E gostei de o conhecer melhor, a Tiago Mayan, ao escutá-lo nos confrontos eleitorais,
e agora por este retrato lucidamente objectivo de um seu amigo e colega de uma
ideologia inspirada em velhos valores de sentimento e preocupação pátrios e humanitários
reais, substituídos hoje, nos adeptos da esquerda artificiosamente no poder,
por uma devoção precária e exclusiva pela classe menos assistida culturalmente
e economicamente, segundo requisitos igualitários de uma inverdade universal –
a igualdade não existindo, de facto, em nada do que existe na natureza, pese
embora o desejo revolucionário - com dois séculos de atraso - de a estabelecer
entre os homens, estimulando o terrorismo de que a Revolução Francesa foi a
primeira promotora.
Um bonito retrato este, de Tiago Mayan, feito pelo seu colega e amigo Rodrigo Adão da Fonseca, é certo que
no intuito de promover uma mudança, e para isso, desfazendo – com bons
argumentos, de resto – em Marcelo
Rebelo de Sousa e em André
Ventura, como candidatos pouco exemplares,
sobretudo o último, de uma aparência ideológica de direita – enviesada a de
Marcelo - et pour cause –alucinada a de Ventura.
A mim, impressionou-me a postura séria de Tiago Mayan, embora reconheça que a tarefa que se propôs como hipotético Presidente da República iria provocar fissuras graves, caso fosse eleito, não só com o governo tortuoso da coligação de esquerda, como com a própria nação impreparada para acatar princípios de um civismo e competência a que só esporadicamente estará habituada. Mas oxalá que Tiago Mayan receba muitos votos – no que não acredito, é claro, adeptos que somos da palhaçada, Ventura mais próximo do espírito risonho da nação e do folclore.
O meu voto é no Mayan /premium
Num tempo em que a política partidária
está em clara redefinição, Mayan representa o espaço político dos que acreditam
na liberdade e na civilização, na democracia liberal e no pluralismo.
RODRIGO ADÃO DA
FONSECA
OBSERVADOR, 12 jan
2021
No
próximo dia 24 de Janeiro vou votar no Tiago Mayan Gonçalves. Os fundamentos do meu voto são bastante simples:
irei votar no Mayan pelo que ele é, por
aquilo que ele representa – e,
finalmente, por aquilo que ele não representa.
Conheci
o Mayan na faculdade, algures nos anos 90, quando ambos frequentávamos o curso
de Direito. À época, presidia ao núcleo português de uma associação europeia de
estudantes de direito – a “ELSA” (“The European Law Students’ Association”) – à
qual o Tiago, uns anos mais novo do que eu, se havia juntado como sócio do
núcleo local da Católica Porto. A ELSA é
seguramente o projecto associativo em que me envolvi com mais empenho e
entusiasmo (próprios da juventude, mas também dos tempos de esperança
que se viviam), numa
fase em que não havendo nem Twitter nem Instagram, as acções cívicas se
faziam junto das pessoas e não no sofá ou na bolha nas redes sociais. Viviam-se
tempos de mudança, distintos dos da época revolucionária (não andámos a partir
mesas nem nos envolvíamos em actividades bombistas, até porque a extrema-esquerda
estava profundamente demodée, o que tinha para oferecer era a UDP, o PSR, o
PCTP-MRPP, o Major Tomé, o Francisco Anacleto Louçã, o Fernando Rosas e o
saudoso Arnaldo de Matos), mas nem por isso menos interessantes. Por esses anos, era muito mais
apelativo defender valores cívicos do que ideológicos: na ELSA organizámos acções no estabelecimento
prisional de Paços de Ferreira, diversas iniciativas de sensibilização a favor
da criação do Tribunal Penal Internacional (que veio, efectivamente, a ser
criado em 1998, com o objectivo de julgar indivíduos pela prática dos mais
graves crimes internacionais), que incluíram sessões de Moot Court de grande
impacto, cursos sobre direitos humanos e estágios nas Nações Unidas junto do
Comité Preparatório criados para o efeito; exibições de documentos e provas
recolhidas pela Cruz Vermelha Internacional na guerra dos Balcãs, ainda não
havia sido bombardeada Belgrado, entre diversas iniciativas relacionadas com os
temas mais prementes no direito internacional. O Mayan foi, desde o início, uma das
pessoas mais colaborantes e empenhadas, não tendo sido surpresa para mim que,
anos mais tarde, se tenha ele próprio tornado presidente da ELSA Portugal. Não foi, porém, um presidente qualquer: é
pacífico e consensual que o Mayan é o melhor representante do ELSA spirit, o
mais emblemático e respeitado alumni da ELSA Portugal e o seu principal bastião. A sua
capacidade de unir, agregar e manter a cidadania viva – que vários portugueses
têm vindo a conhecer e a sinalizar nesta campanha – é o traço mais marcante da
sua personalidade. Exemplo
disso é que, num mundo cada vez mais agreste e polarizado, a 10 de Abril de
2015, vários amigos, com simpatias políticas antagónicas e em jeito de
brincadeira (mas visivelmente avant la lettre), tenham lançado na rede social
Facebook um grupo privado (que junta hoje 1300 membros) designado “Mayan a
Presidente da República”. Toda a história deste grupo é bom exemplo da saudável
leveza, do carisma e da mundividência de um candidato que, sendo desconhecido
de muitos, tem o apoio indefectível de muitos daqueles que o conhecem bem.
