Foi antes uma espécie de distensão
nervosa. O governo receou que fôssemos renegados para os últimos lugares a
receber as vacinas e essas desconsiderações não as engolimos bem, nem admitimos
a ninguém, como já acontecia com o Damasozinho Salcede, mas no caso actual, não
tínhamos a certeza se teríamos que o admitir, por sermos os tais da cauda. Felizmente,
a União Europeia é democrata qb e decidiu com elegância, sem extremar posições,
em igualdade de direitos dos países que a compõem, e soubemos aproveitar o
facto, com o toque de clarim adequado, para criar o herói, como já explicara o Reinaldo Ferreira na sua “Receita para fazer um herói”.
De resto, somos bem um povo de garraiada como espectáculo, amante de espectáculo vistoso, e do milagre. As vacinas, sendo esse milagre, e o governo o milagreiro, festeje-se o governo, sem levar a mal. Ou mude-se de canal.
O “plano” de vacinação, o plano da
propaganda e o plano inclinado /premium
O país desceu a tais abismos de descaramento que se
torna muito difícil distingui-lo de uma rábula de revista. A única diferença é
que o público da revista tinha noção das circunstâncias e ria.
ALBERTO GONÇALVES
OBSERVADOR,02 jan
2021
O “Diário de Notícias”, que
passou os últimos tempos escondido num “site” que ninguém visitava, ressuscitou
em papel. Fazia falta.
Manifestamente, cinco estações televisivas, duas ou três rádios, duas ou três
revistas e diversos diários e semanários não chegavam para exaltar a
competência e a integridade do governo, cujas proezas exigem cobertura
vasta, ou pelo menos proporcional aos subsídios distribuídos. Logo na primeira
edição da sua nova incarnação, o “DN” promete.
E cumpre. Artigos de “opinião” de actuais ministros e
ex-ministros. Artigos de “opinião” de admiradores dos actuais ministros e
ex-ministros. Uma fascinante entrevista com a comissária europeia Elisa Ferreira. E,
claro, uma sondagem que mostra o apoio dos portugueses à acção governamental
contra a Covid: “nota positiva”, dizia a manchete, com a palavra “positiva”
aumentada até quase transbordar da página. O dr. Costa publicou logo um “tweet”
a confessar a “grande felicidade” que sentiu ao segurar o fresquíssimo “DN”. E o “DN” publicou uma notícia a
dar conta do “tweet” do dr. Costa.
Parece anedota. E é. O país desceu a
tais abismos de descaramento que se torna muito difícil distingui-lo de uma
rábula de revista. A única diferença é que o público da revista tinha noção das
circunstâncias e ria. Hoje, os portugueses não notam que estão perante um
espectáculo de burlesco, e levam o espectáculo a sério. E levam a sério os protagonistas do espectáculo. E levam a sério o
“DN”. E
respondem a sério às sondagens do “DN”. E, incrível e maravilhosamente, gostam
a sério do que lhes calhou em sorte. Daqui a três semanas, uma parte
significativa do eleitorado reelegerá o prof. Marcelo com larga folga. Se
amanhã houvesse “legislativas”, o PS ganharia sem problemas. Depois de tudo e
apesar de tudo. O desempenho do prof. Marcelo e do dr. Costa nestes cinco anos
devia levá-los a perder em popularidade para “Tino” de
Rans, Gungunhana ou um edredão às riscas.
Misteriosamente, não levou, e a supressão da oposição, dos “media” e, em suma,
do escrutínio “formal” não esgota as explicações.
Para
lembrar um exemplo recente, nenhuma pessoa saudável carece de ajuda
partidária ou jornalística para perceber o carácter repulsivo e insultuoso da encenação
alusiva às vacinas. Que
eu saiba, não houve lugar no Ocidente em que membros do governo se plantassem
na chegada da primeira remessa e, de seguida, na administração da primeira
dose. Excepto por cá, escusado dizer, onde a ministra da Saúde e uns penduricalhos
anexos prendaram ambos os “momentos históricos” com a sua inestimável, e assaz
útil, presença, para cúmulo sem particular “distanciamento social” ou moral. Em países comuns, o processo de vacinação
requer organização, rapidez e eficácia. Aqui, basta a dona Marta, umas câmaras
de tv e uma audiência de pasmados incapazes de separar o que é informação do
que é propaganda e uma radical ausência de vergonha.
Em
2021, os pasmados terão 365 dias para continuar a ignorar a propaganda, as
negociatas, as restrições, as humilhações, as mentiras, as fraudes, as mortes
por Covid, as mortes pela “estratégia” de “combate” à Covid, as falências, o
empobrecimento e a firmeza com que Portugal caminha para os fundilhos
dos fundilhos da Europa, material e simbolicamente. Porém, se eu fosse a eles, aos pasmados, aproveitaria
o ano para ignorar uma questão em particular: o sucesso do nosso
“plano” de vacinação. A coisa
já começou bem, com as aparições da dona Marta, a facilidade com que toda a
gente descobriu o local “secreto” de armazenamento das vacinas, o debate entre
PSP e GNR sobre a força habilitada para escoltar uns frasquinhos e a mensagem
no telemóvel a esclarecer-nos de que seremos vacinados na 3ª fase que é logo
após a 2ª. Daqui em diante, a coisa irá melhorar.
Por
mim, tenciono ocupar 7% do meu ócio a visitar a página ourworldindata.org/covid-vaccinations. É rica em dados e será bilionária a exibir, com
números, factos e tabelas, a dimensão do atraso pátrio e a dimensão da burla
perpetrada pelos senhores que mandam nisto. Até ver, Portugal vacinou 16
mil cidadãos, contra perto de 3 milhões nos EUA e um milhão no Reino Unido.
