Não devem estar pelos ajustes, atidas ao
princípio de “Le roi est mort, vive le roi”.
Mas admiro a coragem de Salles da
Fonseca em pretender manter uma chama cultural que tende, naturalmente à sua extinção
numa Índia soberana.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 20.01.21
O Estado Português da Índia existiu
desde 1510 a finais de 1961. Foram 451 anos de convivência intercultural a que
deveremos acrescer os anos que antecederam a criação oficial do referido Estado
e os anos que já decorreram desde a sua extinção de facto até ao presente. São,
praticamente, cinco séculos de intercâmbio cultural cuja realidade global deve ser
reconhecida como verdadeiro Património da Humanidade tanto na vertente material
como na imaterial.
Arquitectura, religião, língua, mobiliário, medicina, literatura,
pintura, música, enfim, todas as vertentes da intelectualidade e da cultura
popular.
A cultura indo-portuguesa
consubstancia um estilo de vida que traduz uma Civilização híbrida de grande
mérito dentro e fora do subcontinente hindustânico. São inúmeras as
personalidades oriundas desse estrato civilizacional que ao longo da História
se elevaram aos mais altos postos das hierarquias indiana e portuguesa. Por exemplo, Jorge Fernandes que foi Ministro da Defesa
da Índia de 2001 a 2004 e António Costa que é o actual Primeiro Ministro de
Portugal.
Mas esta cultura vem desaparecendo
porque as vicissitudes da História puseram fim à presença da Administração
Portuguesa, porque os indo-portugueses vêm emigrando e porque o espaço assim
deixado vago vai sendo preenchido por quem não se sente ligado a essa tradição
cultural. Mesmo a Igreja Católica se apressou a substituir a língua portuguesa
pela inglesa nas suas celebrações e esse foi, só por si, um golpe da maior
gravidade na coesão da cultura indo-portuguesa. Como se a luta do Mahatma
Gandhi contra os ingleses tivesse sido vã.
Não é compreensível pedir agora
ao Patriarca do Oriente, Arcebispo de Goa, que decrete o regresso do seu
Patriarcado à língua portuguesa. Mais lógico
seria que regressasse ao concanim românico nas suas celebrações diárias em Goa
mas não será absurdo pedir-lhe que introduza no Seminário de Rachol uma aula
de português para que futuramente se possa celebrar em português uma vez por
semana nas igrejas de Goa, Damão, Dadra, Nagar Haveli, Diu, Baçaim, na de
Korlai pois que Chaul já morreu e nas do Kerala onde em Cochim continua uma grande
peregrinação ao túmulo vazio de Vasco da Gama na igreja de São Francisco. São
muitos os indianos que balbuciam as suas orações em português e que com
dificuldade aceitam o desprezo linguístico da sua Igreja.
Entretanto, a Universidade de Goa acolheu o Instituto Camões e ali se
ministra a didáctica da língua portuguesa aos futuros professores. Este é um
trabalho ciclópico a que não poupo louvores.
Conjuntamente com a delegação do mesmo Instituto em Delhi, estão lançados os
fundamentos para uma Associação Cultural dos Professores de Português
da Índia cuja constituição aqui deixo sugerida
aos meus amigos Catarina Índia e
Ajay Prazad.
Assim nasceu a Sociedade de Amizade
Indo-Portuguesa, Goa (Indo-Portuguese Friendship Society, Goa) que, pela mão do
saudoso Dr. Jorge Fernandes, vem
desempenhando um papel da maior relevância no estreitamento das relações de
amizade entre os dois países, ou seja, entre as duas culturas. O mesmo é dizer
que vêm preservando a cultura indo-portuguesa.
Falta
que em Damão-Silvasssa e em Diu os lusófilos se associem de modo semelhante em Sociedades
de Amizade Indo-Portuguesa, recrutem professores indianos de língua portuguesa
e preservem desse modo a identidade civilizacional que os distingue a nível
mundial.
Se poderes públicos ajudarem, tanto
melhor; caso não, as gentes que salvem a sua própria Cultura.
Henrique
Salles da Fonseca
COMENTÁRIOS:
Henrique Salles da Fonseca 21.01.2021: Concordo, em
princípio, com a reflexão sobre a Cultura Indo-Portuguesa. No entanto, todas
as Instituições Portuguesas se concentram em Goa: quer o Instituto Camões,
quer a Fundação Oriente não falando já no Consulado de Portugal em Goa. E, em
DIU e Damão que mais necessitam de apoio oficial: zero! Nada.... Prakash
Jaiantilal (Lisboa - Diu
Henrique Salles da Fonseca 21.01.2021 Muito obrigado, Henrique, pelo seu blog “Cultura
Indo-Portuguesa”. Mesmo se não é possível fazer marcha à ré para recapturar
o terreno perdido, é mister utilizar o que ainda temos como base para
desenvolver a presença da língua e cultura portuguesa no antigo Estado da
Índia. Além das iniciativas já presentes, a que o Sr. aludiu, podíamos
explorar a possibilidade de juntarmos ao CPLP (Comunidade dos Países da
Língua Portuguesa) a título de Observador. Sei que os membros são países
soberanos e que têm o Português como sua língua oficial. Para satisfazer o
primeiro critério o assento de Observador será á Índia e não ao Estado de Goa
(evitamos assim incidentes diplomáticos); não haveria inconveniente nisso visto
o desiderato é o estabelecimento de contactos com os Países da Língua
Portuguesa, um factor que, creio, dará um impulso sério para a continuação e
fomento da cultura Portuguesa em Goa e no resto da Índia. Naturalmente, a
sede da actividade deverá ser em Goa, visto as condições serem as mais
favoráveis por razões históricas. Gostaria de saber o que o Sr. e os
colegas do SPG pensam. Mas antes de terminar, muitíssimo obrigado por pelejar
a favor deste torrão por quem tanto estremecemos. António
Fonseca (Goa)
Henrique Salles da Fonseca 21.01.2021: A Nação
Goesa tornou-se uma babilónia, logo que em Goa foi içada a bandeira tricolor em
1961 e a língua portuguesa foi substituída pela língua inglesa e hindi. Perdeu o sentido da vida face à força das bestas
e dragões que medram à partir da ONU, proclamando a descolonização dos povos,
como se a colonização não fosse o pão de cada dia do homem. Apenas cito um
exemplo: os arianos que invadiram a Europa do W e a Ásia e os
povos do norte da Índia, dando cabo da cultura dravidiana e formando mais tarde
as castas, assentando-se eles na casta brâmane. Actualmente os goeses em Goa são de dois tipos
essencialmente, goeses nativos muitos deles já indianizados e goeses
naturalizados, estes radicados vindos da Índia e que ocupam as posições
administrativas no Governo Central e no Governo local ao lado dos goeses
indianizados ou colonizados pelos novos senhores conquistadores da antiga Nação
Goesa. O Nehru dizia que a Nação Goesa era uma borbulha muito pequenina na cara da
Índia e que facilmente seria com o tempo através duma revolução silenciosa e
contínua e de modo democrático expurgada e teve razão passados estes 60 anos. Entre mortos e feridos uns morrem e outros ficam e Nação
Goesa parece que já morreu, e prova disso os goeses, já indianizados, não
conseguem ler os seus arquivos históricos e administrativos a não ser através
de traduções em inglês. Com os melhores cumprimentos e saúde neste conturbado
mundo global infectado. A Bem da Nação. Ganganeli José Júlio Pereira (Goa)
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