Mas
se o Mayan vale por aquilo que é, a sua candidatura vale muito mais por aquilo
que ela representa – um espaço político em construção em Portugal, que o
candidato tem sabido reforçar e valorizar.
Num
tempo em que a política partidária e os valores que a suportam estão em clara
redefinição, Mayan representa o espaço político dos que acreditam
na liberdade e na civilização, na democracia liberal e no pluralismo. Tem o apoio da Iniciativa Liberal, mas é mais do que um candidato partidário: é o
candidato liberal, no sentido em que tem conseguido trazer uma visão liberal
para uma série de problemas que estão na primeira linha da agenda política,
como o resgate da TAP, dos bancos, a gestão da crise pandémica, a pobreza que o
Estatismo acarreta para Portugal ou o retrocesso civilizacional que simbolizam
quer as extremas-esquerdas, quer os populismos de direita. Tem-no feito de uma forma que pôs a pensar
muitos cidadãos que, até hoje, não tinham tido a possibilidade de os ponderar
fora dos pressupostos socialistas. A candidatura do Mayan tem vindo a alargar o
espaço de compreensão sobre o que é o liberalismo, dissipando vários fantasmas,
assinalando diferenças sem gerar crispações, criando consenso e simpatia para
lá do seu eleitorado natural. Ora, também por isso, o Mayan merece o meu voto.
A
candidatura de Mayan tem ainda a virtude de permitir que vários eleitores não
fiquem órfãos de representação nesta eleição.
Há um núcleo de eleitores que, tendo
votado em Marcelo Rebelo de Sousa em 2015, não faz hoje um balanço positivo do
seu mandato. Ao contrário, porém, de uma boa parte da direita que se divorciou
de Marcelo Rebelo de Sousa, continuo a ter simpatia pela persona. Não esperava,
como alguns, que o Presidente da República fosse o suporte da direita e,
sobretudo, do PSD/CDS, contra a governação da geringonça. A meu ver, os grandes
responsáveis pelos desaires eleitorais, à direita, são desde logo os líderes
políticos que não souberam cativar os eleitorados e desmontar a geringonça; e
os próprios eleitores, pelas escolhas que fizeram nas urnas.
Marcelo Rebelo de Sousa é, porém, responsável pelas suas próprias escolhas, e
são elas que criam reservas ao meu voto na presente eleição. Na verdade, no
quadro do semipresidencialismo vigente – em que o Primeiro-Ministro lidera o
Executivo em clara minoria, suportado numa coligação complexa que lhe impõe uma
permanente negociação com os restantes órgãos de soberania – Marcelo
Rebelo de Sousa optou por
anular o seu papel de garante em situações críticas, como nos casos de
Pedrógão, Tancos, na recondução da Procuradora Geral da República, na
indigitação de Centeno para o Banco de Portugal ou, mais recentemente, no caso
do SEF, sem que isso seja compreensível no plano do que são as
responsabilidades presidenciais. Na sua catedrática inteligência, Marcelo
Rebelo de Sousa, durante a
campanha, teve já a oportunidade de nos apresentar explicações criativas para
todas as críticas que lhe são movidas, as quais, porém, não tiveram o condão de
me convencer. Em 2015, num jantar-conferência, uma das convivas pediu a Marcelo
Rebelo de Sousa três razões
para lhe entregar o seu voto. À época, o candidato respondeu, de uma forma que
todos considerámos divertida, que só lhe daria uma, a qual seria suficiente: ele
era a única alternativa decente à direita. Passados
cinco anos, o cenário mudou e a existência de mais candidaturas permite ao
eleitorado ter mais escolha e ser, por isso, mais exigente.
A
maior reserva que tenho em relação ao mandato de Marcelo Rebelo de Sousa prende-se, porém, com algo que não tenho visto
discutido na presente campanha eleitoral: a incapacidade que demonstrou em
evitar a ascensão dos populismos. O Presidente da República poderia ter
escolhido como espaço para a sua reeleição a área política da direita e
absorvido o descontentamento. Ao ter-se esvaziado junto de vários sectores
da direita, ao ter exercido um mandato em que nos momentos críticos diluiu a
sua função institucional, Marcelo abriu o espaço para o descontentamento, para
um certo sentimento de despeito e para o consequente crescimento de um núcleo
eleitor que, sendo minoritário, pode bloquear as soluções à direita, em
alternativa à geringonça, empurrando Portugal para um indesejável “centrão”.
