Este texto de Teresa de Sousa, fora do âmbito exclusivamente pandémico por que têm
enveredado, naturalmente, as notícias e as crónicas, texto a sugerir que haverá vida
para depois do “corona”.
ANÁLISE
Um líder da oposição em tempo de
pandemia
Ninguém esperava que as eleições
internas decorressem num mundo que já não é o mesmo. Literalmente. Uma contenda
que teria sido acompanhada com interesse pela opinião pública e pelas restantes
forças políticas, desapareceu quase por completo sob a vaga incontrolável e
incontornável da pandemia.
TERESA DE SOUSA
PÚBLICO, 4 de Abril de 2020
1.Vale
a pena recapitular. Nas eleições legislativas de Dezembro passado, convocadas
por vontade do primeiro-ministro Boris Johnson, o Labour de Jeremy Corbyn
sofreu uma humilhante derrota – a mais pesada desde 1935. Os
conservadores apresentaram-se aos eleitores com um programa que não podia ser
nem mais simples, nem mais claro: “Get Brexit done”. Os eleitores, fossem
eles favoráveis ao “Leave” ou ao “Remain”, queriam acabar depressa como um
longo período das suas vidas em que a saída do Reino Unido foi omnipresente.
A vitória dos tories foi facilitada precisamente porque o Labour manteve
sempre uma posição ambígua em relação ao “Brexit” – forçada pelas
profundas divisões internas sobre o lugar da Grã-Bretanha na Europa –, o
que o obrigou a tentar afastar-se o mais possível dessa questão central da vida
politica britânica, oferecendo aos eleitores, em contrapartida, uma panóplia
de promessas económicas e sociais – tão vastas e tão generosas que muita gente
desconfiou.
A
derrota obrigou Corbyn a anunciar que sairia. A sucessão
foi posta em marcha. O que estava em causa na contenda era
relativamente simples: manter na liderança uma tendência radical de esquerda,
que prevaleceu nos anos de 1960 e em boa parte das duas décadas seguintes e que
reemergiu inesperadamente depois do período dourado da “terceira via” de Blair;
ou regressar a uma versão mais centrista do papel do Labour na politica
britânica. O resultado
também não é inesperado. O candidato mais moderado, Keir
Starmer, venceu por uma margem confortável.
A normalidade fica por aqui.
2.Ninguém esperava que as eleições
internas decorressem num mundo que já não é o mesmo. Literalmente. Uma contenda
que teria sido acompanhada com interesse pela opinião pública e pelas restantes
forças politicas, desapareceu quase por completo sob a vaga
incontrolável e incontornável da pandemia. O Labour, com o Parlamento antecipadamente fechado
para as férias da Páscoa e sem liderança, desapareceu de cena. Leia-se a
grande imprensa britânica das últimas semanas e é raro encontrar qualquer
referência à escolha do novo líder do partido, mas também às suas posições
sobre o que é preciso fazer face à crise pandémica ou a eventuais críticas à
forma como o Governo está a conduzir a batalha – de resto, alvo de bastante
contestação, sobretudo pela escolha de uma estratégia inicial que se revelou
perigosa e que teve de ser corrigida. O palco pertence quase exclusivamente
aos membros do Governo que têm de liderar o país nesta emergência. São, em
geral, os governos das democracias que enfrentam a sua prova de vida, não as
oposições. São os líderes que se fazem ou desfazem perante a crise.
Keir Starmer não é um
líder carismático e alguns analistas previram que teria dificuldade em
reunificar o partido, sobretudo perante os sectores apoiantes de Corbyn, mais
ideológicos e mais radicais e, portanto, menos dispostos a baixar as armas. A
sua bagagem política ainda breve (foi apenas eleito deputado em 2015) incluía
uma forte oposição à guerra do Iraque (2003) e um passado de activista como
advogado de Direitos Humanos. “Não a mais guerras ilegais”, foi uma das suas
promessas da campanha. Nunca foi um entusiasta da “terceira via”, mas um
convicto defensor da pertença do seu país à União Europeia, incluindo a defesa
de um segundo referendo, facto que acabou por levá-lo à demissão do cargo de
“ministro-sombra” para o “Brexit. Sobre o que pensa do lugar do Reino Unido no
mundo, agora que já não é membro da União, sabe-se pouco, a não ser que quer
“colocar os direitos humanos no coração da politica externa”.
Mas
a imprensa descreve-o também como um homem sério e pouco dado a exibições mais
ou menos populistas, que “compreende os briefings dos especialistas” e que
trará “inteligência e competência” à politica britânica.
