segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

As Presidenciais


Como sempre, um texto bem elaborado de António Barreto sobre as Eleições Presidenciais, no tom pessimista que é o justo, nas circunstâncias em que se vive hoje, que não oferecem perspectivas de melhoria. Mas identifico-me alegremente com os 5 pontos citados por João Miguel Tavares e com as respectivas ilações, que realmente me agradaram, como, de resto, penso que a grande parte dos portugueses, pese embora o azedume de muitos seus comentadores. Por isso apenas transcrevo um, que me parece uma boa análise, embora não perceba o motivo por que não votou Mayan, quem tão bem argumenta a seu favor. Eu votei em Mayan e fiquei feliz por ele ter ultrapassado Tino de Rans, como fiquei por Ana Gomes ter superado Ventura, e por não precisarmos de uma segunda volta eleitoral, prova de que nós, portugueses modestos mas cumpridores, nos portámos bem, apesar das incongruências da Covid, que mandava confinar, como o fazem as autoridades, mas desta vez sem restrições, apesar das restrições. O que me desagradou mesmo, foi o ter encontrado o tal candidato que não era candidato a encimar os boletins de voto e acho que se tratou de uma brincadeira de mau gosto, comprovativa de quão longe estamos da tal consciência política que se devia exigir aos cidadãos. Uma troça a merecer castigo, tanto para o concorrente sem votos, como para os que o colocaram no boletim, a gozar com a malta….

OPINIÃO PRESIDENCIAIS 2021

Um vencedor e muitos derrotados

O Presidente da República terá, nos próximos anos, mais poder relativamente ao Governo. Mas este vai impedir que ele o exerça. Não se adivinham bons tempos para a colaboração entre os dois órgãos de soberania.

ANTÓNIO BARRETO

PÚBLICO, 24 de Janeiro de 2021

Com inteligência e perspicácia, com um mínimo de esforço e de despesa, Marcelo Rebelo de Sousa dominou a campanha e as eleições. Venceu sem incertezas nem dúvidas. E muito bem. Merecia ele e merecemos nós.

O Presidente tem a certeza de não ter terceiro mandato, pelo que está mais livre, mas com mais responsabilidades e, dada a crise actual, dele se espera muito mais. Sabe que o país está em muito mau estado e com enormes dificuldades sociais e económicas. E mesmo espirituais. Tendo quase confiscado o sistema político, o que agora se espera de Marcelo é quase tudo. Mas ele sabe, nós sabemos, que não tem meios, nem instrumentos. Não tem poderes, nem organização. Ele sabe que os seus mais próximos aliados não tiveram candidatos pela simples razão que sabiam que perderiam. Nessas circunstâncias, o que até agora foi fácil para o Presidente será doravante difícil ou impossível. Por já não precisarem dele, os seus aliados não mais o tratarão como até agora. O Presidente da República terá, nos próximos anos, mais poder relativamente ao Governo. Mas este vai impedir que ele o exerça. Não se adivinham bons tempos para a colaboração entre os dois órgãos de soberania.

Estranha democracia e triste política estas em que partidos conhecidos e famílias políticas reconhecidas não se definem, encontram-se ausentes em parte incerta e são derrotados! Pobre país este em que o combate mais importante foi o travado entre dois candidatos menores, respeitante a menos de um quarto do eleitorado e por um segundo lugar!

A esquerda foi a grande derrotada e a direita não conseguiu ganhar. As derrotas históricas do PCP e do Bloco sublinham e alargam a falta de comparência do PS. Este confirmou a sua incapacidade para conciliar a chefia do Estado com o Governo. O Chega obtém um assinalável êxito, a julgar pelos 12% alcançados em tão pouco tempo, mas confirmou o lugar marginal que se prepara para ocupar e revelou o saco de vento doutrinário e político em que se esconde.

