (Moscou, 9 de dezembro de 1842 —Dmitrov,
8 de
fevereiro de 1921) foi um geógrafo, filósofo, escritor, economista, cientista político,
sociólogo, biólogo, historiador e activista político russo, um dos principais pensadores
políticos do anarquismo no fim doséculo XIX, considerado também o fundador
da vertente anarco-comunista. Suas análises profundas da burocracia
estatal
e do sistema prisional também são relevantes na área
de criminologia.
Foi o autor de livros hoje considerados clássicos do pensamento libertário,
entre os mais importantes se destacam A Conquista do Pão e Memórias de
um Revolucionário ambos publicados em 1892, Campos, Fábricas e Oficinas 1899, e Mutualismo: Um Factor de Evolução
(publicado em 1902.
Durante um longo período foi convidado para contribuir também para a Enciclopédia Britânica na escrita de
diversos verbetes, entre estes o referente ao Anarquismo.
Nascido
príncipe,
membro da antiga família real de Rurik, na idade adulta Kropotkin
rejeitou este título de nobreza pela sua decepção com a erudição dos aristocratas. Ainda
adolescente foi obrigado a ingressar no exército imperial russo por ordem do
próprio czar
Nicolau I. Nesta mesma época passou a ter contacto
com a literatura revolucionária da época.
Interessado
por geografia,
tornou-se explorador do círculo polar árctico percorrendo milhares de quilómetros
a pé e registrando diferentes fenómenos relacionados a tundra e outras
paisagens árcticas. Em suas muitas viagens teve contacto e passou a se
solidarizar com os camponeses vivendo em condições miseráveis na Rússia
e na Finlândia.
Este sentimento de solidariedade fez com que Kropotkin abandonasse a actividade
de pesquisador. Viajou para o Leste Europeu
tendo contacto em diversos países activistas e revolucionários, entre estes os
associados de Bakunin
e os seguidores de Marx.
Em Genebra,
tornou-se membro da Primeira Internacional depois partiu em
direcção à Jura
a convite de um anarquista que lhe relatara a força que o movimento adquirira
naquela região. Estudou o programa revolucionário da Federação Anarquista de Jura, retornando à Rússia
com a intenção de divulgá-lo entre activistas libertários e populações
marginalizadas. Na Rússia voltou a fazer pesquisas científicas, tomando parte
em diferentes âmbitos do activismo libertário.
Foi
preso por diversas vezes por sua militância. Seus textos foram publicados por
centenas de jornais ao redor do mundo. Seu funeral, em fevereiro de 1921, constituiu o último
grande encontro de anarquistas na Rússia, uma vez que este país, desde a
revolução de 1917, estava sob o domínio dos bolcheviques
marxistas que passaram a perseguir, exilar e aniquilar os activistas
libertários onde quer que fossem encontrados.
Excertos de P. Kropotkin
«Os cinco anos que passei na Sibéria
foram para mim muito instrutivos a respeito do carácter e da vida humanos. Me
vi colocado em contacto com homens de todas as condições, os melhores e os
piores; aqueles que se encontravam na cúspide da sociedade e os que vegetavam
em seu mesmo fundo; isto é, os vagabundos e os chamados criminosos insensíveis.
Tive ocasiões de sobra para observar os hábitos e costumes dos camponeses em
seu labor diário, e ainda mais, para apreciar o pouco que a administração
oficial podia fazer em seu favor, ainda quando animada das melhores intenções.»
«Ainda que não
houvesse formulado minhas observações em termos análogos aos usados pelos
grupos militantes, posso dizer agora que perdi na Sibéria toda a fé que antes
pudera ter tido na disciplina do Estado, preparando-se assim o terreno para
converter-me em anarquista.»
« as relações igualitárias que encontrei
nas Montanhas de Jura, a liberdade de acção e pensamento que vi desenvolver-se
entre os trabalhadores e sua ilimitada devoção pela causa tocaram fortemente
meus sentimentos; e quando tive que deixar as montanhas, depois de permanecer
uma semana com os relojoeiros, minhas visões do socialismo foram estabelecidas:
eu era um Anarquista.» P. Kropotkin
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