De José Diogo Quintela, mais um cronista com grande sentido de humor, a desmascarar toda uma governação indiferente a uma formação educacional honesta e não de ficção, como, por agora, se observa, nestas ordens e contra-ordens a respeito de aulas presenciais ou à distância, estas últimas genericamente bloqueadas, a encobrir as falhas no material computacional, e desta forma prejudicando todos os alunos – os que poderiam seguir as aulas, porque têm computador, comendo por tabela, por conta dos que o não têm, os computadores distribuídos no tempo de Sócrates já velhos e ultrapassados em eficácia, se não estragados. Sim tem toda a razão, José Diogo Quintela nessa questão do nivelamento - como sempre se pretendeu, aliás, com a tal teoria da igualdade de direitos expelida por quem de direito nos governa, mas de si repudiando tal nivelamento, é claro: «É uma boa decisão de Brandão Rodrigues. Acaba com uma política que cava o fosso entre ricos e pobres, substituindo-a por uma política que põe ricos e pobres, lado a lado, a cavarem fossos.» Uma crónica humorística de grande subtileza, que acentua a prepotência de uma governação que nos vai faustosamente, com dinheiro alheio, ligar a Madrid, pelo TGV, preparando o festim para os muitos convivas do projecto, e que descura o ensino, como coisa secundária, para mais nesta triste demonstração de uma absoluta desorientação, também no caso da pandemia, de efeitos trágicos, no nosso país, superiores em percentagem a todos os outros países.
A Jérassão Raxca/premium
É uma boa decisão de Brandão
Rodrigues. Acaba com uma política que cava o fosso entre ricos e pobres,
substituindo-a por uma política que põe ricos e pobres, lado a lado, a cavarem
fossos.
JOSÉ DIOGO
QUINTELA, Colunista do OBSERVADOR
OBSERVADOR, 26 jan
2021
A
crónica pós-eleitoral é um clássico da imprensa portuguesa. No dia seguinte ao
sufrágio, os comentadores fazem o chamado rescaldo, apontando vencedores e
vencidos, as surpresas e desilusões, as previsões para o mandato do
recém-eleito e as questões sobre o futuro político dos derrotados. Uma
espécie de autópsia realizada pela Maya.
Confesso,
estava em pulgas para a escrever. Apetecia-me um dia de trabalho calmo, a
verter os apontamentos que fui tirando durante a noite eleitoral. Já tinha
notas para os Altos & Baixos: Marcelo
nos “altos”, claro; Bloco nos “baixos”, óbvio; e Chicão nos “empoleirados”. Também tinha um rascunho sobre a organização das
eleições, tendo em conta o tempo de espera para votar em alguns sítios.
Ia dizer que Eduardo Cabrita deveria ter usado todos os meios à sua disposição,
nomeadamente os inspectores do SEF que têm prática em fazer pessoas chegarem
mais depressa às urnas.
Enfim,
ia ser uma tarde sossegada. Infelizmente, não está a ser possível. Não estou
a conseguir concentrar-me porque o Governo proibiu todas as escolas, até as
privadas, de terem aulas online e os meus filhos devem achar que a proibição
também se aplica ao meu trabalho.
Há quem, maldosamente, culpe o
radicalismo socialista, pois vêem nesta decisão o pior do igualitarismo, a
nivelar por baixo e a castigar as escolas privadas que se prepararam com tempo
para a hipótese bastante provável de termos de confinar novamente. São os críticos azedos de uma suposta
deriva esquerdista deste Governo, que, afirmam, despreza a iniciativa privada,
como se vê nas conversas sobre os hospitais privados ou a nacionalização da
TAP. Para estas pessoas, o Governo põe a ideologia à frente do bem-estar das
crianças.
Não podia ser mais longe da realidade. Se o Governo não conseguiu
equipar os alunos da escola pública com o equipamento que tinha prometido e por
isso acabou com as aulas para todos, a culpa não é do socialismo. É,
evidentemente, do capitalismo. Como
concordará qualquer pessoa que já tenha tentado adquirir um computador
na Worten. Convido o
leitor a fazer a experiência. Abra a página da loja virtual e procure
“portáteis”. Aparecem 221 resultados. Como escolher? Pelo preço? Pela marca? Há
dezenas. Qual o processador? INTEL ou AMD? Quanto de memória? Quer a RAM, quer
a de armazenamento? Que tipo de placa gráfica? E o sistema operativo?
Uma economia de mercado que
proporciona ao consumidor esta escolha é inimiga do povo. Coitado de Tiago Brandão Rodrigues, que ainda está com a cabeça em água, sem conseguir
decidir-se. Deve ter
feito um excel para comparar máquinas com dados da Deco Proteste. Os críticos
dizem que, desde Abril, o Ministro teve 10 meses para tratar disto. Como se
fosse tempo suficiente. Se contarmos com quatro meses para escolher o
aparelho, chegamos a Agosto. Metem-se as férias e não há ninguém no
Ministério para fazer a encomenda. Em Setembro, mais vale esperar pela Black
Friday. Entretanto, saíram novos modelos, há que reavaliar. E, já
agora, aproveitamos as promoções de Janeiro. Portanto, é preciso ser muito
hipócrita para atacar Brandão Rodrigues por ainda não ter proporcionado as
condições informáticas, quando a culpa da falta de condições informáticas é
das grandes empresas de retalho que disponibilizam óptimas condições
informáticas em demasia.
