quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Uma crónica que parece prazenteira

 

De José Diogo Quintela, mais um cronista com grande sentido de humor, a desmascarar toda uma governação indiferente a uma formação educacional honesta e não de ficção, como, por agora, se observa, nestas ordens e contra-ordens a respeito de aulas presenciais ou à distância, estas últimas genericamente bloqueadas, a encobrir as falhas no material computacional, e desta forma prejudicando todos os alunos – os que poderiam seguir as aulas, porque têm computador, comendo por tabela, por conta dos que o não têm, os computadores distribuídos no tempo de Sócrates já velhos e ultrapassados em eficácia, se não estragados. Sim tem toda a razão, José Diogo Quintela nessa questão do nivelamento - como sempre se pretendeu, aliás, com a tal teoria da igualdade de direitos expelida por quem de direito nos governa, mas de si repudiando tal nivelamento, é claro: «É uma boa decisão de Brandão Rodrigues. Acaba com uma política que cava o fosso entre ricos e pobres, substituindo-a por uma política que põe ricos e pobres, lado a lado, a cavarem fossosUma crónica humorística de grande subtileza, que acentua a prepotência de uma governação que nos vai faustosamente, com dinheiro alheio, ligar a Madrid, pelo TGV, preparando o festim para os muitos convivas do projecto, e que descura o ensino, como coisa secundária, para mais nesta triste demonstração de uma absoluta desorientação, também no caso da pandemia, de efeitos trágicos, no nosso país, superiores em percentagem a todos os outros países.


A Jérassão Raxca/premium

É uma boa decisão de Brandão Rodrigues. Acaba com uma política que cava o fosso entre ricos e pobres, substituindo-a por uma política que põe ricos e pobres, lado a lado, a cavarem fossos.

JOSÉ DIOGO QUINTELA, Colunista do OBSERVADOR

OBSERVADOR, 26 jan 2021

A crónica pós-eleitoral é um clássico da imprensa portuguesa. No dia seguinte ao sufrágio, os comentadores fazem o chamado rescaldo, apontando vencedores e vencidos, as surpresas e desilusões, as previsões para o mandato do recém-eleito e as questões sobre o futuro político dos derrotados. Uma espécie de autópsia realizada pela Maya.

Confesso, estava em pulgas para a escrever. Apetecia-me um dia de trabalho calmo, a verter os apontamentos que fui tirando durante a noite eleitoral. Já tinha notas para os Altos & Baixos: Marcelo nos “altos”, claro; Bloco nos “baixos”, óbvio; e Chicão nos “empoleirados”. Também tinha um rascunho sobre a organização das eleições, tendo em conta o tempo de espera para votar em alguns sítios. Ia dizer que Eduardo Cabrita deveria ter usado todos os meios à sua disposição, nomeadamente os inspectores do SEF que têm prática em fazer pessoas chegarem mais depressa às urnas.

Enfim, ia ser uma tarde sossegada. Infelizmente, não está a ser possível. Não estou a conseguir concentrar-me porque o Governo proibiu todas as escolas, até as privadas, de terem aulas online e os meus filhos devem achar que a proibição também se aplica ao meu trabalho.

Há quem, maldosamente, culpe o radicalismo socialista, pois vêem nesta decisão o pior do igualitarismo, a nivelar por baixo e a castigar as escolas privadas que se prepararam com tempo para a hipótese bastante provável de termos de confinar novamente. São os críticos azedos de uma suposta deriva esquerdista deste Governo, que, afirmam, despreza a iniciativa privada, como se vê nas conversas sobre os hospitais privados ou a nacionalização da TAP. Para estas pessoas, o Governo põe a ideologia à frente do bem-estar das crianças.

Não podia ser mais longe da realidade. Se o Governo não conseguiu equipar os alunos da escola pública com o equipamento que tinha prometido e por isso acabou com as aulas para todos, a culpa não é do socialismo. É, evidentemente, do capitalismo. Como concordará qualquer pessoa que já tenha tentado adquirir um computador na Worten. Convido o leitor a fazer a experiência. Abra a página da loja virtual e procure “portáteis”. Aparecem 221 resultados. Como escolher? Pelo preço? Pela marca? Há dezenas. Qual o processador? INTEL ou AMD? Quanto de memória? Quer a RAM, quer a de armazenamento? Que tipo de placa gráfica? E o sistema operativo?

Uma economia de mercado que proporciona ao consumidor esta escolha é inimiga do povo. Coitado de Tiago Brandão Rodrigues, que ainda está com a cabeça em água, sem conseguir decidir-se. Deve ter feito um excel para comparar máquinas com dados da Deco Proteste. Os críticos dizem que, desde Abril, o Ministro teve 10 meses para tratar disto. Como se fosse tempo suficiente. Se contarmos com quatro meses para escolher o aparelho, chegamos a Agosto. Metem-se as férias e não há ninguém no Ministério para fazer a encomenda. Em Setembro, mais vale esperar pela Black Friday. Entretanto, saíram novos modelos, há que reavaliar. E, já agora, aproveitamos as promoções de Janeiro. Portanto, é preciso ser muito hipócrita para atacar Brandão Rodrigues por ainda não ter proporcionado as condições informáticas, quando a culpa da falta de condições informáticas é das grandes empresas de retalho que disponibilizam óptimas condições informáticas em demasia.

