De João Marques Almeida sobre o conluio amigável entre o PR e o PM, aquele nas malhas deste, sem fazer ondas, este, perfeitamente como quer, entre as ajudas interesseiras da esquerda, e a defesa bem domada da direita por intermédio do PR, que joga ao centro, mas eu diria mais nele próprio. Tout va bien, como se pretende, fechando todos nós os olhos, quando assim não é. Como sempre iludindo, como nós gostamos, afinal, não aguerridos, passivos por conveniência própria, também, nas meias luzes ou meias tintas da nossa média visão, inimiga do esforço, mental e físico… Refilando sim, coisa passageira, no café da esquina. Mas preferimos o futebol, sem dúvida, para as disputas. Bom texto de João Marques de Almeida.
Presidente da República ou Rainha de Inglaterra?/premium
O Governo mente em Portugal e mente na
Europa. Este modo de exercer o poder ameaça a democracia e o Estado de Direito.
Marcelo sabe isto tão bem como todos nós. Deveria ser muito mais duro do que é.
JOÃO MARQUES DE
ALMEIDA Colunista do Observador
OBSERVADOR 06 jan
2021
Nos
debates que vi até ontem, Marcelo Rebelo de Sousa assumiu um papel de “Presidente Pai”. Foi muito
paternalista com Marisa Matias,
com Tiago Mayan e com João
Ferreira, mostrando paciência perante as
críticas e recorrendo, simultaneamente, a um tom educativo. Uma espécie de
combinação entre “Pai da nação” e “Professor dos candidatos”.
De
certo modo, o papel de candidato é ingrato para Marcelo Rebelo de Sousa. Durante
o dia é Presidente e à noite é candidato ao seu lugar. Ora, para lidar com o
incómodo, Marcelo decidiu ser “candidato” durante grande parte do dia, nos
contactos com os eleitores (mais frequentes do que os dos outros candidatos por
causa do exercício das funções presidenciais) e Presidente nos debates.
Tendo
decidido ser o mais presidencial possível nos debates, Marcelo tem sublinhado
várias vezes o seu contributo para a estabilidade. Até hoje, depois de três debates, a grande
contribuição de Marcelo parece ser a ajuda para manter a estabilidade. Bom,
o Estado Novo adorava estabilidade. A antiga União Soviética adorava
estabilidade. Dito de outro modo, a estabilidade não é necessariamente uma
virtude. Convém discutir o que é a estabilidade.
Se
a estabilidade significa não provocar golpes de Estado a partir de Belém, estou
inteiramente de acordo com o PR. Não compete ao Presidente arranjar pretextos
para derrubar governos. Nem Marcelo deve fazer alguma coisa para ajudar o PSD a
regressar ao poder. Um partido que precisa da ajuda do PR para chegar ao
Governo, não está preparado para governar, como se viu com os governos de
Sócrates. Espero que Marcelo Rebelo de Sousa nunca ajude a direita a regressar
ao poder. A direita só merece estar no Governo quando conquistar a confiança da
maioria dos portugueses.
Mas estabilidade não significa cumplicidade com o Governo em
matérias fundamentais para o nosso país.
E a cumplicidade, ou falta dela, não se medem pelo número de vetos
presidenciais a novas leis. A cumplicidade até seria irrelevante, se
Portugal estivesse na boa direcção. Mas não está e não tem nada a ver com a
pandemia. São males muito anteriores à Covid e que, muito provavelmente,
continuarão depois do fim da pandemia.
São
mesmo problemas muito graves. Há neste momento, em Portugal, uma
degradação da qualidade da democracia. O Governo mente por sistema. Não é de
vez em quando, é a regra. O lema deste Governo é mentir até ser apanhado e
recorrer a truques depois de ser apanhado. Foi assim com os incêndios, com
Tancos, com a substituição da Procuradora Geral da República, do Presidente do
Tribunal de Contas, com a morte do cidadão ucraniano no aeroporto de Lisboa e
agora com a nomeação do procurador europeu. No momento em que Portugal assumiu a Presidência do Conselho
da UE, o Governo reconheceu que mentiu às instituições europeias. Mente em
Portugal e mente na Europa. Este
modo de exercer o poder ameaça a democracia e o Estado de Direito. Marcelo
Rebelo de Sousa sabe isto tão bem como todos nós. Deveria ser muito mais duro
do que é. Em vez de se refugiar nas questões processuais, deveria dizer, muito
claramente, “a Ministra da Justiça não tem condições para continuar no cargo”.
Se for necessário, abre um conflito com o Governo. O PR não pode pactuar com um
Governo que engana por sistema. A qualidade da nossa democracia é muito mais
importante do que a estabilidade.
Os
nossos governos andam a prometer, há décadas, que Portugal vai convergir com a
Europa. A realidade é a oposta. Portugal está a divergir dos seus parceiros e
está cada vez mais pobre em termos relativos. Este empobrecimento nada tem a
ver com a Covid, nem com a crise financeira de há dez anos. Todos os países da
União Europeia passaram pelas mesmas experiências.
Portugal empobrece por causa das políticas económicas dos governos
socialistas desde o início deste século. Com o apoio das extremas esquerdas, a
situação vai piorar com o aumento dos ataques
à iniciativa privada e às empresas. Nos
debates com Marisa Matias e com João Ferreira, Marcelo Rebelo de Sousa foi
incapaz de defender a saúde privada com convicção. Tratou os
grupos privados de saúde como um apêndice do SNS. O PR sabe muito bem que o sector
privado é indispensável para a saúde e o bem-estar dos portugueses. Porque não
o diz? A saúde é um serviço que se presta aos portugueses. O sector privado
aumenta a qualidade, o profissionalismo e a competência dos serviços de saúde.
O objectivo deve ser aumentar a qualidade da saúde pública e não atacar a saúde
privada. Marcelo não o diz e assim dá
legitimidade aos ataques das esquerdas radicais aos grupos privados de saúde.
Mais uma vez, a saúde dos portugueses é mais importante do que a estabilidade
política.
Por fim, as extremas-esquerdas
têm uma agenda radical nos temas fracturantes. Isso
não tem nada a ver com os direitos das minorias, mas sim com ataques à família
e aos valores tradicionais. É uma estratégia revolucionária, não é uma defesa
de direitos. A fúria revolucionária é
tal, que insistem na lei da eutanásia no meio de uma pandemia que afecta
sobretudo as pessoas de idade. Obviamente, as questões não estão directamente
relacionadas, mas a sensibilidade humanista deveria colocar a eutanásia em
segundo plano enquanto se combate a Covid. Por que razão Marcelo Rebelo de Sousa não é capaz de dizer,
alto e com bom som, e mostrando o seu humanismo, para se adiar o tema da
eutanásia para depois da derrota da pandemia. Será mais uma vez por causa da
estabilidade? Ou a estabilidade é apenas o refúgio de quem foge de conflitos,
duros no plano pessoal, mas fundamentais para o futuro dos portugueses?
PRESIDENCIAIS
2021 ELEIÇÕES
PRESIDENCIAIS ELEIÇÕES POLÍTICA MARCELO
REBELO DE SOUSA PRESIDENTE DA
REPÚBLICA
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