segunda-feira, 6 de abril de 2020

Um sopro de arejamento



Este texto de Teresa de Sousa, fora do âmbito exclusivamente pandémico por que têm enveredado, naturalmente, as notícias e as crónicas, texto a sugerir que haverá vida para depois do “corona”.

ANÁLISE
Um líder da oposição em tempo de pandemia
Ninguém esperava que as eleições internas decorressem num mundo que já não é o mesmo. Literalmente. Uma contenda que teria sido acompanhada com interesse pela opinião pública e pelas restantes forças políticas, desapareceu quase por completo sob a vaga incontrolável e incontornável da pandemia.
TERESA DE SOUSA
PÚBLICO, 4 de Abril de 2020
1.Vale a pena recapitular. Nas eleições legislativas de Dezembro passado, convocadas por vontade do primeiro-ministro Boris Johnson, o Labour de Jeremy Corbyn sofreu uma humilhante derrota – a mais pesada desde 1935. Os conservadores apresentaram-se aos eleitores com um programa que não podia ser nem mais simples, nem mais claro: “Get Brexit done”. Os eleitores, fossem eles favoráveis ao “Leave” ou ao “Remain”, queriam acabar depressa como um longo período das suas vidas em que a saída do Reino Unido foi omnipresente. A vitória dos tories foi facilitada precisamente porque o Labour manteve sempre uma posição ambígua em relação ao “Brexit– forçada pelas profundas divisões internas sobre o lugar da Grã-Bretanha na Europa –, o que o obrigou a tentar afastar-se o mais possível dessa questão central da vida politica britânica, oferecendo aos eleitores, em contrapartida, uma panóplia de promessas económicas e sociais – tão vastas e tão generosas que muita gente desconfiou.
A derrota obrigou Corbyn a anunciar que sairia. A sucessão foi posta em marcha. O que estava em causa na contenda era relativamente simples: manter na liderança uma tendência radical de esquerda, que prevaleceu nos anos de 1960 e em boa parte das duas décadas seguintes e que reemergiu inesperadamente depois do período dourado da “terceira via” de Blair; ou regressar a uma versão mais centrista do papel do Labour na politica britânica. O resultado também não é inesperado. O candidato mais moderado, Keir Starmer, venceu por uma margem confortável. A normalidade fica por aqui.
2.Ninguém esperava que as eleições internas decorressem num mundo que já não é o mesmo. Literalmente. Uma contenda que teria sido acompanhada com interesse pela opinião pública e pelas restantes forças politicas, desapareceu quase por completo sob a vaga incontrolável e incontornável da pandemia. O Labour, com o Parlamento antecipadamente fechado para as férias da Páscoa e sem liderança, desapareceu de cena. Leia-se a grande imprensa britânica das últimas semanas e é raro encontrar qualquer referência à escolha do novo líder do partido, mas também às suas posições sobre o que é preciso fazer face à crise pandémica ou a eventuais críticas à forma como o Governo está a conduzir a batalha – de resto, alvo de bastante contestação, sobretudo pela escolha de uma estratégia inicial que se revelou perigosa e que teve de ser corrigida. O palco pertence quase exclusivamente aos membros do Governo que têm de liderar o país nesta emergência. São, em geral, os governos das democracias que enfrentam a sua prova de vida, não as oposições. São os líderes que se fazem ou desfazem perante a crise.
Keir Starmer não é um líder carismático e alguns analistas previram que teria dificuldade em reunificar o partido, sobretudo perante os sectores apoiantes de Corbyn, mais ideológicos e mais radicais e, portanto, menos dispostos a baixar as armas. A sua bagagem política ainda breve (foi apenas eleito deputado em 2015) incluía uma forte oposição à guerra do Iraque (2003) e um passado de activista como advogado de Direitos Humanos. “Não a mais guerras ilegais”, foi uma das suas promessas da campanha. Nunca foi um entusiasta da “terceira via”, mas um convicto defensor da pertença do seu país à União Europeia, incluindo a defesa de um segundo referendo, facto que acabou por levá-lo à demissão do cargo de “ministro-sombra” para o “Brexit. Sobre o que pensa do lugar do Reino Unido no mundo, agora que já não é membro da União, sabe-se pouco, a não ser que quer “colocar os direitos humanos no coração da politica externa”.
Mas a imprensa descreve-o também como um homem sério e pouco dado a exibições mais ou menos populistas, que “compreende os briefings dos especialistas” e que trará “inteligência e competência” à politica britânica.
