Quando
se descobrem as verdades. É longo o texto, mas serve-me de lição de economia,
até pela reacção dos comentadores que sabem do assunto. Mas o outro provérbio simples
do “Casa onde não há pão…” também se
lhe pode aplicar, e são muitas as razões dos ralhos. Também não concordo com a
afirmação de que os funcionários públicos são os mais afectados pela crise, embora
a afirmação pareça desconexa e paradoxal, pois reconhece bem outros grupos de
vítimas …
Esta crise é diferente /premium
É um erro comparar o que estamos a
enfrentar com a crise financeira. Esta crise é diferente na sua origem e nos
grupos de pessoas e empresas que vai afectar. Será mais grave, exige terapias
diferentes
HELENA GARRIDO OBSERVADOR, 06 abr 2020
Neste
momento, pouco mais de duas semanas em quarentena, há mais de meio milhão de
pessoas em lay off levando para casa no máximo 1.905 euros brutos. E
cafezinhos, restaurantes, alojamentos locais e pequenos hotéis de economia
familiar que não vendem e podem não reabrir as suas portas. Há entre elas, e ao
lado delas, pessoas que trabalham por conta própria, os verdadeiros recibos
verdes, que estão sem rendimento porque o seu trabalho não se pode fazer à
distância e que, até ver, não serão apoiadas. Há taxistas e motoristas,
das plataformas de transporte, sem ninguém para transportar. É toda uma base da
pirâmide da economia que está sem ou com menos rendimento e com a sombria
perspectiva de não o recuperar depois de a quarentena terminar. Nada disto
aconteceu em 2011 em Portugal ou a partir de 2007/2008 noutros países, com
origem nos Estados Unidos. São os mais frágeis da economia que estão e vão
sofrer mais, e não grupos com poder de lobby, com aconteceu em 2011.
A crise de 2007/2008 começa no sector
financeiro e bancário – reflectindo a concessão irresponsável de crédito que
tem o seu espelho no excesso de endividamento –, contagiou-se à economia, teve
inevitáveis impacto sociais e, em alguns países, desencadeou abalos políticos.
O primeiro ataque à crise, através de injecções massivas de dinheiro por parte
da Reserva Federal, especialmente após o erro da falência do Lehman Brother’s,
estava dentro da linha terapêutica deste tipo de crise – estávamos perante
destruição de liquidez.
Mas
repare-se que ali, nos Estados Unidos, como aqui, na Europa, o epicentro são
grandes bancos e, fundamentalmente grandes empresas e Estados soberanos. De um
lado os credores – os bancos e os investidores financeiros – do outro lado os
devedores – as grandes empresas, especialmente de construção, e os Estado por
via da sua dívida. Na altura
existia um jogo, muito simples, em que éramos desafiados a bater ou nos
banqueiros ou nos devedores, podíamos escolher. Por aqui, na Europa, e
simplificadamente, escolheu-se bater nos devedores.
É
assim que Portugal, ao lado da Grécia da Irlanda e da Espanha, pertencendo ao
grupo dos devedores, vê-se obrigado a financiar-se junto do FMI e de
instituições europeias criadas na altura para o efeito. Todos seguem a mesma
terapia, conhecida como de austeridade. Perante a “doença” de excesso de
endividamento, reflectindo excesso de consumo, a terapia foi reduzir a procura
agregada, para usar a linguagem dos economistas.
Quais foram os mais castigados por
essa terapia? Os Estados e, como consequência, os funcionários públicos e
pensionistas. Afectadas
foram também as grandes empresas que dependiam do Estado ou de grandes
quantidades de crédito, como as empresas de construção e obras públicas. E os
bancos portugueses, quer por via do emagrecimento do Estado como porque, também
eles endividados, deixaram de ter acesso a financiamento e foram obrigados a ter
mais capital que no passado. Simplificando e resumindo: os grupos mais
afectados são homogéneos, bem identificados e alguns deles muito bem
organizados, com capacidade para fazerem ouvir bem alto a sua voz, como os
funcionários públicos e até os pensionistas.
