terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Para distrair da covid


Li no Observador: «Covid. Portugal lidera todos os rankings mundiais É o único país com mais de mil casos por milhão de habitantes na média dos últimos sete dias. Tem a maior incidência de contágios a 14 dias. Lidera o número de casos e mortes diárias no mundo.»

Foi por isso que escolhi o texto de José Milhazes sobre as prováveis mudanças russas, para esquecer as nossas mudanças por cá. Nem todos concordam com José Milhazes, e os comentários, em que participa o AUTOR, transformam este texto numa peça herói-cómica, que nos distrai e ensina, ajudando a expandir os medos de um absurdo inesperado.

A Rússia está a mudar /premium

Há muitos anos que Moscovo não via uma manifestação tão numerosa nas suas ruas e nesta onda de protestos, que teve início com a detenção de Alexey Navlny, há elementos novos de primordial importância.

JOSÉ MILHAZES

OBSERVADOR, 24 jan 2021

É ainda cedo tirar conclusões sobre as últimas manifestações na Rússia pela libertação do opositor Alexey Navalny, mas é já evidente que algo está a mudar na sociedade russa, por muito que o Kremlin o negue.

Há já muitos anos que Moscovo não via uma manifestação tão numerosa nas suas ruas. Segundo as agências, ela juntou mais de 40 mil pessoas, número que, a julgar pelas imagens, está mais próximo dos 4 mil anunciados pela polícia.

Nesta onda de protestos, que teve início com a detenção, no Domingo passado, de Alexey Navlny ao regressar ao seu país da Alemanha, onde os médicos o salvaram de uma tentativa de envenenamento, há elementos novos de primordial importância.

Normalmente, quando a oposição se agitava em Moscovo, a província russa, mergulhada numa letargia, fazia de conta de que não via protestos ou, influenciada pela propaganda oficial, de que se tratava de mais uma iniciativa de um pequeno grupo de marginais, arruaceiros, degenerados, agentes estrangeiros, etc., etc. Porém, desta vez, as manifestações ocorreram em numerosas cidades do país, desde o Extremo Oriente, passando pelos Urais, até à Crimeia.

O frio parecia estar do lado do Kremlin, mas nem os 20, 30 e até 50 graus negativos, nem as ameaças da polícia fizeram com que milhares de pessoas viessem para a rua gritar: “Putin é ladrão!”, “Liberdade para Navalny!”

Em São Petersburgo, berço do golpe de estado comunista de 1917, milhares de manifestantes desfilaram pela primeira vez desde há muito tempo pela famosa Avenida Nevski.

Outro factor importante é o número crescente de jovens que participam nos protestos. Normalmente, os participantes nestas iniciativas eram intelectuais de meia-idade ou idosos que se recordam bem dos tempos em que as manifestações já eram vistas como uma coisa normal. Agora, são alunos de escolas e universidades que se sentem no direito de manifestar as suas opiniões sobre a situação no país.

Além do mais, parte dos russos que saem para as ruas não simpatizavam ou não simpatizam com Navalny, mas entendem que Vladimir Putin e a sua corte se quer eternizar no poder, que a corrupção existente ameça fazer da Rússia um país “terço-mundista”.

Não foi por acaso que o documentário “O Palácio de Putin”, realizado por Alexey Navalny e pelo seu Fundo de Luta contra a corrupção, teve mais de 73 milhões de visualizações só no Youtube.

Claro que seria errado e tendencioso pensar que todos esses milhões irão aderir a um partido de Navalny quando ele tiver possibilidade de o formar ou votar nele quando existir a oportunidade de ele participar em eleições minimamente transparentes. Todavia, é um sinal claro de que são cada vez mais os russos que estão fartos dos cleptocratas reunidos em torno do “czar do bunker”, das redes mafiosas criadas e protegidas pelos serviços secretos e a polícia russos.

As justificações que a propaganda oficial russa dá para o aumento da repressão são pouco convincentes. Por exemplo, alegam que a proibição de manifestações se deve ao confinamento, mas esquecem-se de acrescentar que Vladimir Putin nunca achou necessário impor esse estado no país. Além disso, a Constituição russa não exige pedidos de autorização para a realização de manifestações políticas, mas apenas um aviso, o que foi feito pelos manifestantes.

Quanto à acusação de incitamento pela oposição da participação de menores (na propaganda oficial, crianças), não tem grande fundamento, pois os alunos das escolas com 15, 16 ou 17 anos não perguntam a Navalny ou a ninguém se podem manifestar a sua opinião nas ruas.

