terça-feira, 14 de abril de 2020

E a continuação da farsa


Sobre as linhas de crédito para “vencer” a crise, coisa em que se não acredita… Comentadores cada vez mais enfurecidos contra os funcionários públicos que eles acham protegidos pelo Estado. Era a teoria do meu pai, de resto: “O Estado paga mal, paga tarde – (as suas dívidas) – mas paga sempre”. Por isso ele recusou a oferta de um emprego oferecido por uns ingleses sul africanos, em Ressano Garcia, onde prestava serviço de guarda-fiscal, e foi apreciado por aqueles, no seu carácter e profissionalismo. Não aceitou a oferta vantajosa, previdente e confiante nas virtudes do Estado… virtudes que se mantêm, pelos vistos, hoje, diz-se que por interesses logísticos, ou seja, eleitorais. Mas sempre ouvi coisas depreciativas sobre os funcionários, e cada vez mais, outrora por serem classe mal paga e submissa, ao que parece, – ao contrário dos serviços privados sobretudo das grandes empresas capitalistas (hoje, todavia, menos evidentes, mas explorando bem, como sempre - as que sobram - os seus empregados, como marca idiossincrática nossa, de resto). Os comentadores de Helena Garrido lançam-se ferozmente sobre eles, os funcionários, como parasitas sociais, embora eu tenha suprimido alguns desses comentários, manifestamente invejosos, porque aparentemente eles estão mais seguros, em tempo de quarentena, do que os outros trabalhadores. E assim os reformados, que se vão sentindo como excrescências purulentas, a extirpar, sobretudo se de idade superior, a pedir eutanásia, embora mais esbatida hoje por conta da covid-19, auxiliar desses anseios, que os tais comentadores, contudo, calam, politicamente correctos.
A queda das regras económicas / premium
A incerteza extrema exige um intervalo nas regras de política económica. As decisões têm de ser pragmáticas, de curto prazo. A Europa fá-lo à sua maneira. O Reino Unido e os EUA de forma mais directa.
HELENA GARRIDO
OBSERVADOR, 13 abr 2020
Estamos a entrar num novo mundo em matéria de política económica, em que se quebram as regras e se dá lugar a decisões discricionárias. Quem conhece o debate económico sobre “regras versus discricionariedade”, e não se deixa turvar por qualquer tipo de fé ideológica, sabe que em situações de incerteza extrema, como aquela que caracteriza a crise do coronavírus, as regras que faziam sentido em tempos de normalidade deixam de produzir os melhores resultados para o bem estar dos cidadãos, o principal objectivo da política económica.
Um pouco por todos os países do ocidente, onde as regras de política económica são a regra, com especial relevo para a política monetária, vemos abrirem-se excepções. Inclusivamente na “ortodoxa” área do Euro e União Europeia, nestes dias tão criticada pela sua falta de capacidade de reagir a esta crise sem precedentes. Apesar de tudo e de todas as criticas que possam ser feitas, a União Europeia está a reagir melhor do que na crise das dívidas soberanas, de 2010-2011.
Entremos pelos factos, pelas decisões que já se conhecem, para ilustrar até que ponto os decisores políticos estão a ajustar-se a estes novos tempos de excepção.
Linhas de crédito garantidas pelo Estado ou subsídios a empresas fazem agora parte do quotidiano das comunicações da Comissão Europeia. Estão interrompidas as regras que impedem o Estado de ajudarem as empresas e que tantas dificuldades nos criaram na crise das dívidas soberanas. A política de concorrência da União Europeia, uma das poucas em que a Comissão Europeia tem poder quase absoluto, cede lugar ao pragmatismo. E este intervalo nas regras irá ainda mais longe, quando assistirmos, como já começa a acontecer, à capitalização de algumas empresas, designadamente no sector da aviação. O que pode ir desde companhias aéreas a aeroportos.
Aliás, a comissária europeia para a Concorrência, Margrethe Vestager, em entrevista ao Financial Times vai ao ponto de defender que os Estados-membros devem tomar posições em empresas, para as defender de aquisições por parte de outros países, designadamente da China. Uma declaração impensável há três meses e que vai contra os princípios gerais da globalização.
As regras europeias para as finanças públicas foram flexibilizadas numa das primeiras propostas da Comissão Europeia para fazer frente aos impacto económicos do Covid-19. Isto permitirá que os Estados-membros deixem de cumprir os objectivos de redução estrutural do défice público, a que estavam obrigados, desde que garantam a sustentabilidade das finanças públicas. Mas mesmo esta condição pode ser apenas escrita, uma vez que, depois da destruição a que vamos assistir, boa parte da dívida pública terá forçosamente de desaparecer nos braços do BCE, se quisermos que o projecto europeu sobreviva. A Itália e a Espanha, a terceira e quarta maior economia do Euro, não terão condições para garantir a “sustentabilidade das finanças públicas” medida pela relação entre o rácio da dívida e o crescimento, mesmo com taxas de juro tão baixas como as que temos.