Desta
vez estamos perante uma origem da crise e efeitos completamente diferentes. A crise
nasce de um problema sanitário com efeitos de redução na procura e na oferta. É uma crise económica pura, que se transformará num
problema social grave e pode, por sua vez, desencadear uma crise financeira que
alimentará ainda mais crise económica.
(Um pequenos parêntesis a propósito dos efeitos financeiros: se não quisermos
ter de “ajudar” de novo os bancos é melhor deixá-los a identificar quem tem
condições para ter crédito.)
Os mais afectados por esta crise estão
na base da pirâmide económica, são grupos não organizados de micro e pequenos
empresários, trabalhadores isolados ou por conta de outrem em sectores onde não
é possível trabalhar em casa. Estamos a falar da rede muito fina da economia.
Têm regra geral rendimentos baixos ou muito baixos e não estão organizados em
sindicatos ou associações, capazes de falar alto, nem pertencem às lideranças
urbanas.
Contrariamente
ao que aconteceu na crise financeira, os funcionários públicos e pensionistas,
assim como os trabalhadores de grandes empresas – se exceptuarmos o caso das
companhias aéreas e actividades conexas – não são minimamente afectados no seu
rendimento. Há, no entanto, uma área dos serviços públicos, como a saúde, a
polícia e os bombeiros a quem é pedido um sacrifício ímpar, que nenhum dinheiro
conseguirá pagar. Se viermos a ser afectados como a Espanha ou a Itália,
sofrerá profundamente.
Em
termos gerais, esta crise, se nada for feito, tenderá a agravar muito
significativamente a desigualdade na distribuição de rendimentos, assim como a
reforçar a estrutura dual da sociedade portuguesa, onde uns têm empregos
seguros e outros estão entregues à sua sorte.
Quer
porque a crise tem origem económica, quer porque a maioria das pessoas que mais
violentamente vão ser (e estão a ser) afectadas pelo encerramento da economia
estão entre o grupo das mais frágeis, segundo todos os critérios, a terapia tem
de ser completamente diferente. E os partidos políticos terão de fazer
um esforço para não caírem na tentação de responder aos habituais grupos que
lhes garantem vitórias eleitorais.
Os
investidores financeiros perceberam desde a primeira hora que a terapia, pelo
menos nesta fase, não passava pelos bancos centrais. Sim, são importantes,
como se revelou ser determinante a acção do BCE para evitar o aumento do custo
do financiamento nos países mais endividados, mas não é deles que se espera a
actuação mais importante. Este tipo de crise exige uma terapia forte do
lado orçamental ou, se quiserem os mais ideológicos, uma
abordagem keynesiana no seu sentido mais estrito. No limite, e como Keynes terá
dito na Grande Depressão, se for preciso dá-se dinheiro às pessoas para abrirem
e fecharem buracos. Na época
actual não será assim, mas entregar dinheiro como alguns países estão a
fazer – entre eles a Alemanha,
mas que também se prepara para Portugal, com subsídios a micro-empresas e a trabalhadores por
conta própria – não deve estar fora do menu de medidas. Em Portugal, as medidas que têm sido adoptadas
estão genericamente em linha com a terapia exigida por esta crise, assim como
comparam bem com o que outros países estão a fazer. Estamos na fase de ceder
liquidez para manter as empresas e as famílias em estado de sobrevivência, até
que possamos estar na outra margem, com a economia reaberta. Nessa
altura poderemos ter de entrar na fase de salvar algumas empresas, entre as
quais pontifica a TAP. Entre as medidas
adoptadas em Portugal, destacam-se
como muito positivas as de “lay off” e o adiamento dos prazos de pagamento de
impostos, assim como todas as iniciativas de prorrogação do subsídio de
desemprego e os apoios às famílias afectadas pelo covid-19 ou que tenham de
apoiar os seus filhos. Igualmente positiva é a decisão da moratória para os
créditos das empresas ou das famílias, que se estima possa gerar 20 mil milhões de euros de
liquidez até Setembro, o equivalente a 9,4% do PIB.