Obviamente,
se não há os computadores para que as crianças da escola pública continuem a
usufruir do ensino à distância que tão boa conta deu de si no ano passado,
então não vale a pena continuar com o ensino à distância, que é uma grande bodega e não
ajuda ninguém. Pelo menos durante as próximas duas semanas. Depois disso, o
ensino à distância é outra vez bom.
É uma boa decisão de Brandão Rodrigues, a bem da igualdade. Acaba
com uma política que cava o fosso entre ricos e pobres, substituindo-a por uma
política que põe ricos e pobres, lado a lado, a cavarem fossos. E valas, roços
e covas. Buracos em geral, como é costume nas obras. A construção civil é para
onde vai quem não tem qualificações para trabalhar noutro sítio. Como os alunos
que frequentaram o ensino durante o consulado deste Ministro.
Depois
da Geração Rasca, vamos ter a Jérassão Raxca. Quando forem estudantes
universitários, só não mostram o rabo com “não pago” lá escrito, porque não
sabem se “pago” é com “u” ou com “o”. Aliás, se escreverem alguma coisa é “não
me pagam”, porque vão estar no desemprego.
As
consequências das ideias de Brandão Rodrigues não são continuar a ter os miúdos
em casa daqui a 15 dias. Essa já dou de barato. O pior é continuar a
tê-los em casa daqui a 15 anos por não conseguirem arranjar emprego e terem de
viver com os pais. Como
descobrimos quando saíram os resultados dos TIMMS, esta geração deixou de
contar.
ESCOLAS EDUCAÇÃO PANDEMIA SAÚDE TIAGO BRANDÃO
RODRIGUES POLÍTICA
COMENTÁRIOS:
Morais Silva: Parabéns boa reportagem !
Maria Soares: Muito bom! Pedro Pereira: Mais um artigo Genial! Obrigado
por nos fazer rir com esta miséria de governação. antonyo antonyo: Muito bom ! As usual... Artur Parracho: Haja um Gato Fedorento que se
preze. Assertivo o artigo. Infelizmente é o País que temos ... Themudo Barata: Prezado José Diogo
É assim a
esquerda extremista: põe a ideologia à frente de tudo e acha que faz bem em
fazê-lo, desde que não seja para eles. Como diz o Camilo Lourenço, no seu
canal, "a culpa é sua que votou nisto". E mais: eu como professor
universitário em diferentes cursos, acho que a "Jérassão Raxsca" já
existe, embora ainda se dê pouco por ela. Depende dos cursos, porque a
população destes reflecte, em certa medida, as médias liceais e o nível
cognitivo. Mas que ela já aí anda, já. Mas que será pior, infelizmente concordo
consigo. Como o seu artigo mostra, e com razão, o principal problema de
Portugal é político: atrás disso vem o resto. Ricardo Salgueiro: Muito Bom ! Luís Martins: Cinco estrelas. Isto é que é
humor, que infelizmente não veremos nas tv´s, que vomitam propaganda às
paletes.
Pedro Ferro: Dos melhores artigos do JDQ, e tem vários bastante bons. Para guardar. Eduardo Abreu:
É de chorar às
lágrimas! Ou será melhor rir? Não, ninguém ri de tragédias, e esta tragédia
nada tem de cómico. Lembro que nesta música que o solista é um vírus enviado do
oriente (não posso dizer quem é o pai do vírus que ainda sou censurado...) e a
música é tocada pela orquestra socialista, com os bombos do PCP e do BE...
A V: Infelizmente, tudo isto é verdade apesar do tom usado por JDQ e que nos faz
sorrir. Além disso, nem todos os alunos estão sem aulas: há faculdades cujos
semestres começaram esta semana e que estão a usar o estatuto de autonomia para
continuar com o seu calendário, apesar de no sistema remoto. Era o que os
colégios privados queriam fazer. A
incompetência deste governo, que é comparável ao seu tamanho, só vem desnudar
as imensas e profundas assimetrias da sociedade portuguesa. Somos um país
minúsculo, mas onde a 40km de Lisboa se nota já a diferença em tudo. Os
ordenados são baixos, as famílias vivem em casas diminutas, a maioria dos pais
não é capaz de ajudar os filhos (aliás, eu, com doutoramento, também não seria
tendo em conta o que mudaram os curricula nos últimos anos), a internet não
chega a todo o país e, vejam se entendem: UM COMPUTADOR POR ALUNO É UM
PRIVILÉGIO QUE NAO EXISTE. Os ministérios prometeram, o governo confirmou, e a
única coisa que se verifica é o costume: empurrar com a barriga, pode ser que
não aconteça. É por isso que não há em Portugal nenhum plano B, é por isso que
os membros do governo tiraram férias no Verão e que a única coisa que realmente
importa são os corredores aéreos com o RU. Sim, as crianças e os jovens são o
elo mais fraco deste panorama assolador de desigualdade sócio-económica e são
eles quem mais vai sofrer com tudo isto, porque é o futuro deles que está
inquinado. Nuno Ribeiro: Viva a igualdade cega Viva a
mediocridade vigente Viva o nivelamento por baixo Viva o estado incapaz Viva a
corrupção Viva o Xuxalismo Vivam os mortos (acho que já devo estar a
exagerar...)
…………………………………
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