Tudo isso
que nos menoriza, nos diminui, nos envergonha, nos destrói como povo, que
deveria ser de exigência e escrúpulo, em educação e princípios não dúbios mas
de integridade e seriedade. O certo é que somos isto, que desde sempre se
aponta, de menoridade mental, de relaxamento, e vem de longe, mau grado os
muitos a quem não se aplica o libelo, é certo, mas os tais aí estão, em toda a
parte, encolhidos na sua pequenez e cobardia, e estes exemplos, a acrescentar a
um confinamento brutal em tantos aspectos, não são de molde a dar-nos qualquer
esperança de mudança, para outra exigência de comportamento, onde a justiça
funcionasse deveras, sem acumular serviço e arrastar processos. Sim, leiamos a
última estrofe dos LUSÍADAS, para nos erguermos um pouco, ao menos
literariamente. Mas a própria exaltação patriótica da epopeia camoniana é de
molde a apelar a uma tola vaidade lusa, que não valeu de muito ao maltratado
Camões, pois que a pátria lhe não retribuiu o esforço épico, mau grado a
lisonja contida nessas “armas e
barões assinalados”, já que, no dizer de Almada Negreiros, «a
pátria onde Camões morreu de fome / e onde todos enchem a barriga de Camões!»
comprovou grotescamente tal pequenez nacional. E Henrique Salles da Fonseca vá de acentuá-la,
com a história de mais uma vítima dessas perfídias - o Conde de
Farrobo - que foi respigar às suas leituras.
Por mim,
como livro de cabeceira, tenho alguns dos Petits Poèmes en Prose, de Charles
Baudelaire, nada manso na maneira acutilante de descrever a realidade
social. Mas é o homem em abstracto que mais ou menos reproduz, como já o faziam
Montaigne e todos
esses sensíveis clássicos moralistas. A nossa sátira é feroz e no fundo
individualiza impertinentemente, já desde os tempos de Gil Vicente, com os seus tipos sociais.
Mas leiamos Camões, a conselho do Dr. Salles, no final do Canto X, de exortação à empreitada que levou D. Sebastião ao “Nevoeiro” em que se tornou a pátria portuguesa, que todos
amamos tão do coração, afinal:
LUS., 155
Se me
isto o Céu concede, e o vosso peito
Dina empresa tomar de ser cantada,
Como a pressaga mente vaticina
Olhando a vossa inclinação divina,
156
Ou
fazendo que, mais que a de Medusa,
A vista vossa tema o monte Atlante,
Ou rompendo nos campos de Ampelusa
Os muros de Marrocos e Trudante,
A minha já estimada e leda Musa
Fico que em todo o mundo de vós cante,
De sorte que Alexandro em vós se veja,
Sem à dita de Aquiles ter inveja.
HENRIQUE SALLES DA
FONSECA
A BEM DA NAÇÃO30.01.21
Título – PERFÍDIA – Conde do Farrobo
Autor – António Alves Caetano
Editora – Edição do Autor
Edição – Dezembro de 2020
São
532 páginas de texto e 16 de imagens a que se juntam mais 40 de informação bibliográfica,
índice onomástico e índice do plano da obra.
Da
profundidade da investigação dá testemunho a bibliografia que identifica as
fontes directas como de outros tipos. Investigação ao nível do
que de melhor se pode esperar de um membro da Academia Portuguesa de História.
O Autor, licenciado em Economia pelo ISCEF onde desempenhou a sua
carreira académica até ao topo, dedicou-se ao estudo da História e, mais
especificamente, ao desenvolvimento económico português. Daqui surgiu o estudo do trabalho de desenvolvimento
protagonizado por Joaquim Pedro Saldanha, 2º Barão de Quintela e 1º Conde do
Farrobo. Claramente,
um dos mais notáveis desenvolvimentistas do séc. XIX português cuja acção se
repercutiu até à actualidade, nomeadamente na actividade seguradora. Mas,
vítima da inveja e das suas irmãs, a mesquinhez e a cobiça, morreu na miséria
depois de ter sido um dos homens mais ridos de Portugal se não mesmo o mais
rico da sua época.
Boa
apresentação, a da contracapa…
Não
por acaso, a última palavra de Os Lusíadas é INVEJA. No caso
vertente, com o envolvimento de «gente da melhor sociedade», acho ter atingido
as culminâncias de PERFÍDIA. Farrobo
foi objecto da inveja dos poderosos: os próceres dos diferentes quadrantes do
arco governativo comportaram-se como um só quando se aperceberam de que do
fabuloso contrato recebido como recompensa régia de D. Pedro e D. Maria II se
poderia cavar a sua ruína.
No processo judicial em que
Farrobo foi réu inventado pela ganância dos subcontratadores do tabaco,
sentenças e acórdãos dos Tribunais da Relação favoráveis ao Conde foram
anulados pelo Supremo por minudências processuais, não pela inovação de mais
lídima doutrina jurídica.
O Conde do Farrobo assumiu a direcção da Companhia de Seguros
Bonança em 1839, para do seu bolso pagar as volumosas dívidas da
empresa, salvando-a da falência iminente. Assim, a Bonança pôde chegar ao século XXI e ser incorporada na
Companhia de Seguros Fidelidade.
Em
1843, o Conde do Farrobo fundou um banco – Companhia União Comercial – dotado de tal pujança três anos após, que o
Governo, depois de criar o Banco de
Portugal, em 1846,
pretendeu que se lhe associasse para fortalecer o recém-criado.
*
* *
Esta, sim, uma obra de leitura
obrigatória para quem queira combater a inveja, a mesquinhez e a cobiça; uma
obra destinada a envergonhar esses tantos conluios ocultos que hoje se diz que
enxameiam e diminuem Portugal.
Janeiro de 2021
Henrique Salles da Fonseca
COMENTÁRIOS:
Henrique Salles da Fonseca 31.01.2021: Caríssimo Henrique, Vi agora o texto e gravura que fez o favor de publicar no seu A BEM DA NAÇÃO e quero agradecer-lhe mais esta manifestação de grande amizade e generosidade. Todos os contributos são bem-vindos para a divulgação do livro que permita ser lido pelo maior número de pessoas. Dá-me grande satisfação contribuir para resgatar a memória de figura tão excelsa quanto maltratada. Que prossiga com o sucesso que merece a missão que se impôs de nos ajudar a pensar melhor, são os votos deste seu admirador. Grande abraço do amigo grato António Alves Caetano
Henrique Salles da Fonseca 31.01.2021: A
"Democracia Avançada" haveria de vir a redimir Farrobo:
No seu teatro do Palácio das Laranjeiras, fez desaparecer Boa parte do espólio
do Ultramar Português.
Para lá foram baldeadas toneladas de documentos. A chuva, por falta de telhado
do Teatro, concluiu a diligência do Ministério da Coordenação Interterritorial,
também, á época, nas mãos de socialistas!
Elias Quadros
Henrique Salles da Fonseca 31.01.2021: A
"democracia avançada", nas suas quatro mentiras básicas - política,
económica, social e cultural - redimiria Farrobo usurpando todos os bens aos
que lhos tinham roubado, nada lhe devolvendo. É sabido que na "democracia avançada", o pilar político
assenta na ditadura do proletariado, o que é um absurdo democrático; a economia
é totalmente possuída pelo demónio público; a sociedade comunista nivela por
baixo despojando o indivíduo de tudo o que seja privado; culturalmente, a
iniciativa artística está condicionada aos ditames do «politicamente correcto»
segundo o conceito do Comité Central do Partido. A
"democracias avançada" ruiu com o muro de Berlim.
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