As
linhas de crédito – que ascendem na sua totalidade a 3460 milhões de euros ou
1,6% do PIB – podem criar problemas futuros para o Estado (três mil milhões têm
garantia de Estado) ou para os empresários. Esta semana devem conhecer-se os
pormenores de mais 13 mil milhões de euros, em linha de crédito garantida pelo
Estado e subsídios directos a pequenas e médias empresas, conforme o que já foi aprovado
pela Comissão Europeia.
A medida que pode merecer mais críticas
é a que se dirige ao mercado de arrendamento. Não sendo fácil de desenhar uma
medida que reduza transitoriamente o encargo das pessoas que viram o seu
rendimento reduzir-se por causa da pandemia, transferir esse custo para os
senhorios é um erro. É resolver um problema para criar outro, especialmente se
estivermos a falar de pequenos senhorios. Mas é preciso esperar para ver como
vai funcionar a legislação aprovada na semana passada no Parlamento.
Claro
que a situação de crise exigiria mais medidas. Mas temos uma dívida pública, de 117,7% do PIB em 2019, que não aguenta défices públicos muito elevados nem
uma recessão que na melhor das hipóteses ficará nos 4%, na pior chegará aos
dois dígitos, no cenário de pesadelo aos 20%, conforme os cenários do Banco de
Portugal e da Universidade Católica.
Tal como não conseguimos antecipar
como vamos estar no fim de Abril, nem mesmo em meados do mês, esta é uma crise
que vai ter de ser gerida a cada momento.
Não havendo mutualização da dívida e estando todos os países do euro a
atravessar a mesma crise, alguma coisa terá de ser feita em relação às enormes
dívidas, que se vão gerar com a inevitável terapia que evitar o pior desta
recessão vai exigir.
Esta
não é uma crise como a de 2008 em que podíamos simplificadamente culpar alguém.
O Estado tem de desempenhar aqui um papel fundamental, dentro das suas funções
nucleares de garantir a segurança dos cidadãos perante uma pandemia. Tem de se
actuar com prudência – e essa tem sido a mensagem do Governo, quando nos avisa
que não há dinheiro para tudo. Mas mesmo as políticas mais sensatas vão
reflectir-se num aumento da dívida pública. A alternativa é o colapso social que ninguém quer. Mas esta crise não pode ser gerida como a anterior.
A seguir a esta fase em que o Estado está basicamente a ceder liquidez teremos
inevitavelmente de ter políticas de relançamento da economia e de garantia
de solvência de algumas empresas. Com bom senso e racionalidade. CORONAVÍRUS ECONOMIA SAÚDE PÚBLICA SAÚDE
COMENTÁRIOS:
Ana Paiva: Os aposentados também têm muito que se lhe diga. Por exemplo, os
professores primários que se reformaram no período do Cavaco, têm uma reforma
mais elevada do que um professor auxiliar (universidade) no activo (que tem
filhos para sustentar). A maior parte das pessoas que se reformou nesse período
tem mais de reforma do que as pessoas da mesma categoria que estão, agora, no
activo. E não, não descontaram para isso. Há muita gente que se reformou
há mais de 30 anos. V., por exemplo, as
tabelas salariais dos professores num e no outro sector
V. os docentes do superior, também Não
goze com o próximo!!!!!!! Ah! Por algum
motivo todos querem um emprego no Estado. Porque será?
