Do nosso posicionamento na cauda do
mundo europeu. Que Nuno Pacheco continue na
sua saga opositora a esse falso “Acordo”, não de ilustração mas de tacanhez e
subserviência, é o que se deseja, e que consiga levar a água ao seu/nosso
moinho, como, pelo que descreve, muitos portugueses desejam também, menos
obstruídos por manhas pedantes e ignaras dos coletes amarelos da nossa praça.
OPINIÃO
A língua, as malhas da ortografia e o “bloco central”
da ignorância
A derrota no parlamento de um projecto do PEV para
avaliar o Acordo Ortográfico veio trazer a nu uma estranha aliança PS-PSD, a
que poderemos chamar “bloco central” da ignorância.
NUNO PACHECO PÚBLICO, 16 de Janeiro de 2021
Não há como uma pandemia para
reflectir e decidir sobre qualquer tema. Caso exemplar é o do Projecto de Resolução 533/XIV,
apresentado na Assembleia da República (AR) pelo Partido Os Verdes (PEV), em
Junho do ano passado, e discutido e votado esta
sexta-feira em plenário.
Não se pode dizer que, de início, não tenha sido rápido: deu entrada no dia 23 de Junho de 2020, foi admitido, anunciado e publicado em Diário
da República (II série A N.º109/XIV/1)
no dia 24, baixou à Comissão
de Cultura e Comunicação nesse mesmo
dia (tudo isto consta de relatório oficial disponível na AR) e logo no
dia 25 foi produzido e enviado ao Presidente da AR o respectivo
relatório/parecer. Tudo
extraordinariamente rápido. Depois,
entrou em oficial hibernação, meteu-se o Verão, o vírus, as máscaras, mais
vírus, o entra-e-sai das medidas de emergência, o Natal, o Ano Novo, confina e
desconfina, e foi logo no dia em que a severidade de novo confinamento se
impôs, por via oficial, que o tal projecto do PEV foi a plenário.
O
que pretendia o PEV? Apenas isto: recomendar ao Governo que “promova
uma avaliação científica global dos efeitos da aplicação do Acordo Ortográfico de
1990 […] tornando essa avaliação pública”; e que “do resultado dessa
avaliação sejam promovidas medidas com vista à correção [sic] dos efeitos
nefastos e negativos que sejam identificados e, se as conclusões de tal
avaliação assim apontarem, numa situação limite, à orientação para a suspensão
do Acordo Ortográfico de 1990, acautelando as medidas necessárias de
acompanhamento e transição, por forma a evitar uma maior desestabilização neste
processo.” Sublinhe-se a “situação limite”.
Quantas vezes já foi proposta
idêntica avaliação? Várias. Resultados? Nenhuns. Já comissões se debruçaram sobre o assunto, já
relatórios foram escritos e do lado governamental, além das negações do
costume, só um longo bocejo. Pois
bem: esta era mais uma ocasião para que o assunto fosse levado a sério (ao
menos uma vez, não custava nada, já que o bem fundamentado relatório elaborado
pelo deputado social-democrata José Carlos Barros em 2019 teve por destino o
esquecimento). Mas, mais uma vez, assistimos a um bloqueio alicerçado em doses
equivalentes de propaganda e ignorância, não só da parte do PS como, pasme-se!,
do PSD.
E
pasme-se porquê? Porque nas legislativas de 2019 o PSD foi dos poucos partidos
que incluiu no seu programa
eleitoral uma referência clara ao AO90, dizendo textualmente o
seguinte (página 64):
“Ao contrário do que se pode pensar, as diferenças no
uso da língua portuguesa não a empobrecem. Antes revelam as diferentes
dinâmicas culturais de cada país na sua apropriação. A ideia de que a
uniformização ortográfica poderia constituir uma vantagem face ao mundo
globalizado não teve acolhimento. Neste sentido, o PSD entende que importa
avaliar o real impacto do novo Acordo Ortográfico – que se tornou obrigatório
em 2015 [o que é contestável com argumentos legais, diga-se] – e ponderar a
respetiva revisão face ao evidente insucesso da sua generalização entre os
países de língua oficial portuguesa e mesmo entre os autores portugueses.” Coisa parecida defendeu, também no seu programa eleitoral, o CDS-PP
(págs. 131-132): “Não podemos falar da Língua Portuguesa sem assumir que
a ideia central do Acordo Ortográfico de 1990 – uma ortografia unificada –
falhou. Pela nossa parte, pode e deve ser avaliado quanto aos seus efeitos e
problemas, tanto no uso da Língua como a nível internacional.” Isto enquanto partidos como o PCP e o PAN
apresentavam programas sem obedecer ao AO; e o PEV, sujeitando-se à dita “nova
grafia” no seu programa eleitoral, manifestava dúvidas quanto ao Acordo
Ortográfico.