E é aqui que entramos em Frankfurt. O BCE, depois de uma partida em falso, com Christine Lagarde a dizer que não cabe ao BCE reduzir os “spreads” das taxas de juro da dívida pública, acabou por perceber que não estamos a viver tempos normais. E o BCE anunciou que até ao fim de 2020 vai adquirir 750 mil milhões de euros de títulos de dívida no âmbito do programa de emergência de combate à pandemia.
E o governador do Banco de França quebrou um tabu ao admitir a possibilidade de o BCE apoiar directamente as empresas, imprimindo moeda. Uma forma de contornar a proibição de financiamento directo aos Estados, consagrada nos tratados. Mesmo esta regra, que impede que as máquinas de imprimir dinheiro sirvam para pagar despesa pública, tem vindo a ser ultrapassada desde que Mário Draghi disse, no início do Verão de 2012, que faria o que fosse necessário para salvar o euro. Não faltará muito até vermos o BCE ir ainda mais longe do que foi até agora, pagando despesa pública, embora, e obviamente, sempre a desmentir que o esteja a fazer.
Fora da área do euro não existem rodeios. O Banco de Inglaterra passou a ser o primeiro banco central no universo dos países desenvolvidos a fazer financiamento monetário da despesa pública, ao aceitar pagar despesa pública ao tesouro britânico, numa base temporária. Vamos ver o que ainda fará a Reserva Federal dos Estados Unidos.
Estamos a viver uma crise nunca antes vista e só comparável com o de uma economia de guerra, podendo os seus efeitos ser muito piores como se pode ler neste artigo de Sérgio Aníbal que tem como fonte o trabalho “Longer-Run Economic Consequences of Pandemics” da Reserva Federal de São Francisco.
A paragem das economias europeia e norte-americana em pelo menos dois meses assim como a incerteza geral e especialmente quanto aos danos económicos e comportamentais da pandemia exigem que os decisores políticos actuem em completa liberdade, para que adoptem as medidas que mais reduzem os custos da crise, que minimizam a perda de bem estar. Os problemas clássicos, como o de decisões que podem gerar incentivos perversos, não existem neste momento. Estamos a viver tempos anormais, em que todas as regras da normalidade desapareceram.
A Holanda, que tem protagonizado o papel de país rígido no quadro da União Europeia, vai ter de se adaptar, de mudar o discurso. É o nosso modo de vida que está em causa e a pandemia pode ter um poder destrutivo que vai para além da nossa imaginação, como para além da nossa imaginação já está a ser a vida que andamos a viver nestes tempos de quarentena. “Em tempo de guerra não se limpam armas”, diz-se em guerra. Pois em tempo de pandemia não se podem aplicar regras de política económica, a liberdade de decisão, a discricionariedade, tem de ser a única regra. Ou teremos, a seguir a estes dias de crise sanitária, países destruídos, pessoas destruídas. O que com certeza ninguém quer.
COMENTÁRIOS:
Jose Costa: Com o dinheiro que aí vem, com o pouco controlo e com o péssimo registo de ganhos ilícitos e imorais só por vezes com capa de "cumprimento da lei", prevalecentes em Portugal, vai ser um fartar vilanagem.
Manhoso Nevoa > Jose Costa: É preciso ir à porta da AR e pôr aquela ovelhada toda a pastar
Francisco Correia: Alguém que me responda a esta singela pergunta: Quantos funcionários públicos estão neste momento em lay-off ou perderam o emprego?
Cruzeiro O Verdadeiro > Francisco Correia: Todos aqueles, que lhe estão a prestar os serviços habituais que tu sempre desprezas. Daqui quero deixar um pedido de desculpas a todos os trabalhadores dos serviços públicos, pelo comportamento destes parasitas da sociedade, que desde que nasceram pensam que aquilo que desfrutam foi pago por eles.
Joao Rodrigues > Francisco Correia: Responda a esta : Quantos funcionários públicos morreram?
Ping PongYang > Francisco Correia: O meu amigo Mendes conheceu um Santo verdadeiro que por acaso até era Holandês... Não sei é se mesmo ELE teria paciência para atoardas como essa, mas duvido muito!
Maria Augusta > Francisco Correia: Pergunta pertinente sem dúvida. Claro que está a falar da casta privilegiada, os votos comprados dos canhotos, a charneira do poder, onde os canhotos e boa parte, senão toda da sua família está empregada. Há que proteger a famiglia.
Euro de Eos > Francisco Correia: Os médicos e enfermeiros do SNS estão em lay-off. E muitos outros: colectores do lixo, polícias, etc. Não têm trabalho, é isso.