Quem me dera ser funcionário público: 1- posso ficar em casa e
proteger-me porque não preciso de sair para ganhar dinheiro para dar de comer
aos meus filhos 2-tenho direito a escolher se
quero ou não ADSE e ter direito a ir aos hospitais privados e pagar 10€ por uma
consulta 3- os meus filhos também têm ADSE 4- nunca serei despedido mesmo que seja incompetente 5- posso ter reduzido um pouco o salário na anterior
crise mas não para menos de metade nem perdi o emprego
6 - tenho direito a pontes e tolerância de pontes
7- se trabalhar no privado o meu ordenado será no máximo 2/3 do que no estado
(para a mesma categoria) 8- tenho direito a ir
directamente a um hospital a uma consulta de especialidade, não tenho que ir
pedir a um médico qualquer que não me conhece, do centro de saúde, uma
requisição para ir ao hospital 9
- perante a actual crise até
poupo dinheiro porque tenho ordenado a 100% (e não gasto transportes e gasto
menos em alimentação) 10 - os trabalhadores independentes
e os do privado é que me pagam todas estas mordomias
Pereira
Santos: Esta mulher está a ficar senil,
tais as asneiras q escreve.
Isabel Antunes: O Estado deveria baixar, imediatamente para zero, o IVA em toda a comida
excepto no álcool. Não é justo quem ficou sem rendimento pagar qualquer imposto
para comer!
Xico Nhoca: Sendo que gosto de ouvir e ler a Helena Garrido, julgo que ela concordará
em que se enganou quando afirmou que funcionários públicos e aposentados foram
os mais prejudicados (diz ela por ter sido prejudicado o estado). Não é
verdade. Estes dois grupos tiveram garantidas receitas ainda que diminuídas
(inclusivamente para fazer face a compromissos financeiros). Entre os outros
que não funcionários e aposentados houve muitos que penaram bastante:
desemprego, emigração, penhoras, falências de pequenas empresas familiares
(como refere o comentário de Maria Gingeira).
IV Reich: Já se percebeu o sistema da linha de crédito para as empresas: 10% do risco
para a banca e 90% do risco para o Estado (contribuintes)... E qual o risco dos accionistas das empresas?!
Então proprietários/accionistas das empresas não entram na capitalização das suas
galinhas dos ovos de ouro?!... Isto já parece a anedota da Banca II após o que foi a Banca I...
Mario Silva > IV Reich: Está a confundir capital próprio com passivo: o
primeiro contém o risco assumido pelos sócios ou accionistas (conforme o tipo
de sociedade) e o passivo contém o risco assumido por terceiros (estado,
bancos, fornecedores, etc). Mas se a linha de crédito é garantida pelo BCE qual o risco
assumido pelos contribuintes?
Maria L Gingeira: Então os pensionistas e os funcionários públicos é que
foram prejudicados na anterior crise? E os desempregados? E as falências das
empresas? E os jovens que emigraram? E as penhoras das casas por endividamento
das famílias? E os ordenados penhorados? Quem vai pagar a crise pós pandemia
são os mesmos de sempre. Porque vivemos num país que se comporta como indigente
junto da Europa, precisamente em nome dos que ficam realmente mal mas para que
a alguns nunca falte nada. Não me falem em solidariedade, falem-me em caridade.
IV Reich > Maria L
Gingeira: A Maria tem problemas de
percepção da realidade? Portugal foi um país indigente após a descolonização,
até passar a protectorado europeu com a adesão à CEE. A UE é um clube onde
existem alguns países de elite em ritmo de alta competição, e depois há o resto
que faz de conta, sendo historicamente amadores nisto da economia de alta
competição. Não é atleta de alto rendimento quem quer...
Xico Nhoca > Maria L
Gingeira: Maria Gingeira faz uma análise
correcta de quem pagou a crise anterior.
Joaquim Zacarias: Não há almoços gratis, pois não Helena?
Manuel Antoni: Discordo da sua opinião. Em 2011 os grandes prejudicados em Portugal foram
os empregados por conta de outrem, profissionais liberais e micro e peqs,
comerciantes. Foi aqui que surgiu o grande desemprego e em muitos casos até
hoje não foram recuperados. E agora em
principio os grandes prejudicados em termos económicos vão ser os mesmos, que continuam
sem protecção nenhuma, nem do governo, nem da europa, nem de ninguém.
antonyo antonyo: “ Os mais afectados foram os
funcionários públicos e os pensionistas “ !? Então e as centenas de
milhares de privados que foram despedidos! Inacreditável!
