terça-feira, 28 de abril de 2020

Zangam-se as comadres



Quando se descobrem as verdades. É longo o texto, mas serve-me de lição de economia, até pela reacção dos comentadores que sabem do assunto. Mas o outro provérbio simples do “Casa onde não há pão…” também se lhe pode aplicar, e são muitas as razões dos ralhos. Também não concordo com a afirmação de que os funcionários públicos são os mais afectados pela crise, embora a afirmação pareça desconexa e paradoxal, pois reconhece bem outros grupos de vítimas …
Esta crise é diferente /premium
É um erro comparar o que estamos a enfrentar com a crise financeira. Esta crise é diferente na sua origem e nos grupos de pessoas e empresas que vai afectar. Será mais grave, exige terapias diferentes
HELENA GARRIDO      OBSERVADOR, 06 abr 2020
Neste momento, pouco mais de duas semanas em quarentena, há mais de meio milhão de pessoas em lay off levando para casa no máximo 1.905 euros brutos. E cafezinhos, restaurantes, alojamentos locais e pequenos hotéis de economia familiar que não vendem e podem não reabrir as suas portas. Há entre elas, e ao lado delas, pessoas que trabalham por conta própria, os verdadeiros recibos verdes, que estão sem rendimento porque o seu trabalho não se pode fazer à distância e que, até ver, não serão apoiadas. Há taxistas e motoristas, das plataformas de transporte, sem ninguém para transportar. É toda uma base da pirâmide da economia que está sem ou com menos rendimento e com a sombria perspectiva de não o recuperar depois de a quarentena terminar. Nada disto aconteceu em 2011 em Portugal ou a partir de 2007/2008 noutros países, com origem nos Estados Unidos. São os mais frágeis da economia que estão e vão sofrer mais, e não grupos com poder de lobby, com aconteceu em 2011.
A crise de 2007/2008 começa no sector financeiro e bancário – reflectindo a concessão irresponsável de crédito que tem o seu espelho no excesso de endividamento –, contagiou-se à economia, teve inevitáveis impacto sociais e, em alguns países, desencadeou abalos políticos. O primeiro ataque à crise, através de injecções massivas de dinheiro por parte da Reserva Federal, especialmente após o erro da falência do Lehman Brother’s, estava dentro da linha terapêutica deste tipo de crise – estávamos perante destruição de liquidez.
Mas repare-se que ali, nos Estados Unidos, como aqui, na Europa, o epicentro são grandes bancos e, fundamentalmente grandes empresas e Estados soberanos. De um lado os credores – os bancos e os investidores financeiros – do outro lado os devedores – as grandes empresas, especialmente de construção, e os Estado por via da sua dívida. Na altura existia um jogo, muito simples, em que éramos desafiados a bater ou nos banqueiros ou nos devedores, podíamos escolher. Por aqui, na Europa, e simplificadamente, escolheu-se bater nos devedores.
É assim que Portugal, ao lado da Grécia da Irlanda e da Espanha, pertencendo ao grupo dos devedores, vê-se obrigado a financiar-se junto do FMI e de instituições europeias criadas na altura para o efeito. Todos seguem a mesma terapia, conhecida como de austeridade. Perante a “doença” de excesso de endividamento, reflectindo excesso de consumo, a terapia foi reduzir a procura agregada, para usar a linguagem dos economistas.
Quais foram os mais castigados por essa terapia? Os Estados e, como consequência, os funcionários públicos e pensionistas. Afectadas foram também as grandes empresas que dependiam do Estado ou de grandes quantidades de crédito, como as empresas de construção e obras públicas. E os bancos portugueses, quer por via do emagrecimento do Estado como porque, também eles endividados, deixaram de ter acesso a financiamento e foram obrigados a ter mais capital que no passado. Simplificando e resumindo: os grupos mais afectados são homogéneos, bem identificados e alguns deles muito bem organizados, com capacidade para fazerem ouvir bem alto a sua voz, como os funcionários públicos e até os pensionistas.