Vladimir Putin e a sua corte irão continuar a ridicularizar e minimizar os protestos, a aumentar o já longo rol de leis repressivas, a permitir à polícia de choque agredir mulheres com pontapés na barriga, como aconteceu em São Petersburgo, mas as ondas de protesto, se aumentarem e ameaçarem a solidez do actual regime, poderão contribuir para que os oligarcas e a elite política se livrem de Putin, não se excluindo através de veneno.

É também de salientar que a forma violenta como as forças policiais actuaram pode melhorar a imagem internacional da Rússia em países como China, Coreia do Norte, Cuba ou Venezuela, mas certamente não contribuirá para a normalização de relações entre o Kremlin de Moscovo e a Casa Branca norte-americana.

Por outro lado, a partir de agora, as forças da oposição russa têm uma tarefa muito difícil, que é manter viva a chama do protesto no meio do Inverno e até às eleições parlamentares no Outono. Alguns defendem que Navalny regressou da Alemanha cedo demais e que devia ter esperado por frios menos rigorosos, mas o passo está dado. A oposição já prometeu novas manifestações para breve.

Vladimir Putin diz não ter medo e recusa-se a pronunciar o nome de Navalny, mas, como meio de prevenção, a polícia deteve mais de três mil manifestantes.

RÚSSIA  MUNDO  VLADIMIR PUTIN

COMENTÁRIOS

Antonio Sousa Branco: Navalny, é o maior pesadelo de Putin, apesar deste contar com todo o aparelho repressivo exKGB/FSB e com o apoio, por enquanto, da cleptocracia russa.         António Afonso: O PC já manifestou o seu apoio a Putin, esse grande democrata?         advoga diabo: Neste dia tão importante para Portugal, como se vê na enorme afluência às urnas, vem JM outra vez com a Rússia! Volte para lá criatura, urgentemente, a separação está a matá-lo.        António Afonso > advoga diabo: Mais um "democrata" que não gosta da verdade.           Mario Silva > advoga diabo: Qualquer semelhança entre a crónica do JM em dia de eleições presidenciais e os comentários da "Ana Ferreira" sobre Trump ou Bolsonaro quando os números da pandemia aumentam exponencialmente em Portugal, quando se descobrem as mentiras sobre o CV do Sr. José Guerra para poder ir para a Procuradoria Europeia e outras manobras do presente Governo é pura coincidência                  PortugueseMan: Agora falando sobre este tópico por uma outra perspectiva:

European Parliament calls for halt on Nord Stream 2 construction after Navalny arrest ...The European Parliament demanded that construction be halted on the controversial Nord Stream 2 pipeline, in a resolution passed on Thursday... Merkel defends project German Chancellor Angela Merkel said on Thursday thatmshe would not abandon the project, despite it being the subject of bipartisan US sanctions...

"We will of course speak with the new American administration," she said. "We must also talk about what economic relationships with Russia in the gas sector are acceptable and what aren't. And it's not as if there were absolutely no trade relations between the United States of America and Russia in the oil sector, for example." ...Critics — most prominently Poland, Ukraine and the Baltic states — say the project will increase Europe's reliance on Russian energy...

EU foreign affairs chief Josep Borrell said that the bloc's foreign ministers would discuss the issue at a meeting on Monday, but warned: "We cannot prevent companies from building it if the German government is in favor of it."

Eu volto a chamar a atenção de que o Navalny ter ido para a Alemanha, de tantos países para onde podia ir, foi o pior que podia acontecer para Merkel. A pressão gerada em torno do pipeline está ao rubro. Ao ponto do Parlamento Europeu na 5ª feira ter passado uma resolução associando os dois assuntos. Mas o que fica mais que evidente e muito incómodo para muitos, é que este pipeline não é um pipeline russo. Este pipeline é alemão. É a Alemanha que deseja mais que tudo ter uma ligação e uma ligação estável com a Rússia. É a Alemanha como motor da Europa que não quer estar dependente nem da Ucrânia, nem da Polónia, nem do gás americano.

As implicações disto são absolutamente tremendas, eu considero um dos pontos chave para o futuro que aí vem com enormes alterações nas relações alemãs/russas/americanas.

Também acho curioso que você que durante tantos anos criticou Schroeder por ser um vendido e ter ido presidir o consórcio do Nord Stream, nem tocar na Merkel que está a lutar com todas as suas forças para que consiga terminar o pipeline dentro do seu mandato.

Schroeder não é um vendido, Schroeder está a defender os interesses da Alemanha. E Merkel está a fazer o seu papel. A decisão deste pipeline está acima das questões partidárias.

Estou muito curioso, sobre qual vai ser a posição de Biden sobre este assunto. A corda entre americanos e alemães já está muito esticada. E Merkel, como pode ver no artigo, já chamou hipócrita aos americanos, pois estes querem obrigar outros a fazer aquilo que eles não fazem. Basta ver a questão do petróleo russo que está a ir para os EUA.

