sábado, 30 de janeiro de 2021

Vem detrás, portanto


Tudo isso que nos menoriza, nos diminui, nos envergonha, nos destrói como povo, que deveria ser de exigência e escrúpulo, em educação e princípios não dúbios mas de integridade e seriedade. O certo é que somos isto, que desde sempre se aponta, de menoridade mental, de relaxamento, e vem de longe, mau grado os muitos a quem não se aplica o libelo, é certo, mas os tais aí estão, em toda a parte, encolhidos na sua pequenez e cobardia, e estes exemplos, a acrescentar a um confinamento brutal em tantos aspectos, não são de molde a dar-nos qualquer esperança de mudança, para outra exigência de comportamento, onde a justiça funcionasse deveras, sem acumular serviço e arrastar processos. Sim, leiamos a última estrofe dos LUSÍADAS, para nos erguermos um pouco, ao menos literariamente. Mas a própria exaltação patriótica da epopeia camoniana é de molde a apelar a uma tola vaidade lusa, que não valeu de muito ao maltratado Camões, pois que a pátria lhe não retribuiu o esforço épico, mau grado a lisonja contida nessas “armas e barões assinalados”, já que, no dizer de Almada Negreiros, «a pátria onde Camões morreu de fome / e onde todos enchem a barriga de Camões!» comprovou grotescamente tal pequenez nacional. E Henrique Salles da Fonseca de acentuá-la, com a história de mais uma vítima dessas perfídias - o Conde de Farrobo - que foi respigar às suas leituras.

Por mim, como livro de cabeceira, tenho alguns dos Petits Poèmes en Prose, de Charles Baudelaire, nada manso na maneira acutilante de descrever a realidade social. Mas é o homem em abstracto que mais ou menos reproduz, como já o faziam Montaigne e todos esses sensíveis clássicos moralistas. A nossa sátira é feroz e no fundo individualiza impertinentemente, já desde os tempos de Gil Vicente, com os seus tipos sociais.

Mas leiamos Camões, a conselho do Dr. Salles, no final do Canto X, de exortação à empreitada que levou D. Sebastião ao “Nevoeiro” em que se tornou a pátria portuguesa, que todos amamos tão do coração, afinal:

LUS., 155

Se me isto o Céu concede, e o vosso peito
Dina empresa tomar de ser cantada,
Como a pressaga mente vaticina
Olhando a vossa inclinação divina,

156
Ou fazendo que, mais que a de Medusa,
A vista vossa tema o monte Atlante,
Ou rompendo nos campos de Ampelusa
Os muros de Marrocos e Trudante,
A minha já estimada e leda Musa
Fico que em todo o mundo de vós cante,
De sorte que Alexandro em vós se veja,
Sem à dita de Aquiles ter
inveja.

 

LIDO COM INTERESSE - 101

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO30.01.21

Título – PERFÍDIA – Conde do Farrobo

Autor – António Alves Caetano

Editora – Edição do Autor

Edição – Dezembro de 2020

São 532 páginas de texto e 16 de imagens a que se juntam mais 40 de informação bibliográfica, índice onomástico e índice do plano da obra.

Da profundidade da investigação dá testemunho a bibliografia que identifica as fontes directas como de outros tipos. Investigação ao nível do que de melhor se pode esperar de um membro da Academia Portuguesa de História.

O Autor, licenciado em Economia pelo ISCEF onde desempenhou a sua carreira académica até ao topo, dedicou-se ao estudo da História e, mais especificamente, ao desenvolvimento económico português. Daqui surgiu o estudo do trabalho de desenvolvimento protagonizado por Joaquim Pedro Saldanha, 2º Barão de Quintela e 1º Conde do Farrobo. Claramente, um dos mais notáveis desenvolvimentistas do séc. XIX português cuja acção se repercutiu até à actualidade, nomeadamente na actividade seguradora. Mas, vítima da inveja e das suas irmãs, a mesquinhez e a cobiça, morreu na miséria depois de ter sido um dos homens mais ridos de Portugal se não mesmo o mais rico da sua época.

Boa apresentação, a da contracapa…

Não por acaso, a última palavra de Os Lusíadas é INVEJA. No caso vertente, com o envolvimento de «gente da melhor sociedade», acho ter atingido as culminâncias de PERFÍDIA. Farrobo foi objecto da inveja dos poderosos: os próceres dos diferentes quadrantes do arco governativo comportaram-se como um só quando se aperceberam de que do fabuloso contrato recebido como recompensa régia de D. Pedro e D. Maria II se poderia cavar a sua ruína.

No processo judicial em que Farrobo foi réu inventado pela ganância dos subcontratadores do tabaco, sentenças e acórdãos dos Tribunais da Relação favoráveis ao Conde foram anulados pelo Supremo por minudências processuais, não pela inovação de mais lídima doutrina jurídica.

O Conde do Farrobo assumiu a direcção da Companhia de Seguros Bonança em 1839, para do seu bolso pagar as volumosas dívidas da empresa, salvando-a da falência iminente. Assim, a Bonança pôde chegar ao século XXI e ser incorporada na Companhia de Seguros Fidelidade.

Em 1843, o Conde do Farrobo fundou um banco – Companhia União Comercial – dotado de tal pujança três anos após, que o Governo, depois de criar o Banco de Portugal, em 1846, pretendeu que se lhe associasse para fortalecer o recém-criado.

* * *

Esta, sim, uma obra de leitura obrigatória para quem queira combater a inveja, a mesquinhez e a cobiça; uma obra destinada a envergonhar esses tantos conluios ocultos que hoje se diz que enxameiam e diminuem Portugal.

Janeiro de 2021

Henrique Salles da Fonseca

COMENTÁRIOS:

Henrique Salles da Fonseca 31.01.2021: Caríssimo Henrique, Vi agora o texto e gravura que fez o favor de publicar no seu A BEM DA NAÇÃO e quero agradecer-lhe mais esta manifestação de grande amizade e generosidade. Todos os contributos são bem-vindos para a divulgação do livro que permita ser lido pelo maior número de pessoas. Dá-me grande satisfação contribuir para resgatar a memória de figura tão excelsa quanto maltratada. Que prossiga com o sucesso que merece a missão que se impôs de nos ajudar a pensar melhor, são os votos deste seu admirador. Grande abraço do amigo grato António Alves Caetano

Henrique Salles da Fonseca 31.01.2021: A "Democracia Avançada" haveria de vir a redimir Farrobo:
No seu teatro do Palácio das Laranjeiras, fez desaparecer Boa parte do espólio do Ultramar Português.
Para lá foram baldeadas toneladas de documentos. A chuva, por falta de telhado do Teatro, concluiu a diligência do Ministério da Coordenação Interterritorial, também, á época, nas mãos de socialistas
!
Elias Quadros

Henrique Salles da Fonseca 31.01.2021: A "democracia avançada", nas suas quatro mentiras básicas - política, económica, social e cultural - redimiria Farrobo usurpando todos os bens aos que lhos tinham roubado, nada lhe devolvendo. É sabido que na "democracia avançada", o pilar político assenta na ditadura do proletariado, o que é um absurdo democrático; a economia é totalmente possuída pelo demónio público; a sociedade comunista nivela por baixo despojando o indivíduo de tudo o que seja privado; culturalmente, a iniciativa artística está condicionada aos ditames do «politicamente correcto» segundo o conceito do Comité Central do Partido. A "democracias avançada" ruiu com o muro de Berlim.

 

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