Ana Paiva > antonyo
antonyo: Sim. É preciso não ver nada. Os
grandes prejudicados são sempre os não funcionários públicos. Como agora.
Aliás, os funcionários públicos são os únicos que podem ficar em casa, porque
não precisam sair. Ao contrário dos que têm que sair para trabalhar para dar de
comer aos filhos. Aliás, basta comparar o ordenado da mesma categoria no público e no
privado. Além de que os funcionários públicos têm muito mais direitos na saúde.
É preciso ter
lata!!!! Os funcionários públicos são sempre, sempre, os protegidos.
Paulo Guerra: Como sempre falha na receita quando afirma que a solução para esta crise
não passa pelos bancos centrais?! Se bem que mais à frente até revisita Keynes
e o new deal e até chega a afirmar que se deve dar dinheiro aos mais
desprotegidos. Posto que fica sem se perceber muito bem onde é que a HG acha
que se faz o dinheiro?! Será em casa dela ou crescerá nas árvores? Claro que a
solução passa pelas máquinas que o BCE comanda. Pelo menos a melhor solução.
Ao menos já todos
vão reconhecendo a crise de 2008 como uma crise bancária!!! De créditos
irresponsavelmente concedidos, é certo, mas que visavam unicamente o lucro mais
fácil e mais rápido. Em Portugal o próximo passo seria até os neo-liberais mais
fanáticos reconhecerem que foi o endividamento privado e não público que levou
o país ao resgate.
Paulo Guerra > Filipe
Fernandes: Ainda todos podemos confirmar
uma dívida pública perfeitamente em sintonia com a UE antes da crise. E o mesmo
será dizer com a esmagadora maioria dos países que não precisaram de ser
resgatados. Algo que é sempre olimpicamente ignorado em 99% dos artigos de
índole mais económica aqui no Obs. Foi a dívida externa e não a dívida pública
que nos conduziu ao resgate. Claro que com os juros a subir a dívida pública
também disparou e é precisamente essa parte da dívida, resultante unicamente da
especulação pura e dura dos mercados financeiros, que nunca deveríamos ser
obrigados a pagar. E a prova é que bastava o BCE intervir em 2010 para acudir à
Grécia, como o fez com a declaração de 2012 sara salvar a Espanha e a Itália e
nunca teria sido necessário o resgate, a Troika e a tortura da austeridade
selvagem na periferia. Outro facto que é sempre majestosamente ignorado aqui no Obs e desta vez
até mais nos muitos comentários ignorantes e ressabiados é a autêntica ditadura
das regras e do grande capital financeiro - ditadas pela grande Alemanha - em
que vivemos desde o tratado de Maastricht. Destinadas a salvar bancos falidos à
custa da falência de países inteiros e à custa do salário, dos direitos e da
dignidade dos trabalhadores, a quem é negado o direito de participar na
partilha dos ganhos de produtividade. E o que não falta por aí é literatura
inclusiva a explicar porque é que as empresas portuguesas nunca poderão
competir com as empresas alemãs, assim como todos os ganhos que a Alemanha
retira dessas regras. Ao menos já todos vão reconhecendo a crise de 2008 como uma crise
bancária!!!
Mario Silva > Paulo Guerra: A crise de 2008-2009 foi sobretudo uma crise de solvência. Não foram só
bancos que ficaram a "arder" mas também muitos fundos de pensões
públicos e privados, seguradoras e outras entidades financeiras. Foi, portanto
foi uma crise financeira.
Paulo Guerra > Mario Silva: Foi muito mais que uma crise financeira. Primeiro conseguiram transformá-la
numa crise económica e depois até numa crise de Estados. As duas últimas muito
facilmente evitáveis, como explico em cima.