Merkel vai ter uma saída complicada e não pode deixar esta questão para o próximo.

A Rússia... A Rússia aguarda o desfecho. A conclusão deste pipeline é muito mais que vender gás à Alemanha, é o euromilhões em termos geopolíticos e todos sabem disso. 

José MilhazesAUTOR > PortugueseMan: Vamos ver o que irá suceder se Putin continuar a comportar-se assim: repressões, corrupção, envenenamentos. O gasoduto é só um dos muitos factores importantes.

Paulo Guerra: Calma Milhazes. Outra precipitação e numa fase tão adiantada da vida ainda podia mesmo vir revelar-se como fatal. Até parece que o Milhazes nunca ouviu o provérbio português que para um populista só um populista e meio. E o Navlny na verdade não chega a ser meio populista.

PortugueseMan: ...É ainda cedo tirar conclusões sobre as últimas manifestações na Rússia pela libertação do opositor Alexey Navalny... Você já sabe o que acho destas manifestações, é cedo e... é mais do mesmo. Vou colocar aqui excertos de um outro artigo:

...Corrupção e falta de apoios. São as principais razões que levaram para a frente as manifestações que decorreram...   ... De acordo com a polícia russa, Moscovo foi a cidade que contou com mais pessoas na rua... ...Esta manifestação é o maior protesto na Rússia, segundo a Bloomberg, desde 2012... ...Na origem da manifestação está um vídeo publicado no YouTube por Navalny que revela os resultados da investigação... ...Este “passeio” de populares descontentes significa, para José Milhazes, que “alguma coisa na Rússia se está a mexer”... ...Inicialmente, eram 99 as cidades onde as manifestações estavam previstas... Tem palavras chave como Rússia a mexer, videos no youtube, várias cidades, etc, etc. Só que o artigo é de 2017. É uma espécie de vira o disco e toca o mesmo. Quando os russos quiserem mudar o rumo das coisas, eles mudarão. E a percepção que tenho é que continuam a querer o mesmo rumo.

PortugueseMan > PortugueseMan https://www.jpn.up.pt/2017/03/28/protestos-coisa-esta-mexer-na-russia/

José MilhazesAUTOR > PortugueseMan: Não são os russos que mudarão, infelizmente, mas as elites e veremos até quando Putin vai manter-se no poder. Há uns tempos, enviei-lhe um estudo que mostrava que a Rússia, em 2020, estava no 46º lugar do mundo quanto a inovações científicas e você não respondeu...

PortugueseMan > José Milhazes: ...e você não respondeu... Não vi... Em que artigo foi? está recordado?

José MilhazesAUTOR > PortugueseMan: AQui vão mais dados:https://newizv.ru/news/science/30-01-2020/tsifra-dnya-rossiya-otstaet-ot-razvityh-stran-v-nauke-i-tehnologiyah-v-60-raz

