Os que não apoiam Jaime Nogueira Pinto por pertencerem,
naturalmente, ao grupo que este bem descreve, dos comentadores e analistas hipócritas
que empolam os desacatos do assalto ao Capitólio, embora convivam perfeitamente
com outros desacatos perpetrados nestes tempos arruaceiros de gente em demanda de
direitos pela força irracional da destruição. Jaime Nogueira Pinto não se deixa impressionar por esses tais artífices do
empolamento por conveniência do politicamente correcto, pois sabe bem o que diz
quando refere os aspectos positivos de governação de um homem a quem aponta os bastos defeitos de actuação, extraordinariamente reveladores de uma
educação caprichosa e mimalha, as mais das vezes caricata, mas não destituída
de humanidade, como se viu nesses aspectos resumidos por JNP:« trouxe de volta para a América muitas empresas e
empregos; conteve o crescente poder chinês; obrigou os Europeus a contribuir
para a Defesa; e ao contrário das administrações anteriores, não iniciou novas
guerras no exterior. Internamente, defendeu as causas da vida e da família,
combateu o aborto e os novos inquisidores da correcção política; trouxe mais
eleitores latinos e negros para o campo republicano; nomeou juízes
conservadores para o Supremo Tribunal e, no seu tempo, o desemprego atingiu
mínimos históricos.»
Jaime Nogueira Pinto, não receia
as críticas dos que seguem, subservientemente ou não, a norma vencedora – onde é
que eu já vi disto? – Jaime Nogueira
Pinto é, sim, um homem corajoso e sério e culto, que sabe bem o que diz. Sem medos.
Sempre soube.
Donald Trump e a força das coisas /premium
E não era sequer pelos
seus espalhafatosos defeitos que o contestavam. Contestavam-no por ter tentado
assumir, com sucesso popular, uma agenda nacional-conservadora.
JAIME NOGUEIRA
PINTO OBSERVADOR, 15 jan 2021
O
lamentável espectáculo de Quarta-Feira, 6 de Janeiro, no Capitólio de
Washington, marcou o fim da presidência de Donald Trump com um triste balanço
humano – quatro manifestantes mortos pela Polícia e um polícia morto. E
interrompeu a sessão em que os congressistas ainda com dúvidas sobre resultados
eleitorais iriam, pela última vez, apresentá-las. Um dia talvez venhamos a
saber tudo sobre esta eleição e sobre esta grotesca intentona, com centenas de rednecks
e partidários de Trump a invadirem o Capitólio, primeiro como se fosse uma
pacífica visita guiada, com conivência da segurança, depois como se fosse um
assalto.
Deixou já de me impressionar a hipocrisia dos comentadores e
analistas que, ao longo do ano, foram vendo Antifas e BLMs a vandalizar e a
destruir estátuas, a saquear lojas, a ameaçar adversários políticos, a disparar
sobre polícias, silenciando ou desculpando os episódios como “a justa revolta
dos injustiçados”. Agora, que já não só podem como até devem dar largas à
indignação, mostram-se, previsivelmente, indignadíssimos com “a cólera dos
deploráveis” e falam de sacrilégio no ataque ao “Templo da Democracia”.
Já
sabemos que têm dois pesos e duas medidas e que passaram a defender com
argumentos “éticos”, ainda
mais simplistas e populistas que os do outro lado, a supressão da liberdade de
expressão pelos idóneos e desinteressados senhores da Big Tech.
O clima de radicalização ideológica e
política nos Estados Unidos atingiu um grau nunca alcançado no pós-guerra.
Seria preciso recuar até às polémicas sobre a intervenção na Segunda Guerra,
nas vésperas de Pearl Harbour, e mesmo aí a divisão não era tão
profunda.
O Culpado
Trump foi, desde a primeira hora da sua eleição,
deslegitimado por parte do Partido Democrata, pela generalidade dos media e pela rua progressista. A
“grande fraude eleitoral”, a suposta
“Russian Connection”, da qual
nunca houve prova, foi levada muito a sério e amplamente noticiada e
explorada para ensombrar a legitimidade do novo Presidente. E veio a tentativa
de Impeachment.
Aparentemente, nada disto revelava
então “não-aceitação dos resultados eleitorais”, “mau perder” ou “atentado à
Democracia”. Nada a ver
com o que depois se passaria. Depois, sim, haveria não-aceitação,
mau-perder e atentado à Democracia; depois sim, o facto de mais de metade dos
eleitores republicanos desconfiarem da integridade da votação e da contagem dos
votos seria já ridículo e desprovido de qualquer sentido. Os media tinham proclamado a vitória do duo
Biden-Harris, muito antes de 14 de Dezembro, dia da votação do Colégio
Eleitoral, e isso encerrava e selava o assunto. Não haveria nem poderia haver
mais discussão.
A Esquerda sempre foi hábil na imputação de responsabilidades e o
culpado da divisão na América, o único culpado, o culpado de tudo, fora, era e
seria Trump e só Trump.
