quarta-feira, 22 de abril de 2020

Mas o coronavírus é que reina



E se ri. Podem os povos superiores querer aplicar as regras de uma perfeita democracia, os seus governos confiando no bom senso dos seus cidadãos, nada impondo e apenas aconselhando, dando assim exemplo ao mundo de que a razão humana é suficiente para decidir, no caso desses seus cidadãos, instruídos e superiormente responsáveis, talvez troçando à socapa, ou frontalmente, dos submissos, a quem os respectivos governos aferrolham em casa, com autoridade, enquanto eles próprios, governantes, se passeiam sem máscara, pelas ruas e parlamento, e até festejando acontecimentos importantes, na liberdade restrita aos seus cargos de autoridade. Tudo são critérios, de uns ou de outros, critérios de ordens rigorosas versus critérios de conselhos responsabilizantes. O coronavírus é quem manda, afinal. E se ri das debilidades humanas, quer assumam a forma altiva da liberdade racional, quer a forma da passividade respeitadora e amedrontada. Mas gostei do texto informativo de António Saraiva Lima, sobre as normas seguidas na Suécia, cujo conhecimento me vem da infância, maravilhada com as viagens do Nils Holgerson no dorso do seu ganso, através dessa Suécia de harmonia e educação.

CORONAVÍRUS
Covid-19: Número de mortos preocupa, mas a Suécia mantém abordagem de “responsabilização individual”
Críticas à estratégia de restrições mínimas estão a aumentar e as autoridades admitem que a protecção dos lares de idosos não foi a mais adequada. Mas acreditam que a situação epidemiológica está a estabilizar. Já morreram mais de 1700 pessoas.
PÚBLICO, 21 de Abril de 2020
O número elevados de mortes causadas pelo novo coronavírus na Suécia está preocupar o Governo e a aumentar as críticas internas, mas as autoridades suecas garantem que o serviço nacional de saúde está a responder bem aos desafios da pandemia e acreditam que a situação epidemiológica do país começa a dar sinais de estabilização. Por isso mesmo, a controversa abordagem de restrições mínimas e confinamento reduzido, baseada na “responsabilização individual”, é para manter. Pelo menos para já. “A tendência que temos visto nos últimos dias, com uma curva mais achatada – muitos casos novos [de infecção], sem haver um aumento diário –, parece estar estabilizar”, disse na sexta-feira aos jornalistas Karin Tegmark Wisel, chefe do departamento de Microbiologia da Autoridade Pública de Saúde da Suécia, cita pela Bloomberg. 
“Estamos numa espécie de planalto”, acrescentou na segunda-feira Anders Tegnell, principal responsável pela área de epidemiologia e arquitecto da estratégia sueca.
Mais de 15 mil suecos foram infectados pela covid-19, metade deles em Estocolmo, e já morreram 1765 pessoas com a doença. Os números mostram um contágio mais acelerado que o registado nos países da região escandinava, como a Dinamarca (7695 infectados e 370 mortos), a Noruega (7191 infectados e 182 mortos) ou a Finlândia (4014 infectados e 141 mortos) e levaram uma parte da comunidade científica a exigir ao Governo “mudanças radicais e rápidas” para travar a propagação do vírus.
“É necessário reforçar o distanciamento social, fechar escolas e restaurantes, e todos os que trabalham com população idosa devem usar equipamento de protecção adequado. Se um membro de uma família estiver doente ou testar positivo, toda a família deve ser colocada em quarentena”, pediu um grupo de investigadores e virologistas, num artigo de opinião, citado pelo Guardian, publicado na semana passada no jornal Dagens Nyheter.
Mas as autoridades sublinharam as diferenças em relação aos países da região, assumindo as suas responsabilidades. “Tivemos um desenvolvimento lamentável, especialmente em comparação com os nossos países vizinhos, que foi a penetração do vírus em várias lares de idosos”, assumiu Tegnell, já depois de o próprio primeiro-ministro, Stefan Löfven ter admitido que se devia ter feito mais para proteger estes estabelecimentos.
Tomando em consideração as características demográficas do país – mais de 50% de lares com apenas uma pessoa e uma densidade populacional de 25 pessoas por quilómetro quadrado –, a Suécia surpreendeu a comunidade internacional quando pôs em prática um plano de contenção bastante mais flexível e menos restritivo que a maioria, assente em recomendações, em vez de imposições, sobre distanciamento social e comportamentos a adoptar em espaços públicos.