Desta vez estamos perante uma origem da crise e efeitos completamente diferentes. A crise nasce de um problema sanitário com efeitos de redução na procura e na oferta. É uma crise económica pura, que se transformará num problema social grave e pode, por sua vez, desencadear uma crise financeira que alimentará ainda mais crise económica. (Um pequenos parêntesis a propósito dos efeitos financeiros: se não quisermos ter de “ajudar” de novo os bancos é melhor deixá-los a identificar quem tem condições para ter crédito.)
Os mais afectados por esta crise estão na base da pirâmide económica, são grupos não organizados de micro e pequenos empresários, trabalhadores isolados ou por conta de outrem em sectores onde não é possível trabalhar em casa. Estamos a falar da rede muito fina da economia. Têm regra geral rendimentos baixos ou muito baixos e não estão organizados em sindicatos ou associações, capazes de falar alto, nem pertencem às lideranças urbanas.
Contrariamente ao que aconteceu na crise financeira, os funcionários públicos e pensionistas, assim como os trabalhadores de grandes empresas – se exceptuarmos o caso das companhias aéreas e actividades conexas – não são minimamente afectados no seu rendimento. Há, no entanto, uma área dos serviços públicos, como a saúde, a polícia e os bombeiros a quem é pedido um sacrifício ímpar, que nenhum dinheiro conseguirá pagar. Se viermos a ser afectados como a Espanha ou a Itália, sofrerá profundamente.
Em termos gerais, esta crise, se nada for feito, tenderá a agravar muito significativamente a desigualdade na distribuição de rendimentos, assim como a reforçar a estrutura dual da sociedade portuguesa, onde uns têm empregos seguros e outros estão entregues à sua sorte.
Quer porque a crise tem origem económica, quer porque a maioria das pessoas que mais violentamente vão ser (e estão a ser) afectadas pelo encerramento da economia estão entre o grupo das mais frágeis, segundo todos os critérios, a terapia tem de ser completamente diferente. E os partidos políticos terão de fazer um esforço para não caírem na tentação de responder aos habituais grupos que lhes garantem vitórias eleitorais.
Os investidores financeiros perceberam desde a primeira hora que a terapia, pelo menos nesta fase, não passava pelos bancos centrais. Sim, são importantes, como se revelou ser determinante a acção do BCE para evitar o aumento do custo do financiamento nos países mais endividados, mas não é deles que se espera a actuação mais importante. Este tipo de crise exige uma terapia forte do lado orçamental ou, se quiserem os mais ideológicos, uma abordagem keynesiana no seu sentido mais estrito. No limite, e como Keynes terá dito na Grande Depressão, se for preciso dá-se dinheiro às pessoas para abrirem e fecharem buracos. Na época actual não será assim, mas entregar dinheiro como alguns países estão a fazer – entre eles a Alemanha, mas que também se prepara para Portugal, com subsídios a micro-empresas e a trabalhadores por conta própria – não deve estar fora do menu de medidas. Em Portugal, as medidas que têm sido adoptadas estão genericamente em linha com a terapia exigida por esta crise, assim como comparam bem com o que outros países estão a fazer. Estamos na fase de ceder liquidez para manter as empresas e as famílias em estado de sobrevivência, até que possamos estar na outra margem, com a economia reaberta. Nessa altura poderemos ter de entrar na fase de salvar algumas empresas, entre as quais pontifica a TAP. Entre as medidas adoptadas em Portugal, destacam-se como muito positivas as de “lay off” e o adiamento dos prazos de pagamento de impostos, assim como todas as iniciativas de prorrogação do subsídio de desemprego e os apoios às famílias afectadas pelo covid-19 ou que tenham de apoiar os seus filhos. Igualmente positiva é a decisão da moratória para os créditos das empresas ou das famílias, que se estima possa gerar 20 mil milhões de euros de liquidez até Setembro, o equivalente a 9,4% do PIB.