Obviamente, se não há os computadores para que as crianças da escola pública continuem a usufruir do ensino à distância que tão boa conta deu de si no ano passado, então não vale a pena continuar com o ensino à distância, que é uma grande bodega e não ajuda ninguém. Pelo menos durante as próximas duas semanas. Depois disso, o ensino à distância é outra vez bom.

É uma boa decisão de Brandão Rodrigues, a bem da igualdade. Acaba com uma política que cava o fosso entre ricos e pobres, substituindo-a por uma política que põe ricos e pobres, lado a lado, a cavarem fossos. E valas, roços e covas. Buracos em geral, como é costume nas obras. A construção civil é para onde vai quem não tem qualificações para trabalhar noutro sítio. Como os alunos que frequentaram o ensino durante o consulado deste Ministro.

Depois da Geração Rasca, vamos ter a Jérassão Raxca. Quando forem estudantes universitários, só não mostram o rabo com “não pago” lá escrito, porque não sabem se “pago” é com “u” ou com “o”. Aliás, se escreverem alguma coisa é “não me pagam”, porque vão estar no desemprego.

As consequências das ideias de Brandão Rodrigues não são continuar a ter os miúdos em casa daqui a 15 dias. Essa já dou de barato. O pior é continuar a tê-los em casa daqui a 15 anos por não conseguirem arranjar emprego e terem de viver com os pais. Como descobrimos quando saíram os resultados dos TIMMS, esta geração deixou de contar.

ESCOLAS  EDUCAÇÃO  PANDEMIA  SAÚDE  TIAGO BRANDÃO RODRIGUES  POLÍTICA

COMENTÁRIOS:

Morais Silva: Parabéns boa reportagem !        Maria Soares: Muito bom!          Pedro Pereira: Mais um artigo Genial! Obrigado por nos fazer rir com esta miséria de governação.          antonyo antonyo: Muito bom ! As usual...           Artur Parracho: Haja um Gato Fedorento que se preze. Assertivo o artigo. Infelizmente é o País que temos ...          Themudo Barata: Prezado José Diogo É assim a esquerda extremista: põe a ideologia à frente de tudo e acha que faz bem em fazê-lo, desde que não seja para eles. Como diz o Camilo Lourenço, no seu canal, "a culpa é sua que votou nisto".  E mais: eu como professor universitário em diferentes cursos, acho que a "Jérassão Raxsca" já existe, embora ainda se dê pouco por ela. Depende dos cursos, porque a população destes reflecte, em certa medida, as médias liceais e o nível cognitivo. Mas que ela já aí anda, já. Mas que será pior, infelizmente concordo consigo. Como o seu artigo mostra, e com razão, o principal problema de Portugal é político: atrás disso vem o resto.          Ricardo Salgueiro: Muito Bom !            Luís Martins: Cinco estrelas. Isto é que é humor, que infelizmente não veremos nas tv´s, que vomitam propaganda às paletes.

Pedro Ferro: Dos melhores artigos do JDQ, e tem vários bastante bons. Para guardar.               Eduardo Abreu: É de chorar às lágrimas! Ou será melhor rir? Não, ninguém ri de tragédias, e esta tragédia nada tem de cómico. Lembro que nesta música que o solista é um vírus enviado do oriente (não posso dizer quem é o pai do vírus que ainda sou censurado...) e a música é tocada pela orquestra socialista, com os bombos do PCP e do BE...

A V: Infelizmente, tudo isto é verdade apesar do tom usado por JDQ e que nos faz sorrir. Além disso, nem todos os alunos estão sem aulas: há faculdades cujos semestres começaram esta semana e que estão a usar o estatuto de autonomia para continuar com o seu calendário, apesar de no sistema remoto. Era o que os colégios privados queriam fazer. A incompetência deste governo, que é comparável ao seu tamanho, só vem desnudar as imensas e profundas assimetrias da sociedade portuguesa. Somos um país minúsculo, mas onde a 40km de Lisboa se nota já a diferença em tudo. Os ordenados são baixos, as famílias vivem em casas diminutas, a maioria dos pais não é capaz de ajudar os filhos (aliás, eu, com doutoramento, também não seria tendo em conta o que mudaram os curricula nos últimos anos), a internet não chega a todo o país e, vejam se entendem: UM COMPUTADOR POR ALUNO É UM PRIVILÉGIO QUE NAO EXISTE. Os ministérios prometeram, o governo confirmou, e a única coisa que se verifica é o costume: empurrar com a barriga, pode ser que não aconteça. É por isso que não há em Portugal nenhum plano B, é por isso que os membros do governo tiraram férias no Verão e que a única coisa que realmente importa são os corredores aéreos com o RU. Sim, as crianças e os jovens são o elo mais fraco deste panorama assolador de desigualdade sócio-económica e são eles quem mais vai sofrer com tudo isto, porque é o futuro deles que está inquinado.          Nuno Ribeiro: Viva a igualdade cega Viva a mediocridade vigente Viva o nivelamento por baixo Viva o estado incapaz Viva a corrupção Viva o Xuxalismo Vivam os mortos (acho que já devo estar a exagerar...)

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