Tendo escolhido ser o presidente dos afectos, a forma como distribuiu os
carinhos no seu mandato deu espaço para a emergência de uma direita emocionada
que parece ter abdicado de pensar.
Neste sentido, a candidatura de Tiago
Mayan é providencial, pois representa uma alternativa a André Ventura para
todos os que não se sentem representados por Marcelo Rebelo de Sousa. Se havia dúvidas em relação à natureza do Chega,
elas dissiparam-se nesta campanha presidencial. Se há no programa do Chega
propostas políticas com interesse, em matéria económica e fiscal, na educação e
na saúde, que facilitariam uma convergência à direita, as prioridades
escolhidas por André Ventura, a
postura deselegante e agressiva num estilo adolescente de “gatarrão” zangado e,
sobretudo, as suas frases de ordem, deveriam ser motivos suficientes para
qualquer eleitor assinalar fora-de-jogo ao ponta-de-lança sem necessidade de
recurso ao VAR. Aliás, depois de ouvir o candidato defender “ditaduras
de pessoas de bem” (seja lá o que isso signifique), exibir fotografias de
pessoas em concreto, habitantes de um bairro social, negros, apelidando-os de
“bandidagem”, e recusar tratamento médico a imigrantes e refugiados, os quais
chamou de “marroquinos”, pergunto-me – e digo-o sem qualquer ponta de ironia –
quem é que leva André Ventura a sério. André Ventura diz que quer “mudar o
regime”, mas durante toda a campanha eleitoral, não só não explicou nenhuma
das boas medidas que tem a espaços no seu programa (dando razão aos que dizem
que não só não as conhece, como não acredita nelas, sendo apenas o actor
principal de um enredo desenhado por um qualquer Rasputin), como se tem
limitado a atacar os mais pobres e os mais frágeis, os que não têm voz para se
defender, ciganos, habitantes de bairros sociais, pequenos delinquentes,
imigrantes e refugiados, manipulando o ego e o pior que ainda persiste num
certo eleitorado de direita, fugindo das grandes questões essenciais que são a causa
do nosso atraso, sendo sintomáticos os silêncios em relação a tudo o que são
poderes estabelecidos, como se viu na forma como anuiu no saneamento da TAP.
Ventura está a tornar-se, ironicamente, no seguro de vida da esquerda que diz
combater, pois dá-lhe uma razão para existir (sem ter de dar muito mais
explicações), bloqueia a direita, distrai o eleitorado para questões
irrelevantes, sendo conivente com os grandes dossiers do Regime.
Termino, como comecei. No próximo
dia 24 de Janeiro vou votar no Tiago Mayan Gonçalves. Agradeço a coragem que
teve ao candidatar-se, para nos representar e tornar, por esta vez, o voto de
muitos mais fácil.
PRESIDENCIAIS
2021 ELEIÇÕES
PRESIDENCIAIS ELEIÇÕES POLÍTICA
COMENTÁRIOS
José Manuel Ferraz: Razões muito
bem fundamentadas! Razões que aliás subscrevo e que fazem com que eu, eleitor
PSD de toda a vida e de MRS na última eleição presidencial, também vá votar
Mayan.
Antes pelo contrário: Liberalismo é
essencialmente deixar fazer, sem fazer perguntas nem pensar nas consequências. O
liberalismo foi um conceito económico, social e político de transição entre o
Antigo Regime e as sociedades modernas. Está completamente ultrapassado e fora
de contexto.
Teresa Nobre > Antes pelo contrário: Por amor de deus. O conceito
liberal de liberdade enfatiza como mais nenhum a responsabilidade. Quem anula
as consequências é o socialismo, que dilui a responsabilidade no colectivo. O
liberalismo defende uma liberdade que é um fardo, pois inclui a
responsabilidade.
Tiago Figueiredo > Teresa Nobre: "O conceito liberal de liberdade enfatiza como mais
nenhum a responsabilidade." - O conceito talvez, Teresa. Já a observação
da prática do conceito na sociedade ao longo de décadas de políticas
neoliberais mostram-nos que resulta, com demasiada frequência, em
libertinagem (liberdade sem responsabilidade), bem mais do que o conceito que
descreve almeja... Infelizmente. Já o socialismo parte da
premissa de olharmos além do umbigo para o outro e para o bem-comum, mas
peca pelo que diz, ao diluir as responsabilidades individuais pelo colectivo, e
por frequentemente e demasiadamente limitar o potencial de cada indivíduo para
criar e contribuir para o bem-comum, como se tende a observar nos países que
mais o promoveram. No final de contas, não há ideologia política perfeita, pura e simplesmente
porque, tanto individualmente como colectivamente, ainda estamos longe, muito
longe, do que tanto um como o outro conceito idealizam. Sem
uma boa educação de raiz, que promova o equilíbrio entre o bem individual e o
colectivo, não há ideologia que resista.
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