E
não era sequer pelos seus espalhafatosos defeitos – narcisismo, falta de bases doutrinárias,
agressividade, incontinência verbal – que
o contestavam. Contestavam-no
por ter tentado assumir, com sucesso popular, uma agenda nacional-conservadora. Agenda que anteriormente até lhe era estranha: America First, defesa da vida, combate aos
fundamentalistas do globalismo, defesa de uma identidade americana e da
liberdade de pensamento e de expressão. Foi
isso essencialmente que o tornou o alvo de uma guerra sem quartel. Por cá, até
chegaram a sugerir que se suicidasse (a eutanásia surge cada vez mais como um excelente instrumento para
acabar com os deploráveis, os inúteis e os indesejáveis).
Os Anos de Trump
O
balanço dos anos de Trump é misto e, nalguns pontos, foi mais o que disse
que o que fez – o famoso muro México-Estados Unidos teve mais quilómetros construídos durante a
Administração Obama que durante os quatro anos de Trump. Mas noutras coisas Trump pregou e cumpriu a agenda
nacional-conservadora: trouxe
de volta para a América muitas empresas e empregos; conteve o crescente poder
chinês; obrigou os Europeus a contribuir para a Defesa; e ao contrário das
administrações anteriores, não iniciou novas guerras no exterior. Internamente,
defendeu as causas da vida e da família, combateu o aborto e os novos
inquisidores da correcção política; trouxe mais eleitores latinos e negros para
o campo republicano; nomeou juízes conservadores para o Supremo Tribunal e, no
seu tempo, o desemprego atingiu mínimos históricos.
Provocação e Reacção
Mas
então porquê este fim inglório, quando, com razão ou sem ela, o Presidente
persistiu nas reclamações sobre a idoneidade da eleição contra a força das
coisas e a ponderação dos riscos e das desvantagens que isso lhe poderia trazer
e ao seu Partido? Porquê este encarniçamento que acabou por ser suicida? Porque Trump, aparentemente, não
pondera, só reage aos provocadores e à provocação. E reage em excesso.
Na América – como em Portugal e mesmo na generalidade dos
países europeus – a reacção popular às grandes linhas da globalização político-económica, ao ideário da
correcção política e ao apoderamento da opinião e do sistema por “vanguardas”
interessadas, é, por enquanto, só isso: essencialmente reactiva. É a
antítese, a negação de um discurso que se quer impor como discurso único. E nesse discurso coincidem os bilionários
da Big Tech, grande
parte dos académicos e dos comentadores, quase
todos os noticiaristas (agora autopromovidos a pensadores
políticos) e os activistas Antifas e seus equivalentes europeus. Uns, porque ganham muito dinheiro, mais ainda que o
que já ganhavam; outros porque impõem as suas ideias sobre o homem e o Estado
ou porque vão com a maré; outros ainda porque passam por heróis, a derrubar ou
a vandalizar estátuas de “fascistas”, como Abraham Lincoln ou como o Padre
António Vieira. O apetite do lucro de uns junta-se ao zelotismo utópico ou ao
instinto de saque de outros. E à ignorância e ao simplismo populismo de quase
todos.
A Força das Coisas
Também
a Trump, que
derrotou os tradicionais conservadores do Partido Republicano – de
Jeb Bush e Marco Rubio a Ted Cruz – e se
apoderou do lugar e da agenda deles, lhe faltou sempre aquele substrato de
convicções e de princípios profundos, que vem das ideias e das concepções de
vida de longa-duração. Talvez por isso, e por temperamento e circunstância,
não tenha percebido que, a partir de um certo momento, não valia a pena
persistir, mesmo com razão, numa batalha que a força das coisas já tornara
perdida. A partir do resultado consagrado pelos poderes deste mundo na eleição
presidencial o que passava a estar em jogo era conservar a maioria no Senado.
No
momento em que o Presidente se afastasse, deixando o que houvesse a decidir aos
tribunais, a coligação anti-Trump que elegeu Biden desmobilizava. Com a sua insistência, usando o peso da
popularidade entre o eleitorado republicano, e com o seu pouco ou nulo empenho
na campanha senatorial da Geórgia, os Republicanos acabaram por perder dois
senadores, perdendo assim a maioria no Senado. O Partido
Republicano que Trump ajudou a construir, um
partido mais popular, mais baixa classe média e trabalhadora, mais chegado aos
latinos e aos negros, era um bloco de 74 milhões de eleitores, face a uma
coligação negativa que ia dos megabilionários de Silicon Valley – e de outros
vales – aos Antifas, passando, claro, pelos novos “cabeças de ovo” da Academia
e dos media, habituados, como bons puritanos, a justificar os próprios excessos
pela bondade das suas causas e a demonizar e perseguir o inimigo, as suas
causas e os seus excessos. A invasão do Capitólio por adeptos de
Trump serviu-lhes na perfeição para confirmar e justificar a estratégia de Redutio
ad Hitlerum que há muito prosseguiam.