Mario Silva > Paulo Guerra: As crises são cíclicas e inevitáveis, é uma forma de
reequilibrar o sistema. Não tenho certeza em qual "post" explica o
seu ponto de vista. Se é aquele em que atribui as culpas à Alemanha, lamento
dizer mas está enganado. O estado alemão também teve de resgatar bancos com
o dinheiro dos contribuintes alemães - WestLB, NordLB, DKB, só para referir
alguns bancos resgatados. Agora, se me disser que pagaram muitos
"justos" pelos pecadores, aí estamos completamente de acordo. Quem
mais sofreu com a última crise foi o sector privado e desta vez será o mesmo.
Só a autora do artigo é que acha que foi a função pública e os pensionistas.
E também está
errado noutro ponto: foi a dívida pública e não a externa que nos conduziu
ao resgate. Pelo simples motivo que os juros da dívida pública subiram tanto
que não dava para pagar os salários da FP e pensões. E se investigar melhor pode
constatar que grande parte da nossa dívida pública estava naquela altura nas
mãos de fundos de pensões de outros estados da UE (francês, holandês, etc) pelo
que não foram só os privados a despoletar a subida dos juros da nossa dívida
pública.
Paulo Guerra > Mário Silva: Não vale a pena a pena discutir o comportamento da UE
em ciclo vicioso porque há provas. Eu também escrevi que bastava o BCE intervir
em 2010 para acudir à Grécia, como o fez com a declaração de 2012 para salvar a
Espanha e a Itália e nunca teria sido necessário o resgate, a Troika e a
tortura da austeridade selvagem na periferia. Mais palavras para quê se vivenciámos
ambos os dois cenários? Já sobre “As crises do subprime são cíclicas e
inevitáveis, é uma forma de reequilibrar o sistema.” Análise económica I.
Mario Silva > Paulo Guerra: Vale a pena discutir porque o BCE e a UE são
instituições distintas, sendo que o BCE é legalmente independente da UE. Sobre o comportamento do BCE: a Grécia foi
resgatada pelo BCE, embora em moldes diferentes do nosso caso, porque tal como
nós não tinha dinheiro para pagar salários à FP e as pensões. No entanto
a causa foi exactamente a mesma: uma dívida pública insustentável. Já no caso da Espanha e Itália o BCE decidiu
não fazer um resgate por falta de meios: as dividas públicas da Espanha e
sobretudo da Itália eram (e ainda o são) demasiado grandes para o BCE resgatar
em simultâneo, ainda para mais depois de Portugal e Grécia. Mais, mesmo com a declaração do BCE, a Itália
tem tido a pior performance económica na UE desde 2008: crescimento
praticamente nulo, falências de bancos uns a seguir a outros, perda de
competitividade, etc. Não foi a intervenção do sr. Draghi que poupou os
italianos a uma austeridade ainda mais pronunciada que em Portugal (e a ironia
é que o sr. Draghi é italiano). O motivo
foi o mesmo: dívida pública insustentável. O que o BCE salvou com essa
intervenção foi o Euro, não foi certamente o estado espanhol ou italiano. Eu
escrevi que as crises são cíclicas e inevitáveis, sem mencionar instrumentos em
particular: em 2007-8 foi o crédito "subprime", em 2000 as
"dot-com", antes disso foram as "junk bonds" e por aí
adiante. Culpar um simples instrumento financeiro por uma crise económica ou
financeira é demasiado simplista, superficial e denuncia falta de conhecimentos
quer de Economia, quer do funcionamento dos mercados financeiros. Só para terminar deixe-me dizer-lhe que os
meus comentários são baseados na minha experiência pessoal: vivi em Itália nos
primeiros anos da crise, falo do que sei (sou economista, a trabalhar na banca
há vários anos) e não crio cenários nos comentários de um jornal.
Joaquim Pires: Todas a medidas até agora foram anunciadas pelo governo, à excepção do layoff,
são uma mão cheia de quase nada. Senão vejamos: »Linhas de Crédito para pagar
salários– quantos empresários estarão na disposição de se endividar hoje para
pagar os salários dos seus trabalhadores não sabendo o que o futuro lhes
reserva? Depois da crise a economia vai funcionar normalmente? Finda a
crise, os seus ganhos vão ser de molde a continuar a pagar os salários e ainda
a amortizar os empréstimos entretanto contraídos?
