Helena
Matos traça-nos um perfil
malandro, de gente acomodada que somos, vergando a espinha ao poder e fechando
os olhos às irregularidades nele cometidas, de resto, de há muito, bons alunos
na escola da servidão sem reclamação e da coscuvilhice sem educação. E o
governo sabe-o e estimula-o com políticas autoritárias impertinentes. E assim nos
vamos confinando, sábios e resignados, apenas pouco educados inter opositores,
como se lê nos muitos comentários ao texto de Helena Matos, as mais das vezes em diálogo interno crítico,
direccionado para os de opinião contrária, com insolências e farsas sem nível…
ao nosso nível.
Mas há muitas excepções para contrariar
o derrotismo. Ontem, por exemplo, assisti a mais um programa de Júlio Isidro, que nos brindou com um Inesquecível de
inesquecível efeito, desta vez com a presença dos entrevistados Tozé Brito e Olga Prats, de que repescou excertos de programas que nos
orgulharam e nos trouxeram memórias passadas, programa simultaneamente revelador
da qualidade intelectual do entrevistador Júlio Isidro e do seu intenso trabalho de repescagem de programas
de muitos dos quais foi também mentor. O de ontem terminou com Olga Prats a brindar-nos ao piano com dois trechos
musicais, para além da revisão musical a que o programa de Júlio Isidro já nos fizera assistir, com tanto
prazer…
Os passados da cabeça /premium
O ministro da Economia manda esvaziar
prateleiras de supermercados; a ministra da Saúde quer confiscar empresas; do
ministério da Justiça saem documentos manipulados… e nós a ver cornos no
Capitólio.
HELENA MATOS
OBSERVADOR, 17 jan
2021
As cirurgias aos doentes com cancro
são adiadas (ainda mais) e os computadores prometidos aos alunos em Março do
ano passado nunca chegaram. Mas o que
leva os portugueses a manifestar-se? A vinda de Marine Le Pen a Lisboa.
Portugal é um país literalmente
passado da cabeça: quanto mais a nossa vida se agrava e o regime se esboroa,
mais nos indignamos com o longínquo e nos tornamos indiferentes ao que nos
toca.
Assim,
fazem-se manifestações porque uma dirigente política francesa vem a Lisboa mas
caso alguém se manifeste por aquilo que está a acontecer neste país ou nesta
mesma cidade de Lisboa, logo se vê oportunamente rodeado de suspeições várias
como aconteceu a Ljubomir
Stanisic aquando dos protestos dos
proprietários de restaurantes.
O
nosso corpo está aqui mas o cérebro está onde o leva a agenda mediático-socialista (eu sei que estas duas palavras se tornaram
sinónimas mas mesmo assim insisto no pleonasmo).
Todos os dias gente que a si mesma atribui
certificados de democrata discute como ilegalizar aqueles que eles definem como
fascistas. Simultaneamente medidas em catadupa normalizam o que é próprio das
ditaduras. Agora dá-se como certo que os velhos residentes em lares ilegais não
terão o seu voto recolhido. Quando nos passou pela cabeça que em
Portugal se inibiria o direito de voto a alguém em função da natureza da sua
residência? Nunca, claro. Nós
somos uma república. Estamos imbuídos dos princípios da igualdade, da
solidariedade… Para lá do
óbvio – não foram os velhos que escolheram ir para um lar ilegal, eles foram para lares ilegais porque não existem
outros (e vão continuar sem existir porque deste modo a Segurança Social poupa
o financiamento que teria de lhes garantir caso os legalizasse)
– não se pode aceitar que a natureza da residência defina quem
pode ou não votar. Indignações
com este grave precedente? Os constitucionalistas que tanto
constitucionalizam a propósito dos direitos adquiridos não têm agora nada a
dizer? Ora, ora quem se pode preocupar com os votos dos velhos instalados em
lares ilegais quando Marine Le Pen veio almoçar a Portugal? Isso sim é que é
preocupante!
Disseram-nos que Portugal era um
milagre e a nossa cabeça passou-se com tanta alegria. Depois do
milagre da descrispação, do milagre do dinheiro para as reposições, do milagre
do futebol, do milagre do Festival da Eurovisão, éramos outro milagre no combate
ao Covid. Todos os
dias a nossa cabeça partia à descoberta dos falhanços em geografias políticas
rigorosamente seleccionadas. Um dia, no meio de mais umas notícias sobre o
horror do Covid nos EUA e do desastre da estratégia seguida pelos suecos, descobrimos
que o inferno era aqui. E o país o que discute? Manaus. Sim, Manaus. Porquê Manaus no Brasil e não a
Bélgica, país onde o número de mortos ultrapassa tudo o que se pode imaginar?