A Urgência de uma Trégua
Fez
falta a Trump a formação, a base doutrinária e ideológica e o entendimento de
que a luta política, como
qualquer conflito, tem essencialmente que ver com unir e reunir os
Amigos e dividir os Inimigos. O novo
Partido Republicano, com a sua mistura étnica e social, era uma força que,
além de poder ter ganho o Senado na Geórgia, iria com certeza ter uma
retumbante vitória nas próximas eleições para os Representantes. Já não será
bem assim.
A
principal urgência da América, neste momento, é reconhecer o fosso aberto entre
“o povo de Trump” e o “povo anti-Trump”, negociar uma trégua e ir depois,
progressivamente, restaurando um espaço comum.
Mas há muito quem, pelas melhores e piores razões, não queira que
isso aconteça:
No campo de Trump, há os
que se acham vítimas de uma fraude gigantesca e querem repará-la,
deslegitimando Biden ou fazendo-lhe o que muitos dos que agora o apoiam fizeram
a Trump desde o princípio do mandato.
Do lado dos Democratas há os que
querem perseguir Trump para o punirem, e assim pôr fim à diabólica origem de
todos os males. Ou os que, mais sofisticados, querem persegui-lo para o
obrigarem a ficar na política e a usar a sua popularidade nas bases
republicanas para pressionar o partido e as suas cúpulas, dividindo-o entre
pró-Trump e anti-Trump – e condenando-o assim a uma longa marcha pelo deserto.
E há Trump. Se o
Presidente se afastar voluntariamente (o que é uma incógnita) e deixar
acontecer dentro do partido uma sucessão natural que beneficie da dinâmica
popular criada em torno dos valores e dos princípios do nacionalismo
conservador norte-americano, valores cristãos, patrióticos, familiares, de
liberdade económica temperada pela solidariedade, o Partido
Republicano poderá voltar a ter a força que teve
nos tempos da presidência de Ronald Reagan, quando, em plena Guerra Fria, a
América foi um farol de liberdade e força para o Mundo Livre.
Em 12 de Janeiro, o Vice-Presidente Mike Pence, em resposta a Nancy Pelosi, que a
oito dias do termo do mandato de Trump quer invocar, pela primeira vez na
História, o artigo 4º da 25ª Emenda à Constituição para pedir o Impeachment do
Presidente por incapacidade, escreveu que assim se abria um perigoso precedente
e se trilhava um caminho de vingança e castigo que não lhe parecia de todo
desejável: “Depois dos
terríveis acontecimentos da última semana, as energias da Administração estão
dirigidas para garantir uma transição ordeira. A Bíblia diz: “Para tudo há um momento e um tempo para cada
coisa que se deseja debaixo do céu … um tempo para curar, um tempo para
construir”. […] No meio de uma pandemia global, num momento de crise
económica para milhões de Americanos e perante os trágicos acontecimentos de 6
de Janeiro, o tempo é agora para nos unirmos, para nos curarmos.” São
palavras sábias e prudentes de um homem a que os mais radicais do seu partido
chamaram “traidor” mas que tem um passado de seriedade e coerência moral e
política. Talvez não
pudesse dizer outra coisa, mas também não havia outra coisa a dizer. Para
o bem e para o mal, o assunto está encerrado – como o próprio Trump já o
reconheceu. E para o bem de todos, no mundo que nos espera, é urgente que a
América seja uma nação forte e livre.
ESTADOS
UNIDOS DA AMÉRICA AMÉRICA MUNDO DONALD TRUMP
COMENTÁRIOS:
Jose Lima: Jaime Nogueira Pinto, parabéns pelo artigo. Mas não vá na narrativa
mentirosa da esquerda: sim , houve um fraude massiva e coordenada das eleições.
Sim , o assalto ao Capitólio foi um teatro orquestrado por agentes provocadores
do Antifa e BLM. Não se podem julgar Centenas de milhar de manifestantes pacíficos pelo
comportamento de algumas centenas. Sim o Trump em nenhum momento do discurso
incitou a violência. Sim as pessoas tinham o direito de protestar contra a
fraude. O teatro visa justificar a perseguição em curso. Lembre-se do 7 de
Setembro em Moçambique. Lembre Simango e Simeão. Muitas parecenças poderá
encontrar na estigmatização e perseguição que se seguiu. Até hoje. MaisUma ContaApagada: O que vai fazer agora a classe jornaleira sem o Trump
para criticarem todos os dias? lulu
lemon: muito boa análise da situação na América. Gil
Lourenço: Excelente texto! Obrigado! Ricardo Pereira: excelente como
sempre!! graças a Deus temos alguém como o Sr. em Portugal. Curiosamente a
maioria dos apoiantes de Trump que conheço (onde me incluo) são também os seus
maiores críticos! tal claridade e honestidade não existe à esquerda onde reina
a hipocrisia e a cegueira ideológica……………………………………………………………………
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