Mas foi uma macaca com sorte, que proporcionou
passeios em ramona, e uma bela história simples, para transmitir aos netos -
mas aos avós também, reconhecidos por mais uma viagem no espaço e num tempo
próximo passado, feita por Salles
da Fonseca, que nos liberta momentaneamente da feroz perseguição
de uma covid pestilencial, para com ele viajarmos, felizes, numa ramona
indiana, assistidos pela polícia, como nós seduzida pelo gesto humano e
retribuindo-o oportunamente. E já agora, José Cid para completar o prazer da leitura com o prazer
musical:
«Como o macaco gosta de banana eu gosto de ti. (de banana!)
Escondi um cacho debaixo da cama e comi, comi. (de banana!)
Minha macaca gira e bacana, o teu focinho é que não me engana.
Pois se a macaca gosta de banana tu gostas de mim.
Como o macaco gosta de banana,
Como o macaco gosta de banana,
Como o macaco gosta de banana eu gosto de ti…..»
HENRIQUE SALLES DA
FONSECA
A BEM DA NSÇÃO, 05.01.21
Ramona é como se chama aos carros em que a
Polícia transporta aqueles que mantém à sua guarda e Catita é uma macaquita de tamanho nem grande nem pequeno,
deve ter cerca de meia dúzia de quilos, não mais.
A
cena passou-se em Março de 2015 na floresta sobranceira ao
lago de que se abastece Cochim[i], a cidade
capital do Estado do Kerala no
sudoeste da Índia.
Atravessando
a pé a dita floresta para chegarmos ao ancoradouro onde o barco nos esperava,
íamos acompanhados por um bando de macacos
que sabiam que alguém lhes haveria de dar daquelas bananas pequenas que se
vendem no sítio onde os autocarros deixam os turistas. E é um gozo ver a
macacada aos saltos e aos guinchos a pedir bananas. Mas há uma
macaca maneta da direita
que tem muita dificuldade em descascar as bananas e os outros macacos não
hesitam em lhas roubar enquanto ela
não consegue comê-las. E a pobrezinha desespera e guincha com a perda do
petisco. Tive pena dela e decidi protegê-la. Deixou-me pegar-lhe ao colo
e fiz menção de tirar as bananas que tinha no bolso mas os outros macacos
começaram a rodear-me e achei melhor chegar-me junto do carro da Polícia que
estava ali na berma da estrada. Só que a macacada não respeitava a Autoridade
e, mesmo do tejadilho do carro, me tentavam sacar as bananas. E eu, sempre com
a macaca ao colo, via a minha vida a andar para trás apesar da ajuda que os dois
ou três polícias me davam a tentar afastar a bicharada. Até que um deles me
convida a entrar no carro para poder levar a cabo a minha boa acção. Assim
foi que me vi metido numa ramona indiana acompanhado duma macaca a quem queria
dar bananas. E dei! Eram três bananitas pouco maiores do que um polegar que ela
comeu avidamente. No fim, atirei as cascas pela janela e, quando o bando
viu que já não havia nada para ninguém, dispersou. Então, com muita pompa e
circunstância, os polícias abriram a porta da ramona e Sua Excelência e eu
pudemos sair em segurança. Já no chão e satisfeita com o petisco, começou a
afastar-se mas, a pouca distância, virou-se, fez uma grimace e eu tenho a
certeza de que aquilo foi um sorriso de agradecimento. Virou costas e lá foi
ela toda catita à sua vidinha…
E
porquê tanta diligência policial para comigo com uma macaca maneta ao colo?
Pois não sei exactamente mas, na mitologia hindu, o deus macaco Hanuman, o das causas difíceis, ajudou Rama, o Deus supremo, a combater Ravana, o demónio.
Também
eu, depois de apanhar as cascas das bananas e de as deitar num caixote de lixo,
agradeci aos polícias a quem esbocei uma continência e segui para o
ancoradouro. Navegámos agradavelmente pelo lago cheio de recantos lindíssimos.
Acabado o passeio, eis que a avó Graça se começa a queixar de uma dor na perna direita e a
ter dificuldade extrema em subir do ancoradouro para a margem e, daí, mais um
quilómetro através da floresta dos macacos até ao autocarro que nos levaria ao
hotel uns cinco quilómetros lá para a frente…
Mas
agora pode ter sido Hamunan a
agradecer e pôs os solícitos polícias ali mesmo a dez passos de distância que,
vendo o sofrimento da avó, se prontificaram a levar-nos ao hotel. Eis como, num
só dia, por evidente amabilidade policial, me vi metido duas vezes numa
ramónia indiana. Chegados ao
hotel, continência a sério e não apenas esboçada ao que eles corresponderam de
igual modo e, mais, puseram as mãos na típica saudação de agradecimento.
O
que dá ser amigo da «Catita», uma macaquita maneta…
Janeiro
de 2021
Henrique
Salles da Fonseca
[i] - Foi em Cochim que morreu Vasco da Gama na véspera do Natal de 1524
Tags:: "histórias
para os meus netos"
COMENTÁRIOS
Adriano Lima, 06.01.2021: Uma
história muito engraçada e que permite extrapolações de ordem moral ao gosto do
leitor. Mas que de nada servirão para a macacada, pois claro, enquanto a banana
estiver no centro do seu universo.
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