Sociólogo

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COMENTÁRIOS:
mariaestela.rodriguesmartins
EXPERIENTE:
Claro que MRS venceu sem grande esforço e quase sem gastar dinheiro. Pudera, passou 5 anos a fazer campanha com selfies e beijinhos. Não precisava de fazer mais nada para vencer.          Manuel Sobreiro INFLUENTE: Será que preferíamos ter um Presidente carrancudo, mal-humorado, maldizente, a intrometer-se permanentemente nos assuntos do governo? Pelos visto preferimos um Presidente amável, popular, optimista. Ainda bem.          Jose MODERADOR: O Presidente da República foi eleito há 5 anos pela sua família política PSD e CDS a contragosto. Passos Coelho chamou-lhe catavento. Nesse acto o PS votou Sampaio da Nóvoa. Nas eleições da pandemia votaram mais eleitores que nas de há 5 anos sem pandemia. Boa resposta do eleitorado. Quem reelegeu o Presidente foi o PS e vestígios de todas as áreas políticas. A família política de Marcelo dilacerada, sem líderes, ressabiada absteve-se, votou Ventura dispersou votos pela IL e também MRS, mas pouco. A partir de hoje o governo é PS e o Presidente está eleito, no essencial pelo PS. Não existiu oposição. Ana Gomes, sem votos próprios, foi entretenimento, politicamente inútil, mas serviu as audiências dos media. Sem oposição o Presidente subiu de 2,4 para 2,5 milhões. Poucochinho p'ra crise!

Está do lado do CDS e PSD a responsabilidade de encontrar já líderes que os seus eleitorados reconheçam com líderes e não as caricaturas que ocupam as cadeiras. Não o fazendo já com a prioridade de apaziguar, congregar, recuperar e enquadrar esses eleitorados nas instituições democráticas CDS e PSD como fazem desde o 25 de abril então o líder dessa família política é Ventura já nas próximas eleições sejam antecipadas para 1. Ministro sejam regulares para autarquias. A crise social, económica e financeira decorrente da pandemia pode ser 5 vezes pior que a de 2009, embora diferentes caem sobre os mesmos, o Trabalho. Aí é necessária liderança séria ou poder autoritário. Ambos os cenários estão abertos. CDS e PSD terão a chave?          João Cunha INICIANTE: A última frase não podia ser mais na mouche, mas será que isso interessa? primeiro esvazia-se a sociedade de conhecimento e cultura, e inclina-se a distribuição da riqueza, e depois, com a ajuda de algumas "elites" que apodrecem os centros de poder, faz-se eleger uma reles personagem. Bem autoritário, "para pôr ordem nisto". A tal receita, que sempre deu para o torto, mas volta sempre a ser tentada.           Matoteka Francisco INICIANTE: Se alguém acha que estamos realmente num País a sério, bem governado, com um nível de vida suficientemente sólido, apetecível, bom para se viver, ,,,infelizmente a realidade é outra, miserabilismo, sofrimento, pobreza, asfixia a quem trabalha, inquietude a quem promove a força do trabalho e criação de riqueza, o sugamento em impostos nas empresas, o dar benesses e dinheiro a quem nada faz e não precisa,,, um desgoverno frouxo, medíocre, incompetente, que erram todos os dias, não assumem os erros e empurram sempre para outros as suas miserabilistas atitudes.           Maria Montelobo INFLUENTE; O sociólogo que menoriza os resultados de Ana Gomes e a importância de ser uma mulher de esquerda, uma socialista embora não apoiada pelo seu partido, a impedir que o candidato de extrema direita AV ficasse em segundo lugar.            cisteina EXPERIENTE: Bom texto, como sempre, o PR vai ter a tarefa dificultada, não tanto porque AC lha quer dificultar mas porque as coisas são o que são e estão como estão, agravadas pela pandemia que, contas feitas, não é a maior culpada, este é o pior Governo de sempre, com problemas que podiam (e deviam) ser evitados, com ministros sem categoria para os cargos. As coisas, apesar de tudo, correram bem, ainda há alma para se fazer bem (as eleições correram lindamente e só quem anda nelas sabe o trabalho que dão e a dedicação que exigem), mas, se não houver alterações na administração pública, mais competência e exigência, não iremos a lado nenhum, o PR deve estar atento se quiser ficar na história.              Saturno V INICIANTEO povo é soberano!!  José Faria INICIANTE: Será que Marcelo poderia diligenciar no sentido de ser nomeado um Chefe Supremo para a Luta contra o Covid, com meios, organização, pessoas e poderes para conter o vírus e promover a vacinação? Sugiro: António Vitorino, Paulo Macedo, Horta Osório, Carlos Moedas... Numa missão patriótica! Saturno V INICIANTE: Podia incluir também o Cristiano Ronaldo e Homem-aranha !!            Francisco Santos INICIANTE: Pois, já agora acrescente o prof Cavaco e o Dr Salazar.... só virulogistas e pandemistas experimentados e assim como assim dava para rir um bocado...          Carlos Casimiro da Costa INICIANTE: Apesar da análise cuidado á eleição do Presidente Marcelo, onde está o fantástico sociólogo do: Portugal , um retrato social.         restrela.518564 INICIANTE: Já se reformou há muito tempo...

