sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Do passado e do presente


Pelo dedo orientador e sagaz de Salles da Fonseca, que assim nos vai demonstrando os motivos da nossa má organização económica, entregue que está a inimigos das forças produtoras e enriquecedoras da nação, não se permitindo considerar a indispensabilidade do capital como gerador de trabalho…

DO DESENVOLVIMENTO - 5

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 07.01.21

NOTA PRÉVIA

À semelhança dos textos anteriores sob a mesma epígrafe, este também é de opinião, não é nem pretende ser um Tratado sobre a Teoria do Desenvolvimento; não me limito a descrever conceitos e modelos, não hesito em emitir juízos de valor.

* * *

Tenho o conceito de bem comum e o modelo de desenvolvimento numa relação directa uma vez que cada modelo de desenvolvimento resulta necessariamente de um conceito de bem comum; o vice-versa pode não ser tão taxativo porquanto a um conceito de bem comum podem corresponder vários modelos alternativos de desenvolvimento. A biunivocidade não é linear.

A biunivocidade não é linear nos regimes democráticos, pluripartidários mas nos regimes monolíticos, ditatoriais, não há discussão de nada, não há modelos alternativos de desenvolvimento e os conceitos de bem comum são autocraticamente definidos (por unanimidade) de acordo com a vontade do «dono da verdade».

Estou, obviamente, a referir a todos os países comunistas eufemisticamente denominados «socialistas, democráticos e populares» e academicamente chamados «de direcção e planeamento centrais».

Nestes conceitos de bem comum e de modelo de desenvolvimento enquadram-se actualmente todos os países com regimes totalitários marxistas leninistas e maoistas já que de trotskistas e gramscianos não houve experiências históricas registadas com perenidade suficiente para que se consiga estabelecer alguma distinção dos casos conhecidos de flagrante fiasco no que se refere ao «bem comum contido pela cortina de ferro» e à ruina económica em resultado da diabolização marxista do lucro e, consequentemente, da morte conjunta da poupança e do investimento. De tudo, testemunha a inversão estrondosa do «determinismo histórico» de Marx.

Em Portugal, os adeptos deste fiasco historicamente registado são o PCP (marxista leninista e stalinista) e o BE (marxista gramsciano, trotskista, anarquista…) e o MRPP (marxista maoista).

Noto o absurdo de uma corrente de pensamento que pugna pela anulação do Estado (no sentido de Autoridade pública), o anarquismo, se integrar em Partido, o BE, onde as correntes dominantes são as marxistas trotskista e gramsciana que preconizam a supremacia absoluta da Autoridade pública com exclusão de tudo o mais[i].

O modelo marxista de desenvolvimento assenta na propriedade pública de todos os meios de produção cuja missão é a de cumprirem as determinações qualitativas e quantitativas emanadas da Administração Central do Plano com exclusão de todas as alternativas e improvisos; o conceito de bem comum assenta no princípio de que o Estado assegura todas as necessidades das pessoas com excepção de todas as alternativas de provedoria. E à pergunta de como se justifica o grande crescimento económico da República Popular da China, a resposta é pelo abandono chinês do modelo exclusivamente comunista e, desde a liderança de Deng Xiao Ping, a adopção do modelo «um país (politicamente comunista) dois sistemas (económicosem que prevalecem dois motores de desenvolvimento, a saber, as empresas privadas e a inexistência de liberdade sindical (mão de obra a raiar a escravatura). E não estou a referir o trabalho prisional forçado.

Cada bugiganga que compramos na «loja do chinês» na esquina ali ao fundo, configura a nossa conivência com a barbárie enunciada.

(continua)

Janeiro de 2021

Henrique Salles da Fonseca

[i] - Historicamente, registe-se que em 1920, o Príncipe Pyotr Kropotkin, líder do movimento anarquista russo, morreu na mais aviltante miséria de fome frio por ter sido votado ao ostracismo pelo poder soviético então liderado por Lenine. Para saber mais, ver p. ex.https://en.wikipedia.org/wiki/Peter_Kropotkin

Tags: "economia portuguesa"

 

COMENTÁRIOS

Francisco G. de Amorim, 7.01.2021:: Se pelo menos tivéssemos técnica para desenvolver material de guerra... podíamos copiar a URSS. Neste momento só posso exclamar: "Valha-nos o Dom Sebastião"! Não sei se o governo permitirá que se forme quantidade suficiente de nevoeiro para que o Desejado possa chegar