As linhas de crédito – que ascendem na sua totalidade a 3460 milhões de euros ou 1,6% do PIB – podem criar problemas futuros para o Estado (três mil milhões têm garantia de Estado) ou para os empresários. Esta semana devem conhecer-se os pormenores de mais 13 mil milhões de euros, em linha de crédito garantida pelo Estado e subsídios directos a pequenas e médias empresas, conforme o que já foi aprovado pela Comissão Europeia.
A medida que pode merecer mais críticas é a que se dirige ao mercado de arrendamento. Não sendo fácil de desenhar uma medida que reduza transitoriamente o encargo das pessoas que viram o seu rendimento reduzir-se por causa da pandemia, transferir esse custo para os senhorios é um erro. É resolver um problema para criar outro, especialmente se estivermos a falar de pequenos senhorios. Mas é preciso esperar para ver como vai funcionar a legislação aprovada na semana passada no Parlamento.
Claro que a situação de crise exigiria mais medidas. Mas temos uma dívida pública, de 117,7% do PIB em 2019, que não aguenta défices públicos muito elevados nem uma recessão que na melhor das hipóteses ficará nos 4%, na pior chegará aos dois dígitos, no cenário de pesadelo aos 20%, conforme os cenários do Banco de Portugal e da Universidade Católica.
Tal como não conseguimos antecipar como vamos estar no fim de Abril, nem mesmo em meados do mês, esta é uma crise que vai ter de ser gerida a cada momento. Não havendo mutualização da dívida e estando todos os países do euro a atravessar a mesma crise, alguma coisa terá de ser feita em relação às enormes dívidas, que se vão gerar com a inevitável terapia que evitar o pior desta recessão vai exigir.
Esta não é uma crise como a de 2008 em que podíamos simplificadamente culpar alguém. O Estado tem de desempenhar aqui um papel fundamental, dentro das suas funções nucleares de garantir a segurança dos cidadãos perante uma pandemia. Tem de se actuar com prudência – e essa tem sido a mensagem do Governo, quando nos avisa que não há dinheiro para tudo. Mas mesmo as políticas mais sensatas vão reflectir-se num aumento da dívida pública. A alternativa é o colapso social que ninguém quer. Mas esta crise não pode ser gerida como a anterior. A seguir a esta fase em que o Estado está basicamente a ceder liquidez teremos inevitavelmente de ter políticas de relançamento da economia e de garantia de solvência de algumas empresas. Com bom senso e racionalidade.       CORONAVÍRUS  ECONOMIA  SAÚDE PÚBLICA  SAÚDE
COMENTÁRIOS:
Ana Paiva: Os aposentados também têm muito que se lhe diga. Por exemplo, os professores primários que se reformaram no período do Cavaco, têm uma reforma mais elevada do que um professor auxiliar (universidade) no activo (que tem filhos para sustentar). A maior parte das pessoas que se reformou nesse período tem mais de reforma do que as pessoas da mesma categoria que estão, agora, no activo. E não, não descontaram para isso. Há muita gente que se reformou há mais de 30 anos. V., por exemplo, as tabelas salariais dos professores num e no outro sector V. os docentes do superior, também Não goze com o próximo!!!!!!! Ah! Por algum motivo todos querem um emprego no Estado. Porque será? Quem me dera ser funcionário público: 1- posso ficar em casa e proteger-me porque não preciso de sair para ganhar dinheiro para dar de comer aos meus filhos 2-tenho direito a escolher se quero ou não ADSE e ter direito a ir aos hospitais privados e pagar 10€ por uma consulta 3- os meus filhos também têm ADSE 4- nunca serei despedido mesmo que seja incompetente 5- posso ter reduzido um pouco o salário na anterior crise mas não para menos de metade nem perdi o emprego 6 - tenho direito a pontes e tolerância de pontes 7- se trabalhar no privado o meu ordenado será no máximo 2/3 do que no estado (para a mesma categoria) 8- tenho direito a ir directamente a um hospital a uma consulta de especialidade, não tenho que ir pedir a um médico qualquer que não me conhece, do centro de saúde, uma requisição para ir ao hospital 9 - perante a actual crise até poupo dinheiro porque tenho ordenado a 100% (e não gasto transportes e gasto menos em alimentação) 10 - os trabalhadores independentes e os do privado é que me pagam todas estas mordomias
 Pereira Santos: Esta mulher está a ficar senil, tais as asneiras q escreve.