O
debate e votação desta sexta-feira veio, de novo, aclarar as águas. Mariana Silva, que junto com José Luís Ferreira assinou o Projecto de Resolução do PEV, foi
claríssima: o AO90 falhou nos seus principais pressupostos
(“unificação da Língua; simplificação da Língua; e facilitação da aprendizagem
da Língua para crianças em fase escolar e para estrangeiros”), não conseguiu a
ratificação (e mesmo essa discutível) senão de metade dos países da CPLP, “além
de não se ter conseguido, até ao dia de hoje, a sua aceitação plena por vários
sectores da sociedade.” O
presidente da AR teve de intervir para que o ruído na sala diminuísse, já que
vários deputados conversavam animadamente durante a sua intervenção, como se
virassem as costas ao tema.
E
na prática viraram, com escassas excepções. Ana Rita Bessa, do CDS-PP, ainda veio dizer que “Portugal
deveria ser capaz de avaliar o acordo, os seus efeitos, a sua adesão, e
decidir”, recordando o relatório de José Carlos Barros e dizendo
que “não há dupla grafia para a palavra avaliar” (ou seja: se é para avaliar,
que se avalie mesmo, sem truques); Ana Mesquita, do PCP, recordando que o seu partido foi o único que em 4
de Junho de 1991 não votou favoravelmente o AO90, sublinhou que o assunto não
está fechado: “Subsistem incongruências, deficiências, dificuldades
práticas na aplicação do acordo que são visíveis todos os dias nas escolas, nos
media, nos livros, nas páginas oficiais de entidades públicas, como é o caso
desta em que nos encontramos”, não podendo ser o AO90, “nos termos em que está,
inalterável e irrevogável”; e Beatriz Gomes Dias, do BE, recordando
que as “discussões e as controvérsias” sobre o AO90 se mantêm 30 anos após ter
sido aprovado, acabou por fazer um discurso maioritariamente crítico, admitindo
que o acordo “não é perfeito ou consensual e são inequívocas as dificuldades
várias na sua aplicação” e que “não é aceitável que, face a expressões
aplicadas que manifestamente são erros grosseiros, não tenha havido a
capacidade política para antecipar a necessidade de assumir politicamente uma revisão
técnica do acordo ortográfico.” Defendeu,
por isso, “um processo de revisão técnica” facilitado pelo Vocabulário
Ortográfico Comum.
Pois
bem: entre a exigência de uma avaliação e uma mais que prometida, mas nunca
sequer encarada, “revisão técnica” (com
tantos erros acumulados, corria o risco de ser o princípio do fim do acordo), eis que
surgiram da Terra do Nunca as vozes do PS e do PSD. Da parte do PS, Pedro Cegonho
(que havia sido o relator do parecer sobre a Iniciativa
Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico, cujo destino
continua a marinar no parlamento) mostrou-se
um verdadeiro homem do aparelho: o que alegou foi um perfeito decalque da
cartilha oficial dos defensores do acordo, cartilha que até hoje prima pela
inércia e pela voluntária ignorância dos males que tal acordo não cessa de
causar. Exaltou “a relevância do
Acordo para a literacia: a facilitação da aprendizagem da escrita e da leitura
no vasto quadro dos falantes de português da CPLP”, mas ignorou que “no vasto
quadro de falantes” o acordo é grandemente ignorado. Basta dizer que, consultando as várias
Constituições dos países da CPLP, só a de Portugal é que foi (abusivamente,
diga-se) transcrita para a “nova grafia”, mantendo-se as restantes, nas suas
mais recentes versões em linha, fiéis ao português de 1945 ou, no caso da do
Brasil, que foi actualizada em 2019, seguindo a “nova norma” brasileira, que é
diferente da portuguesa.
Depois,
veio invocar o Instituto Internacional da Língua Portuguesa, como “sede
própria” para “dirimir divergências científicas” invocando o texto do acordo.