3. O primeiro sinal da anormalidade do tempo que vivemos foi dado no seu discurso de vitória, ontem, através de um vídeo. “Quer tenhamos votado ou não por este Governo, todos confiamos em que está a fazer o que considera mais acertado. O Labour cumprirá a sua parte.” Metade do seu discurso foi dedicada à pandemia. A outra metade foi para falar de um futuro mais próximo da normalidade possível, incluindo as lições que é preciso tirar da crise. Da defesa do NHS aos salários mais justos para aqueles que se estão a revelar como trabalhadores fundamentais para que a sociedade continue a funcionar, muitas vezes esquecidos. “Quando tivermos vencido esta crise, não poderemos regressar ao business as usual. Este vírus expôs as fragilidades da nossa sociedade. Subiu uma cortina.” Compreensivelmente vago para esperar que a tempestade acalme. À excepção de um ponto: o anti-semitismo. Que classificou como uma “mancha” imperdoável e pela qual pediu desculpa.
COMENTÁRIOS:
Joao INICIANTE: 4. É que, como diria o Pinheiro de Azevedo, eu não gosto de ser sequestrado e muito menos sequestrado mentalmente. Se eu criticar os "pró católicos", por exemplo na discussão sobre a eutanásia, serão os meus comentários apagados? Claro que não. Se criticar a desinformação "pró ortodoxa de Moscovo", p.ex. na separação da igreja de Kiev seriam apagados? Claro que não. Se criticar a desinformação "pró muçulmana", p.ex. sobre a capital em Jerusalém seriam apagados? Claro que não. Se criticasse a desinformação "pró budista" sobre a perseguição aos bengali em Myamar seriam apagados? Claro que não. O facto é que só me apagam as críticas, seja a que faceta for, dos e aos “judeus”. Nisso a Teresa está do lado certo da "Força". "Que a Força esteja consigo". 04.04.2020
Raquel Azulay EXPERIENTE: João, porque é que não desenha e publica um cartoon com o Alvaro Cunhal a torturar um comunista com um maçarico na prisão de Peniche? Comparativamente suave. Boa noite. 05.04.2020
Beep Beep INFLUENTE: Tu não criticaste os pró-nada. Praticamente disseste que há uma conspiração judia para dominar os media e o mundo. Deixa de te fazer desentendido e sonso, que ninguém cai. 05.04.2020
Raquel Azulay EXPERIENTE: João, deveria ter escrito isto também: desenha o tal cartoon, publica-o num jornal de referência e observa atentamente as reacções viscerais dos comunistas portugueses. Depois acusa-os de instrumentalizarem a vitimização. A cereja no topo do bolo. 05.04.2020
Joao INICIANTE: Ah Ah resumidamente "Praticamente disseste que há uma conspiração judia para dominar os media e o mundo" ... gostei. O que eu digo é que os cartoons do Vasco, do António e outros foram censurados, os próprios foram ostracizados, o que eu digo é que qualquer forma de crítica é punida por lei quer nos USA TimesOfIsrael 6/2/2019 “US Senate passes anti-BDS bills, sending them to House”, quer na Alemanha Guardian 17/5/2019 “German parliament declares Israel boycott campaign antisemitic”, e pelos vistos por cá. E mais não digo pois tenho receio dos zelotas. 05.04.2020
Beep Beep INFLUENTE: Não dizes nada porque dizeres mais significaria teres que ler o resto da notícia. Por exemplo, na do Guardian sobre a Alemanha: “ antisemitic crime and hate crime rose by about 20% in 2018, to 1,800 incidents.”, ou a parte em que académicos e intelectuais judeus criticaram a decisão do Bundestag, por equiparar a defesa do povo palestiniano a anti-semitismo. Já agora, não sou a favor do BDS, porque equipara organismos governamentais com não-governamentais. Sou totalmente a favor de boicotar o governo israelita, não as universidades, museus, cientistas, intelectuais, etc, que não fazem parte nem estão ligados a ele. Todos quanto estejam atentos sabem o que dizes e disseste sobre os judeus. Nada tem a ver com essa postura hipócrita de “ai não se pode criticar”
05.04.2020 12:32
Raquel Azulay EXPERIENTE: ostracizados??? não me parece. Beep Beep, talvez gostes (ou não) de ouvir a Dra Ruth Visse, Can Liberals Confront Anti-Semitism?, na tikvah org. Faz um chazinho, bolachinhas e ouve a Sra Prof. depois podemos conversar.  O BDS é anti-semítico porque boicota Israel mas não boicota qualquer organização terrorista. Aliás, a UE, através dos seus programas humanitários, apoia activamente as organizações terroristas palestinianas que usam o dinheiro doado não para ajudar os seus mas para manterem o mais opressivo nepotismo, comprarem armas e construírem túneis. Esta é que é a verdadinha. Mas estas são verdadinhas que pouco interessam aos media europeus. Raramente são divulgadas, tal é o consenso pro-palestiniano. 05.04.2020