Isabel Antunes: O Estado deveria baixar, imediatamente para zero, o IVA em toda a comida excepto no álcool. Não é justo quem ficou sem rendimento pagar qualquer imposto para comer!
Xico Nhoca: Sendo que gosto de ouvir e ler a Helena Garrido, julgo que ela concordará em que se enganou quando afirmou que funcionários públicos e aposentados foram os mais prejudicados (diz ela por ter sido prejudicado o estado). Não é verdade. Estes dois grupos tiveram garantidas receitas ainda que diminuídas (inclusivamente para fazer face a compromissos financeiros). Entre os outros que não funcionários e aposentados houve muitos que penaram bastante: desemprego, emigração, penhoras, falências de pequenas empresas familiares (como refere o comentário de Maria Gingeira).
IV Reich: Já se percebeu o sistema da linha de crédito para as empresas: 10% do risco para a banca e 90% do risco para o Estado (contribuintes)... E qual o risco dos accionistas das empresas?! Então proprietários/accionistas das empresas não entram na capitalização das suas galinhas dos ovos de ouro?!... Isto já parece a anedota da Banca II após o que foi a Banca I...
Mario Silva > IV Reich: Está a confundir capital próprio com passivo: o primeiro contém o risco assumido pelos sócios ou accionistas (conforme o tipo de sociedade) e o passivo contém o risco assumido por terceiros (estado, bancos, fornecedores, etc). Mas se a linha de crédito é garantida pelo BCE qual o risco assumido pelos contribuintes?
Maria L Gingeira: Então os pensionistas e os funcionários públicos é que foram prejudicados na anterior crise? E os desempregados? E as falências das empresas? E os jovens que emigraram? E as penhoras das casas por endividamento das famílias? E os ordenados penhorados? Quem vai pagar a crise pós pandemia são os mesmos de sempre. Porque vivemos num país que se comporta como indigente junto da Europa, precisamente em nome dos que ficam realmente mal mas para que a alguns nunca falte nada. Não me falem em solidariedade, falem-me em caridade.
IV Reich > Maria L Gingeira: A Maria tem problemas de percepção da realidade? Portugal foi um país indigente após a descolonização, até passar a protectorado europeu com a adesão à CEE. A UE é um clube onde existem alguns países de elite em ritmo de alta competição, e depois há o resto que faz de conta, sendo historicamente amadores nisto da economia de alta competição. Não é atleta de alto rendimento quem quer...
Xico Nhoca > Maria L Gingeira: Maria Gingeira faz uma análise correcta de quem pagou a crise anterior.
Joaquim Zacarias: Não há almoços gratis, pois não Helena?
Manuel Antoni: Discordo da sua opinião. Em 2011 os grandes prejudicados em Portugal foram os empregados por conta de outrem, profissionais liberais e micro e peqs, comerciantes. Foi aqui que surgiu o grande desemprego e em muitos casos até hoje não foram recuperados. E agora em principio os grandes prejudicados em termos económicos vão ser os mesmos, que continuam sem protecção nenhuma, nem do governo, nem da europa, nem de ninguém.
antonyo antonyo:  Os mais afectados foram os funcionários públicos e os pensionistas “ !?   Então e as centenas de milhares de privados que foram despedidos! Inacreditável!