Artur Valter > Maria Augusta: Casta privilegiada?! ... Médicos, enfermeiros, militares, polícias, bombeiros, etc.,etc... Tantos privilegiados há neste país... E bem pagos... E a fugirem aos impostos... Estes funcionários públicos deviam ser todos despedidos. Para que os queremos? Só dão despesa e não produzem riqueza nenhuma ao país.
Joao Rodrigues > Artur Valter: Acha que a Dona Augusta entende a sua ironia? Ela está há anos  no Júlio de Matos, e pensa que está num hospital privado até paga a estadia com raspadinhas que apanha no lixo. Tal é a raiva que sempre teve a funcionários públicos ..
Paulo Guerra: Eu já escrevi aqui que um por um vão cair os dogmas neo-liberais todos. Ao Banco de Inglaterra – só o maior deles - a imprimir para pagar os custos da pandemia outros bancos centrais se seguirão. São os próprios mercados que induzem que pensemos todas as crises sob o ponto de vista orçamental. Quando o que já devia estar em cima da mesa de qualquer estado soberano era precisamente uma política monetária certa. Mas claro que os mercados não estão nada interessados que os Estados recuperem o poder sobre a sua própria moeda. Para os mercados, um Estado bom é um Estado subordinado ao crédito dos mercados financeiros privados.
Briosa Sempre > Manhoso Nevoa: Os comunistas é que andam a controlar a tua vida? Alguns ainda comem crianças ao pq almoço. Sabes qual o país europeu onde o estado está a ficar com os poderes todos e a controlar a população? Julgo que é a Hungria e que saiba é um governo de direita.
Rui Lima: Com a tua resposta vejo que entendes algo mas não o suficiente. Sim o Japão, toda a sua dívida está na mão de japoneses , tem 23 000 empresas na China que transferem somas astronómicas dos seus lucros ( ex. Toyota é o maior e mais lucrativo fabricante de carros ) ou seja tem património e rendimento mais que suficiente para as suas dívidas, por isso a sua moeda é de confiança . Repara a dívida Argentina (4 vezes menos que o Japão) nem será elevada para os critérios dos países industriais, mas ninguém lhe empresta 1 dólar.
Mario Areias: Estou de acordo que a UE, através dos seus mecanismos, dê dinheiro directamente às pessoas pagando os subsídios de desemprego através das seguranças sociais de cada país. Estou de acordo que dêem dinheiro às empresas elegíveis para investimento dentro de um enquadramento legal muito apertado e altamente punitivo. Não estou nada de acordo que se dê dinheiro aos estados porque nos casos português, espanhol e italiano aproveitam esse dinheiro para comprar votos enquanto os outros países aproveitam para retomar a economia. O fosso alargar-se-á ainda mais.
Manuel Oliveira > Mario Areias: Não se dá dinheiro... dilui-se a moeda! Ou seja, alguém vai pagar a conta (os aforradores)
Rui Lima: Há uma nova teoria económica que defende que o estado emita a sua própria moeda para despesas extraordinárias, não recorra a empréstimos ou impostos, defende que ao estado nunca deve faltar dinheiro , os bancos centrais sejam um braço do estado . Ou seja o bem estar seria limitado pelos recursos naturais e pelas competências humanas e não pelos limites financeiros. Isto até poderia funcionar em 5 ou 6 países de moeda forte e é forte porque são países com baixos défices, se o Banco central da Argentina fizer toneladas de pesos não irá dar bem estar aos argentinos porque ninguém lhes dará nada em troca da sua moeda ‘ O Euro se tem valor é porque existem 5 ou 6 países com pouca dívida, se todos fossem Itálias ou Portugal o euro seria como o peso argentino
Combate aos BURROS e ANALFABETOS do Observador > Rui Lima: Rui Lima, Não sei o que significa para o Rui, um país"ter pouca dívida". Exemplo: a Alemanha, que desde 2003 (inclusive) não cumpre os Tratados (ter um rácio de dívida até 60% do PIB), tem pouca ou muita dívida? Outro exemplo. O Japão, que tem uma economia extremamente desenvolvida e é detentor de uma moeda de reserva a nível mundial (Yen), tem um rácio de dívida pública/PIB que é o dobro de Portugal: 235%. O Japão tem muita ou pouca dívida? Com a tua resposta vejo que entendes algo mas não o suficiente. Sim o Japão toda a sua dívida está na mão de japoneses, tem 23 000 empresas na China que transferem somas astronómicas dos seus lucros ( ex. Toyota é o maior e mais lucrativo fabricante de carros ) ou seja tem património e rendimento mais que suficiente para as suas dívidas, por isso a sua moeda é de confiança . Repara a dívida Argentina (4 vezes menos que o Japão) nem será elevada para os critérios dos países industriais , mas ninguém lhe empresta 1 dólar .