Beep Beep INFLUENTE Raquel, eu sou mais By Any Means Necessary do que “liberal” (presumo que no sentido politico-americano da coisa) em algumas questões. E não acho que haja “consenso” nenhum. Não vou entrar pelo caminho de justificar certas acções de Netanyahus e afins com outras, porque isso não leva a lado nenhum. Sobretudo para o mexilhão. 05.04.2020
Raquel Azulay EXPERIENTE: Beep Beep, eu sigo esta temática porque este é um assunto q me interessa há muito. Segue o tema nos principais jornais europeus, é um exercício interessante: the Guardian, Liberation, Le Monde, Der Spiegel, Zeit, e, nos EUA, NYT e WPost. o P tem sido uma das excepções q confirma a regra. Tem dado voz a várias interpretações. Não estou a sugerir uma conspiração mediática ou outra. Estou a falar de um consenso q emana do geist politico-cultural e do impacto da soundbyte. não esquecer q o voto muçulmano (todo ele pró "resistência" palestiniana) europeu, especialmente em países como a França, Alemanha e GB induz a passividade de muitos políticos. São mts os políticos europeus que não querem enfurecer os seus compatriotas muçulmanos. Nas unis do uk este consenso é mais do q evidente. 05.04.2020
Beep Beep INFLUENTE: O voto europeu tem uma contrapartida importante nos EUA. Que hoje em dia é mais islamofóbico que pró-Israel 05.04.2020
Joao INICIANTE  1. Terei cuidado a comentar um artigo da Teresa. Já percebi que a Teresa é … não direi “vaca sagrada” no sentido hinduísta claro, mas será que posso dizer “ícon sagrado” no sentido russo? Um “ícon sagrado” aqui no querido Público. É que qualquer comentário meu num artigo da Teresa é escrutinado ao infinitésimo e rebuscam curvaturas mesmo na linha recta de Newton, quanto mais na de Einstein. Vejamos, a Teresa descreve o Starmer como um banal que diz e desdiz banalidades. Enfim, generalidades e vulgaridades. E lá no fim o essencial e a mensagem: o “anti-semitismo” da praxe, ou a ausência do “anti-semitismo” da praxe neste caso. 2. A Teresa frequentemente busca e avalia e tudo afere segundo o “semitismo”. Nem mesmo aqui opinadoras “israelitas” (digo “israelitas” porque “judias” ou “judaicas” parece serem termos sancionáveis aqui apesar de “ortodoxas”, “muçulmanas”, “católicas”, “cristãs” e etc não o serem). Já aqui há um mês andou a subliminarmente apelar à censura dos caricaturistas que caricaturam este ou aquele. Omitiu as censuras aos caricaturistas portugueses António ou Vasco que se atreveram a caricaturar uns líderes “israelitas” (ou “judeus”, posso dizer?) e suavemente apelou a que uns Cabeçudos de Carnaval numa cidade qualquer da Bélgica fossem censurados porque caricaturaram um “israelita” (ou um “judeu”, posso dizer?). 3. Cara Teresa, tanta palavra sobre o Starmer do Labour (que eu desconheço mas obviamente espero que tenha muito sucesso) para finalizar resumindo tudo no seu (dele) não “semitismo” ou no seu (dele) “anti-semitismo”? 04.04.2020
Raquel Azulay EXPERIENTE: João, a julgar pelo nº de comentários seus acho que posso presumir q você nunca foi censurado neste forum. Ao contrário de outros e outras. 05.04.2020
Beep Beep INFLUENTE: Raquel, ele foi censurado e despromovido por anti-semitismo. E fui eu que o denunciei. 05.04.2020
bento guerra EXPERIENTE: O Labour não teve a decência de se pronunciar sobre o tema "Brexit" ,tão importante para o UK. Que politica é essa? 04.04.2020
Raquel Azulay EXPERIENTE:  A melhor análise de Starmer, incl as publicadas na GB. é isso mesmo, sem tirar nem pôr. Não quero ser chatinha, Dra Teresa de Sousa mas, se me permite: o Labour optou por uma mensagem ambígua porque os seus líderes sabiam que o seu eleitorado estava dividido. os labourites urbanos eram/são a favor do remain. os labourites do norte depauperado eram/são a favor do brexit. (foram estes labourites que votaram no Boris). ou seja, a mensagem ambígua de Corbyn foi deliberada. reflectia fidedignamente esta fissura no labour camp. Corbyn optou pela malfadada "ambiguidade construtiva" com o intuito de agradar a gregos e troianos. Foi estúpido. deveria ter apostado numa mensagem remain que lhe teria angariado o apoio dos jovens (q teriam compensado pelas perdas no norte). Excelente artigo. :) 04.04.2020
Manuel Figueira INICIANTE: Rquel Azulay: Comentário muito bem pesado, com a cabeça,como deve ser. concordo completamente como que diz, mas lembro-lhe umas frase feitas: «Os prognósticos depois do jogo são fáceis, até já conhecemos o resultado do mesmo». 05.04.2020

Um comentário:

Unknown disse...

Troll Farms zealots...as não são parecem. Triste.