Ana Paiva > antonyo antonyo: Sim. É preciso não ver nada. Os grandes prejudicados são sempre os não funcionários públicos. Como agora. Aliás, os funcionários públicos são os únicos que podem ficar em casa, porque não precisam sair. Ao contrário dos que têm que sair para trabalhar para dar de comer aos filhos. Aliás, basta comparar o ordenado da mesma categoria no público e no privado. Além de que os funcionários públicos têm muito mais direitos na saúde. É preciso ter lata!!!! Os funcionários públicos são sempre, sempre, os protegidos.
Paulo Guerra: Como sempre falha na receita quando afirma que a solução para esta crise não passa pelos bancos centrais?! Se bem que mais à frente até revisita Keynes e o new deal e até chega a afirmar que se deve dar dinheiro aos mais desprotegidos. Posto que fica sem se perceber muito bem onde é que a HG acha que se faz o dinheiro?! Será em casa dela ou crescerá nas árvores? Claro que a solução passa pelas máquinas que o BCE comanda. Pelo menos a melhor solução. Ao menos já todos vão reconhecendo a crise de 2008 como uma crise bancária!!! De créditos irresponsavelmente concedidos, é certo, mas que visavam unicamente o lucro mais fácil e mais rápido. Em Portugal o próximo passo seria até os neo-liberais mais fanáticos reconhecerem que foi o endividamento privado e não público que levou o país ao resgate.
Filipe Fernandes > Paulo Guerra: Foram ambos os endividamentos, caro Paulo: o público e o privado. 
Paulo Guerra > Filipe Fernandes: Ainda todos podemos confirmar uma dívida pública perfeitamente em sintonia com a UE antes da crise. E o mesmo será dizer com a esmagadora maioria dos países que não precisaram de ser resgatados. Algo que é sempre olimpicamente ignorado em 99% dos artigos de índole mais económica aqui no Obs. Foi a dívida externa e não a dívida pública que nos conduziu ao resgate. Claro que com os juros a subir a dívida pública também disparou e é precisamente essa parte da dívida, resultante unicamente da especulação pura e dura dos mercados financeiros, que nunca deveríamos ser obrigados a pagar. E a prova é que bastava o BCE intervir em 2010 para acudir à Grécia, como o fez com a declaração de 2012 sara salvar a Espanha e a Itália e nunca teria sido necessário o resgate, a Troika e a tortura da austeridade selvagem na periferia. Outro facto que é sempre majestosamente ignorado aqui no Obs e desta vez até mais nos muitos comentários ignorantes e ressabiados é a autêntica ditadura das regras e do grande capital financeiro - ditadas pela grande Alemanha - em que vivemos desde o tratado de Maastricht. Destinadas a salvar bancos falidos à custa da falência de países inteiros e à custa do salário, dos direitos e da dignidade dos trabalhadores, a quem é negado o direito de participar na partilha dos ganhos de produtividade. E o que não falta por aí é literatura inclusiva a explicar porque é que as empresas portuguesas nunca poderão competir com as empresas alemãs, assim como todos os ganhos que a Alemanha retira dessas regras. Ao menos já todos vão reconhecendo a crise de 2008 como uma crise bancária!!!
Mario Silva > Paulo Guerra: A crise de 2008-2009 foi sobretudo uma crise de solvência. Não foram só bancos que ficaram a "arder" mas também muitos fundos de pensões públicos e privados, seguradoras e outras entidades financeiras. Foi, portanto foi uma crise financeira.    Paulo Guerra > Mario Silva: Foi muito mais que uma crise financeira. Primeiro conseguiram transformá-la numa crise económica e depois até numa crise de Estados. As duas últimas muito facilmente evitáveis, como explico em cima.
