Como o “se cá nevasse fazia-se cá ski”, ou, como ouvia nos meus tempos juvenis
de malandrice anedótica: “Se tutti
cornuti a Roma avevano un lampione sulli corni, ah! Madonna mia! Che grande illuminazione!”
Há sempre um se. E os “ses”, por vezes, são aviltantes de uma mentalidade
sem tréguas na imbecilidade, e é o caso das comemorações do 25 de abril,
propostas por certos grupos, que desfazem qualquer boa vontade de aceitação dos
dislates. Ou há moralidade ou comem todos, e, em confinamento, não se
justificam ajuntamentos, que qualquer comemoração pressupõe, e menos um 25 de
abril de cravo ao peito, quando gente há que anda a dar a vida, num
esgotamento, para salvar vidas, de uma doença contagiosa… Não, somos
definitivamente “small”, e essa pequenez não tem grandeza de espécie alguma, que
mereça contemplações, como ouvimos nos discursos adocicados de Marcelo Rebelo
de Sousa. Será que o governo vai nisso, manietado pelos que lhe fornecem apoio?
Mas era a altura de Rui Rio, que diz que o apoia, contrariar essa constante de
infantilidade arrogante e provocatória que não há corona vírus que desfaça. Não, Dr. Salles,
desta vez não concordo consigo. Festejar o 25 de abril em tempo de quarentena,
quando tantos se sacrificam e tantos morrem no mundo inteiro, é qualquer coisa
de grosseiro e de definitivamente obsceno, que não merece senão desprezo.
Pequenos somos e sempre seremos, e essa pequenez não é bonita, na sua basófia
tosca, essa sim, repugnante.
CLAUSURA – 15
– Is small beautiful?
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO 16.04.20
A
minha mãe dizia que se estivesse uns tempos sem ler - entenda-se um livro de
substância e não «de cordel» - se sentia embrutecer. E, livro sim–livro não,
procurava alternar entre português e francês com o Paris Match à mistura. O
inglês reservava-o para o National Geographic Magazine.
A
inteligência humana e o seu contrário têm tudo a ver com a funcionalidade
cerebral e, dizem os entendidos, com a densidade da malha neuronal e com a qualidade
dos impulsos eléctricos trocados entre as sinapses. É claro que as endorfinas
andam pelo meio disto tudo.
Da
conjugação dos dois parágrafos anteriores, dá para perceber que a «máquina» tem
que ser ginasticada e que deve haver diferenças substanciais entre o cérebro de
um adulto analfabeto e o de um professor universitário. No meio destes polos, a
massa humana comum. E é nesta média que se poderão medir as influências do
ambiente social, da qualidade da comunicação, dos hábitos culturais e da sua ausência,
do tipo de alimentação e bebidas, sei lá mais quê… Hábitos de sobriedade
criarão um ambiente cerebral necessariamente diferente do que acontece com
hábitos de alcoolémia.
Neste
tipo de circunstâncias, poderá dizer-se que um povo é mais ou menos inteligente
que outro? Creio que já não pois, embora os condicionalismos inerentes ao
isolamento geográfico e de desenvolvimento cultural condicionem o desempenho
cerebral, a globalização tem promovido a uniformização dos parâmetros
civilizacionais e, daí, que já não possamos dizer que os chineses urbanizados
são mais inteligentes que os urbanizados suecos ou australianos.
Tudo
isto para dizer que todos temos direito à vida e que ninguém tem o direito de
se sobrepor aos outros. O colonialismo já lá vai com todas as virtudes e vícios
que teve.
Eis
por que, no novo mundo pós viral, deveremos apostar na solidariedade
internacional, sim, mas sem gigantismos avassaladores dos de menor dimensão.
Até porque, mais do que a famosa expressão small is beautifull, devemos admitir
que small may also be usefull.
(continua)
Abril
de 2020
Henrique
Salles da Fonseca
COMENTÁRIO:
Anónimo, 16., 04.2020:
Bom, muito.
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