»Moratórias nos Empréstimos e Pagamento das Rendas– Estas medidas irão ter
bastante adesão, pois é sempre melhor pagar mais tarde…, contudo subsiste o
problema, será que quando a moratória acabar vai haver rendimento disponível
para retomar os pagamentos, acrescida duma fracção para recuperar o pagamento
das rendas objecto de suspensão. »Adiamento no Pagamento de Imposto– Situação exactamente igual
à das rendas. Será que no futuro as pessoas e empresas vão ter liquidez para
pagar os impostos relativos a esse futuro mais os impostos atrasados? »Em Resumo: Todas estas medidas são apenas um empurrar para a frente. »Das
medidas do governo, apenas o layoff se afigura ser uma medida
correcta e com adesão à realidade que estamos a viver, pois possibilita ao
trabalhadores continuar a ter uma fonte de rendimento que lhe permita fazer
face aos seus compromissos, sem depauperar e hipotecar o futuro das entidades
empregadoras. »Penso ainda que para
além do layoff, outras medidas poderiam (diria mesmo deveriam) ser
implementadas, sempre na linha de não empurrar para frente os problemas, mas
sim preparar o futuro: »Possibilitar
que todas a pessoas com 60 ou mais anos pudessem solicitar a reforma ou a
pré-reforma. Isto permitiria a algumas famílias, nesta fase, continuar a ter
uma fonte de rendimento e libertaria postos de trabalhos para, finda a crise,
serem ocupados por pessoas mais novas, já que o desemprega vai galopar.»Alargar
a possibilidade de acesso ao fundo de desemprego e a outros subsídios que
permitam às pessoas continuar a ter uma vida digna e a economia continua a ter
alguma procura.
Vasco Silveira: Cara Senhora, agradeço o artigo que publicou, não podendo no entanto deixar de fazer
alguns reparos: Diz que na crise de 2008/2011 quem sofreu mais foi o estado e
os funcionários públicos: O estado não sofre, é apenas uma abstracção jurídica,
para ajudar a organização do país, e esse estado não tem dinheiro público: é
todo dos contribuintes. Quantos aos funcionários públicos, que deixaram de ver
os seus rendimentos actualizados desde 2009, não me parece que tenham ficado
pior que os 500.000 desempregados que a crise provocou. E, apesar de tudo,
o nível de rendimentos no estado é hoje em dia muito superior ao n privado, onde
os novos salários são muito inferiores aos salários anteriores a 2008.
- A actual crise
não é de facto financeira, mas também não tem causas económicas. Foi, é, será
causada por medidas de sanidade pública, ou seja, os motivos são políticos e
sociais. Só por arrastamento é que virá a crise económica, e todas as outras.
_Por fim não me
parece que devamos aceitar como uma inevitabilidade a situação miserável das
contas públicas e taxas de juro (nacionais e europeias) dado que há SETE anos as
economias, nacional e europeia, crescem sem tratarem de preparar um mínimo que
pudesse prevenir ou defender da próxima crise: os juros mantiveram-se próximo
de zero, ou mesmo negativas, e o peso da dívida pública ( dinheiro das próximas
gerações de contribuintes) manteve-se elevedíssimo. O Governo faz pouco para estimular a economia porque nos seis anos
precedentes nada fez para reforçar a actividade económica. ( com o olhar
enlevado do presidente). Cumprimentos
Mario Silva: "Quais foram os mais castigados por essa terapia? Os Estados e, como
consequência, os funcionários públicos e pensionistas". Entre Dez/2008 e Dez/2012 o número de inscritos
nos centros de emprego aumentou quase em 300 mil pessoas, na sua grande maioria
"vindas" do sector privado. Isto sem contar com os muitos milhares
que emigraram à procura de emprego (eu incluído). Mas
para a autora do artigo quem sofreu mais na última crise foram os funcionários
públicos e pensionistas... Enquanto a maioria que sustenta as mordomias do
estado continuar não existir aos olhos da "Elite" prevejo um futuro
negro para o nosso país.