Mas só quem desconhece em absoluto o que é o IILP (basta
visitá-lo em linha) é que pode encarar tal hipótese sem soltar uma
sonora gargalhada, pois o seu “rigor e critérios científicos” são uma
verdadeira anedota, como já tive ocasião de demonstrar em mais do que um artigo (ver, por exemplo, “O instituto, a língua, os amantes
dela e a penúria do costume”, 7/1/2020; “O vocabulário oficial do Acordo
Ortográfico está morto há dias e ninguém deu por nada!”, 26/1/2020; “Ressuscitou como morreu: como fraude. E ainda há quem lhe chame
vocabulário”, 30/1/2020; ou “Anatomia de uma fraude com duas
palavras picantes como condimento”, 5/2/2020). Se o texto do projecto ignorou o IILP, como disse
Cegonho, terá sido porque o IILP, na verdade, não conta nada. Um exemplo disso
será o apagamento total do auto-intitulado Conselho de
Ortografia da Língua Portuguesa, anunciado com pompa em Outubro de 2019
como “órgão técnico do IILP”. Pois bem, após uma primeira reunião, finou-se. E
nem na morada virtual do IILP se encontra rasto dele, a não ser na encomiástica notícia que,
à data, deu conta do seu estranho nascimento.
Mas Cegonho insiste no
disparate. Para ele, “os
trabalhos já desenvolvidos neste âmbito apontam para soluções de clarificação e
de simplificação da aprendizagem das regras da norma do Acordo Ortográfico e
não para uma revisão do texto do Acordo entre os países, menos ainda para a sua
suspensão ou recesso.” Onde? Com que base técnica e
científica? Nenhuma, como ele próprio saberá, pois tal teimosia só se sustenta
na política, jamais na ciência. Mas o seu
discurso (escrito, naturalmente, pois nem ele nem a maioria dos
que, por parte do PS têm vindo a defender a sua cadavérica “dama”, dominam
minimamente este assunto) não podia
acabar sem uma referência gloriosa ao futuro, que há-de sorrir-nos mesmo que
submerso em erros de aterrorizar qualquer um: “A
afirmação dos laços históricos entre os países da CPLP e a ligação entre as
suas diversas diásporas, num mundo globalizado, apenas se consolidará perante a
aplicação e aprofundamento do Acordo Ortográfico para a Língua Portuguesa.” Ora aqui está um achado da mais pura demagogia.
Só um acordo ortográfico sustenta os laços históricos que nos unem? Seremos
assim tão desgraçados, na dependência deste misérrimo papelinho?
Mas
se Cegonho, ao querer
dar um ar da sua graça, mais não fez do que sublinhar a desgraça a que estamos
entregues com tais “argumentos”, a deputada do PSD foi ainda mais longe nos devaneios pró-acordistas, ao
arrepio do programa eleitoral do seu partido. Fernanda Velez veio repetir o velho diapasão que tanto alegrou os
adeptos (ou serão “adetos”?) do acordo ainda nos primeiros tempos de ilusões. Disse ela, depois de recitar um breve (e
desnecessário) historial: “As motivações que levaram à
assinatura deste acordo foram essencialmente políticas e económicas, tendentes
à afirmação e projecção da língua portuguesa num mundo cada vez mais global. De
facto, a língua portuguesa, para se impor como língua de comunicação, de
cultura, de ciência e de negócios, carece de uma uniformização ortográfica.” Céus! Parecia uma sessão espírita, comandada
pelo fantasma de Malaca Casteleiro! A deputada
socorreu-se até, para justificar as suas posições, de uma citação de Rolf
Kemmler, um dos cruzados do acordo. Para chegar a esta pérola de erudição: “Se
compararmos o português falado e escrito por Almeida Garrett ou por Eça de
Queiroz perceberemos muitas diferenças lexicais, sintácticas, fonéticas e
ortográficas. Algumas dessas diferenças resultaram de evoluções naturais, fruto
de alterações históricas e sociais; outras, pelo contrário, foram alterações
trazidas por reformas ortográficas.”
Importa-se de repetir? Alguém vivo terá ouvido o “português falado”
de Garrett ou Eça? Por que
extraordinária via? Viagem no tempo? Fita magnética? Cassetes? Cartuchos?