3. O
primeiro sinal da anormalidade do tempo que vivemos foi dado no seu discurso de
vitória, ontem, através de um vídeo. “Quer tenhamos votado ou não por este
Governo, todos confiamos em que está a fazer o que considera mais acertado. O
Labour cumprirá a sua parte.” Metade do seu
discurso foi dedicada à pandemia. A outra metade foi para falar de um futuro
mais próximo da normalidade possível, incluindo as lições que é preciso tirar
da crise. Da defesa do NHS aos salários mais justos para aqueles que se estão a
revelar como trabalhadores fundamentais para que a sociedade continue a
funcionar, muitas vezes esquecidos. “Quando tivermos vencido esta crise, não
poderemos regressar ao business as usual. Este vírus expôs as
fragilidades da nossa sociedade. Subiu uma cortina.” Compreensivelmente vago
para esperar que a tempestade acalme. À excepção de um ponto: o anti-semitismo.
Que classificou como uma “mancha” imperdoável e pela qual pediu desculpa.
COMENTÁRIOS:
Joao INICIANTE: 4. É que, como
diria o Pinheiro de Azevedo, eu não gosto de ser sequestrado e muito menos
sequestrado mentalmente. Se eu criticar os "pró católicos", por
exemplo na discussão sobre a eutanásia, serão os meus comentários apagados?
Claro que não. Se criticar a desinformação "pró ortodoxa de Moscovo",
p.ex. na separação da igreja de Kiev seriam apagados? Claro que não. Se
criticar a desinformação "pró muçulmana", p.ex. sobre a capital em
Jerusalém seriam apagados? Claro que não. Se criticasse a desinformação "pró
budista" sobre a perseguição aos bengali em Myamar seriam apagados? Claro
que não. O facto é que só me apagam as críticas, seja a que faceta for, dos e
aos “judeus”. Nisso a Teresa está do lado certo da "Força". "Que
a Força esteja consigo". 04.04.2020
Raquel Azulay EXPERIENTE: João, porque é
que não desenha e publica um cartoon com o Alvaro Cunhal a torturar um comunista
com um maçarico na prisão de Peniche? Comparativamente suave. Boa noite.
05.04.2020
Beep Beep INFLUENTE: Tu não criticaste
os pró-nada. Praticamente disseste que há uma conspiração judia para dominar os
media e o mundo. Deixa de te fazer desentendido e sonso, que ninguém cai.
05.04.2020
Raquel Azulay EXPERIENTE: João, deveria ter
escrito isto também: desenha o tal cartoon, publica-o num jornal de referência
e observa atentamente as reacções viscerais dos comunistas portugueses. Depois
acusa-os de instrumentalizarem a vitimização. A cereja no topo do bolo.
05.04.2020
Joao INICIANTE: Ah Ah resumidamente "Praticamente disseste que há
uma conspiração judia para dominar os media e o mundo" ... gostei. O que
eu digo é que os cartoons do Vasco, do António e outros foram censurados, os
próprios foram ostracizados, o que eu digo é que qualquer forma de crítica é
punida por lei quer nos USA TimesOfIsrael 6/2/2019 “US Senate passes anti-BDS
bills, sending them to House”, quer na Alemanha Guardian 17/5/2019 “German
parliament declares Israel boycott campaign antisemitic”, e pelos vistos por
cá. E mais não digo pois tenho receio dos zelotas. 05.04.2020
Beep Beep INFLUENTE: Não dizes nada
porque dizeres mais significaria teres que ler o resto da notícia. Por exemplo,
na do Guardian sobre a Alemanha: “ antisemitic crime and hate crime rose by
about 20% in 2018, to 1,800 incidents.”, ou a parte em que académicos e
intelectuais judeus criticaram a decisão do Bundestag, por equiparar a defesa
do povo palestiniano a anti-semitismo. Já agora, não sou a favor do BDS, porque
equipara organismos governamentais com não-governamentais. Sou totalmente a
favor de boicotar o governo israelita, não as universidades, museus,
cientistas, intelectuais, etc, que não fazem parte nem estão ligados a ele.
Todos quanto estejam atentos sabem o que dizes e disseste sobre os judeus. Nada
tem a ver com essa postura hipócrita de “ai não se pode criticar”
05.04.2020 12:32
Raquel Azulay EXPERIENTE: ostracizados???
não me parece. Beep Beep, talvez gostes (ou não) de ouvir a Dra Ruth Visse, Can
Liberals Confront Anti-Semitism?, na tikvah org. Faz um chazinho, bolachinhas e
ouve a Sra Prof. depois podemos conversar. O BDS é anti-semítico
porque boicota Israel mas não boicota qualquer organização terrorista. Aliás, a
UE, através dos seus programas humanitários, apoia activamente as organizações
terroristas palestinianas que usam o dinheiro doado não para ajudar os seus mas
para manterem o mais opressivo nepotismo, comprarem armas e construírem túneis.