Filipe Brandao Combate aos BURROS e ANALFABETOS do Observador: Claro que o Japão tem muita divida publica, pelo motivo de andar a injectar dinheiro nas últimas décadas a tentar combater a estagnação económica. A diferença está nos titulares dessa divida. No Japão 90% da divida é interna, além de ser um facto praticamente assumido que o Japão jamais terá capacidade de pagar essa divida.
Tó Phareto > Combate aos BURROS e ANALFABETOS do Observador: A Alemanha tem credibilidade, o Portugal não tem nenhuma no mercado. Antes pelo contrário: As regras económicas são necessárias para quem não tem moeda própria e gasta a moeda dos outros, acumulando dívidas, ainda por cima.  Quem faz, e pode ignorar as regras, é quem cria a moeda. Nunca devíamos era ter perdido a soberania monetária, se tínhamos a intenção de ser nós a fazer as regras...
josé maria: Injecções directas de dinheiro, nas pessoas e nas empresas, são a única forma de evitar uma Depressão Económica à escala global. Haverá dinheiro para isso? Não sei. Só sei que processos excessivamente burocráticos, para apoios do Estado, são a pior das opções. Despedimentos e falências vão reclamar doses massivas de subsídios de desemprego. Como se sai dessa dilema gigantesco? Fabricação massiva de notas ou transferência de dinheiro virtual? O dinheiro da UE chega para acudir ao problema ? Tenho mais perguntas do que respostas.
Rui Lima > josé maria: Que falta de respeito pela Greta e de todos que se batem pelo clima. Todas as montanhas da terra já são visíveis.
Manhoso Nevoa > Rui Lima: A questão do clima é mais uma mentira como o covid19. Só 4% da terra está ocupada pelo homem, que só influencia 7% da terra. É o sol que pode produzir alterações climáticas na terra. Não é o CO2 que é produzido pelo mar, conforme a força do sol e quanto a isso não há nada a fazer. O CO2 é o gás da vida. Sem ele as plantas morrem, depois morrem os animais. Grandes burros que vão nas conversas de ku munas que querem dominar o mundo pelo medo.
Miguel Sousa > Manhoso Nevoa: O co2 é o gás da vida...como é possível ser-se tão estúpido e não se aperceber disso? Que tristeza, oh amigo, vá para a escola ou volte para o buraco donde veio...
Combate aos BURROS e ANALFABETOS do Observador: Helena Garrido, O título deveria ser "A queda das regras de política monetária" e não a "A queda das regras económicas". É que o que está em questão é o aumento substancial da impressão de dinheiro, como já estão a fazer os EUA, o Reino Unido e o Japão, como ontem escreveu aqui o Professor Jorge Luís Barros em parceria com Eduardo Catroga. O BCE em menor escala e para já com um cliente preferencial, a Alemanha, que não tem balanço (poupança interna) para satisfazer nem 600 dos 750 mil milhões para o seu plano de relançamento da economia.
Quanto aos restantes membros da zona euro, vamos ver quanto mais tempo temos de esperar pela mudança de ideias daquele inteligente ministro holandês que nem a cadeira de econometria foi capaz de concluir na terra dele, ou, mais provável, pela imposição pura e dura de medidas diferentes na próxima reunião de chefes de estado e de governo da UE. Aí, o inteligente do ministro holandês das finanças será reduzido à sua insignificância. Como é que um individuo que não sabe o suficiente de matemática para fazer a cadeira de econometria, pode perceber que poderemos estar a caminho de uma nova Grande Depressão do século anterior como os 17 milhões de novos desempregados nos EUA em apenas três semanas indica? Não pode!
victor guerra: Portugal tem andado com excelentes regras económicas sob a batuta do Centeno o "cativador". Agora ,será ,todos ao corte e fé em Bruxelas.
Adelino Lopes: Mais uma vez. Gosto de ler os especialistas. No caso da HG não concordo com o pressuposto do artigo. Não está escrito explicitamente. Diz, “em tempo de guerra não se limpam armas”; não poderia estar mais de acordo. Mas pressupõe que as andámos a limpar antes da guerra, i.e. que as “regras de política económica” foram aplicadas antes de. Pois, isso é que vamos ter de falar antes de mais. No tal tempo das vacas voadoras houve “redução da dívida”? O tal “crescimento económico” não foi uma farsa diluída nos impostos (apesar do turismo)? Quem quer verdades deve começar por assumir o passado. Quer queira, quer não, os nórdicos não aceitam a mentira.
Manuel Oliveira > Adelino Lopes: As vacas nunca levantaram voo porque sempre que subiam 2cm, iam para as 35h, horas extra, reversão de cortes, etc.... tudo para os mesmos eleitores do xuxialismo. Agora são mais uma vez os privados a ir para o olho da rua enquanto outros nem 

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