Mario Silva > Paulo Guerra: As crises são cíclicas e inevitáveis, é uma forma de reequilibrar o sistema. Não tenho certeza em qual "post" explica o seu ponto de vista. Se é aquele em que atribui as culpas à Alemanha, lamento dizer mas está enganado. O estado alemão também teve de resgatar bancos com o dinheiro dos contribuintes alemães - WestLB, NordLB, DKB, só para referir alguns bancos resgatados. Agora, se me disser que pagaram muitos "justos" pelos pecadores, aí estamos completamente de acordo. Quem mais sofreu com a última crise foi o sector privado e desta vez será o mesmo. Só a autora do artigo é que acha que foi a função pública e os pensionistas. E também está errado noutro ponto: foi a dívida pública e não a externa que nos conduziu ao resgate. Pelo simples motivo que os juros da dívida pública subiram tanto que não dava para pagar os salários da FP e pensões. E se investigar melhor pode constatar que grande parte da nossa dívida pública estava naquela altura nas mãos de fundos de pensões de outros estados da UE (francês, holandês, etc) pelo que não foram só os privados a despoletar a subida dos juros da nossa dívida pública.
Paulo Guerra > Mário Silva: Não vale a pena a pena discutir o comportamento da UE em ciclo vicioso porque há provas. Eu também escrevi que bastava o BCE intervir em 2010 para acudir à Grécia, como o fez com a declaração de 2012 para salvar a Espanha e a Itália e nunca teria sido necessário o resgate, a Troika e a tortura da austeridade selvagem na periferia. Mais palavras para quê se vivenciámos ambos os dois cenários? Já sobre “As crises do subprime são cíclicas e inevitáveis, é uma forma de reequilibrar o sistema.” Análise económica I.
Mario Silva > Paulo Guerra: Vale a pena discutir porque o BCE e a UE são instituições distintas, sendo que o BCE é legalmente independente da UE. Sobre o comportamento do BCE: a Grécia foi resgatada pelo BCE, embora em moldes diferentes do nosso caso, porque tal como nós não tinha dinheiro para pagar salários à FP e as pensões. No entanto a causa foi exactamente a mesma: uma dívida pública insustentável. Já no caso da Espanha e Itália o BCE decidiu não fazer um resgate por falta de meios: as dividas públicas da Espanha e sobretudo da Itália eram (e ainda o são) demasiado grandes para o BCE resgatar em simultâneo, ainda para mais depois de Portugal e Grécia. Mais, mesmo com a declaração do BCE, a Itália tem tido a pior performance económica na UE desde 2008: crescimento praticamente nulo, falências de bancos uns a seguir a outros, perda de competitividade, etc. Não foi a intervenção do sr. Draghi que poupou os italianos a uma austeridade ainda mais pronunciada que em Portugal (e a ironia é que o sr. Draghi é italiano). O motivo foi o mesmo: dívida pública insustentável. O que o BCE salvou com essa intervenção foi o Euro, não foi certamente o estado espanhol ou italiano. Eu escrevi que as crises são cíclicas e inevitáveis, sem mencionar instrumentos em particular: em 2007-8 foi o crédito "subprime", em 2000 as "dot-com", antes disso foram as "junk bonds" e por aí adiante. Culpar um simples instrumento financeiro por uma crise económica ou financeira é demasiado simplista, superficial e denuncia falta de conhecimentos quer de Economia, quer do funcionamento dos mercados financeiros. Só para terminar deixe-me dizer-lhe que os meus comentários são baseados na minha experiência pessoal: vivi em Itália nos primeiros anos da crise, falo do que sei (sou economista, a trabalhar na banca há vários anos) e não crio cenários nos comentários de um jornal.