Antonio Rodrigues: Mais uma "especialista" que não sabe o que é uma empresa. Enfim.
Francisco Correia:
Esta crise é diferente em quê?
Irá, desta vez, o mal ser
distribuído pelas aldeias? Não me parece! josé
maria: A Helena Garrido gosta do
Estado Providência. Os liberais também.
Adelino Lopes: Gosto dos artigos da HG, mas hoje vou discordar. Do pouco que sei de macro
e microeconomia poderia escrever um texto maior do que o artigo, no que a esta
matéria diz respeito. Sumariamente: i) Em Portugal, esta crise não vai ter
efeitos muito distintos (a acção, ou a origem, pouco me interessam); ii) o OGE
vai continuar a subir em %PIB; iii) O ódio e a inveja aos lucros vai continuar
a espalhar-se e a acentuar-se, e portanto o capital produtivo continuará a
sair; iii) continuará a selecção das empresas, eliminando as que politicamente
não interessam; iv) continuará a crescer o investimento ideológico, como por
exemplo o do fundo soberano chinês; v) continuarão as alavancagens da economia,
tipo dá com uma mão e tira com a outra para subir o PIB e “descer” a dívida;
etc, etc. No fundo o socialismo irá continuar a aprofundar-se, tornando quase
impossível a sua erradicação, pelo menos de uma forma democrática. O Famoso Faisão: O motor da economia foi desligado.
Se o pessoal trabalhasse sabia que nunca se coloca um motor novamente em
funcionamento com ele em carga. Para arrancar o motor é necessário deslastrar.
Aqui eu falo da política de emprego e da política de impostos. Confiar nos
bancos é um erro pois as decisões bancárias são decisões financeiras e foram as
decisões financeiras que levaram as empresas para a China. Caso o estado não
entenda isto dentro do próximo mês vai estar a queimar as empresas para sempre…. Ricardo Pinheiro Alves: Há neste texto alguma confusão.
Em Portugal a crise foi em 2011, e não foi por causa dos bancos americanos.
Exige-se algum rigor e pouco revisionismo histórico. Joao Rodrigues > Ricardo
Pinheiro Alves: Ai não ? Foi só o roubo do
Sócrates e do Salgado? Saberá o Senhor que muitos bancos tinham dinheiro
aplicado no Madoff? Alberto Ferreira: É consabido que 80% da economia
se dedica(va) a produzir bens e serviços não-essenciais, uma espécie de morfina
indutora do doce sono consumista. Os
Governos devem tentar agora proteger os 20% que realmente interessam (água,
luz, agro-pecuária, saneamento, saúde, logística).
Os restantes 80% renascerão naturalmente, se tal se justificar e as
pessoas não tiverem aprendido nada (o mais provável). É que isto vai demorar. Alfaiate
Tuga: (...)Quais foram os mais castigados por essa
terapia? Os Estados e, como consequência, os funcionários públicos e
pensionistas.(...) Diz isto referindo-se a crise de 2011!!! Os milhares que perderam o emprego e que ainda
hoje ganham muito menos do que ganhavam na altura foram beneficiados...Os
milhares que estão agora em casa sem fazer nenhum a receber 100% do salário com
a garantia de que não serão despedidos, no entendimento desta senhora também
devem estar a ser prejudicados...Abram os olhos, são os impostos que pagamos
que pagam estes “castigados”. Alberto Ferreira > Alfaiate Tuga: Os outros não
foram castigados, simplesmente emigraram... Ursa
Urso > Alfaiate
Tuga: Tb nao percebo cm escreveu isso
a articulista. Ou não tem ideia nenhuma da realidade ou está doida. os
despedidos e as empresas falidas eram privadas, não públicas. Ridículo. Ana
Paiva > Alfaiate
Tuga: Toda a razão. É ofensivo!!!!
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