sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

As gerações mais jovens


Não devem estar pelos ajustes, atidas ao princípio de “Le roi est mort, vive le roi”. Mas admiro a coragem de Salles da Fonseca em pretender manter uma chama cultural que tende, naturalmente à sua extinção numa Índia soberana.

CULTURA INDO-PORTUGUESA

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 20.01.21

O Estado Português da Índia existiu desde 1510 a finais de 1961. Foram 451 anos de convivência intercultural a que deveremos acrescer os anos que antecederam a criação oficial do referido Estado e os anos que já decorreram desde a sua extinção de facto até ao presente. São, praticamente, cinco séculos de intercâmbio cultural cuja realidade global deve ser reconhecida como verdadeiro Património da Humanidade tanto na vertente material como na imaterial.

Arquitectura, religião, língua, mobiliário, medicina, literatura, pintura, música, enfim, todas as vertentes da intelectualidade e da cultura popular.

A cultura indo-portuguesa consubstancia um estilo de vida que traduz uma Civilização híbrida de grande mérito dentro e fora do subcontinente hindustânico. São inúmeras as personalidades oriundas desse estrato civilizacional que ao longo da História se elevaram aos mais altos postos das hierarquias indiana e portuguesa. Por exemplo, Jorge Fernandes que foi Ministro da Defesa da Índia de 2001 a 2004 e António Costa que é o actual Primeiro Ministro de Portugal.

Mas esta cultura vem desaparecendo porque as vicissitudes da História puseram fim à presença da Administração Portuguesa, porque os indo-portugueses vêm emigrando e porque o espaço assim deixado vago vai sendo preenchido por quem não se sente ligado a essa tradição cultural. Mesmo a Igreja Católica se apressou a substituir a língua portuguesa pela inglesa nas suas celebrações e esse foi, só por si, um golpe da maior gravidade na coesão da cultura indo-portuguesa. Como se a luta do Mahatma Gandhi contra os ingleses tivesse sido vã.

Não é compreensível pedir agora ao Patriarca do Oriente, Arcebispo de Goa, que decrete o regresso do seu Patriarcado à língua portuguesa. Mais lógico seria que regressasse ao concanim românico nas suas celebrações diárias em Goa mas não será absurdo pedir-lhe que introduza no Seminário de Rachol uma aula de português para que futuramente se possa celebrar em português uma vez por semana nas igrejas de Goa, Damão, Dadra, Nagar Haveli, Diu, Baçaim, na de Korlai pois que Chaul já morreu e nas do Kerala onde em Cochim continua uma grande peregrinação ao túmulo vazio de Vasco da Gama na igreja de São Francisco. São muitos os indianos que balbuciam as suas orações em português e que com dificuldade aceitam o desprezo linguístico da sua Igreja.

Entretanto, a Universidade de Goa acolheu o Instituto Camões e ali se ministra a didáctica da língua portuguesa aos futuros professores. Este é um trabalho ciclópico a que não poupo louvores. Conjuntamente com a delegação do mesmo Instituto em Delhi, estão lançados os fundamentos para uma Associação Cultural dos Professores de Português da Índia cuja constituição aqui deixo sugerida aos meus amigos Catarina Índia e Ajay Prazad.

Assim nasceu a Sociedade de Amizade Indo-Portuguesa, Goa (Indo-Portuguese Friendship Society, Goa) que, pela mão do saudoso Dr. Jorge Fernandes, vem desempenhando um papel da maior relevância no estreitamento das relações de amizade entre os dois países, ou seja, entre as duas culturas. O mesmo é dizer que vêm preservando a cultura indo-portuguesa.

Falta que em Damão-Silvasssa e em Diu os lusófilos se associem de modo semelhante em Sociedades de Amizade Indo-Portuguesa, recrutem professores indianos de língua portuguesa e preservem desse modo a identidade civilizacional que os distingue a nível mundial.

Se poderes públicos ajudarem, tanto melhor; caso não, as gentes que salvem a sua própria Cultura.

Henrique Salles da Fonseca

COMENTÁRIOS:

Henrique Salles da Fonseca 21.01.2021: Concordo, em princípio, com a reflexão sobre a Cultura Indo-Portuguesa. No entanto, todas as Instituições Portuguesas se concentram em Goa: quer o Instituto Camões, quer a Fundação Oriente não falando já no Consulado de Portugal em Goa. E, em DIU e Damão que mais necessitam de apoio oficial: zero! Nada.... Prakash Jaiantilal (Lisboa - Diu

Henrique Salles da Fonseca 21.01.2021 Muito obrigado, Henrique, pelo seu blog “Cultura Indo-Portuguesa”. Mesmo se não é possível fazer marcha à ré para recapturar o terreno perdido, é mister utilizar o que ainda temos como base para desenvolver a presença da língua e cultura portuguesa no antigo Estado da Índia. Além das iniciativas já presentes, a que o Sr. aludiu, podíamos explorar a possibilidade de juntarmos ao CPLP (Comunidade dos Países da Língua Portuguesa) a título de Observador. Sei que os membros são países soberanos e que têm o Português como sua língua oficial. Para satisfazer o primeiro critério o assento de Observador será á Índia e não ao Estado de Goa (evitamos assim incidentes diplomáticos); não haveria inconveniente nisso visto o desiderato é o estabelecimento de contactos com os Países da Língua Portuguesa, um factor que, creio, dará um impulso sério para a continuação e fomento da cultura Portuguesa em Goa e no resto da Índia. Naturalmente, a sede da actividade deverá ser em Goa, visto as condições serem as mais favoráveis por razões históricas. Gostaria de saber o que o Sr. e os colegas do SPG pensam. Mas antes de terminar, muitíssimo obrigado por pelejar a favor deste torrão por quem tanto estremecemos. António Fonseca (Goa)

Henrique Salles da Fonseca 21.01.2021: A Nação Goesa tornou-se uma babilónia, logo que em Goa foi içada a bandeira tricolor em 1961 e a língua portuguesa foi substituída pela língua inglesa e hindi. Perdeu o sentido da vida face à força das bestas e dragões que medram à partir da ONU, proclamando a descolonização dos povos, como se a colonização não fosse o pão de cada dia do homem. Apenas cito um exemplo: os arianos que invadiram a Europa do W e a Ásia e os povos do norte da Índia, dando cabo da cultura dravidiana e formando mais tarde as castas, assentando-se eles na casta brâmane. Actualmente os goeses em Goa são de dois tipos essencialmente, goeses nativos muitos deles já indianizados e goeses naturalizados, estes radicados vindos da Índia e que ocupam as posições administrativas no Governo Central e no Governo local ao lado dos goeses indianizados ou colonizados pelos novos senhores conquistadores da antiga Nação Goesa. O Nehru dizia que a Nação Goesa  era uma borbulha muito pequenina na cara da Índia e que facilmente seria com o tempo através duma revolução silenciosa e contínua e de modo democrático expurgada e teve razão passados estes 60 anos. Entre mortos e feridos uns morrem e outros ficam e Nação Goesa parece que já morreu, e prova disso os goeses, já indianizados, não conseguem ler os seus arquivos históricos e administrativos a não ser através de traduções em inglês. Com os melhores cumprimentos e saúde neste conturbado mundo global infectado. A Bem da Nação. Ganganeli José Júlio Pereira (Goa)

 

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