PortugueseMan > José Milhazes: Este artigo é difícil de quantificar. Está a comparar a Rússia com 3 gigantes. Voltamos sempre à nossa eterna questão, do copo meio cheio ou meio vazio. Para mim o importante não é a que "distância" está dos "grandes", mas sim se está a ganhar terreno. E está. Nitidamente está e agora digo-o ainda com mais certeza, porque tenho acompanhado com algum pormenor a evolução nos últimos 20 anos, 10 (11?) dos quais a "discutir" consigo. Daí dizer-lhe que esta década vamos notar grandes alterações. A Rússia está a ganhar quota de mercado e a ganhar know-how de topo em alguns segmentos. Já estamos a começar a assistir a essa realidade. E repare bem num pormenor importante nesse artigo. O que salta à vista não é a questão da Rússia estar muito abaixo dos outros. É a China que está a "atropelar" os EUA. A Rússia neste momento, está sentada numa pilha de dinheiro. Os EUA neste momento, estão sentados numa pilha de dívida galopante. Eu não acredito que Biden possa alterar o rumo das coisas. Os EUA estão em declínio. A Rússia vai tentar minar de todas as formas e feitio o seu inimigo e os EUA estão a tentar fazer exactamente o mesmo. A China e a Rússia estão a "atacar" a economia americana, porque ao atacar a economia americana estão a fragilizar o seu poderio militar. Você reparou que o maior cliente de armas dos EUA, a Arábia Saudita, que é quem manda na OPEC, cedeu na guerra de preços com a Rússia agora este mês?  A Rússia não aceitou cortar na produção para levantar os preços e a Arábia Saudita sem alternativa, corta unilateralmente os preços e ainda permite que a Rússia aumente a sua produção. Não subindo os preços, não são só os sauditas que ficam lixados, os americanos também. Os Sauditas vão ter que deixar de investir na indústria de armamento americana, mas se eles deixam de investir, quem vai financiar os americanos que estão com uma dívida explosiva?      PortugueseMan > PortugueseMan: Dê uma espreitadela: http://portugueseman.blogspot.com/2021/01/guerras-energeticas-arabia-saudita.html josé maria: Putin é simplesmente abjecto. Usa a democracia como instrumento sistemático para o seu ditatorial reaccionarismo Adelino Lopes:  “A Rússia está a mudar”? No sentido da democracia liberal? Ok, mas nós (mundo acidental) caminhamos no sentido contrário, não é? Reparem por exemplo nas tentativas de controlo da justiça. Parece que metade do Parlamento Europeu quer continuar a questionar a nomeação do Guerra. Mas, (pelos vistos) a outra metade aceita. É possível que isto esteja a acontecer? Na Europa? Pois é, é assim. E não está a acontecer na América do Trump. E as tentativas (concretizadas) de controlo das redes sociais? Usando em alguns casos dinheiros dos estados para controlo ideológico dos posts/comentários?         José MilhazesAUTOR > Adelino Lopes: Isso significa que não se possa escrever sobre a Rússia? Ou quando eu escrevo sobre a Rússia, que conheço razoavelmente bem, tenho de falar de coisas de que conheço menos? Eu sou o único comentador? Adelino Lopes > José Milhazes: Claro que pode escrever sobre a Rússia. Claro que deve (se conhece) escrever sobre a Rússia. E pela parte que me toca, só agradeço. Mas, se a minha casa está a arder, ….   cardoso pereira: Ainda gostava de saber MESMO se o fulano é corrupto ou não, o Navalny. É acusado de deitar a mão a uns milhões de dólares mas o mais certo é tê-los ganho com toda a lisura ( estou a brincar, inclino-me para que o fulano seja mais um ladrão). Depois da cena do novichok ( é assim que se escreve? ) nas cuecas este folhetim ainda deve ter desenvolvimentos mais divertidos. A seguir com uma pitada de cepticismo...          José MilhazesAUTOR > cardoso pereira: Milhões de dólares? Acompanhou o julgamento do caso em que ele foi acusado de desviar dinheiro da Ives Rocher e condenado? A empresa francesa disse que não houve desvio de dinheiro e o Tribunal Europeu de Direitos Humanos criticou a sentença considerando que Navalny não teve um julgamento justo.          cardoso pereira > José Milhazes: Porque pergunta " milhões de dólares? ". O New york post diz que ele foi acusado de desviar 5 milhões dos donativos lá da sua fundação para proveito próprio. Não sei desse processo da Ives Rocher, mas que haveriam eles de dizer contra um tão bravo combatente? Que sim? Que ele desviou dinheiro? Desculpe não me faça rir, o tipo é intocável. Pois… o tribunal europeu dos direitos humanos. Não é propriamente muito imparcial não acha?          Pedro Cordeiro: Qual Bezos, qual Musk. Este Putin é que é o homem mais rico do mundo.          Dougc > Pedro Cordeiro: A uma grande distância... Anarquista Coroado: Saudades do bêbado Ieltsin.   Antes pelo contrário > Anarquista Coroado: É isso mesmo: quem critica Putin, ou não sabe, ou já se esqueceu, do caminho que a Rússia estava a tomar antes de Putin. E reagem estupidamente como se a Rússia de hoje em dia ainda fosse a URSS. Este Navalny, que é um ucraniano, com interesses nas petrolíferas, não me inspira qualquer confiança. Cá para mim é um agente da CIA, que pretende desestabilizar a Rússia. Além do mais, se Putin fosse tão mau como dizem, Navalny já tinha sofrido algum "acidente" discreto e definitivo, em vez destas patacoadas ineficazes e altamente mediatizadas.    José MilhazesAUTOR > Anarquista Coroado: Onde trabalhava Putin no tempo do "Bêbado Ieltsin"? Estava na oposição?. Não, andava envolvido em esquemas corruptos em São Petersburgo. E quem lhe deu o poder? Anarquista Coroado > Antes pelo contrário: Com certeza. Mas você explica isso melhor do que eu. Dwayne Elvis > Antes pelo contrário: Ó camarada dizes bem que o tempo da URSS já passou. Lá vem a comunada com medo que a CIA esteja debaixo da cama. Ai ai, desde o tempo do camarada Allende que se deixaram disso homem, não vê que dá muito nas vistas?         Henrique Costa: O povo russo quer-se livrar do caminho que o povo português quer trilhar... é a vida...          Cisca Impllit: Liberdade          bento guerra: Demasiado grande e complexa para mudar radicalmente. Só com revolta armada e para isso, tem de vir dos militares

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