Qualitativamente, temos 0,16% da população vacinada, contra 0,84% nos EUA e
1,47% no Reino Unido – e 11,55% em Israel. Por enquanto, nada de grave ou
especial. Mas é um aperitivo. E um forte indício de que, à medida que
2021 avança, avançará, também neste critério, o fosso que nos separa da
civilização, e ficarão ainda mais nítidas a inaptidão e a desonestidade dos
caipiras que nos pastoreiam. Como o
critério é claro e a página permite comparações imediatas,
prevejo diversão prolongada. E depressão profunda. Ou seja, a minha decisão de
Ano Novo é contemplar, através de vacinas e percentagens, o desastre para que
nos lançaram, nas vacinas, nas percentagens e no resto.
Infelizmente
– ou felizmente, sei lá – não serei acompanhado por boa parte das vítimas do
desastre, leia-se os pasmados, demasiado ocupados a fugir da realidade, a
acompanhar as conferências da DGS, a cumprir as ordens que perpassam pelo
cocuruto do dr. Costa, a votar no prof. Marcelo, a aplaudir sucessivos estados
de emergência, a ser tratados como animais e a ler no “DN” acerca destes
delírios e outros evangelhos do poder vigente. Estou a brincar: nem
os pasmados lêem o “DN”.
PANDEMIA SAÚDE CRÓNICA
OBSERVADOR MINISTÉRIO DA SAÚDE GOVERNO
POLÍTICA
COMENTÁRIOS:
Ia ficar tudo bem!: Mas
ainda há quem leia jornais portugueses? A última vez que fiz uma ronda por
jornais, a informação mais honesta encontrei-a nas páginas centrais do CM, em
anúncios com fotos de rabos. Tudo o resto, em todos eles, me pareceu um
desenvergonhado p*t*edo.
S Belo: Lamentável
a encenação da chegada das vacinas . Uma ausência: "los chicos com
banderillas".
Cipião Numantino: Enfim,
tudo isto é fado. Ou melhor, malhas que o xux ualismo cá do burgo tece! Conta-se
por aí, à laia de anedota, que em visita informal do Dr. Costa ao cardeal-patriarca
de Lisboa o nosso xux ualeiro PM se lamentou junto do prelado que estava muito
difícil convencer uma boa parte do povão tuga das excelsas virtudes do paraíso
socialista e, acrescentava que, pelo contrário, quase toda a gente acreditava
no paraíso celestial que a Igreja defendia. Com grande surpresa para o Dr.
Costa, o cardeal-patriarca respondeu “bom, a grande e única diferença, é que o
nosso paraíso ainda nunca foi mostrado a ninguém”!
E é isto. O paraíso que a xux alhada nos tem “ad nauseam” apresentado,
não passa mesmo de um éden burlesco onde desde sempre temos garantido umas
bancar rotas sistemáticas, uma espécie de tropa fandanga de salt imbancos
esquerdeiros, vendedores de banhas da cobra e, finalmente, contos do vi g ário
em que o suprassumo mais evidente é o génio Socrastiano. Mas que não se
amofinem as almas pueris xuxo-comunas porque, pelo menos, sempre saem da toca
uns aluc inados aparentemente fugidos do J úl io de M atos onde se aconselham
compotas a metro, enquanto se propõem reuniões de tipo condóminos efetivos,
percursores e garantistas de que com uma boa dose de sorte ainda acaba tudo à l
amb ada. Por sua vez arranjam-se uns curr ículos à vontade do freguês para se
sacar umas massas para os apaniguados da trupe e, pronto, toma lá disto para
meterem inveja a umas quantas sei tas do mal. Sorte a nossa. E ao que parece,
ainda somos mal agradecidos, por não conseguirmos apreciar as virtudes
intrínsecas do xux ualismo em que pontificam pastores do quilate do Mic rofones
e de uma senhora com trejeitos de sopeira, toda estilosa e com ar de tal maneira
kitsch, que sempre fico na dúvida se se trata de uma reencarnação da madre
Teresa de Calcutá (versão aterrorizante) ou aparecida do nada só para
estabelecer a confusão. E o povão gosta. E clama por mais como se infere das
sondagens mais que mar teladas que nos entram pelas TV de meia em meia hora. Mau
de mais para ser verdade. E ponho-me a pensar que os mistérios do xux ualismo
lusitano possuem desígnios insondáveis. No mínimo, que estou metido numa
comédia burl esca onde nada faz sentido e de que só acordo quando me belisco e
me deparo com a completa boç alidade dos descendentes de um povo que criou o
1º. império global da História. Mas “ca ganda cegada"! É mesmo azar dos
Távoras!... PS- Fui defe nestrado, em termos simbólicos,
do defunto DN antes até do nosso estimado AG. Quem à época me leu, dever-se-á
lembrar do que sobre este tema escrevi. O consulado do André Macedo coincidiu
com o último assomo de dignidade de um jornal que marcou uma época. Depois, foi
sempre a cair. O Baldaia dos fretes xux alistas pregou o 1º. prego do caixão e
o visivelmente engajado FF, escaqueirou as tábuas que restavam. Acredito pouco
em ressurreições. E, no efeito e na forma, o DN está mais que moribundo e só
faltará rezar a missa do 7º. dia. Paz à sua alma!...
Albano Rosa: Muito
bom
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