Esta é que é a verdadinha. Mas estas são verdadinhas que pouco interessam aos
media europeus. Raramente são divulgadas, tal é o consenso pro-palestiniano. 05.04.2020
Beep Beep INFLUENTE Raquel, eu sou
mais By Any Means Necessary do que “liberal” (presumo que no sentido
politico-americano da coisa) em algumas questões. E não acho que haja
“consenso” nenhum. Não vou entrar pelo caminho de justificar certas acções de
Netanyahus e afins com outras, porque isso não leva a lado nenhum. Sobretudo
para o mexilhão. 05.04.2020
Raquel Azulay EXPERIENTE: Beep Beep, eu
sigo esta temática porque este é um assunto q me interessa há muito. Segue o
tema nos principais jornais europeus, é um exercício interessante: the
Guardian, Liberation, Le Monde, Der Spiegel, Zeit, e, nos EUA, NYT e WPost. o P
tem sido uma das excepções q confirma a regra. Tem dado voz a várias
interpretações. Não estou a sugerir uma conspiração mediática ou outra. Estou a
falar de um consenso q emana do geist politico-cultural e do impacto da
soundbyte. não esquecer q o voto muçulmano (todo ele pró "resistência"
palestiniana) europeu, especialmente em países como a França, Alemanha e GB
induz a passividade de muitos políticos. São mts os políticos europeus que
não querem enfurecer os seus compatriotas muçulmanos. Nas unis do uk este
consenso é mais do q evidente. 05.04.2020
Beep Beep INFLUENTE: O voto europeu
tem uma contrapartida importante nos EUA. Que hoje em dia é mais islamofóbico
que pró-Israel 05.04.2020
Joao INICIANTE 1. Terei cuidado a comentar um artigo da Teresa. Já
percebi que a Teresa é … não direi “vaca sagrada” no sentido hinduísta claro,
mas será que posso dizer “ícon sagrado” no sentido russo? Um “ícon sagrado”
aqui no querido Público. É que qualquer comentário meu num artigo da Teresa é
escrutinado ao infinitésimo e rebuscam curvaturas mesmo na linha recta de
Newton, quanto mais na de Einstein. Vejamos, a Teresa descreve o Starmer como
um banal que diz e desdiz banalidades. Enfim, generalidades e vulgaridades. E
lá no fim o essencial e a mensagem: o “anti-semitismo” da praxe, ou a ausência
do “anti-semitismo” da praxe neste caso. 2. A Teresa
frequentemente busca e avalia e tudo afere segundo o “semitismo”. Nem mesmo
aqui opinadoras “israelitas” (digo “israelitas” porque “judias” ou “judaicas”
parece serem termos sancionáveis aqui apesar de “ortodoxas”, “muçulmanas”,
“católicas”, “cristãs” e etc não o serem). Já aqui há um mês andou a
subliminarmente apelar à censura dos caricaturistas que caricaturam este ou
aquele. Omitiu as censuras aos caricaturistas portugueses António ou Vasco que
se atreveram a caricaturar uns líderes “israelitas” (ou “judeus”, posso dizer?)
e suavemente apelou a que uns Cabeçudos de Carnaval numa cidade qualquer da
Bélgica fossem censurados porque caricaturaram um “israelita” (ou um “judeu”,
posso dizer?). 3. Cara Teresa, tanta palavra sobre o
Starmer do Labour (que eu desconheço mas obviamente espero que tenha muito
sucesso) para finalizar resumindo tudo no seu (dele) não “semitismo” ou no seu
(dele) “anti-semitismo”? 04.04.2020
Raquel Azulay EXPERIENTE: João, a julgar
pelo nº de comentários seus acho que posso presumir q você nunca foi censurado
neste forum. Ao contrário de outros e outras. 05.04.2020
Beep Beep INFLUENTE: Raquel, ele foi
censurado e despromovido por anti-semitismo. E fui eu que o denunciei. 05.04.2020
bento guerra EXPERIENTE: O Labour não teve
a decência de se pronunciar sobre o tema "Brexit" ,tão importante
para o UK. Que politica é essa? 04.04.2020
Raquel Azulay EXPERIENTE: A melhor análise de Starmer, incl as
publicadas na GB. é isso mesmo, sem tirar nem pôr. Não quero ser chatinha, Dra
Teresa de Sousa mas, se me permite: o Labour optou por uma mensagem ambígua
porque os seus líderes sabiam que o seu eleitorado estava dividido. os
labourites urbanos eram/são a favor do remain. os labourites do norte
depauperado eram/são a favor do brexit. (foram estes labourites que votaram no Boris).
ou seja, a mensagem ambígua de Corbyn foi deliberada. reflectia fidedignamente
esta fissura no labour camp. Corbyn optou pela malfadada "ambiguidade
construtiva" com o intuito de agradar a gregos e troianos. Foi estúpido.
deveria ter apostado numa mensagem remain que lhe teria angariado o apoio dos
jovens (q teriam compensado pelas perdas no norte). Excelente artigo. :) 04.04.2020
Manuel Figueira INICIANTE: Rquel Azulay:
Comentário muito bem pesado, com a cabeça,como deve ser. concordo completamente
como que diz, mas lembro-lhe umas frase feitas: «Os prognósticos depois do jogo
são fáceis, até já conhecemos o resultado do mesmo». 05.04.2020
Um comentário:
Troll Farms zealots...as não são parecem. Triste.
Postar um comentário