As opiniões divergem, e há algumas
pertinentes, a respeito de um TV
Fest
televisivo, como forma de dar trabalho e vencimento aos nossos artistas. JMT insurge-se, mas seria uma forma de
aligeirar o soturno ou melado ou banal das programações televisivas fofoqueiras,
intragáveis, sobre os casos de vida em tempo desta pandemia transformada em
pandemónio - o que me parece obsceno, na sua pretensão de distrair um público,
já de si carregado com as dificuldades várias da clausura forçada, com os casos
pessoais de outras clausuras, numa mediocridade atroz de programação. Escutar
os artistas através dos arranjos tecnológicos actuais – como se viu e ouviu,
salvo erro na TVI, o “Coro dos
Escravos Hebreus”, orquestrado e cantado por figuras separadas, em diferentes
espaços de enclausuramento pessoal, e todavia, numa harmonia perfeita de
vozes e gestos… Seria uma ocasião de distrair um público assustado e infeliz, e
de ajudar os artistas, libertando até alguns do esquecimento…
OPINIÃO CORONAVÍRUS
TV Fest – o festival da monumental estupidez
A ideia do TV Fest é tão parva que
custa a acreditar que não tenha havido alguém na sala capaz de dizer isso no
momento em que foi partilhada.
JOÃO MIGUEL
TAVARES PÚBLICO, 10 de Abril de
2020
Sim,
eu sei que o TV Fest já
foi cancelado, mas ainda assim vale muito a pena reflectir sobre
ele, tanto pela peregrina ideia de o executar, como pela súbita necessidade de
o extinguir. Este é um pequeno episódio particularmente demonstrativo
daquilo que nos espera sempre que faltar o mais elementar bom senso na
distribuição de apoios pelas muitas centenas de milhares de pessoas que foram
(e continuarão a ser) profundamente atingidas pela crise. Muito em
breve, a tentação de despejar dinheiro por cima dos amigos mais próximos e das
classes mais ruidosas vai ser gigantesca, e a maior vocação dos governos
socialistas não é a resistência às tentações.
Em
primeiro lugar, a ideia do TV Fest. Ela é tão parva que custa a acreditar que não tenha
havido alguém na sala capaz de dizer isso no momento em que a ideia foi
partilhada. Era só levantar o dedo: “Peço desculpa, senhora ministra, tem mesmo
a certeza de que quer fazer isso?” Das duas, uma: ou Graça Fonseca tem poucos amigos no Ministério da Cultura, ou então
a sensibilidade política da sua equipa está ao nível da amiba. Tentem
acompanhar-me. Alguém no ministério (adorava saber o nome do criativo), após
notar que os artistas estavam a sofrer muito e que precisavam de ser apoiados,
lembrou-se do seguinte: “E se nós fizéssemos um festival à distância
transmitido pela RTP, em que filmávamos 120 artistas e distribuíamos um milhão
de euros por eles?”
Os
artistas – note-se – já estavam a fazer concertos à borla a partir de suas
casas, mas em vez de esse ser um argumento contra a ideia, a ministra da
Cultura achou que era um argumento a favor. Segundo ela, os músicos
portugueses estão a ser “inexcedíveis”, e para premiar o seu exemplar
comportamento nada como um presente do Estado, a 8333 euros por cabeça. Para
não ser o Governo a escolher quais os 120 artistas a beneficiar do pilim, o TV
Fest propunha que um dos primeiros quatro artistas escolhesse os quatro
seguintes, e assim sucessivamente, com o objectivo de “criar uma corrente entre
os músicos” – como se o amiguismo descentralizado deixasse de ser amiguismo, e
como se, numa altura destas, os que ficassem de fora suportassem passivamente
que outros embolsassem milhares de euros estatais sem qualquer critério
discernível a não ser a sorte, o gosto e o número de telemóvel certo.
Mais:
embora a ministra se tenha esforçado por sublinhar que técnicos e agentes
também iriam ganhar algum, ninguém percebeu quanto sobrava para eles. Ora,
embora os músicos estejam com certeza a sofrer muito, muito mais sofrem aqueles
que no backstage fazem a música acontecer. Nas preocupações de um país decente,
técnicos e roadies têm necessariamente de estar à frente das estrelas da pop
nacional. O TV Fest era, logo à cabeça, uma enorme injustiça que colocava o
dinheiro nas mãos de quem menos precisava.
O
mais curioso neste extraordinário festival que antes de nascer já estava morto
é o amuse-bouche de confusões e polémicas a que iremos assistir nos próximos
meses. Com sectores inteiros devastados – a música é só um deles –,
dificilmente haverá bolo para tantas bocas. Como é óbvio (menos para o
Ministério da Cultura), o Governo está manifestamente proibido de distribuir um
euro que seja sem que a sua atribuição esteja sustentada em critérios básicos
de justiça social, que possam ser compreendidos pelos portugueses. Sempre que
“Fest” for a abreviatura de “festim”, o país inteiro vai esbravejar – e com
toda a razão.