Joaquim Pires: Todas a medidas até agora foram anunciadas pelo governo, à excepção do layoff, são uma mão cheia de quase nada. Senão vejamos: »Linhas de Crédito para pagar saláriosquantos empresários estarão na disposição de se endividar hoje para pagar os salários dos seus trabalhadores não sabendo o que o futuro lhes reserva? Depois da crise a economia vai funcionar normalmente? Finda a crise, os seus ganhos vão ser de molde a continuar a pagar os salários e ainda a amortizar os empréstimos entretanto contraídos? »Moratórias nos Empréstimos e Pagamento das RendasEstas medidas irão ter bastante adesão, pois é sempre melhor pagar mais tarde…, contudo subsiste o problema, será que quando a moratória acabar vai haver rendimento disponível para retomar os pagamentos, acrescida duma fracção para recuperar o pagamento das rendas objecto de suspensão. »Adiamento no Pagamento de ImpostoSituação exactamente igual à das rendas. Será que no futuro as pessoas e empresas vão ter liquidez para pagar os impostos relativos a esse futuro mais os impostos atrasados? »Em Resumo: Todas estas medidas são apenas um empurrar para a frente. »Das medidas do governo, apenas o layoff se afigura ser uma medida correcta e com adesão à realidade que estamos a viver, pois possibilita ao trabalhadores continuar a ter uma fonte de rendimento que lhe permita fazer face aos seus compromissos, sem depauperar e hipotecar o futuro das entidades empregadoras. »Penso ainda que para além do layoff, outras medidas poderiam (diria mesmo deveriam) ser implementadas, sempre na linha de não empurrar para frente os problemas, mas sim preparar o futuro: »Possibilitar que todas a pessoas com 60 ou mais anos pudessem solicitar a reforma ou a pré-reforma. Isto permitiria a algumas famílias, nesta fase, continuar a ter uma fonte de rendimento e libertaria postos de trabalhos para, finda a crise, serem ocupados por pessoas mais novas, já que o desemprega vai galopar.»Alargar a possibilidade de acesso ao fundo de desemprego e a outros subsídios que permitam às pessoas continuar a ter uma vida digna e a economia continua a ter alguma procura.
Vasco Silveira: Cara Senhora, agradeço o artigo que publicou, não podendo no entanto deixar de fazer alguns reparos: Diz que na crise de 2008/2011 quem sofreu mais foi o estado e os funcionários públicos: O estado não sofre, é apenas uma abstracção jurídica, para ajudar a organização do país, e esse estado não tem dinheiro público: é todo dos contribuintes. Quantos aos funcionários públicos, que deixaram de ver os seus rendimentos actualizados desde 2009, não me parece que tenham ficado pior que os 500.000 desempregados que a crise provocou. E, apesar de tudo, o nível de rendimentos no estado é hoje em dia muito superior ao n privado, onde os novos salários são muito inferiores aos salários anteriores a 2008. - A actual crise não é de facto financeira, mas também não tem causas económicas. Foi, é, será causada por medidas de sanidade pública, ou seja, os motivos são políticos e sociais. Só por arrastamento é que virá a crise económica, e todas as outras. _Por fim não me parece que devamos aceitar como uma inevitabilidade a situação miserável das contas públicas e taxas de juro (nacionais e europeias) dado que há SETE anos as economias, nacional e europeia, crescem sem tratarem de preparar um mínimo que pudesse prevenir ou defender da próxima crise: os juros mantiveram-se próximo de zero, ou mesmo negativas, e o peso da dívida pública ( dinheiro das próximas gerações de contribuintes) manteve-se elevedíssimo. O Governo faz pouco para estimular a economia porque nos seis anos precedentes nada fez para reforçar a actividade económica. ( com o olhar enlevado do presidente). Cumprimentos
Mario Silva: "Quais foram os mais castigados por essa terapia? Os Estados e, como consequência, os funcionários públicos e pensionistas". Entre Dez/2008 e Dez/2012 o número de inscritos nos centros de emprego aumentou quase em 300 mil pessoas, na sua grande maioria "vindas" do sector privado. Isto sem contar com os muitos milhares que emigraram à procura de emprego (eu incluído). Mas para a autora do artigo quem sofreu mais na última crise foram os funcionários públicos e pensionistas... Enquanto a maioria que sustenta as mordomias do estado continuar não existir aos olhos da "Elite" prevejo um futuro negro para o nosso país.