Ou com a Argentina, o país que uma “quarentena eterna” não salvou do Covid mas
garantiu a fome (sim, na Argentina outrora
grande potência agrícola, agora existe fome)? Ora, porque como toda
a gente sabe a culpa das consequências do Covid no Brasil é de Bolsonaro. Já a
culpa das consequências do mesmo Covid pelo mundo varia em função da simpatia
ou do respeitinho que esses governos têm ou impõem nas redacções e organizações
internacionais. No topo da tabela da desresponsabilização está o
governo de Portugal, país onde a culpa dos maus números é sempre do portugueses
que não cumprem como deviam as sábias instruções do seu governo. Portugal, recordo, é o país em que não se conhece
um caso de contágio por Covid em nada que resulte da responsabilidade do
Governo, como são os transportes públicos cheios e as filas resultantes da
imposição de horários reduzidos nos supermercados mas em que, dos parques
infantis aos passeios ao ar livre, se considera perigoso tudo o que não seja
ficar encerrado em casa.
Em conclusão, os governos de
esquerda terão sempre um Manaus para entreter a cabeça dos portugueses. E quanto
pior as coisas correrem em Portugal mais vamos andar empenhados em apedrejar o
ódio de estimação do momento e mais tempo vamos gastar em combates que nada têm
a ver com a nossa vida presente.
Pode
o Governo, numa espécie de treino antecipado para a Venezuela que seremos,
mandar, em nome da regulação da concorrência, esvaziar prateleiras de supermercados
e interferir desastradamente nas
taxas cobradas pelas empresas de distribuição pois grupos como o agora nomeado para combater o racismo
inventarão todos os dias um caso para gerar comoções e fúrias.
Pode
o procurador José Guerra manter-se
no cargo apesar das evidentes falhas no seu curriculum e das ainda mais
evidentes tentativas do ministério da Justiça para as esconder que ninguém
perguntará o porquê de tanta manobra pois esgotaremos a nossa indignação com a
morte dos veados numa herdade. Ou dos cães num canil. Ou dos ursos lá longe.
Pode
a ministra Temido continuar
a privar milhares de portugueses de tratamentos médicos unicamente por razões
ideológicas pois o foco das nossas preocupações estará no combate ao
heteropatriarcado. Ou no combate ao que designam como alterações climáticas.
Pode
António Costa acusar quem o critica de liderar uma “campanha
internacional contra Portugal” …
Podem
o que quiserem porque nós estaremos sempre com a cabeça longe. Enquanto não se
perceber isto não se percebe por que razão está antecipadamente derrotado o
espaço da direita mesmo quando ganha.
Nunca
nos passou pela cabeça que viesse a ser assim. Mas é assim que é.
POLÍTICA GOVERNO EXTREMISMO SOCIEDADE SOCIALISMO
COMENTÁRIOS
Artur Parracho:
Como sempre HM assertiva, objectiva.
Infelizmente ė o estado em que se encontra Portugal, e num futuro próximo não
se vislumbra que algo se altere. Parabéns pelo excelente artigo.
Alfaiate Tuga: Não são passados da cabeça, têm a cabeça no lugar e a funcionar a 100%,
tudo o que é referido e bem no artigo é verdade e lamentável, mas só afecta uma
pequena parte da população, a grande maioria dos eleitores estão como querem e
nenhum partido político lhes oferece melhor perspectiva do que os que sustentam
o actual governo. Vejamos, perante uma crise sanitária prolongada e sem
precedentes nos últimos 50 anos, quem não perdeu rendimentos? FPs e
pensionistas, qual foi o último governo a
cortar rendimentos a esta gente? PSD + CDS, resultado á vista, CDS quase
desapareceu e PSD com 25% de intenções de voto, quem devolveu rendimentos? O PS
mais a sua geringonça, resultado PS com 40% de intenções de voto. Uma parte substancial dos FP’s estão agora
em casa em Teledescanso com salário a 100% e com garantia de que a empresa lhes
deposita mensalmente os euros na conta o vai continuar a fazer até à sua
aposentação, tem ainda um cartão ADSE no bolso não vão necessitar de cuidados
de saúde que o seu patrão não é capaz de prestar aos restantes cidadãos. Esta
casta protegida é composta por 700 mil FPs e 3 milhões de pensionistas que de
passados da cabeça não tem nada como acabei de explicar. Mau está para os que
estão a perder rendimentos e pior para os que estão a tirar bilhete por
incapacidade de SNS (os FPs e aposentados do estado não padecem destas
maleitas, têm ADSE). Portanto passados da cabeça estão os que acham que isto
tem solução que não passe pela pré-bancarrota, pois só quando estiver prestes a
acabar o dinheiro para salários e pensões assegurados pelo estado é que a
esquerda abandona o poder, até lá pode fazer bem pior do que já fez, que não
passa nada. Já agora, para não restarem dúvidas, sou a favor para fazer face
aos custos da pandemia e distribuir os sacrifícios por todos, de um corte
temporário nas pensões acima de 1000€ de 10% e 20% para pensões acima dos
2000€, os FPs que estão em casa em teledescanso deveriam ser abrangidos pelas
mesmas medidas. Sou também contra o Lay-off pago a 100%, permite que uns vão
para casa com o salário completo e outros tenham o azar de ter que continuar a
vergar a mola para levar o salário para casa no final do mês. Já sei que não
vai acontecer, senão lá se iam os 40% de intenções de voto.
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