Jornalista
COMENTÁRIOS:
Conde do Cruzeiro: MODERADOR: Continuo o monumental festival,
do JMT. Não se esqueçam, de remunerar o artista. 10.04.2020
Joao EXPERIENTE: Isto faz-me lembrar há muitos anos os
artistas “sérios”, que viviam à conta de subsídios para manterem as actuações
em salas vazias ou só com amigos borlistas, a criticarem os “revisteiros” das
revistas que mal ou bem conseguiam ser auto-suficientes e até contribuíam para
os subsídios dos outros. Eu não percebo, o que querem? Que o Ministério não
promova algum tipo de animação nestes tempos stressantes? Que sejam contratados
os “curadores” para animarem? Ou os artistas? Ou 120 artistas? Ou só um artista
conceituado que com o seu curador arrecada o milhão de euros? Não percebo. Sinceramente, não percebo
esta polémica. Mais uma vez parece que os tais ”curadores” são o sol que se
ofusca quer artistas quer administrações. Lembro-me do mesmo com o tal
funcionário “curador” que queria mandar na Administrações dum museu qualquer e
foi aplaudido por meio mundo. Mas que mal haveria em o Ministério, cuja função
prática e diária é distribuir subsídios pelos artistas, que mal haveria em o
Ministério ajudar a alegrar um pouco estes tempos stressante dando trabalho a
nada mais nada menos que 120 artistas? Até escolhidos entre e pelos artistas? E
se fosse só um? Já era melhor? 10.04.2020
António Guerreiro Quaresma INICIANTE: Graça Fonseca pode vir a apresentar a
Eurovisão muito em breve. Consta que adorou a experiência dos ensaios enquanto
apresentadora. 10.04.2020
antonio rocha INICIANTE: E se deixarem de pagar ao Tavares em
tempo de pandemia? Era estupidez ou sensatez? 10.04.2020
Miguel Ferreira da Costa INICIANTE: Porquê? Porque tem uma
opinião? 10.04.2020
antonio rocha INICIANTE: Para gente estúpida medidas acertadas, o
tipo é uma besta. É a minha opinião, que não sou remunerado para as emitir e
portanto sou livre, sou mesmo livre de as poder fazer sem ter de abanar o
rabinho a ninguém. Ficou ofendido foi, para vir a terreiro defender este
caluniador profissional? 10.04.2020
chagas_antonio INICIANTE: Acabe-se de vez com a TV
como ela é hoje. Se já o futebol foi suspenso - oh, alegria! - porque não
suspender também outros circos? Talvez passássemos por um período inicial de
desnorte, de orfandade, mas certamente que reencontraríamos outros modos de
usar o tempo, e sem dúvida que seriam muito mais proveitosos. Mesmo em tempo de
quarentena: ler, ouvir e fazer música, conversar, trocar experiências, tanta
coisa para fazer e tão melhor do que estar a olhar para a caixa estúpida que só
debita ansiedade e horrores de todos os tamanhos (principalmente pequeninos). E
para quê? Para informar? Não: para garantir o salário de quem lá trabalha,
alienando todos os outros. Vale a pena? A sério? 10.04.2020
ana cristina MODERADOR: Tremo só de pensar o que estes palhaços
vão fazer com milhares de milhões de euros de repente nas mãos. E não sou
holandesa. 10.04.2020
AndradeQB MODERADOR: Obviamente que a ideia é distribuir por
quem está mais perto do poder e por quem maior retorno eleitoral der. Não só os
artistas estão mais perto do poder do que os trabalhadores do "backstage",
como influenciam muito mais o voto. Não é esse o regime político em que se
vive? Não percebo o espanto de JMT. 10.04.2020
antero.andrade.leite INICIANTE: E também livro mais barato para ser lido
em casa e não no hipermercado; - Idem, apoio à criação de bibliotecas de bairro
e de jardim; - Idem, pequenos concertos de Música de Câmara em igrejas,
palácios, etc. - Idem, apoio ao Festival de Música de Marvão; - Idem, apoio às
Bandas de Música e Filarmónicas que por esse País fora têm mantido, a muito
custo, as suas Escolas de Música. 10.04.2020
chagas_antonio INICIANTE: Também me parece que o
dinheiro público assim aplicado seria muito mais frutuoso: não para os artistas
já consagrados, numa espécie de mecenato desvirtuado (porque, pelo menos para
mim, um Mecenas é sempre privado, até por uma questão de orientação do gosto),
mas para amparar o crescimento das sensibilidades de quem de outra forma não
poderia fazê-lo. Todos ganharíamos muito mais.
André Benfeitor EXPERIENTE: Monumental estupidez é o português não se
entender. Não sei bem se foi o sentido de justiça e igualdade. Acho mais que
foi a inveja e a mesquinhez que cancelou este "Fest". Nunca há nada
que agrade a todos em Portugal, já viram? 10.04.2020
chagas_antonio INICIANTE: Se eu concordar com o que
acabou de dizer, o André Benfeitor ficará de pé atrás; mas se eu discordar de
si, já o André Benfeitor suspirará de alívio, porque poderá inscrever-se no
espaço entre nós. Nunca há nada que agrade a todos em Portugal porque as
pessoas têm medo de dar "parte de fraco". A única maneira de quebrar
o enguiço é confiar nos outros. É capaz de fazer isso, André Benfeitor? 10.04.2020
João Borges MODERADOR: TV Fest para todos (da
música, da dança, do teatro, do cinema, da arquitectura, do design, da
museologia, da história, da curadoria, da moda, da literatura....), já. 10.04.2020
FPS INFLUENTE: Já! 10.04.2020
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