Henrique Salles da Fonseca 08.01.2021; Boa noite, Apenas um detalhe: O actual PCP é marxista-leninista mas, segundo informações de um militante, não se define como estalinista. Obrigada pela partilha dos seus textos. Abraço, Benilde Tomaz Fonseca

 

NOTAS DA INTERNEYT:

Piotr Kropotkin

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Piotr Alexeyevich Kropotkin (Moscou, 9 de dezembro de 1842Dmitrov, 8 de fevereiro de 1921) foi um geógrafo, filósofo, escritor, economista, cientista político, sociólogo, biólogo, historiador e activista político russo, um dos principais pensadores políticos do anarquismo no fim doséculo XIX, considerado também o fundador da vertente anarco-comunista. Suas análises profundas da burocracia estatal e do sistema prisional também são relevantes na área de criminologia. Foi o autor de livros hoje considerados clássicos do pensamento libertário, entre os mais importantes se destacam A Conquista do Pão e Memórias de um Revolucionário ambos publicados em 1892, Campos, Fábricas e Oficinas 1899, e Mutualismo: Um Factor de Evolução (publicado em 1902. Durante um longo período foi convidado para contribuir também para a Enciclopédia Britânica na escrita de diversos verbetes, entre estes o referente ao Anarquismo.

Nascido príncipe, membro da antiga família real de Rurik, na idade adulta Kropotkin rejeitou este título de nobreza pela sua decepção com a erudição dos aristocratas. Ainda adolescente foi obrigado a ingressar no exército imperial russo por ordem do próprio czar Nicolau I. Nesta mesma época passou a ter contacto com a literatura revolucionária da época.

Interessado por geografia, tornou-se explorador do círculo polar árctico percorrendo milhares de quilómetros a pé e registrando diferentes fenómenos relacionados a tundra e outras paisagens árcticas. Em suas muitas viagens teve contacto e passou a se solidarizar com os camponeses vivendo em condições miseráveis na Rússia e na Finlândia. Este sentimento de solidariedade fez com que Kropotkin abandonasse a actividade de pesquisador. Viajou para o Leste Europeu tendo contacto em diversos países activistas e revolucionários, entre estes os associados de Bakunin e os seguidores de Marx. Em Genebra, tornou-se membro da Primeira Internacional depois partiu em direcção à Jura a convite de um anarquista que lhe relatara a força que o movimento adquirira naquela região. Estudou o programa revolucionário da Federação Anarquista de Jura, retornando à Rússia com a intenção de divulgá-lo entre activistas libertários e populações marginalizadas. Na Rússia voltou a fazer pesquisas científicas, tomando parte em diferentes âmbitos do activismo libertário.

Foi preso por diversas vezes por sua militância. Seus textos foram publicados por centenas de jornais ao redor do mundo. Seu funeral, em fevereiro de 1921, constituiu o último grande encontro de anarquistas na Rússia, uma vez que este país, desde a revolução de 1917, estava sob o domínio dos bolcheviques marxistas que passaram a perseguir, exilar e aniquilar os activistas libertários onde quer que fossem encontrados.

Excertos de P. Kropotkin

«Os cinco anos que passei na Sibéria foram para mim muito instrutivos a respeito do carácter e da vida humanos. Me vi colocado em contacto com homens de todas as condições, os melhores e os piores; aqueles que se encontravam na cúspide da sociedade e os que vegetavam em seu mesmo fundo; isto é, os vagabundos e os chamados criminosos insensíveis. Tive ocasiões de sobra para observar os hábitos e costumes dos camponeses em seu labor diário, e ainda mais, para apreciar o pouco que a administração oficial podia fazer em seu favor, ainda quando animada das melhores intenções.»

«Ainda que não houvesse formulado minhas observações em termos análogos aos usados pelos grupos militantes, posso dizer agora que perdi na Sibéria toda a fé que antes pudera ter tido na disciplina do Estado, preparando-se assim o terreno para converter-me em anarquista.»

« as relações igualitárias que encontrei nas Montanhas de Jura, a liberdade de acção e pensamento que vi desenvolver-se entre os trabalhadores e sua ilimitada devoção pela causa tocaram fortemente meus sentimentos; e quando tive que deixar as montanhas, depois de permanecer uma semana com os relojoeiros, minhas visões do socialismo foram estabelecidas: eu era um Anarquista.» P. Kropotkin


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