Grande parte das escolas suecas permanece aberta, tal como os restaurantes, os bares, as lojas e os ginásios, tendo sido apenas proibidos os ajuntamentos de mais de 50 pessoas e as visitas a lares de idosos. A população foi ainda aconselhada a trabalhar a partir de casa, evitar deslocações desnecessárias e o Governo assumiu abertamente os riscos da sua abordagem.
Apesar de as recomendações terem tido um impacto significativo, com reduções na utilização dos transportes públicos e na quantidade de pessoas a circular nas ruas das principais cidades, o elevado número de mortes e a pressão sobre os estabelecimentos de ensino fez aumentar as críticas, particularmente dos professores.
A principal preocupação das autoridades é, por estes dias, Estocolmo, onde os níveis de contágio teimam em não descer e onde têm sido registados mais casos de incumprimento das recomendações.
Ainda assim, as sondagens mostram que a maioria da população defende a abordagem do Governo.
“Com medidas voluntárias conseguimos que as pessoas circulassem bastante menos que o costume. A forma como conseguimos pôr em prática o distanciamento social tem sido bastante eficaz, talvez até mais eficaz que noutros países que o fizeram através da imposição de restrições”, justifica Tegnell, citado pela edição sueca do site The Local.
O executivo liderado pelo social-democrata Stefan Löfven não exclui, no entanto, um cenário de imposição de medidas restritivas, principalmente se as pessoas começarem a deixar de seguir as recomendações. Por isso mesmo, o Governo já fez aprovar uma lei que lhe permite decretar o encerramento de determinados estabelecimentos comerciais sem precisar da aprovação prévia do Parlamento.
Questionado na segunda-feira sobre a possibilidade de se avançarem para medidas de confinamento mais robustas, Anders Tegnell respondeu desta forma: “Com esta doença tudo é possível, mas acredito que a probabilidade de seguirmos por esse caminho é cada vez mais reduzida à medida que o tempo passa”.
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COMENTÁRIOS:
Dr.Sebastiao12345 INICIANTE: Agora é só imaginar o que pode acontecer ao Brasil ou nos EUA se derem ouvidos a um Chico-esperto que anda por lá.
Anoninho EXPERIENTE: “O executivo liderado pelo social-democrata Stefan Löfven não exclui, no entanto, um cenário de imposição de medidas restritivas, principalmente se as pessoas começarem a deixar de seguir as recomendações.” - Ou seja, se não fizerem “voluntariamente” o que eu “recomendo”, eu obrigo-vos a fazê-lo. Esperteza saloia destes suecos. 21.04.2020
JDSousa INICIANTE: Qual é a sua crítica, concretamente? O governo português impôs de imediato porque assim entendeu necessário. O governo sueco (outro país, com diferentes circunstâncias) considerou que não era necessário impor se os cidadãos assumissem certas recomendações, e muitos estão a fazê-lo. Caso esta abordagem não seja suficiente, a estratégia adapta-se, e essa adaptação há muito que está planeada. O que é que aqui é esperteza saloia...? 21.04.2020
Anoninho EXPERIENTE A minha crítica é simples: na Suécia não lhe chamaram imposição, mas neste momento (segundo é relatado), se não é cumprida, passa a sê-lo... ora, qual a diferença? Até pode não ser assim na prática, mas acho engraçado o excerto que citei.
Pedro Trova INICIANTE: Já antes tinha sido censurado um comentário em português com referências ao estudo da Universidade de Stanford. O estudo concluiu que a a taxa de infecção é muito maior (50 a 85 vezes mais) que o indicado pelo número de casos confirmados. E termina a aconselhar a calibração dos números da mortalidade tendo em conta estes novos resultados. Façam um exercício básico. Multipliquem o número oficial de infectados por 85 e depois apurem a percentagem da mortalidade. Cerca de 0.041%. Só a ciência é o antídoto da histeria. E qual foi a desculpa agora para censurar a tradução da conclusão do estudo científico?
Anoninho EXPERIENTE: Pedro Trova, e sobre a histeria do colapso dos sistemas de saúde italianos e espanhóis e dos corpos a acumular em Nova Iorque? O que diz?
joao.de.melo INICIANTE Onde andam os defensores do fascista brasileiro? A internet falha sempre nestas situações, "rais parta". 21.04.2020


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