Antonio Rodrigues: Mais uma "especialista" que não sabe o que é uma empresa. Enfim.
Francisco Correia: Esta crise é diferente em quê? Irá, desta vez, o mal ser distribuído pelas aldeias? Não me parece!           josé maria: A Helena Garrido gosta do Estado Providência. Os liberais também.
Adelino Lopes: Gosto dos artigos da HG, mas hoje vou discordar. Do pouco que sei de macro e microeconomia poderia escrever um texto maior do que o artigo, no que a esta matéria diz respeito. Sumariamente: i) Em Portugal, esta crise não vai ter efeitos muito distintos (a acção, ou a origem, pouco me interessam); ii) o OGE vai continuar a subir em %PIB; iii) O ódio e a inveja aos lucros vai continuar a espalhar-se e a acentuar-se, e portanto o capital produtivo continuará a sair; iii) continuará a selecção das empresas, eliminando as que politicamente não interessam; iv) continuará a crescer o investimento ideológico, como por exemplo o do fundo soberano chinês; v) continuarão as alavancagens da economia, tipo dá com uma mão e tira com a outra para subir o PIB e “descer” a dívida; etc, etc. No fundo o socialismo irá continuar a aprofundar-se, tornando quase impossível a sua erradicação, pelo menos de uma forma democrática.    O Famoso Faisão: O motor da economia foi desligado. Se o pessoal trabalhasse sabia que nunca se coloca um motor novamente em funcionamento com ele em carga. Para arrancar o motor é necessário deslastrar. Aqui eu falo da política de emprego e da política de impostos. Confiar nos bancos é um erro pois as decisões bancárias são decisões financeiras e foram as decisões financeiras que levaram as empresas para a China. Caso o estado não entenda isto dentro do próximo mês vai estar a queimar as empresas para sempre….   Ricardo Pinheiro Alves: Há neste texto alguma confusão. Em Portugal a crise foi em 2011, e não foi por causa dos bancos americanos. Exige-se algum rigor e pouco revisionismo histórico.   Joao Rodrigues > Ricardo Pinheiro Alves: Ai não ? Foi só o roubo do Sócrates e do Salgado? Saberá o Senhor que muitos bancos tinham dinheiro aplicado no Madoff?   Alberto Ferreira: É consabido que 80% da economia se dedica(va) a produzir bens e serviços não-essenciais, uma espécie de morfina indutora do doce sono consumista. Os Governos devem tentar agora proteger os 20% que realmente interessam (água, luz, agro-pecuária, saneamento, saúde, logística). Os restantes 80% renascerão naturalmente, se tal se justificar e as pessoas não tiverem aprendido nada (o mais provável). É que isto vai demorar.         Alfaiate Tuga:  (...)Quais foram os mais castigados por essa terapia? Os Estados e, como consequência, os funcionários públicos e pensionistas.(...) Diz isto referindo-se a crise de 2011!!! Os milhares que perderam o emprego e que ainda hoje ganham  muito menos do que ganhavam na altura foram beneficiados...Os milhares que estão agora em casa sem fazer nenhum a receber 100% do salário com a garantia de que não serão despedidos, no entendimento desta senhora também devem estar a ser prejudicados...Abram os olhos, são os impostos que pagamos que pagam estes “castigados”.    Alberto Ferreira > Alfaiate Tuga: Os outros não foram castigados, simplesmente emigraram...     Ursa Urso > Alfaiate Tuga: Tb nao percebo cm escreveu isso a articulista. Ou não tem ideia nenhuma da realidade ou está doida. os despedidos e as empresas falidas eram privadas, não públicas. Ridículo.        Ana Paiva > Alfaiate Tuga: Toda a razão. É ofensivo!!!!

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