Ser mulher é mais difícil, como afirma
simplesmente Patrícia Alves
Fernandes, que o sentiu na pele, como a maioria das mulheres o
tem sentido ao longo dos tempos, pela sua condição frágil de procriadora, pesem
embora as teorias de que a mulher é uma “construção social”, alienante, criada
por uma sociedade essencialmente machista: “On ne naît pas femme, on le devient”, afirmou-o Simone de Beauvoir e isso parece treta. Patrícia Alves Fernandes resumiu-o esplendidamente no primeiro parágrafo do
seu excelente texto de uma revolta sentida, dada a marginalização que na sociedade impera
ainda, mau grado as lutas feministas reivindicativas de direitos iguais, hipocritamente
constando estes na legislação, mas não nas almas, que se regerão sempre pela
lei do mais forte.
Ser mulher é mais difícil. Ponto.
Quem
disser o contrário é homem. Isto não é feminismo, é a realidade.
PATRÍCIA ALVES FERNANDES Marketeer
por profissão, criativa na sua essência.
PÚBLICO, 28 de
Janeiro de 2021
Ser mulher é mais difícil. Ponto. Quem disser o contrário é homem. Isto não é
feminismo, é a realidade. É a sucessão de afazeres que esperam
que completes, como se a sua execução fosse inata, colada à nascença e a recusa
um insulto à ordem natural das coisas. É a reprovação dos outros ou mesmo dos
teus pares quando te impões. É aquele revirar de olhos depreciativo e no limite
da gravidade é a autocensura.
Não
se consolem com excepções que só confirmam a regra, com o que já alcançamos,
não se deixem amaciar com esmolas, não sorriam aos comentários e dados que nos
condenam à aceitação medíocre do pleno direito à igualdade. As mulheres já
votam, estão em maior número nas universidades, há mulheres no Governo, na
Assembleia da República, em cargos de chefia, há mulheres a arbitrar jogos de
futebol, mas elas são complicadas, têm filhos, passam muito tempo em casa,
faltam mais, perdem-se em detalhes fúteis, sofrem de desvarios hormonais,
colocam muitas questões... É melhor não lhes darmos muito espaço para
crescer, caso contrário isto é uma anarquia.
Mas
é nesta democracia, igualitária, soberana e progressista que, só em 2020, foram assassinadas em Portugal mais 30 mulheres às mãos dos
seus companheiros, porque eles acham que podem, porque nós deixamos. Por
cada uma delas, há centenas que se subjugam por falta de opção, muitas porque
perderam a coragem, outras porque acreditam que a violência é uma forma de
amor. Não é. O amor é uma chávena de chá quente quando vais deitar-te, é
roupa por estender, é loiça lavada a quatro mãos, é orgulho no vestido curto
que envergas, considerarem o que pensas, é admiração na mulher que és. Tudo o
resto são sobras que não deves consentir.
Mais de duas horas por dia
é quanto uma mulher despende nas tarefas domésticas segundo o FMI, cerca de 14,4% é o que uma
mulher ganha em média menos que um homem no nosso país, 95 anos é o
tempo que será necessário para eliminar a desigualdade da presença das mulheres
na política. Séculos de um poder patriarcal aceite e imposto não
nos deixam margem para, em pleno século XXI, condescender com uma vírgula, uma
graçola ao balcão do café, qualquer detalhe que nos possa diminuir. Hoje por
nós, amanhã por elas.
Sabemos
que não somos iguais, nunca quisemos ser. Diferentes na sensibilidade, na
perspectiva, na habilidade para determinadas funções, no corpo e nos sentidos,
mas que fique claro que dispensamos que nos abram a porta do
carro quando nos fecham todas as outras. Agradecemos a gentileza mas preferimos
que estejam ao nosso lado no respeito absoluto pelas nossas particularidades.
Pois é esta diferença maravilhosa que nos faz mãe de todos os homens do mundo.
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COMENTÁRIOS:
MCA cidadã da finis terræMODERADOR:
Bem escrito, muito bem tudo. 28.01.2021
Patrícia Fernandes INICIANTE: Muito obrigada pelas suas palavras. 28.01.2021
Um comentário:
Bom dia. Encontrei este blog por um acaso. Agradeço muito as suas palavras.
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