Confirmou-se a sessão espírita, a ouvir vozes do outro mundo. Só que, voltando
à Terra, Fernanda Velez não tinha nada de novo a dizer. Reconheceu que nos grupos de trabalho parlamentares sobre o tema “foram
suscitadas insuficiências, incoerências e obstáculos na sua [do acordo]
aplicação e utilização”, mas acrescentou isto, que vale a pena citar na íntegra
e sem interrupções:
“Nas
conclusões desses grupos de trabalho ficou igualmente expressa a posição de
quem defende que o acordo deve continuar a seguir o seu caminho normal até à
sua efectiva e generalizada implementação, por considerarem que estamos perante
um acordo que corresponde a um compromisso livremente assumido por oito
estados, porque é um facto político e socialmente estabelecido [sic],
encontrando-se a sua implementação em curso acelerado e que envolveu um longo
período negocial de natureza diplomática, no respeito pelas normas legais,
convenções diplomáticas e salvaguarda das boas relações entre estados. Do ponto
de vista educativo, ao invés do que afirma a iniciativa em discussão, o acordo
está a ser aplicado com normalidade no sistema educativo, as novas regras com
grafia simplificada e aproximada da fala trazem mais facilidades e vantagens à
aprendizagem do português. Há uma geração que já aprendeu segundo as novas
regras, pelo que a reversão do acordo não faria qualquer sentido para os
milhares de jovens cuja escolarização se iniciou após a sua entrada em vigor,
não sendo verdade que se estejam a verificar mais erros ortográficos no sistema
de ensino português. As vantagens pedagógicas são reais, com a adopção [decerto
ela terá escrito “adoção”, lendo “adòção” onde outros já vão lendo,
paulatinamente, “adução”] de uma norma ortográfica comum e a consequente
redução de divergências ortográficas. Há uma geração que aceita a nova
ortografia como norma única e incontornável no âmbito da sua carreira escolar e
universitária. Suspender a aplicação deste acordo ortográfico seria um passo
irresponsável com consequências graves, sobretudo para os milhares de jovens cuja
escolarização se iniciou depois da sua entrada em vigor.” Concluindo: “Entende
o grupo parlamentar do PSD que não faz qualquer sentido, e seria mesmo
contraproducente, a suspensão do Acordo Ortográfico de 1990. Insistir na
eventual suspensão deste acordo implica criar um cenário de profunda
desestabilização das normas ortográficas e ao mesmo tempo criar um clima de
confusão numa matéria que, apesar de alguma controvérsia, vive hoje um clima de
normalidade.”
A
citação é longa, mas útil. A primeira dúvida que nos assalta é: quem
terá escrito ou inspirado tamanho arrazoado? Malaca Casteleiro, do Além? Rolf
Kemmler? Augusto Santos Silva? A segunda
dúvida é saber se a senhora deputada (que até será professora de profissão,
segundo a biografia resumida publicada na AR) vive neste nosso mundo. Porque o
“clima de confusão” e a “profunda desestabilização” na ortografia, sobretudo em
Portugal mas também no Brasil ou nos países (e são mesmo poucos) que se
aventuram na misturada a que chamaram “nova norma”, foram gerados pelo próprio
Acordo Ortográfico de 1990, como já por milhentas vezes foi demonstrado. Ignorar isto é viver naquelas “verdades”
inventadas pelos populistas para criar os seus mundos paralelos onde tudo está
bem, apesar de o mundo real nos garantir (e demonstrar) que esse “bem” é, na
verdade, um mal. O “clima de
normalidade” de que fala a deputada só pode ser entendido como anedota,
pois nem no próprio parlamento o dito acordo é compreendido ou sequer
justificado, a não ser pelo argumento de que “tem de ser”. Desmontar
os pretensos argumentos de Fernanda Velez, que tanto devem ter agradado aos cruzados do acordo
(e que, suponho, devem ter espantado vários sociais-democratas que têm deste
assunto uma opinião diametralmente oposta), ocuparia milhares de caracteres.
Mas,
voltando ao planeta Terra e ao que está verdadeiramente em discussão, talvez ajudem
as palavras da deputada Mariana Silva, do PEV, a fechar a sessão, já
que é abusivo chamar debate a uma simples explanação de
posições sem contraditório, como aqui
sucedeu [mantém-se a oralidade na transcrição do áudio do debate]: “Apesar de
esta questão já ter sido discutida nas anteriores legislaturas, como foi já
dito, sabemos por exemplo que a quase totalidade dos pareceres sobre
o Acordo Ortográfico de 1990 foram negativos. De 27 pareceres solicitados, 25
foram negativos, que foram ignorados e nunca foram discutidos seriamente. Saliente-se ainda que este acordo foi
preparado em debates alheios à população e às comunidades académicas e
literárias, sem ter em conta grande parte dos contributos que foram elaborados.
Além disso, o período de transição deveria ter permitido uma avaliação dos
impactos, das lacunas, das vantagens e desvantagens, mas também da sua
receptividade. Isso não sucedeu, desperdiçando-se a oportunidade de estudar e
acompanhar a sua implementação. Assim Os
Verdes recomendam, com a presente iniciativa – e, senhora deputada Fernanda
Velez, não leu o projecto, porque ninguém pediu para que fosse suspenso o
acordo, e passo a citar, porque até pode ser que o PSD mude de opinião [e leu o
que já sabemos e foi transcrito no início deste artigo]. A língua é viva,
senhora deputada, e há sempre oportunidade de nos corrigirmos.”