 

OPINIÃO PRESIDENCIAIS 2021

Alegrem-se, portugueses: a noite podia ter corrido pior

Em vez de terem pesadelos com André Ventura, deixo aqui cinco excelentes razões para saírem bem-dispostos à rua (apenas para um passeio higiénico).

JOÃO MIGUEL TAVARES

PÚBLICO, 24 de Janeiro de 2021

Numa altura tão difícil para o país e para o mundo, as eleições presidenciais que muitos achavam que não deveriam ter acontecido correram tão bem quanto se poderia esperar. Alegrem-se, pois, os portugueses: no meio da tempestade, tiveram direito a um fugidio arco-íris eleitoral. Em vez de terem pesadelos com André Ventura, deixo aqui cinco excelentes razões para saírem bem-dispostos à rua (apenas para um passeio higiénico).

1. Um número total de votos muito razoável. No actual contexto, ter mais de quatro milhões de pessoas a votar é notável. São números ao nível das presidenciais de 2011, o que prova que o aumento da temperatura política em Portugal pode ter muitas desvantagens, mas pelo menos motiva os cidadãos à participação democrática. Ajudou muito os eleitores terem à sua disposição um espectro ideológico muito alargado, com candidatos para todos os gostos. Eles responderam em conformidade.

2.Marcelo eleito à primeira volta. Marcelo foi o melhor nos debates e demonstrou uma solidez política a grande distância de todos os outros. Mereceu ser eleito à primeira volta. Cumpriu os seus mínimos pessoais – ficar acima dos 60% –, com metade dos votos a virem da esquerda e a outra metade da direita, o que lhe dá um poder e uma legitimidade únicos em Portugal. Tenho muitas dúvidas que vá usar esse poder para alguma coisa, mas que o tem, tem.

3. Ana Gomes ficou em segundo. A votação de Ana Gomes esteve longe de ser impressionante, mas teve o mérito de aguentar o segundo lugar, o que só por si justificou a sua campanha. Foi um voto de confiança na decência e também uma pequena vitória para a ala pedronunista do PS. A ameaça do resultado de Ventura granjeou-lhe votos úteis e levou ao esvaziamento dos partidos à sua esquerda, que cometeram o enorme erro (sobretudo o Bloco) de não se juntarem a ela.

4. André Ventura lá teve de apresentar a sua demissão. Poderia ter sido uma noite exclusivamente de vitória para o Chega, porque ter meio milhão de votos, decuplicar a percentagem de 2019 e chegar a uma votação de dois dígitos é muito impressionante (e muito preocupante para o estado da política portuguesa, como um todo). Mas Ventura fez o favor de elevar as expectativas até níveis despropositados, e, portanto, conseguiu transformar uma grande vitória numa pequena derrota. Duvido muito que o acirrar do discurso cavernícola na parte final da sua campanha o tenha beneficiado, e alimento a esperança de que tenha atingido o seu tecto eleitoral. Só que para isso é fundamental que os outros partidos percebam o que se está a passar.

5. Tiago Mayan mordeu os calcanhares a Marisa Matias e a João Ferreira. Tendo em conta que Tiago Mayan foi, durante boa parte da campanha, Tiago Quem?, o resultado do candidato da Iniciativa Liberal, com 3,2%, não deixa de ser notável, triplicando a percentagem e duplicando o número de votos que o seu partido tinha conseguido nas legislativas de 2019. Mayan ficou a 30 mil votos de Marisa Matias e a 40 mil de João Ferreira, o que significa que há um caminho para o liberalismo português. E ele está a ser construído por gente nova, anónima, sem presença televisiva, e com nada mais do que a força das suas ideias. É obra.

Jornalista

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COMENTÁRIO (1 em 68):

PdellaF.468453 EXPERIENTE: Uma nota apenas: Tiago Mayan teve um resultado nacional bom para as circunstâncias da campanha, mas temos de ler sobretudo os obtidos nos círculos eleitorais onde se elege mais deputados. Porque a candidatura dele não teve a ver com Presidenciais mas com as próximas legislativas e objectivos a longo prazo do IL. Não vale a pena ter 20% em Portalegre, como teve o Ventura, se ali se elegem apenas 2 deputados. Com o método d'Hondt é capaz de não obter nenhum deputado. Ora, Tiago Mayan obteve bons resultados no Porto e em Lisboa e o IL é capaz de subir bem nas próximas eleições se houver persistência no bom trabalho político que estão a fazer. Não votei nem em Mayan e, provavelmente, não votarei IL.

 

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