Haverá?
Os defensores do AO90 negam-na. O
que está, está. Num “clima de normalidade”, para quê “desestabilizar”, hã? Com
as intervenções a cargo do PEV (o proponente), do CDS-PP, do PCP, do BE, do PS
e do PSD, o Projecto de Resolução 533/XIV foi derrotado. Contra, votaram o PS, o PSD e o BE (embora este voto só tenha sido anunciado depois de Edite
Estrela, então a dirigir os debates no lugar de
Ferro Rodrigues, ler os resultados, o que deu a impressão de uma emenda à
pressa, talvez para corrigir o discurso crítico da deputada que interveio); a
favor, todos os restantes: PEV,
PAN, PCP, CDS-PP, Iniciativa Liberal e as deputadas não-inscritas Joacine Katar
Moreira (ex-Livre) e Cristina Rodrigues (ex-PAN). Isto
numa sessão onde foram votados 12 projectos de resolução, nove projectos de lei
e três petições.
Lições? As mesmas de petições, projectos e
votações anteriores. O
PS, no governo, assumiu o Acordo Ortográfico como propriedade sua, embora não
deva haver um só dos seus dirigentes ou militantes que o saiba explicar ou
justificar cabalmente. O PSD, apesar das intenções em contrário
(expressas no programa eleitoral de 2019, mas também em posições que já vinham
do tempo de Passos Coelho, que à data se mostrou adversário do AO90), aliou-se
agora ao PS com argumentos que mais não fazem do que decalcar a velha cartilha
acordista. Talvez seja um sinal do renascimento de um “bloco central”, neste
caso assente na mais pura ignorância e má-fé.
Mesmo
assim, não haverá paz neste tema. As
pedras podem ser duras, mas a água vence-as sempre. E água, no Acordo
Ortográfico, é coisa que não falta. Uma coisa é certa: no dia em que alguém
responsável olhar com olhos de ver para o que este acordo comporta e
proporciona, rasgá-lo-á. E nessa altura Portugal, Brasil, Angola, Moçambique,
Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste (a Guiné Equatorial não é para aqui
chamada, porque o português só artificialmente é ali brandido como “língua
oficial”) poderão enfim trabalhar em conjunto nas variedades do português que
as respectivas sociedades e culturas desenvolveram através dos anos. Com
respeito mútuo e sem acordos demagógica e falsamente unificadores.
mzeabranches INICIANTE: É isso mesmo, mais uma exibição do "bloco
central" da ignorância e da prepotência! Mas basta ler o texto do AO90 e
respectiva Nota Explicativa - desde que se saiba o que é uma língua e se
conheça minimamente a nossa - para perceber que não tem a mínima razão de ser e
que o que propõe é linguisticamente indefensável! Para já não falar das graves
e visíveis consequências da sua aplicação e da destruição em curso do esforço
de alfabetização nacional realizado nas últimas décadas. Além de tudo isto, é a
democracia que está em causa: todo o processo político que, desde o início e na
sombra, envolveu a negociação deste AO90, até à sua imposição arbitrária aos
portugueses e à manifesta incapacidade de ouvir os cidadãos e reconhecer a
necessidade de rever a situação e reparar os danos causados.
maivone.897019 INICIANTE: Abriu-se caminho para cada um escrever como lhe
parecer melhor, porque frequentemente não se compreende a regra. Pior vai ser a
repercussão na língua falada que já se vai fazendo sentir por todo o lado.
16.01.2021
mariaestela.rodriguesmartins EXPERIENTE: Sempre fui contra o que denomino de
"DesAcordo" Ortográfico. Como eu, existem milhares de portugueses que
continuam a escrever à moda antiga. Infelizmente, a leitura diária de jornais,
artigos, livros, maioritariamente escritos de acordo com o AO90, conseguiu
baralhar-me a cabeça. E se antes não escrevia com erros ortográficos, agora dou
por mim a hesitar sobre a forma de escrever e/ou acentuar muitas palavras. Em
conclusão, acredito que os textos que tenho frequentemente que escrever estejam
cheios de erros e não batam certo, nem com o antes, nem com o pós AO90. Imagino
que não sou a única, e que haverá muitos portugueses a sentirem essa
dificuldade.
Colete Amarelo EXPERIENTE: Terá que estudar o acordo, depois será fácil. Se o
acordo for recebido negativamente será mais difícil a adaptação. Muitas pessoas
têm uma atitude negativa em relação ao acordo porque a passagem dá trabalho e é
incómodo.
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